Como eu costumo dizer, há casos em que o imprevisto tem voto decisivo na assembléia dos acontecimentos. Daí eu aditar esta postagem para compartilhar um fato lamentável para uns e quiçá motivo de comemoração para outros: morreu na madrugada deste sábado, aos 56 anos, o advogado Gustavo Bebianno, principal articulador da campanha de Bolsonaro à presidência e provável candidato à prefeitura do Rio nas próximas eleições.
Bebianno ocupou por menos de dois meses a Secretaria-Geral da Presidência da República. Foi demitido porque Zero Dois pediu sua cabeça ao papai presidente (detalhes nesta postagem), e o capitão, quiçá por medo da mordida, preferiu não contrariar seu pitbull de estimação. E assim, depois de passar de amigo do peito a inimigo figadal, o ex-auxiliar inaugurou a extensa lista de ministros e membros do primeiro escalão palaciano que foram defenestrados dos respectivos cargos ao longo dos últimos 14 meses.
Magoado e ressentido com o presidente que ajudou a eleger, Bebianno, um arquivo vivo da campanha do capitão (como foi PC Farias na de Fernando Collor, três décadas atrás, e acabou assassinado em 1996, em circunstâncias mal explicadas que até hoje alimentam teorias da conspiração), seria um esqueleto no armário do governo e do clã Bolsonaro não fosse o infarto fulminante que o levou, inesperadamente (e providencialmente, dependendo do ponto de vista de quem conta a história), a comer capim pela raiz na chácara do vigário.
A semana que se encerrou ontem (para os efeitos desta retrospectiva, o sábado e o domingo não contam) pareceu mais um teste ergométrico do que qualquer outra coisa.
Bebianno ocupou por menos de dois meses a Secretaria-Geral da Presidência da República. Foi demitido porque Zero Dois pediu sua cabeça ao papai presidente (detalhes nesta postagem), e o capitão, quiçá por medo da mordida, preferiu não contrariar seu pitbull de estimação. E assim, depois de passar de amigo do peito a inimigo figadal, o ex-auxiliar inaugurou a extensa lista de ministros e membros do primeiro escalão palaciano que foram defenestrados dos respectivos cargos ao longo dos últimos 14 meses.
Magoado e ressentido com o presidente que ajudou a eleger, Bebianno, um arquivo vivo da campanha do capitão (como foi PC Farias na de Fernando Collor, três décadas atrás, e acabou assassinado em 1996, em circunstâncias mal explicadas que até hoje alimentam teorias da conspiração), seria um esqueleto no armário do governo e do clã Bolsonaro não fosse o infarto fulminante que o levou, inesperadamente (e providencialmente, dependendo do ponto de vista de quem conta a história), a comer capim pela raiz na chácara do vigário.
Após ser chamado de "traidor" por Eduardo Bolsonaro, o ex-ministro disse à Época: “Só contei 3% do que eu sei. Meu
objetivo não é destruir o governo, mas sim proteger o Brasil e sua democracia.
Estou de olho o tempo todo no governo e na família Bolsonaro. Quero que o
presidente pare de gerar crises, administre o país da melhor forma possível e
conclua o seu mandato. É hora de os ânimos arrefecerem, em benefício do povo
brasileiro. Não obstante, percebendo a existência de algo capaz de comprometer
a nossa democracia, agirei.”
Em entrevista à Jovem Pan, em 20 de dezembro do ano
passado, Bebianno afirmou que Bolsonaro tem “traços de psicopatia” e que se sentia “vulnerável e sob risco constante”
após ter se tornado seu desafeto e adversário político. Disse ainda que o presidente “é
uma pessoa muito ciumenta e muito possessiva, que trata as pessoas como
se fossem capachos dele”. Perguntado se sentia ameaçado, respondeu: “[Bolsonaro]
Tem muitos laços com policiais no Rio de Janeiro, policiais bons e ruins. Eu me
sinto, sim, vulnerável e sob risco constante. Mas se ele acha que eu tenho medo dele, ele está muito enganado”.
Em outra entrevista, dessa vez ao portal UOL, Bebianno anunciou que processaria Bolsonaro cível e criminalmente. Mas quis o destino que ele não tivesse tempo de cumprir a promessa. Dito isso, passemos ao texto que eu havia preparado para hoje.
Em outra entrevista, dessa vez ao portal UOL, Bebianno anunciou que processaria Bolsonaro cível e criminalmente. Mas quis o destino que ele não tivesse tempo de cumprir a promessa. Dito isso, passemos ao texto que eu havia preparado para hoje.
A semana que se encerrou ontem (para os efeitos desta retrospectiva, o sábado e o domingo não contam) pareceu mais um teste ergométrico do que qualquer outra coisa.
Na segunda-feira, logo pela manhã, o investidor arrancou
os cabelos diante da tempestade perfeita resultante da disseminação do coronavírus
somada à guerra de preços de petróleo entra a Rússia filha de Putin e a Arábia
Maldita.
A cotação do petróleo tipo Brent despencou
quase 30% (para US$ 31 o barril, com perspectivas de chegar
aos US$
20), o Ibovespa caiu 12% e a Petrobras perdeu R$ 91 bi em
valor de mercado. A B3 chegou a ter o circuit breaker acionado, o que não
acontecia desde maio de 2017, quando a conversa de alcova entre o então
presidente Michel Temer e o moedor de carne bilionário Joesley
Batista, gravada à sorrelfa pelo dono da JBS nos “porões
do Jaburu”, foi
publicada por Lauro Jardim em O Globo.
Na terça-feira, o mercado se recuperou com uma alta de 7%,
mas a declaração da OMS (de que o coronavírus se tornara uma pandemia),
combinada com a derrubada, pelo Congresso, do veto de Bolsonaro ao BPC,
voltou a derrubar a Bolsa na quarta — a queda foi de 7,6%, com mais um circuit
breaker acionado durante a sessão. Na quinta, a decepção do mercado com as medidas
estapafúrdias adotadas pelo presidente Donald Trump a pretexto de
combater a pandemia agravou a situação: foram mais dois circuit
breakers e o Ibovespa caiu 14,8%, no pior pregão desde a crise
da moratória da Rússia em 1998. O anúncio do Federal Reserve, de que
vai oferecer mais de US$ 1,5 trilhão em liquidez ao mercado monetário através
de operações de recompra reversa, até esboçou uma melhora na sessão, mas não
teve força suficiente para reduzir as perdas dos índices.
Nesta sexta-feira 13 o Ibovespa fechou em
alta de 13,91%, aos 82.677 pontos, com volume financeiro negociado de R$ 42,6 bilhões. A última alta tão expressiva foi em 13 de outubro de 2008, quando o benchmark disparou 14,66%. Mesmo assim, a recuperação não conseguiu reverter a queda acumulada ao longo da semana, de 15,63% (a
pior desde 2008), embora tenha trazido algum alento, sobretudo depois da notícia de que Bolsonaro testou
negativo para o coronavírus (mais cedo, alguns veículos de imprensa, capitaneados pela turma do “quanto pior, melhor”, haviam informado que o exame
tinha dado positivo).
Resumo da ópera: O Ibovespa subiu significativamente de ontem para hoje, mas não podemos perder de vista que há menos de dois meses ele estava a um passo de bater os 120.000 pontos (em 23 de janeiro o fechamento
se deu aos 119.527,63 pontos, depois de o índice ter alcançado o recorde histórico de 119.534 pontos durante o pregão daquele dia memorável).
Como nada é perfeito, o dólar comercial terminou esta
sexta-feira em alta de 0,56%, a R$ 4,8099 na compra e R$ 4,8128
na venda. Na semana, a moeda registrou alta de 3,85%, e a desvalorização do real teria sido maior não fossem
as intervenções do Banco Central, que, na quinta-feira, ofertou mais de US$ 4
bilhões em leilões à vista, controlando a volatilidade depois que o dólar chegou a valer R$ 5,00 pela primeira vez na história.
No Legislativo, o presidente da Câmara disse que a pauta dos
próximos 45 dias na Casa será voltada para o combate
aos efeitos econômicos da pandemia e criticou Paulo Guedes
por não ter apresentado medidas de curto prazo para enfrentar a crise. Segundo Maia,
as propostas que o ministro enviou na terça-feira não resolvem
a turbulência para os próximos meses, e que a reforma administrativa, cujo
esboço ainda dormita na mesa de Bolsonaro, não é a solução no momento.
Segundo a Folha, o Brasil já tem mais de
100 casos de COVID-19. Até a noite da última quinta-feira, o Ministério
da Saúde havia confirmado 77 casos, mas somente o Hospital Israelita Albert
Einstein, em São Paulo (SP), tem 98 casos confirmados, dos quais apenas 43
foram notificados ao Ministério. Segundo o infectologista David Uip,
coordenador de um comitê de contingenciamento para enfrentar a chegada da
doença no estado, São Paulo pode ter entre 1% e 10% da população (ou seja, entre
440 mil e 4,4 milhões de habitantes) infectados, com quadro de leve a grave, nos
próximos quatro meses.