sexta-feira, 21 de agosto de 2020

SOBRE JUSCELINO, A CONSTRUÇÃO DE BRASÍLIA E OTRAS COSITAS MÁS


Pessoas normais se miram no espelho e veem a própria imagem. Ególatras, megalômanos e lunáticos tendem a a enxergar quase sempre aquilo que gostariam de ver — ou de ser. Isso explica por que o retirante pernambucano que vendeu laranjas, engraxou sapatos e trabalhou como office boy antes de se tornar torneiro mecânico, eneadáctilo, dirigente sindical, fundador de partido político e, pasmem!, presidente da República — mesmo que desta República — comparar-se a Juscelino Kubitschek de Oliveira.

Conforme eu antecipei no post anterior, nem tudo foram flores no governo do mineiro de Diamantino. Houve erros, parcerias condenáveis, indiferença à cupidez das empreiteiras e menosprezo ao poder de fogo do dragão inflacionário. Mas a construção de Brasília, em que pesem todas as controvérsias (veremos isso em detalhes mais adiante) foi determinante para a ocupação do Centro Oeste e da Amazônia brasileira.

A despeito da dificuldade em convencer o PSD a abraçar sua candidatura, de ter sido eleito com o menor percentual de votos alcançado pelos presidentes brasileiros no pós-guerra e de sua posse ter sido contestada por adversários golpistas e se dado em pleno estado de sítio (decretado por Nereu Ramos; para mais detalhes, clique aqui), Juscelino entregou a Jânio um pais muito melhor do que recebeu de seus predecessores (no governo anterior, pela primeira vez na história, o Brasil teve três presidentes numa única semana). 

Se compararmos o legado de JK com o de seus sucessores, talvez fosse exagero dizer que um estadista do quilate de Winston Churchill governou o Brasil de 1956 a 1960, mas certamente seria injusto não reconhecer que seu governo merece mais elogios do que críticas.

Sem querer discutir aqui questões laterais de semântica, há caso em que o termo "melhor" não define necessariamente aquilo que possui o máximo de atributos para satisfazer certos critérios de apreciação, mas apenas "menos pior", ou seja, o menor dos males envolvidos numa comparação. Assim, a pergunta é: o que tivemos desde então?

A resposta é: arroubos autoritários do populista cachaceiro que renunciou após seis meses no cargo; uma tão curta quanto improdutiva experiência parlamentarista, que resultou na volta do presidencialismo sob Jango e culminou com o golpe de ’64 e os 21 anos de chumbo, e a tão sonhada volta da democracia, que desde então vem sendo sistematicamente surrada, violentada e vilipendiada por uma corja de políticos desprezíveis, eleitos por uma choldra de apedeutas incapazes de encontrar o próprio rabo usando as duas mãos e uma lanterna. Mas não vou me estender sobre esse assunto, até porque já o fiz na sequência iniciada por esta postagem

Sobre Brasília... bem, vamos por partes, começando por relembrar que primeira capital desta banânia foi Salvador, na Bahia, que sediou o governo federal até 1753, quando ele foi transferido para a cidade do Rio de Janeiro (no então chamado Estado da Guanabara), e lá permaneceu por até ser transferida para Brasília, em 21 de abril de 1960, que foi construído do nada no meio do nada durante a gestão de JK

Observação: Palácio do Planalto é a sede oficial do governo; o Palácio da Alvorada, a residência oficial do chefe do Executivo de turno; a Granja do Torto, a casa de campo oficial da Presidência, e o Palácio do Jaburu, a residência oficial do vice-presidente da vez (palácios e mordomias palacianas bancadas pela ospália, naturalmente). Em atenção a quem não é íntimo das sutilezas do idioma, "ospália" é o coletivo de palhaços, mas pode designar, por extensão, o conjunto dos pagadores de impostos, indevidamente chamados de "contribuintes", já que "contribuir" pressupõe espontaneidade, e não há nada menos espontâneo que o pagamento de tributos.

Curiosamente, Michel Temer, que era vice de Dilma, mas passou a titular quando a anta foi expelida da Presidência, voltou de mala e cuia para o Palácio do Jaburu após poucos dias no Alvorada, a despeito dos R$ 20 mil gastos com a adaptação da residência oficial às necessidades de Michelzinho. Em entrevista concedida à revista Vejao Vampiro do Jaburu confessou que tem medo de fantasmas:

"O Palácio da Alvorada tem um monte de quartos, uns oito, todos muito grandes. Tudo muito amplo, bonito, mas senti uma coisa estranha lá. Eu não conseguia dormir; Desde a primeira noite, senti que a energia não era boa. A Marcela sentiu a mesma coisa. Só o Michelzinho, que ficava correndo de um lado para outro, gostou. Chegamos a pensar: será que tem fantasma?"  

No Rio, o Palácio do Itamaraty foi a primeira sede do governo federal, que de lá se mudou para o Palácio do Catete em fevereiro de 1897. O que pouca gente sabe é que Curitiba, capital do Paraná, foi nomeada capital do Brasil por três dias, de 24 e 27 de março de 1969.

Continua...