sábado, 3 de setembro de 2022

SE IMPICHAR O BICHO SOME. MAS É TARDE DEMAIS.

Bolsonaro tenta aliciar uma parte dos militares e das polícias estaduais para um golpe de Estado. Talvez não ponha em prática suas elucubrações golpistas — ou, caso o faça, não permaneça sequer um mês no poder. No entanto, mesmo sendo afeito a blefes e bravatas, não é prudente menosprezar a ameaça que ele representa. 
 
Jânio Quadros renunciou depois de oito meses no cargo, acreditando no mito — que ele próprio criou — de que “forças ocultas” o estariam impedindo de governar. Imaginou que o povo o carregaria nos ombros de volta ao Palácio, mas ficou a ver navios. 
Bolsonaro segue na mesma linha. Se perder — e é bem possível que perca —, esgrimirá a asnice da fraude eleitoral, que é sua versão das “forças ocultas” do patético homem da vassoura.
 
Não se pode subestimar o estrago que populistas que aspiram ao poder absoluto podem causar a um País. Talvez Bolsonaro não vá muito longe — ou não consiga se manter na Presidência se de fato recorrer ao golpe 
—, mas seus desvarios podem arrastar o Brasil para o fundo do buraco. Daí ser fundamental protagonizar ações relevantes de resistência ao golpe anunciado.
 
Os partidos políticos devem ser descartados, já que nossa estrutura partidária praticamente se liquefez na eleição de 2018, quando 24 siglas conseguiram acesso à Câmara federal. Mas a fragmentação é apenas uma parte da história. 
Controlados por oligarquias, as legendas não se renovam, não desenvolvem perfis programáticos. Carecem por completo de confiabilidade. 

O Congresso é um desconexo aglomerado de especialistas em trocas clientelistas de apoio por cargos no Executivo. Trocam qualquer coisa por qualquer coisa, como se viu quando o Senado, quase por unanimidade — ficando o senador José Serra como uma solitária exceção —, atropelou as mais comezinhas regras do jogo eleitoral a fim de turbinar com R$ 41 bilhões a campanha de Bolsonaro. 

Observação: Quem quiser mapear a atual anatomia do Legislativo deve começar pela entidade que o domina — que é o Centrão. Se lograr êxito em seu propalado intento de golpear o regime democrático, Bolsonaro fará exatamente o que vem fazendo há tempos: delegar a essa choldra a tarefa de acomodar seus acólitos na máquina do Estado e de mandar a fatura aos contribuintes.
 
Bolsonaro — ou qualquer outro interessado em solapar as instituições — não atingirá seu objetivo se a sociedade despertar do estado abúlico em que afundou desde os tempos de Dilma. Entidades importantes já começaram a soar o alerta. Se formos realmente arrastados para um desastre, não o seremos por falta de aviso.

A conferir.