Pululam nas redes
sociais, nas conversas de botequim e nos almoços de domingo com a família todo tipo de opiniões emitidas por palpiteiros de plantão, que se arrogam
um conhecimento de causa de dar inveja a analistas sérios, que (supostamente) sabem do que estão falando.
Como eu venho criticando essa verborragia insana, seria um contrassenso
adotar o mesmo procedimento. Mas ouso dizer que qualquer pessoa capaz de somar um mais um sabe que o assassinato do general Quasen
Soleimani — comandante da Guarda Revolucionária do Irã — libertou um gênio que dificilmente voltará pacificamente para a garrafa, e que isso pode trazer consequências devastadores não só para os EUA e outras nações diretamente
envolvidas, mas também para países como o Brasil e pessoas do mundo inteiro.
Ainda que a intenção de Trump fosse desviar a atenção do processo de impeachment e pavimentar sua
reeleição, é impossível negar que Soleimani não foi um mártir nem o herói que os iranianos
celebraram após sua morte, mas sim um assassino cruel, responsável por inúmeros
atos terroristas, inclusive pelo assassinato de 84 pessoas em Buenos Aires, em 1994.
Demais disso, é público e notório que o Irã é um dos
principais patrocinadores do terrorismo no mundo.
A queda do Um Boeing 737-800 da Ukraine
International Airlines, na última quarta-feira, que resultou na
morte de 176 pessoas (quase todas cidadãs do Irã), foi obra do governo
iraniano: fontes oficiais daquele país reconheceram que a aeronave foi abatida “acidentalmente” por um míssil de
curto alcance disparado pelas forças armadas, fato que gerou
protestos de diversos líderes mundiais, além de uma manifestação na própria capital do Irã, onde estudantes universitários desafiaram a
tradicional truculência do regime e realizaram uma manifestação, no último
sábado, na qual o embaixador britânico foi preso por algumas horas por
"incitar protestos contrários ao governo".
Tudo isso muda o cenário, mas é difícil dizer até que ponto sem ter bola de cristal ou conhecimentos profundos desse imbróglio internacional. Portanto, deixo as ilações para quem entende do assunto e passo à minha postagem do dia:
Em comum, Brasil e Rússia tem o BRICS e presidentes que parecem tomar doses cavalares de Manitol para manter ocas suas digníssimas cabeças. Felizmente, as semelhanças não vão muito além disso: Putin foi eleito em 2018 para seu 4º mandato consecutivo, ao passo que no Brasil o presidente da República só pode se reeleger uma vez, embora nada o impeça de disputar novamente o cargo depois de passados quatro anos contados a partir do final do mandato para o qual o dito-cujo foi reeleito.
Um dos aspectos louváveis da Constituição Cidadã, promulgada
em 1988, foi não conceder o direito à reeleição para presidente e vice-presidente da República. Lamentavelmente, esse detalhe foi mudado na gestão do presidente tucano Fernando Henrique Cardoso, que não só se beneficiou da alteração constitucional como abriu as portas para que o ímprobo demiurgo de Garanhuns e sua
incompetente sucessora seguissem o mesmo caminho.
Além da promessa de dar carta branca ao ministro Sérgio Moro e combater
implacavelmente a corrupção, Jair Bolsonaro abandonou no pé da rampa
do Palácio do Planalto outras importantes bandeiras de campanha, dentre as
quais o fim da reeleição. E antes
mesmo de completar um ano no cargo, declarou-se candidatíssimo a um segundo
mandato, afirmando, mais de uma vez, que foi eleito para "cumprir uma missão divina". É ou
não caso de internação?
Mas não há nada tão ruim que não possa piorar. Na Rússia, o
parlamento aprovou uma lei que proíbe a venda de equipamentos eletrônicos — incluindo
smartphones, computadores e smart TVs — que não venham com software russo
pré-instalado, sob pena de multa de até 200 mil Rublos (cerca de R$ 13 mil) e banimento do fabricante em caso de reincidência.
Regime mais democrático que esse, só mesmo na Venezuela de Maduro e nos devaneios abilolados da presidente
nacional do PT — codinome “Coxa” e “Amante” —, que foi merecidamente rebaixada a deputada federal nas
últimas eleições (melhor seria se tivesse sido defenestrada da vida pública,
mas nada é perfeito).
A lei russa ainda deve ser submetida ao Conselho da
Federação, que equivale ao nosso Senado, e sancionada por Putin, que, no afã de controlar o acesso à internet dentro das
fronteiras russas e após reclamar que a Wikipedia não é confiável, determinou a construção de um novo
site para a "Grande Enciclopédia
Russa".
Putin tem uma
relação conflituosa com a Wikipedia já
há algum tempo. Em 2015, o site inteiro foi bloqueado por causa de um artigo
que continha informações sobre a maconha. Para tanto, foi levada em
consideração outra lei russa, que bane sites com material relacionado a
drogas. O projeto visa oferecer “informação confiável”, e deverá ser
constantemente atualizado com base em fontes de conhecimento científico do
país. O desenvolvimento do portal custará aos contribuintes russos o equivalente
a R$ 130 milhões.
Mas não é só. O governo russo criou uma lei que permite
desconectar o país inteiro da rede mundial de computadores. A desconexão teria
como finalidade evitar ataques cibernéticos vindos dos EUA e de seus aliados capitalistas,
e a lei em questão depende apenas da sanção presidencial para entrar em vigor.
Em alguns países, a conexão com a World Wide Web é provida por um único cabo de comunicação, bastando
rompê-lo para suprimir a conectividade do país inteiro. Não é o caso da Rússia,
cuja extensão territorial exige muito mais que um cabo ligando-a à Web, o que dificulta a desconexão, seja por
um ataque terrorista, seja pelo próprio governo russo.
Há registro de países que tiveram a internet completamente
cortada como forma de censura a movimentos de protesto — prática recorrente na
Síria e no Egito durante o período que ficou conhecido como “Primavera Árabe”, quando grandes
manifestações políticas levaram os governantes a desativar a internet para
tentar desmobilizar a população. No entanto, esses países possuem
infraestrutura precária e controlada de internet, o que simplifica o
desligamento do resto do globo. O Brasil chegou a discutir o isolamento
da Web em 2013, durante o
primeiro mandato de Dilmanta, na
época do escândalo de espionagem revelado por Edward Snowden, mas a ideia, estapafúrdia como tudo que provém da
mente doentia daquela senhora, felizmente não prosperou.
A China talvez seja o melhor exemplo de internet controlada
pelo governo, mas nem ela foi tão longe quanto a Rússia em sua proposta de se
isolar completamente da rede mundial. Sua vantagem, nesse caso, é que o
controle governamental foi implementado no país desde o princípio da internet,
o que permitiu criar mecanismos de restrição mais eficientes. Na Rússia, o
bloqueio tende a ser mais caro e trabalhoso, e Putin não dá detalhes sobre como ele seria realizado. Ao que
tudo indica, boa parte do plano ainda está em estudo, o que explica a
necessidade de experimentos para determinar o que será preciso para colocá-lo em
prática se e quando for “para valer”.
Sabe-se que as ordens são direcionadas às operadoras, que
devem passar a bloquear IPs externos, impedindo a conclusão de qualquer
requisição. Na prática, um cidadão russo não poderia acessar o Facebook, por exemplo, já que seus servidores
ficam fora do país, da mesma forma que alguém de fora seria incapaz de acessar
os serviços hospedados na Rússia. Parte do projeto do governo russo é
direcionar todo o tráfego digital que entra e sai do país para gateways controlados pelo próprio
governo, aumentando a centralização da internet e facilitando o desligamento em
caso de ataques.
Sabe-se também que a Rússia estabeleceu seu próprio servidor DNS, torando-se independente
de organizações externas. Para quem não se lembra, o
servidor DNS é responsável por converter o URL digitado na barra de endereços
do navegador (por exemplo: fernandomelis.blogspot.com)
em um número de IP que
permita a comunicação entre o computador e o servidor. Se a Rússia se
desligasse da internet mundial sem contar com um servidor de DNS de backup, essa conversão
deixaria de ser automática, exigindo que os internautas russos digitassem os
números de IP na barra de
endereços.
Com informações do site Olhar
Digital