domingo, 4 de setembro de 2022

APROXIMA-SE MAIS UM 7 DE SETEMBRO


 

No final de julho, durante a convenção estadual em que o Republicanos confirmou as candidaturas de Tarcísio de Freitas ao governo do estado de São Paulo e de Marcos Pontes ao Senado, Bolsonaro voltou a convocar apoiadores para as festividades de 7 de Setembro. E voltou a fazê-lo várias vezes ao longo do mês passado. 

Como o escorpião da fábula, o presidente é incapaz de ir contra sua própria natureza. No ano passado, ele surtou na Avenida Paulista; neste, o aparelhamento eleitoral do Dia da Independência se dará no Rio de Janeiro. 

ObservaçãoDepois de anunciar que realizaria uma parada militar na praia de Copacabana no 7 de Setembro, com “muita gente”, tropas das Forças Armadas e agentes da Polícia Militar, Bolsonaro recuou da ideia e aceitou que o tradicional desfile do feriado da Independência seja feito no local de sempre: a Avenida Presidente Vargas, no centro do Rio.

Ao sequestrar a data nacional pelo segundo ano consecutivo e transformá-la num dia de celebração do seu radicalismo político, a aberração que finge presidir o país faz do desafio às instituições e à própria democracia um processo de desmoralização dos militares, sobretudo ao encostar sua insanidade naquilo que chama de "minhas Forças Armadas".

Bolsonaro classificou a pleito presidencial de outubro como "uma luta do bem contra o mal". Disparou velhas e emboloradas acusações contra o "outro lado": "Não nos aproximaremos da Venezuela, não nos aproximaremos de Cuba. Quero distância dessas ditaduras". Cooptou as forças militares com investimentos orçamentários e mimos previdenciários. Consolidou o processo de venezuelização as FFAA ao colocar os contracheques dos seus generais de estimação numa laje acima do teto salarial do serviço público. Rasgou o Estatuto Militar e o Regimento Interno do Exército e deixou as Forças Armadas numa sinuca de bico ao atrair o então general da ativa Eduardo Pesadelo para um palanque eleitoral.

Se o desfile de tanques da Marinha (sucateados e fumacentos) na Praça dos Três Poderes, horas antes da votação da PEC que naufragou antes de tornar obrigatório o voto impresso, foi uma evidente ameaça à democracia, o que dizer de transformar uma parada militar em comício? Pode-se esperar qualquer coisa de um presidente que participou de um ato golpista defronte ao QG do Exército em seu quarto mês de mandato, e isso não exclui um desfile das tropas animando bolsonaristas em Copacabana a menos de um mês das eleições. 

Vale lembrar que "ordem errada não se cumpre". Mas a perspectiva de ser derrotado e preso está deixando Bolsonaro cada vez mais agitado. Falando de maneira descontrolada, sua insolência causou impacto ao dizer que atiraria para matar se a polícia batesse à sua porta para executar uma ordem de prisão "Ninguém me leva preso. Prefiro morrer”.

Bolsonaro está certo de que será alvo de inquéritos e acabará na prisão se perder a eleição. Todos os seus atos foram contaminados por essa certeza, da sabotagem à Lava-Jato ao assassinato de dezenas de milhares de pessoas durante a epidemia, da compra do Centrão ao golpismo bananeiro. O fator que mais contribui para sua provável derrota é o nojo que a maioria dos brasileiros passou a nutrir por ele. 

O Centrão tem vazado para imprensa que o presidente pode reagir com sangue a uma ordem de prisão. Pode até ser, mas Lula dizia a mesma coisa e foi quietinho para a cadeia. Diogo Mainardi disse que não há perigo nenhum em prender Bolsonaro, e que o Centrão está manobrando apenas para cavar seu indulto depois da derrota eleitoral. Eu, porém, tenho cá minhas dúvidas... Resta esperar para ver o que nos reserva a próxima quarta-feira.
 
Triste Brasil.