Faz parte do "American Dream" ver um filho presidente, daí as famílias americanas de classe média hipotecarem a casa e as cuecas para mandar os filhos para Harvard, Columbia, Stanford, Princeton, enfim, para universidades que lhes assegurem melhores oportunidades profissionais.
Tanto lá como cá o contrato de locação da residência oficial da Presidência é de quatro anos, prorrogáveis por mais quatro, mas aqui as exigências são low profile. Aqui, cinco inquilinos foram avalizados pelas urnas desde a redemocratização.
O primeiro se formou em Ciências Econômicas, estagiou no Jornal do Brasil e dirigiu a empresa da família antes de ingressar na vida pública e, mais adiante, mudar-se de mala cuia para o Planalto. O segundo era um sociólogo e cientista político com mestrado e reeleição; o terceiro, o desaculturado exótico que, 8 anos e um mensalão depois, se fez suceder por uma pseudogerentona de araque, dona de um currículo anabolizado que deixaria certo ex-ministro da Educação verde de inveja; e o inquilino da vez...
... O inquilino da vez é o dublê de mau
militar e deputado
medíocre que, na definição lapidar do senador Omar Aziz, "por
onde passa espalha fezes". Um lunático sem condições de presidir
coisa alguma — nem carrinho
de pipoca em porta de cinema —, mas que, graças à inércia dos
brasileiros, não só continua no Palácio (onde raramente é encontrado, mas enfim...)
como pugna pela prorrogação do contrato por mais quatro anos (que Deus nos
livre e guarde dessa desgraça).
Diz um ditado português que "em casa onde falta o
pão todos gritam e ninguém tem razão". Outra pérola da sabedoria
popular ensina que dar voz a burros implica aturar os zurros. E o que
não falta ao Brasil, além de governo e agentes públicos sérios, é espaço para a
discussão de bobagens. No contexto atual, repercutir as falas do pajé da
cloroquina, como a mídia tem feito dia sim outro também, é desperdiçar boa vela
com mau defunto.
Governar esta banânia talvez não seja um bicho-de-sete-cabeças. Tanto que o desaculturado retrocitado e sua deplorável cria e sucessora somaram 13 anos, 4 meses e 12 dias no Planalto. Mas requer um mínimo de bom senso, coisa que o mandatário de turno não tem. Aliás, ele próprio reconheceu que não nasceu para ser presidente, mas, sim, para ser militar.
Fosse o Brasil
uma democracia consolidada, a pergunta que se colocaria seria: por que diabos Bolsonaro
não desce do palanque, pega o boné e vai passear de motocicleta em outra freguesia?
Como vivemos num arremedo de republiqueta de bananas, a resposta é: porque isto
aqui não passa de uma republiqueta de bananas.
A esta altura, já cumprimos 32 meses e meio da pena de 48 meses que nos foi imposta pelas urnas em 2018. A despeito de quase 140 pedidos de impeachment, o carcereiro continua na porta da cela, ensinando-nos da pior maneira que suas promessas de campanha eram meras falácias de palanque.
Menos de um mês depois e assumir a Presidência, o
"mito" foi questionado acerca das estripulias de Zero Um/Fabrício Queiroz. Sua resposta foi: "se
ele errou e isso ficar provado, eu lamento como pai, mas ele vai ter que pagar."
E foi então que a Velhinha
de Taubaté se revirou na tumba.
De novo: se vivêssemos num país sério, há muito que Bolsonaro seria uma página virada da desditosa história de Pindorama. Mas, como vivemos no país do futuro que nunca chega e onde passado é incerto, periga termos de escolher novamente, daqui a 11 meses, se continuamos a fritar na frigideira do bolsonarismo boçal ou pulamos no fogo do lulopetismo ladrão.
Até onde a vista alcança, nossa única esperança é a
consolidação da tão falada terceira via — até porque a
falta de candidatos que empolguem o eleitorado "nem-nem" (nem
Bolsonaro nem Lula) é tão prejudicial quanto sua pluralidade.
Gente incompetente, ímproba e mal-intencionada vem
alardeando o descabimento da candidatura de Sergio Moro. O cara tem voz
de pato, dizem uns. Falta-lhe experiência política, afirmam outros. As esquerdas
o acusam de parcialidade no julgamento do redentor dos pobres (e tiveram seus
queixumes agasalhados pela banda podre do STF), sustentam que ele mandou
prender a "alma
viva mais honesta desta galáxia" para impedir o povo de ser feliz
de novo, e por aí vai. Já os bolsomínions e convertidos acusam-no de ter
"traído" o imbrochável, incomível e imorrível que lhe deu um
ministério para chamar de seu, dizem que o ex-juiz entrou para a política de
olho numa suprema toga, e por aí segue a procissão de asneiras.
Raciocinar nunca foi o esporte nacional dos brasileiros. Isso resulta em más escolhas nas urnas. Como bem disse o último general-presidente da ditadura militar, "um povo que não sabe escovar os dentes não está preparado para votar".
Na última quarta-feira, em entrevista a Pedro Bial, o ex-juiz da Lava-Jato
disse que, para levar seu projeto adiante, ele depende apenas da confiança do
povo, e que está preparado para presidir o país. Moro ainda está
escolhendo sua equipe, mas adiantou na entrevista que Affonso
Celso Pastore deverá cuidar da área econômica, e que seu plano de
governo vai muito além do combate à corrupção. Que assim seja!
No final de 2018, a promessa de uma vaga no STF foi
decisiva para o então juiz abandonar 22 anos de magistratura. Mas a pergunta é:
quem do ramo do Direito não sonha com a suprema toga? Isso não muda o fato de
que, como ministro da Justiça, Moro teria melhores condições de combater
a corrupção e a criminalidade. Demais disso, ao aceitar o convite do então
presidente eleito, nem ele nem ninguém fazia ideia do antro de corrupção que seria
a gestão do "mito" dos bolsomínions.
Bolsonaro obrigou Moro a engolir todos os sapos
e beber toda a água da lagoa. Quando finalmente conseguiu a demissão do
auxiliar, sua alteza irreal "acabou com a Lava-Jato" porque, "não
havia mais corrupção no governo". Esse pronunciamento do lunático levou
a récua de bolsomínions a bater os cascos até perderem a ferradura,
indiferentes ao fato de que, dos cinco rebentos que o Messias teve em três
casamentos, somente
a filha de 11 anos não é alvo de investigações.
Mais malfeitos de Bolsonaro et caterva foram
trazidos à luz pela CPI do Genocídio, cujas sessões televisionadas e transmitidas
ao vivo e em cores deixaram evidente que o ministério da Saúde foi cooptado por
negacionistas, oportunistas, corruptos e vendilhões da pátria. Mesmo assim, o
general Pesadello vai muito bem, agora exercendo o cargo de "aspone".
Embora o fardado fosse passível de punição à luz do Código Penal Militar por
sua participação em
atos políticos, a investigação deu em nada e os detalhes envolvendo
a farsa foram sepultados sob 100 anos de sigilo.
Observação: No auge da pandemia, o capitão-caverna
demitiu Luiz Henrique Mandetta (porque o médico “estava
se achando estrela”). Quando se deu conta de que seu substituto — o
oncologista Nelson Teich — não se converteria ao negacionismo, sua
alteza fritou o ministro e nomeou o general "um
manda e o outro obedece". O expert em logística que não sabia
amarrar os próprios coturnos militarizou
a pasta, transformou-a em cabide de farda para os "amigos do
rei" e lambeu as botas do suserano durante dez meses. Quando sua
permanência no cargo se tornou insustentável, o capitão o substitui pelo
cardiologista Marcelo Queiroga, que hoje segue alegremente os passos do
esbirro que o antecedeu.
O candidato que apoiamos para evitar a volta da roubalheira
lulopetista ora envergonha, dia sim outro também, localmente e no exterior. A
falta de compostura do capetão transformou-o em pária aos olhos do mundo —
condição vexatória que o povo brasileiro é forçado a compartilhar. Inobstante a
péssima qualidade de seu eleitorado, o Brasil não merece um mandatário
desequilibrado, que profere discursos golpistas,
regurgita aleivosias na ONU e
no G20 e conspurca a imagem
do país no exterior, como fez no passeio
turístico pela Europa — que teve até agressão
física a jornalistas — e em sua viagem a Dubai, onde despejou uma narrativa ficcional sobre os
investidores árabes, e ao Catar, onde promoveu mais uma de suas ridículas motociatas. Vá se catar!
Moro não terá dificuldade em administrar a massa
falida herdada da pior gestão de todos os tempos (incluindo a de Dilma) se
compuser um ministério competente e probo. Como cachorro picado por cobra tem medo
de linguiça, não custa relembrar que o vampiro do Jaburu prometeu um ministério
de notáveis e entregou uma
notável confraria de corruptos, transformando sua "ponte para o
futuro" numa patética
pinguela e pavimentando o caminho para a vitória do motoqueiro
fantasma.
Oportuno relembrar também que a campanha do capitão-demagogo à Presidência se equilibrou em três pilares:
1) Para provar que era amigo do mercado e obter o apoio dos empresários, o estatista que acreditava em Estado grande e intervencionista, que sempre lutou por privilégios para corporações que se locupletam do Estado há décadas, foi buscar Paulo Guedes, que embarcou em uma canoa que deveria saber furada;
2) para provar que era inimigo da corrupção e obter o apoio da classe média, o deputado que, em sete mandatos, pertenceu a oito partidos diferentes, todos de aluguel, e sempre foi adepto das práticas da baixa política e amigo de milicianos, foi buscar Sergio Moro, que embarcou em uma canoa que deveria saber furada;
3) para obter o
apoio das Forças Armadas, o oficial de baixa patente despreparado,
agressivo e falastrão, condenado por insubordinação e indisciplina e enxotado
da corporação, foi buscar legitimidade em uma fieira de generais, que
embarcaram em uma canoa que deveriam saber furada.
A esse festival de horrores soma-se a conversão do pajé de Chicago ao negacionismo tresloucado do chefe despirocado. Ao invés de ensinar noções de liberalismo ao presidente, o superministro de festim absorveu como uma esponja o que há de pior no bolsonarismo-raiz.
Tivesse um mínimo de autoestima, o cheerleader
do governo Bolsonaro enfiaria o ego no saco, pegaria o boné e iria se
catar nas Ilhas Virgens Britânicas, onde
mantém sua offshore. Em vez disso, o luminar da economia continua insultando
nossa inteligência ao afirmar que o PIB brasileiro "está crescendo acima da média mundial"
e que quem não vê isso está "maquiando
os números com variáveis 'fictícias'".
Contaminado pelo sumo pontífice da nova seita do inferno, o
Posto Ipiranga sem combustível insiste na potoca da recuperação em
"V". Para este ano, a estimativa do ministro sonhador para o
crescimento do PIB é de 5,1% — um pouco menos que os 5,3% divulgados em
setembro, mas ainda acima dos 4,88% previstos pelo mercado financeiro —, e de 2,1%
para o ano que vem — o
mercado ainda fala de 0,93%, mas já há quem preveja recessão.
Entrementes, a corja de ladrões que tomou de assalto (sem trocadilho) o Congresso Nacional busca novas maneiras de assaltar o erário. A despeito de o STF ter barrado as famigeradas "emendas de relator", o governo continua liberando verbas para parlamentares afinados com o general da banda.
Nos dias que antecederam a votação da PEC
do CALOTE, foram gastos R$ 1,3 bilhão com as tais emendas. No
despacho que suspendeu a maracutaia, a ministra Rosa Weber anotou: “Causa
perplexidade a descoberta de que parcela significativa do Orçamento da União
Federal esteja sendo ofertada a grupo de parlamentares, mediante distribuição
arbitrária entabulada entre coalizões políticas. Triste Brasil.
Enquanto Bolsonaro gargalha de suas piadas
homofóbicas (sua marca
registrada), a obstinação do Planalto em gastar por antecipação (com propósitos
nitidamente eleitoreiros) derrubou o Ibovespa por quatro dias
consecutivos. Na quarta-feira 17, a B3 fechou aos 102.498 pontos — a última vez
que o índice ficou abaixo dos 103 mil pontos foi em novembro do ano passado, e
na quinta, aos 102.426 pontos).
Observação: Alguns senadores contrários à farra do
deputado-réu que preside a Câmara querem canalizar para programas sociais os
bilhões resultantes da PEC
do Calote, fechando de vez a porta para a promessa feita pelo
capitão-falastrão — que deixou o mercado em polvorosa — de reajustar os
salários de todos os servidores.
Questionado por Bial sobre declarações que jamais seria candidato, Sergio Moro ponderou que o contexto mudou completamente depois que Bolsonaro boicotou o projeto de combate à corrupção no país.
“Em
2018, eu vi a oportunidade de me tornar ministro da Justiça e levar essa
reforma que estava sendo feita nos casos judiciais para Brasília, para
consolidar leis e avanços e principalmente impedir esses retrocessos. Eu
encarava como missão por um propósito maior. Quando, depois, o governo boicotou
o projeto de combate à corrupção, não deu o apoio necessário para que fossem
aprovadas as reformas no Congresso, passou a adotar um comportamento de, ao
invés de coibir a corrupção, praticamente abandonar essa agenda, inclusive
interferir em órgãos de controle, saí do governo. Tenho visto desde que saí do
governo um progressivo desmantelamento do combate à corrupção. Estamos perdendo
aquilo que construímos a duras penas durante a Operação Lava Jato”,
disse o ex-ministro.
Para mim está de bom tamanho. E para você?