A julgar pelo noticiário, o mundo está a caminho do apocalipse.
Talvez esteja mesmo, mas dar ouvidos aos pessimistas implica o risco de acabar chutando o cachorro, esganando o papagaio e se enforcando num pé de cebola.
De nada adiante tapar o sol com peneira ou fazer como o avestruz, mas não custa nada lembrar que nem sempre as piores previsões são as que se concretizam (com o devido respeito ao diploma legal consolidado pelo capitão Edward Murphy).
Por outro lado, num país onde o futuro é duvidoso e o passado, incerto, fica difícil enxergar o copo meio cheio. Sobretudo diante do cenário que se nos descortina.
Não bastasse a pandemia sanitária e seus efeitos deletérios na economia, aboletou-se no Planalto alguém que reconhecidamente nasceu para ser militar, não para ser presidente.
Alguém que ao longo da campanha prometeu lutar pelo fim da reeleição — litteris: “O que eu pretendo é fazer uma excelente reforma política, acabando com o instituto da reeleição, que começa comigo caso seja eleito, e reduzindo um pouco, em 15% ou 20%, a quantidade de parlamentares” —, mas que, paradoxalmente, lançou-se candidato ao segundo mandato no instante em que subiu a rampa do Palácio do Planalto e vestiu a faixa presidencial.
A exemplo da mais antiga das profissões, a política é um mal necessário. O “xis” da questão é que, salvo raríssimas exceções, os políticos se tornaram um câncer. Mas o muito que se faz — isso quando se faz — é combater os sintomas, e não a causa.
Como sabe qualquer vestibulando de medicina, é preciso combater a causa, não mascarar seus efeitos. No caso específico de um
câncer, só com diagnóstico precoce e início imediato do tratamento que se impede o tumor de se tornar inoperável ou que a doença evolua
para metástase, levando o paciente a óbito.
Observação: É possível que a prostituição não seja
realmente a profissão mais antiga; se ela surgiu quando alguém teve a ideia de
oferecer sexo em troca de comida, então já havia coletores de alimentos (no
caso, caçadores) dispostos a aceitar o escambo. Mas isso é outra conversa e
fica para uma outra vez.
Sintomas de que o Brasil vai mal das pernas não faltam. O
que falta é vontade política para cortar o mal pela raiz. Ou males, pois
trata-se de uma conjunção de fatores que convergem para o mesmo ponto: o acachapante
despreparo do eleitorado tupiniquim para escolher seus representantes e governantes,
como eu deixei claro na sequência “DA PRAGA DA CASERNA AO CAPITÃO CAVERNA”,
cujo capítulo final foi ao ar no
último dia 14, e na novela sobre renúncia de Jânio Quadros e
suas consequências — cujos capítulos iniciais foram publicados em 15, 16, 17 e 24 de abril e 3 e 7 de maio, e os restantes estão
programados para a semana que vem.
Falar em política está se tornando muito chato. Posto isso, para
não encompridar a conversa além do aceitável, relembro somente que o resultado das eleições passadas no primeiro turno não nos deixou outra escolha que não apoiar o mau
militar e político
medíocre, populista e despreparado, já que a alternativa nunca foi uma
opção digna de ser levada em conta. Não pelos brasileiros de bem (detesto essa expressão, mas enfim...). Tanto é que 39% do total de eleitores aptos a votar no segundo turno
votaram contra o PT, 32% a favor e 29% anularam o voto, votaram em
branco ou se abstiveram de votar.
Mas a missão dada a nosso indômito capitão foi cumprida em outubro de 2018. Esperar dele mais do que isso seria o mesmo que querer tirar leite de pedra.
Não foi fácil aturá-lo por 20 meses e nada indica que os próximos 28 serão diferentes. Isso para não mencionar que o sonho de reeleição pode se tornar realidade para ele e um pesadelo para nós. E agora que sua insolência
descobriu que o auxílio corona é um poderoso cabo eleitoral, sobretudo nos estados
do Norte e Nordeste, onde sua rejeição era maior por serem tais estados notórios redutos do PT e seus satélites,
o céu é o limite — para o capitão-cloroquina, porque para nós é a antessala do inferno.
Para encerrar, relembro o que disse no começo: nem sempre as piores previsões são as que se concretizam, embora a prudência recomende levar o guarda-chuva quando há prenúncios de temporal.
Uma pesquisa
realizada pelo PoderData mostra
que, para 48% dos brasileiros, Bolsonaro deve deixar o comando do país.
O percentual se manteve estável em relação ao levantamento feito entre 20 a 22 de julho, mas o
apoio ao presidente cresceu de 43% para 47%. Ainda de acordo com a pesquisa, 32% aprovam Bolsonaro e 41% o rejeitam.
Obviamente, a alta de 4 pontos percentuais na aprovação do Messias que não miracula deve-se ao coronavoucher e a “metamorfose” que aconteceu depois da prisão de Fabrício Queiroz (e que parece ter terminado no último final de semana, como vimos na postagem anterior).
Ainda segundo o PoderData,
se a eleição fosse hoje o “mito” lideraria o primeiro turno e empataria com Sérgio Moro no segundo. A questão é que quase 26 meses nos separam do pleito presidencial de 2022.