quinta-feira, 26 de agosto de 2021

MAIS SOBRE INSEGURANÇA DIGITAL (PARTE 4)

SÓ SEI QUE NADA SEI.

Você sabia que, ao dizer "só sei que nada sei", Sócrates não afirmou uma certeza, mas externou suas dúvidas. Não? Nem eu. Mas sei que, sessenta anos atrás, eu sabia tudo; hoje, sei que nada sei, pois o aprendizado nada mais é que a descoberta progressiva de nossa própria ignorância. 

Sei também que o epigrama atribuído a Sócrates encerra uma contradição, pois "quem sabe que nada sabe" sabe ao menos que nada sabe e, portanto, sabe alguma coisa. Mas vamos encerrar essa conversa de maluco e passar ao que interessa, senão acabaremos perdendo o senso e apoiando Bolsonaro em sua próxima pauta — que provavelmente será a ressureição do velho sabugo de milho — papel higiênico de folha dupla é "coisa de maricas, taokey?"

Voltando ao que eu dizia no finalzinho da postagem da última terça-feira, a tarja de cerca de 5 cm2 que permanece até hoje no verso dos cartões de crédito foi criada para receber a "assinatura autorizada" do usuário, visando — pasmem! — prevenir fraudes.

Apor o jamegão na tal tarja nunca foi uma boa ideia. Primeiro, porque assinaturas complexas não cabiam naquele espaço diminuto. Segundo, porque, em caso de furto ou roubo, um falsário poderia se valer daquela "amostra" para treinar uma reprodução aceitável. Terceiro, porque caixas de lojas e mercados não são peritos grafotécnicos. Quarto, porque, se a ideia fosse aprimorar a segurança, bastaria pedir ao cliente que apresentasse um documento com foto e assinatura (como o RG ou a CNH).

O Banco Nacional — que foi fundado em 1944 pelos irmãos José e Waldomiro Magalhães Pinto e faliu em 1995 — lançou um cartão de crédito com a foto do cliente, mas essa "ideia luminosa" (a expressão é cringe, mas era muito popular nos anos 1950/60) não foi adotada pelos concorrentes. O Banco do Brasil oferece ao cliente (mediante módicos R$ 20) a possibilidade de "escolher a foto que mais gosta e personalizar o Ourocard" (sic).

Observação: Na língua culta, o correto é dizer “a foto de que mais gosta”, porque o verbo gostar é transitivo indireto e exige a preposição "de".

Assinar o verso do cartão nunca fez sentido, sobretudo depois que as transações passaram a ser autenticadas por senha. Mas a tarja continua lá, tal e qual um egun mal despachado. Em muitos casos, ela exibe o CVV (código de verificação) do cartão — que, por motivos óbvios, usuários precavidos costumam cobrir com um pedacinho de esparadrapo ou fita isolante.

O CVV é um código criado para ser de conhecimento apenas do titular do cartão, não sendo recomendado o uso de computadores públicos ou dispositivos de terceiros. Quando as compras são realizadas em ambiente virtual, embora seja necessário informar esse código para finalizar o processo, ele não aparece em documentos como recibos e notas fiscais. Mesmo que você se torne cliente e salve as informações do cartão para compras futuras (coisa que eu não recomendo), terá que inserir o CVV para validá-las.

Visando minimizar as chances de fraude, o CVV é composto geralmente por 3 dígitos (baseados na criptografia de algoritmos do serial do cartão e data de vencimento) e disposto no verso da mídia, de maneira bem discreta. O problema é que o gênio que "bolou" essa "muralha de segurança" não levou em conta a possibilidade (nem um pouco remota) de o cartão ser perdido, furtado ou roubado.

Continua na próxima postagem.