Após se reabilitar politicamente, Collor disputou
o governo de Alagoas e foi derrotado por Reinaldo Lessa. Em 2006, elegeu-se
senador (meus respeitos ao esclarecidíssimo eleitorado alagoano); em 2010,
tornou a disputar e perder o governo estadual, mas logrou renovar seu mandato
de senador em 2014. Em 2017, o "Rei Sol" (como Collor é
chamado por seus puxa-sacos) foi denunciado por peculato e entrou para o rol
dos investigados da Lava-Jato (alvo de pelo menos seis inquéritos, todos
relacionados ao escândalo do Petrolão).
Vale destacar que o
assassinato de PC Farias — coordenador e tesoureiro de campanha, amigo
de fé, irmão e camarada do caçador de marajás de araque — ainda suscita um
sem-número de teorias conspiratórias em que o motivo do crime foi a assim
chamada "queima de arquivo" (a exemplo dos assassinatos não
esclarecidos de
Celso Daniel e do Toninho do PT, nos quais a merda era a mesma, só
mudaram as moscas).
Collor é freguês de carteirinha do Supremo
e representativo da demora da Justiça que processa e julga parlamentares
com foro privilegiado. Em 2014, durante sessão que o absolveu dos crimes
de corrupção supostamente cometidos durante a presidência desse senhor, a
ministra Carmem Lúcia mencionou que ele já havia sido alvo
de 14 inquéritos e quatro ações penais, e absolvido em todos "por
falta de provas".
Observação: Considerando que Lula foi
condenado a mais de 15 anos de cadeia por dez magistrados de três instâncias do
Judiciário — isso sem mencionar os inúmeros pedidos de habeas corpus que foram
rejeitados pelo próprio STF — e transformado em "ex-corrupto"
por uma decisão teratológica de nossa suprema corte, que se valeu de uma
tecnicidade para anular as condenações e jogar no lixo provas, depoimentos e
demais atos processuais envolvendo os processos contra o petralha, só nos resta
dizer que, como instituição, o STF merece nosso respeito, mas seus integrantes...
bem, é melhor deixar pra lá.
Em entrevistas concedidas ao jornal O Globo e à revista
Veja no ano passado, o ex-mandatário que inaugurou a lista dos presidentes impichados
da Nova República acusou o mandatário de turno (que já deveria fazer
parte dessa mui seleta confraria) de cometer os mesmo erros que ele
próprio cometeu 30 anos antes, e previu que o atual governo terá um
final tão funesto quanto o dele. Mas sua profecia de botequim só terá
chances reais de se realizar quando e se o capitão-negação (que de burro não
tem nada) o vassalo passador-de-pano-geral da República e o deputado-réu que preside
a Câmara deixarem de ser coniventes e de lhe darem cobertura. Mas isso é
conversa para outra hora.
Depois que Collor foi devidamente penabundado (em
dezembro de 1992), Itamar Franco, que havia assumido interinamente a Presidência
três meses antes, quando o caçador de marajás de araque foi afastado, foi
promovido de vice a titular. Vale a pena conferir alguns detalhes da história
do ex-presidente que o professor e historiador Marco Antonio Villa considera
o melhor de toda a Nova República.
Itamar nasceu no dia 28 de junho de 1930 a bordo de
um navio de cabotagem que fazia a rota Salvador/Rio de Janeiro e foi registrado
na capital baiana, de onde se mudou ainda criança para Juiz de Fora (MG), terra
natal do pai que ele não chegou a conhecer. Depois de se formar engenheiro civil
e eletrotécnico, o baianeiro ingressou na política pelo PTB,
filiou-se ao MDB,
prefeitou Juiz de Fora por dois mandatos e foi senador por MG de 1975 a 1990, quando então disputou a
vice-presidente da República na chapa encabeçada por Collor.
Itamar é lembrado pelo gosto por carros ultrapassados
— ele convenceu a Volkswagen do Brasil a retomar
a fabricação do jurássico fusca — e mulheres ousadas. Depois de se
divorciar da jornalista Anna Elisa Surerus, em 1978, ele passou a ser
visto sempre em companhia de mulheres mais jovens. O clímax se deu no carnaval
de 1994, quando foi fotografado no Sambódromo do Rio de Janeiro ao lado da
modelo Lilian Ramos, que
não estava usando calcinha. Mas foi durante seu governo que FHC
e sua equipe criaram o Plano Real — o único
pacote de medidas econômicas que teve sucesso duradouro no combate à
hiperinflação. Vale lembrar também que Itamar herdou de Collor um
abacaxi difícil de descascar: quando assumiu a presidência, o Brasil vivia um
período conturbado, com uma inflação de 80% ao mês.
Observação: Quando o real passou a valer, sua
paridade com o dólar era de 1 para 1, e a partir daí a abertura comercial e a
manutenção do câmbio valorizado mantiveram a inflação sob controle. Como efeito
colateral, as importações foram muito estimuladas e impediram que as empresas
nacionais aumentassem seus preços, até porque isso tornaria a concorrência
impossível. O Plano sofreu com crises posteriores, especialmente externas, mas
o fato é que a inflação se manteve dentro de níveis aceitáveis. Em 1999, o
Banco Central criou o regime de metas para a inflação, a Selic passou
a ser a âncora monetária e o câmbio, flutuante. Em alguns momentos, temeu-se a
volta da inflação, mas a estabilidade da moeda resistiu e o país nunca mais
passou perto do índice hiperinflacionário de 2708%, alcançado em
1993.
Como o bom mineiro que não era, o político baianeiro buscou apoio
nos partidos políticos e procurou atender aos anseios da população. Sua equipe
de governo era composta majoritariamente por mineiros — daí a alcunha de "República
do Pão de Queijo". Apesar das inúmeras dificuldades, o PIB cresceu
10% e a renda per capita, 6,78%. Quando Itamar assumiu a Presidência, a
inflação anual era de 1191,09%; quando transferiu a faixa para seu sucessor, o
índice havia recuado para 916,43%. Mas há quem diga que ele só escapou da
degola porque nomeou FHC ministro da Fazenda (e primeiro-ministro
informal), transformando a si mesmo numa patética figura decorativa.
Após deixar a Presidência, Itamar foi embaixador em
Portugal e em Washington (na OEA).
Retornou ao Brasil em 1988 para disputar o governo de Minas Gerais. Eleito,
governou o Estado até 2002. No ano seguinte, ganhou o posto de embaixador na
Itália, onde permaneceu até 2005. De volta ao Brasil, presidiu o Conselho de
Administração do BDMG de 2007
a 2010. No ano seguinte, assumiu seu terceiro mandato de Senador, mas se afastou
do cargo em maio, devido a uma leucemia, e morreu menos de dois meses depois, vítima
de um AVC. Seu corpo foi velado na Câmara Municipal de Juiz de Fora e no
Palácio da Liberdade, em Belo Horizonte. Após a cremação, as cinzas foram
depositadas no jazido da família no Cemitério Municipal de Juiz de Fora.
Continua...