quinta-feira, 27 de agosto de 2020

SOBRE BOLSONARO E A REELEIÇÃO

A julgar pelo noticiário, o mundo está a caminho do apocalipse.

Talvez esteja mesmo, mas dar ouvidos aos pessimistas implica o risco de acabar chutando o cachorro, esganando o papagaio e se enforcando num pé de cebola. 

De nada adiante tapar o sol com peneira ou fazer como o avestruz, mas não custa nada lembrar que nem sempre as piores previsões são as que se concretizam (com o devido respeito ao diploma legal consolidado pelo capitão Edward Murphy). 

Por outro lado, num país onde o futuro é duvidoso e o passado, incerto, fica difícil enxergar o copo meio cheio. Sobretudo diante do cenário que se nos descortina.

Não bastasse a pandemia sanitária e seus efeitos deletérios na economia, aboletou-se no Planalto alguém que reconhecidamente nasceu para ser militar, não para ser presidente

Alguém que ao longo da campanha prometeu lutar pelo fim da reeleição — litteris: “O que eu pretendo é fazer uma excelente reforma política, acabando com o instituto da reeleição, que começa comigo caso seja eleito, e reduzindo um pouco, em 15% ou 20%, a quantidade de parlamentares” —, mas que, paradoxalmente, lançou-se candidato ao segundo mandato no instante em que subiu a rampa do Palácio do Planalto e vestiu a faixa presidencial.

Observação: Questionado no último domingo sobre os cheques que Queiroz depositou na conta da primeira-dama, o Presidente respondeu ter vontade de “encher de porrada” a boca do repórter do Globo que lhe dirigiu a pergunta. Gente fina é outra coisa.

Dada a péssima qualidade dos políticos tupiniquins, não há como não ser avesso à reeleição. E não só para cargos executivos. No caso do presidente da República, então, um mandato estaria de bom tamanho. Nada de reeleição, nem para um mandato subsequente, nem para pleitos não consecutivos Vão mamar no boi, parasitas imprestáveis.

A exemplo da mais antiga das profissões, a política é um mal necessário. O “xis” da questão é que, salvo raríssimas exceções, os políticos se tornaram um câncer. Mas o muito que se faz — isso quando se faz — é combater os sintomas, e não a causa. 

Como sabe qualquer vestibulando de medicina, é preciso combater a causa, não mascarar seus efeitos. No caso específico de um câncer, só com diagnóstico precoce e início imediato do tratamento que se impede o tumor de se tornar inoperável ou que a doença evolua para metástase, levando o paciente a óbito.

Observação: É possível que a prostituição não seja realmente a profissão mais antiga; se ela surgiu quando alguém teve a ideia de oferecer sexo em troca de comida, então já havia coletores de alimentos (no caso, caçadores) dispostos a aceitar o escambo. Mas isso é outra conversa e fica para uma outra vez.

Sintomas de que o Brasil vai mal das pernas não faltam. O que falta é vontade política para cortar o mal pela raiz. Ou males, pois trata-se de uma conjunção de fatores que convergem para o mesmo ponto: o acachapante despreparo do eleitorado tupiniquim para escolher seus representantes e governantes, como eu deixei claro na sequência “DA PRAGA DA CASERNA AO CAPITÃO CAVERNA”, cujo capítulo final foi ao ar no último dia 14, e na novela sobre renúncia de Jânio Quadros e suas consequências — cujos capítulos iniciais foram publicados em 15, 16, 17 e 24 de abril e 3 e 7 de maio, e os restantes estão programados para a semana que vem.

Falar em política está se tornando muito chato. Posto isso, para não encompridar a conversa além do aceitável, relembro somente que o resultado das eleições passadas no primeiro turno não nos deixou outra escolha que não apoiar o mau militar e político medíocre, populista e despreparado, já que a alternativa nunca foi uma opção digna de ser levada em conta. Não pelos brasileiros de bem (detesto essa expressão, mas enfim...). Tanto é que 39% do total de eleitores aptos a votar no segundo turno votaram contra o PT, 32% a favor e 29% anularam o voto, votaram em branco ou se abstiveram de votar.

Mas a missão dada a nosso indômito capitão foi cumprida em outubro de 2018. Esperar dele mais do que isso seria o mesmo que querer tirar leite de pedra. 

Não foi fácil aturá-lo por 20 meses e nada indica que os próximos 28 serão diferentes. Isso para não mencionar que o sonho de reeleição pode se tornar realidade para ele e um pesadelo para nós. E agora que sua insolência descobriu que o auxílio corona é um poderoso cabo eleitoral, sobretudo nos estados do Norte e Nordeste, onde sua rejeição era maior por serem tais estados notórios redutos do PT e seus satélites, o céu é o limite — para o capitão-cloroquina, porque para nós é a antessala do inferno.

Para encerrar, relembro o que disse no começo: nem sempre as piores previsões são as que se concretizam, embora a prudência recomende levar o guarda-chuva quando há prenúncios de temporal. 

Uma pesquisa realizada pelo PoderData mostra que, para 48% dos brasileiros, Bolsonaro deve deixar o comando do país. O percentual se manteve estável em relação ao levantamento feito entre 20 a 22 de julho, mas o apoio ao presidente cresceu de 43% para 47%. Ainda de acordo com a pesquisa, 32% aprovam Bolsonaro e 41% o rejeitam.

Obviamente, a alta de 4 pontos percentuais na aprovação do Messias que não miracula deve-se ao coronavoucher e a “metamorfose” que aconteceu depois da prisão de Fabrício Queiroz (e que parece ter terminado no último final de semana, como vimos na postagem anterior). 

Ainda segundo o PoderData, se a eleição fosse hoje o “mito” lideraria o primeiro turno e empataria com Sérgio Moro no segundo. A questão é que quase 26 meses nos separam do pleito presidencial de 2022.