Bolsonaro priorizou uma burlesca pauta de costumes em detrimento das indispensáveis reformas estruturantes — a reforma previdenciária tornou-se a primeira e a única vitória em um deserto de propostas que só ocorreu graças ao empenho de Rodrigo Maia, já que o presidente se recusou a jogar no time, torceu contra e fez o possível para tumultuar o meio de campo.
Sua célebre pauta anticorrupção foi
abandonada no instante em que o “longo braço da lei” ameaçou beliscar a bunda
dos "primeiros-filhos". E o descaso que dedicou ao coronavírus lhe assegurou o
título de pior
líder mundial no combate à pandemia — uma gripezinha de nada, segundo
ele, mas que já produziu mais de 320 mil cadáveres e vem acrescentando à pilha outros 4 mil, em méida, dia sim, outro também.
Basicamente, o que o Bolsonaro fez em 27 meses foi: 1) usar o cargo para salvar o próprio rabo e o rabo sujo da filharada; 2) comprar o apoio das marafonas do Congresso para barrar eventual processo de impeachment; 3) usar a máquina pública em prol da (cada vez mais improvável) reeleição.
Nas horas vagas, além de flertar com o autogolpe, o capitão-cloroquina, se dedicou a criar crises
e narrativas disparatadas, que se tornaram sua marca registrada (o objetivo,
como todos sabem, é servir de cortina de fumaça para encobrir seus malfeitos e
sua acachapante incompetência administrativa).
O resultado desse desgoverno excêntrico e negacionista não poderia ser outro: recrudescimento da pandemia, colapso do sistema de saúde, debacle da economia e — surpresa! — queda de popularidade do mestre de cerimônias do Circo Marambaia.
Sem recursos e endividado, o Brasil se mostra cada vez mais cético e
decepcionado com a falta de resultados positivos do bolsonarismo. O populismo
presidencial vai perdendo seu encanto à medida que a dura realidade esvazia o bolso e o prato dos brasileiros que ainda não foram comer capim pela raiz na chácara
do vigário (por cortesia do Sars-CoV-2
e suas variantes mais agressivas).
Acenos antidemocráticos, crises intermináveis, incompetência na negociação de vacinas e insumos, choques entre os poderes e enfrentamento com o alto comando das Forças Armadas são apenas alguns dos ingredientes de uma presidência que passa longe de suas promessas eleitoreiras. Um verdadeiro estelionato eleitoral que cala fundo na parcela pensante da população, que um dia acreditou no populista demagogo que engambelou liberais, lavajatistas, conservadores e antipetistas.
A inesgotável sucessão de asnices afastou o general da banda do
mundo financeiro — que divulgou manifesto contra o governo —, colocou-o em rota
de colisão com os militares — resultando no afastamento conjunto dos
comandantes das Forças Armadas — e esvaziou sua base de apoiadores (até mesmo
entre os descerebrados mais fiéis).
O declínio do bolsonarismo eram favas contatas. Se sobreviver politicamente (e à Covid), o homem da caneta Bic entrará em 2022 no controle da máquina, mas eleitoralmente fragilizado. Pressionado pelos números de Lula e pela possibilidade de uma candidatura de centro, talvez nem chegue ao segundo turno. Enfim, quem viver (e sobreviver) verá.