sexta-feira, 16 de abril de 2021

SEGURANÇA É UM HÁBITO...

O ASPECTO MAIS TRISTE DA VIDA DE HOJE É QUE A CIÊNCIA GANHA EM CONHECIMENTO MAIS RAPIDAMENTE QUE A SOCIEDADE EM SABEDORIA.

Segurança é um hábito e como tal deve ser cultivado. Kevin Mitnick, o papa dos hackers dos anos 1980, dizia que “computador seguro é computador desligado, mas um hacker competente será capaz de induzir o usuário a ligar o dispositivo (para então invadi-lo).

Observação: Não deixe de ler a Arte de Enganar, que Mitnick publicou em 2001, após passar cinco anos numa prisão federal. O livro traz diversas dicas (hoje obsoletas, mas enfim) e uma porção de curiosidades sobre a trajetória do menino que passou de mestre em engenharia social e phreaker (doutor em invasão de redes de telefonia) a consultor de segurança.

Parece exagero, mas não é. O ano passado foi atípico (por conta da pandemia que ainda não acabou), mas tudo leva a crer que o home office veio para ficar, e que nossa dependência de dispositivos eletrônicos deve crescer no “novo normal”. E esse cenário preocupante.

Segundo dados do Kaspersky Security Bulletin 2020, pelo menos 10,18% dos computadores conectados à web sofreram alguma ameaça no ano passado, e nada menos do 666,8 bilhões de ofensivas foram lançadas, com mais de 360 mil malwares sendo distribuídos por dia.

O Windows sempre foi considerado inseguro. Detratores da Microsoft, linuxistas de carteirinha e defensores de ocasião do software livre (de código aberto) chamavam o sistema de “ruíndows” (nem é preciso explicar o porquê), de “peneira” (devido às brechas de segurança) e de “colcha de retalhos” (numa alusão ao sem-número de “patches” — “remendos”, em português — que a empresa de Redmond era obrigada a implementar no programa para corrigir bugs e outras falhas). Mas muita dessa “insegurança” devia-se (e ainda se deve) ao fato de o programa em questão ser o sistema operacional mais popular do planeta, o que, mal comparando, seria como andar por um campo de tiro com um alvo pendurado nas costas.

A Microsoft investiu bilhões de dólares em segurança ao longo dos últimos 35 anos (detalhes nesta postagem), mas — traçando um paralelo com a pandemia da Covid — de nada adianta criar vacinas se a população não as utiliza para se imunizar. Ao se dar conta de que muitos usuários resistiam a implementar as atualizações e correções disponibilizadas no site do Windows Update (havia até quem afirmasse que aplicar essas correções “deixava o computador mais lento”), a empresa criou as “atualizações automáticas” e tornou compulsória a instalação de correções críticas e de segurança. Por mal de nossos pecados, alguns patches apresentaram (e ainda apresentam) efeitos colaterais indesejados, o que levou a Microsoft a devolver aos usuários do Windows 10 Home o controle sobre as atualizações.

ObservaçãoVale lembrar que até o update de março de 2019 (versão 1903) usuários do Windows 10 Home tinham de fazer malabarismos para driblar problemas que só seriam corrigidos a posteriori. Doravante, segundo a empresa, em vez de a instalação ser aplicada de maneira impositiva, o usuário será notificado da disponibilidade dos updates.

Enquanto pneus à prova de furos não se tornarem padrão da indústria, as montadoras continuarão equipando os veículos com estepe, macaco e chaves de roda; enquanto os engenheiros de software não se tornarem capazes de escrever programas isentos de bugs e brechas de segurança, desenvolvedores responsáveis continuarão criando e disponibilizando correções de falhas descobertas depois que o software foi lançado comercialmente (como faz a Microsoft no Patch Tuesday), mas cabe ao usuário (tanto do automóvel quando do computador) a reponsabilidade de providenciar o conserto.

Como se costuma dizer, é melhor acender uma vela que simplesmente amaldiçoar a escuridão.