sexta-feira, 16 de setembro de 2022

A ELEIÇÃO SEGUNDO O CONTA-GOTAS DAS PESQUISAS



No dia 29 de junho, por 4 votos a 1, a 8ª Câmara de Direito Privado do TJSP manteve a condenação de Bolsonaro por ofensas dirigidas à repórter Patrícia Campos Mello, do jornal Folha de S. Paulo. O presidente havia sido condenado em 2021, em primeira instância, por dizer que a repórter queria "dar o furo" para obter informações. No dia 7 de junho, a juíza Tamara Hochgreb Matos, da 24ª Vara Cível da Comarca de São Paulo, condenou-o a pagar R$ 100 mil de indenização por ataques a jornalistas. Foi a primeira vez que um presidente da República no exercício do cargo foi condenado pela Justiça por dano moral coletivo à categoria. 

 

A repercussão que a violência verbal de Bolsonaro encontra entre seus apoiadores e as repercussões desse clima em atos de violência se materializam na vida cotidiana do país. Em um artigo publicado em 2018, o antropólogo Luiz Eduardo Soares antecipou o que estava por vir a acontecer no Brasil. “Não é preciso incluir no programa de governo referências a um plano de extermínio, não é preciso apresentar publicamente um programa genocida. (...) A mensagem já foi passada à sociedade e se resume a uma autorização à barbárie. A morte foi convocada. O horror saiu do armário”.

 

Além de condenações na Justiça brasileira, iniciativas semelhantes começam a aparecer fora do país. A violência verbal e o posicionamento negacionista de Bolsonaro durante a pandemia já chegaram aos tribunais internacionais. Mas o capitão não se emenda. Como o escorpião da fábula, ele é incapaz de agir contra a própria natureza. Ainda assim, seu favoritismo é eloquente. Enquanto a vantagem de Lula decresce em conta-gotas, o capitão apresenta uma trajetória lenta e gradual de ascensão. 


A menos que o imprevisto tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, a tão propalada vitória petista no primeiro turno subiu no telhado. Bolsonaro parece ter sido imunizado conta as mortes na Amazônia, o escândalo no MEC, os desvios do orçamento secreto e a execução do tesoureiro petista em Foz do Iguaçu por um devoto de sua seita abjeta. E sobrevive até mesmo às crises que ele próprio produz ao desqualificar as urnas e atacar magistrados. Mesmo sendo improvável que o pacote de bondades eleitoreiras resulte numa explosão de votos, a lógica sugere que o presidente continuará sendo favorecido pelo conta-gotas das pesquisas .

 

O que se vislumbra no horizonte é um segundo turno sangrento e lamacento. Em se confirmando a tendência favorável a Lula, a vitória tende a ser menos consagradora do que o petismo gostaria. Isso leva água ao moinho do Apocalipse que o capitão prepara para o final do ano, e inocula nos membros do Centrão a confiança de que, seja qual for o resultado, o grupo ganha por esperar. Quanto menor for o triunfo do eleito, maiores serão as perspectivas de negócio da turma que percorre os corredores do Congresso com código de barras na lapela.


A conferir.