Como tantos outros imbróglios que se sucedem sem cessar nesta republiqueta de bananas, o pedido de impeachment
articulado pela esquerda contra Bolsonaro, respaldado no suposto crime de responsabilidade (por quebra de decoro presidencial) cometido pelo presidente ao “ofender
gravemente” uma jornalista da Folha (que foi acusada de “assédio” por alguém
acusado
de ter mentido na CPI das Fake News; mais detalhes nesta
postagem), está fadado a acabar pizza ou no STF — que de
uns tempos a esta parte virou "curva de rio".
Em um ano e dois meses de governo, o Bolsonaro já
produziu uma miríade de polêmicas por não ter papas na língua e dizer o que
pensa antes de pensar no que vai dizer (em homenagem ao Reinado de Momo, vale lembrar seu polêmico vídeo de Golden Shower publicado um ano atrás).
Já perdi a conta de quantas vezes a oposição ameaçou impichar o presidente boquirroto devido a suas asnices, mas lembro que nenhuma delas a coisa foi além da ameaça — talvez porque reste a alguns parlamentares de oposição (inclusive de partidos de esquerda) um resquício de senso de ridículo.
Já perdi a conta de quantas vezes a oposição ameaçou impichar o presidente boquirroto devido a suas asnices, mas lembro que nenhuma delas a coisa foi além da ameaça — talvez porque reste a alguns parlamentares de oposição (inclusive de partidos de esquerda) um resquício de senso de ridículo.
O “insulto
asqueroso” vituperado por Bolsonaro contra a jornalista da Folha foi, de fato, de uma grosseria a
toda prova. Mas não surpreende quem dedicou 5 minutos de seu tempo à leitura da biografia resumida do então candidato eleito, que eu publiquei no final do ano passado, envolvendo seus 11 anos no exército o 27 que passou como deputado federal do baixo clero, ao longo dos quais apresentou 172 projetos, relatou
73 e conseguiu aprovar apenas dois, mas colecionou sete processos (por injúria,
apologia ao estupro e racismo, se não me falha a memória).
No que tange às possíveis consequências do vitupério da vez, as opiniões divergem. Para Miguel Reale Jr., co-signatário do pedido de impedimento que depôs Dilma em 2016, “se a ofensa ao decoro leva ao impeachment, o que dizer da ofensa à dignidade humana (...) quando se desrespeita a dignidade de uma mulher dessa forma, ele [Bolsonaro] está desrespeitando a dignidade de todas as mulheres”. Já a deputada Janaína Paschoal, também co-signatária do mesmo pedido de impeachment, entende que “as pessoas estão exagerando muito ao falar de impeachment, que requer crime de responsabilidade, num contexto diferente”.
No que tange às possíveis consequências do vitupério da vez, as opiniões divergem. Para Miguel Reale Jr., co-signatário do pedido de impedimento que depôs Dilma em 2016, “se a ofensa ao decoro leva ao impeachment, o que dizer da ofensa à dignidade humana (...) quando se desrespeita a dignidade de uma mulher dessa forma, ele [Bolsonaro] está desrespeitando a dignidade de todas as mulheres”. Já a deputada Janaína Paschoal, também co-signatária do mesmo pedido de impeachment, entende que “as pessoas estão exagerando muito ao falar de impeachment, que requer crime de responsabilidade, num contexto diferente”.
Não foi a primeira vez (e certamente não será a última)
que Bolsonaro ataca a imprensa — e que a imprensa retribui na mesma moeda, pois não restam dúvidas de que o desamor é mútuo. Mesmo entre jornalistas que não se declaram de
esquerda, contam-se nos dedos da mão direita de Lula quantos são pró-governo
ou reconhecem, em suas matérias, os aspectos positivos da atual gestão (que
talvez não sejam muitos, mas existem).
Todos temos direito a nossas próprias opiniões, mas não a nossos próprios fatos. A imprensa, que nunca foi exatamente isenta, tornou-se, de uns tempos a esta parte, useira e vezeira em destacar em letras garrafais (como se dizia
antigamente) o que lhes interessa salientar, em vez de publicar as notícias de
maneira neutra e desapaixonada, limitando os pontos de vista dos veículos aos
editoriais e os de seus jornalistas às respectivas colunas.
Dias atrás, Augusto Nunes escreveu em seu Blog:
Dias atrás, Augusto Nunes escreveu em seu Blog:
Disfarçados de redatores de manchetes da primeira página, os vigaristas
da adversativa não se emendam — e são duros na queda. Sempre que aparece uma
notícia boa, eles anabolizam alguma irrelevância, conferem-lhe o mesmo peso da
que realmente interessa e, sempre depois de um MAS, precedido pela vírgula,
infiltram a ressalva concebida para decretar o empate. Foi o que fez a Folha na
manchete do último domingo: “Sob Bolsonaro, crime cai e emprego cresce, mas
área social piora". A direção do jornal deve achar que a área social
estaria bem melhor se a criminalidade subisse e o desemprego crescesse.
À guisa de contraponto, cito Josias de
Souza (ilustre jornalista e comentarista político a quem eu muito admiro, mas com quem nem sempre concordo) numa versão resumida de seu comentário no Jornal
da Gazeta da última quarta-feira:
O tratamento dispensado por Bolsonaro
à imprensa vem “evoluindo rapidamente do desrespeito para a indignidade”. Para ele,
as entrevistas são sempre bem-vindas, mas tornam-se melhores quando consegue
dialogar com os repórteres à sua maneira — isto é, obrigando o interlocutor a
calar a boca ou interrompe a entrevista.
Diante de uma pergunta incômoda,
para a qual não acha resposta, o presidente dá as costas ao entrevistador, mas
não sem antes questionar sua sexualidade, ofender-lhe a mãe ou fazer gracejos
escatológicos ou sexistas. Como os males sob Bolsonaro sempre vêm para
pior, o absurdo tem método, é ensaiado e executado de forma teatral, de modo a
saciar a fome de controvérsia dos seus súditos nas redes sociais.
Bolsonaro acha que desmerece a
imprensa com seus ataques. É um engano. Na verdade, ele oferece aos repórteres
que agride diariamente a oportunidade de se engrandecer. O único engajamento
político que um jornalista que acompanha o poder deve ter é o seu compromisso
de expor os desvios e a estupidez dos que exercem o poder em nome da sociedade.
Se não fosse pelos jornalistas, a indignidade não deixaria vestígios.