Em 1949, ao descobrir que todos os eletrodos de um equipamento destinado a medir os efeitos da aceleração e desaceleração em pilotos, o engenheiro aeroespacial panamenho Edward A. Murphy criou um corolário de máximas que ficaria conhecido, mais adiante, como a “Lei de Murphy”. Alguns consideram-na um tratado de negativismo, mas o fato é que ninguém conseguiu revogá-la.
“Se algo pode dar errado, dará”, anotou Murphy. Soa fatalista, mas é pura lógica. Se nada dura para sempre, um dia vai quebrar, estragar, deixar de funcionar ou morrer. É mera questão de tempo.
No Teorema
do Macaco Infinito, descrito pelo matemático Émile Borel em
1913, um macaco, digitando aleatoriamente num teclado por um intervalo de tempo infinito,
quase certamente criará a obra completa de Shakespeare. O macaco é
apenas uma metáfora para um dispositivo abstrato que produza uma sequência
aleatória de letras ad infinitum, mas “quase certamente” é um termo
matemático com significado preciso.
Fato é que o pão do pobre sempre cai com o lado da manteiga
para baixo, e que basta a gente escolher uma fila para a outra começar a andar
mais depressa. Por outro lado, se sempre achamos as coisas no último lugar em
que as procuramos, é porque não continuamos procurando depois que as
encontramos. Mas isso é assunto para outra hora.
O que me leva a essas considerações é o artigo da Lei de Murphy segundo o qual não há nada tão ruim que não possa piorar. Impossível negar
essa dura realidade. Cito como exemplo o cenário político atual. Vejamos isso
melhor.
Durante o reinado de Lula, passei a ter vergonha
de ser brasileiro. Com Dilma na presidência, a vergonha virou nojo. Num
primeiro momento, a
deposição da anta e a ascensão de Temer acendeu uma luz no fim do túnel.
Mas a conversa de alcova que o vampiro do Jaburu manteve, na calada da noite, com certo moedor de carne bilionário deixou evidente que a tal luz era o farol do
trem.
A chama bruxuleante da esperança ressurgiu com a perspectiva da troca de comando em 2018. Mas durou pouco: tivemos de escolher entre o diabo que conhecíamos e o diabo que inevitavelmente passaríamos a conhecer (votar na marionete do criminoso de Garanhuns jamais foi uma opção). Para impedir que o bonifrate do presidiário levasse sua quadrilha de volta ao poder. elegemos o dublê de mau militar e parlamentar medíocre que hoje ocupa o Palácio do Planalto (e o da Alvorada, e a Granja do Torto, e por aí afora).
No segundo turno, votar em quem não se quer para evitar a vitória de quem se quer menos ainda faz parte do jogo político, mas tudo tem limite. Jamais botei fé no capetão, porém nunca imaginei que sua passagem pela Presidência pudesse ser tão desastrosa.
Como se vê, nada é tão ruim que não possa piorar.
Observação: Tanto a insistência do picareta dos picaretas em disputar a presidência, mesmo fingindo cumprir pena em Curitiba, numa sala VIP que se fingia de cela, quanto a excrescência a que chamamos "Justiça Eleitoral" reunir sua mais alta cúpula para julgar um pedido cuja desconformidade com a legislação eleitoral qualquer balconista da repartição pública onde se registram candidaturas não levaria mais que alguns minutos para determinar, foram um escárnio, uma bofetada nas fuças dos cidadãos de bem. A essa altura, porém, eu já nem sabia mais como qualificar meu “sentimento nativista”.
A pandemia foi uma fatalidade imprevisível, mas as coisas já andavam mal muito antes de a Covid-19 dar as caras por aqui.
Relembro o “pibinho” de 2019, que virou chacota nas redes sociais.
A reforma previdenciária, por cuja aprovação o presidente não só não se empenhou como fez o possível para atrapalhar.
A demissão de Mandetta em meio à maior pandemia sanitária dos últimos cem anos.
A nomeação de um general da ativa para transformar o ministério da Saúde em cabide de fardas (general esse que se sujeita ao papel de taifeiro do capitão-cloroquina e, feito por ele de gato e sapato, dá de ombros e diz que “um manda e o outro obedece”).
As articulações para empurrar com a barriga a investigação sobre sua interferência na PF (visando proteger familiares e amigos, como o próprio presidente reconheceu).
A nomeação de ministros da pior qualidade (só na Educação foram
quatro até agora, e um pior que o outro). E por aí segue a procissão.
Pelas últimas contas, mais de 50 pedidos de impeachment dormitam sobre a mesa do presidente da Câmara, que só tem olhos para a própria reeleição. Não fosse assim, “Botafogo” veria que o morubixaba de festim afrontou a lei em diversas oportunidades. Entre outras:
Ao apoiar manifestações antidemocráticas;
Ao declarar, em Miami, que as eleições de 2018 foram fraudadas;
Ao postar conteúdo pornográfico durante o Carnaval de 2019;
Ao mandar comemorar o golpe militar de 1964;
Ao praticar ofensas de cunho sexual contra a repórter Patrícia Campos Mello, da Folha;
Ao ignorar lei federal e atuar de modo temerário, propiciando a expansão do coronavírus;
Ao flertar com a greve de PMs no Ceará, reconhecendo a suposta legitimidade do movimento;
Ao afirmar abertamente que foi à CIA para tratar da deposição de Nicolás Maduro;
Ao permitir que ministro, sob o seu comando, demitisse de cargo de confiança um fiscal que o havia multado por pesca irregular;
Um oficial militar disse a Eliane Cantanhêde que, para
parar de falar besteira, o presidente tem de “tomar um remedinho”. A jornalista
comentou: “Isolado no plano internacional, Bolsonaro será derrotado na
eleição para prefeitos e tem contra si parcelas expressivas de governadores,
juristas, cientistas, médicos, professores, ambientalistas, diplomatas,
artistas e analistas. Não satisfeito, bate boca com Mourão, o que divide os
militares. Aonde, afinal, o presidente quer chegar?”
Pode-se acusar Bolsonaro de tudo, menos de ser original. Até porque a originalidade exige... bom, deixa pra lá.
Difícil é
identificar de quem o presidente de turno “herdou” seus invejáveis predicados. Seu
populismo desbragado teria vindo de Lula ou de Jânio? Sua falta de
compostura seria inata ou copiada de Trump? Sua inglória gestão acabará
como a de Dilma, de Collor, de Jânio ou de Getúlio?
Façam suas apostas.
Para concluir, um texto atribuído ao cineasta e jornalista carioca Arnaldo
Jabor:
Brasileiro é um povo solidário. Mentira. Brasileiro é babaca.
Eleger para o cargo mais importante do Estado um sujeito que não
tem escolaridade e preparo nem para ser gari, só porque tem uma história de
vida sofrida; pagar 40% de sua renda em tributos e ainda dar esmola para pobre
na rua, ao invés de cobrar do governo uma solução para pobreza; aceitar que
ONG's de direitos humanos fiquem dando pitacos na forma como tratamos nossa
criminalidade... Não protestar cada vez que o governo compra colchões para
presidiários que queimaram os deles de propósito não é coisa de gente
solidária. É coisa de gente otária.
Brasileiro é um povo alegre. Mentira. Brasileiro é bobalhão.
Fazer
piadinha com as imundices que acompanhamos todo dia é o mesmo que tomar
bofetada na cara e dar risada. Depois de um massacre que durou quatro dias em
São Paulo, ouvir o José Simão fazer piadinha a respeito e achar graça é
o mesmo que contar piada no enterro do pai. Brasileiro tem um sério problema.
Quando surge um escândalo, em vez de protestar e tomar providências como
cidadão, ri feito bobo.
Brasileiro é um povo trabalhador. Mentira.
Brasileiro é vagabundo por
excelência. O brasileiro tenta se enganar, fingindo que os políticos que ocupam
cargos públicos no país surgiram de Marte e pousaram em seus cargos, quando na
verdade são oriundos do povo. O brasileiro, ao mesmo tempo que fica indignado
ao ver um deputado receber R$ 33 mil por mês para trabalhar 3 dias e coçar o
saco o resto da semana, também sente inveja e sabe que se estivesse
no lugar dele faria o mesmo. Um povo que se conforma em receber uma esmola do
governo de R$ 300 mensais para não fazer nada e não aproveita isso para
alavancar sua vida (realidade da brutal maioria dos beneficiários do bolsa
família) não pode ser adjetivado de outra coisa que não de vagabundo.
Brasileiro é um povo honesto. Mentira. Já foi; hoje é uma qualidade em
baixa.
Se você oferecer 50 euros a um policial europeu para ele não te
autuar, provavelmente irá preso. Não por medo de ser pego, mas porque ele sabe
ser errado aceitar propinas. O brasileiro, ao mesmo tempo que fica indignado com
a roubalheira dos políticos, pensa intimamente o que faria se arrumasse uma
boquinha dessas, quando na realidade isso sequer deveria passar por sua cabeça.
90% de quem vive na favela é gente honesta e trabalhadora. Mentira. Já foi.
Historicamente, as favelas se iniciaram nos morros cariocas quando os negros e
mulatos, retornando da Guerra do Paraguai, ali se instalaram. Naquela época,
quem morava lá era gente honesta, que não tinha alternativa e não concordava
com o crime. Hoje a realidade é diferente. Muito pai de família sonha que o
filho seja aceito como "aviãozinho" do tráfico. Se a maioria da favela
fosse honesta, os bandidos já teriam sido tocados de lá, pois podem matar 2 ou
3, mas não milhares de pessoas. Além disso, cooperariam com a polícia na
identificação dos criminosos, inibindo-os de montar suas bases de operação nas
favelas.
O Brasil é um país democrático. Mentira.
Num país democrático, a vontade
da maioria é Lei. A maioria do povo acha que bandido bom é bandido morto, mas
sucumbe a uma minoria barulhenta que se apressa em dizer que um bandido que foi
morto numa troca de tiros foi executado friamente. Num país onde todos têm
direitos, mas ninguém tem obrigações, não há que falar em democracia, e sim em
anarquia. Num país onde a maioria sucumbe bovinamente ante uma minoria
barulhenta, não existe democracia, mas um simulacro hipócrita. Se tirarmos o
pano do politicamente correto, veremos que vivemos numa sociedade feudal: um
rei que detém o poder central (presidente e suas MPs), seguido de duques,
condes, arquiduques e senhores feudais (ministros, senadores, deputados, prefeitos,
vereadores). Todos sustentados pelo povo, que paga tributos para sustentar os privilégios do poder. E ainda somos obrigados a votar!
Democracia isso? Pense!
O famoso jeitinho brasileiro é um dos maiores
responsáveis pelo caos que se tornou a política. Brasileiro se acha malandro,
muito esperto. Faz um "gato" puxando a TV a cabo do vizinho e acha
que está botando pra quebrar. Se o caixa da padaria erra no troco e devolve 6
reais a mais, caramba, ele sai de lá feliz como se tivesse
ganhado na loto... malandrões, esquecem que pagam a maior carga tributária do
planeta e o retorno é zero. Zero saúde, zero emprego, zero educação. Mas e daí? Somos penta campeões do mundo, né?
O Brasil é o país do futuro.
Caramba, meus avós diziam isso em 1950.
Muitas vezes cheguei a imaginar como seria sua indignação se ainda estivessem
vivos. Dessa vergonha eles se safaram... Brasil, o país do futuro!? Hoje o futuro
chegou e tivemos uma das piores taxas de crescimento do mundo.
Deus é brasileiro.
Puxa, essa eu não vou nem comentar... O que me deixa
mais triste e inconformado é ver todos os dias nos jornais a manchete da
vitória do governo mais sujo já visto em toda a história brasileira.
Para finalizar: O brasileiro merece! Como diz o ditado, é igual mulher de malandro, gosta de apanhar.