domingo, 6 de novembro de 2022

A PRIVATOCRACIA

 

Junte meia dúzia de brasileiros de qualquer região, etnia, credo, gênero ou posicionamento político e pergunte-lhes o que acham de nossos políticos. As chances de considerarem nossos representantes ladrões, corruptos ou oportunistas são de 99%.

Você pode dizer que minha pesquisa não tem valor, porque não foi feita com rigor científico. Mas basta lembrar das previsões das pesquisas eleitorais recentes, feitas por institutos renomados, e você vai desistir de criticar minha enquete. Então vamos em frente. 

Definido que nossos políticos não lutam por nossos interesses, virou lugar comum dizer que, enquanto existir o “presidencialismo de coalizão”, não temos saída. Então chega de lamúrias e vamos procurar um novo formato de governo.

Eu tenho uma sugestão que, reconheço, pode parecer radical à primeira vista, mas estou certo que ela resolverá de vez o problema e, de quebra, aquecerá a economia com o apoio dos liberais.
Trata-se de estabelecer a primeira Privatocracia da história, já que é inquestionável que nossas empresas privadas são, em sua esmagadora maioria, muito mais eficientes do que o Estado.

Vamos encarar o fato de que não somos capazes de eleger gente que presta e privatizar de vez o País e suas instituições. Chega de eleições que dão o maior trabalho e não funcionam. Ao admitir nossa incompetência, começamos a resolver o problema e, através do meu método, ainda ganharemos algum dinheiro.
Minha idéia é vender tudo, Executivo, Legislativo e Judiciário para quem entende do assunto. Comecemos por trocar o cargo de presidente pelo de CEO. Um head hunter será contratado para encontrar o nome mais adequado, que receberá um salário compatível com a função, férias, 13º e bônus por produtividade. É fundamental que seja alguém que já dirigiu uma multinacional e tenha um bom inglês para não nos envergonhar nos discursos da ONU.

Para o Judiciário, sugiro um escritório de advocacia grande, desses famosos, com presença em diversos estados para que suas centenas de estagiários possam atuar como juízes Brasil a fora.

O Legislativo perde a função, então transformaremos o Congresso num bonito cinema 360º para ganharmos um extra com visitas turísticas. 

O Ministério do Planejamento será vendido para uma grande empresa de auditoria. Uma alemã, ou americana.

Traremos de volta o Ministério da Cultura que será entregue, quem sabe, a uma grande rede de rádio e televisão.

O Ministério da Economia vai para um pool formado pelos maiores bancos do Brasil, para não ter briga.
O Ministério da Educação ficará nas mãos de uma das grandes Universidades privadas. Uma dessas que já mostrou ser eficiente na hora de encher suas salas.

A pasta da Saúde vai para o plano de saúde que fizer a melhor oferta, com uma parceria com um desses hospitais de excelência.

O Ministério do Turismo eu entregaria para uma empresa de turismo, dessas capazes de transformar qualquer aeroporto em rodoviária.

Por último, mas não menos importante, o Ministério da Agricultura deveria ir para uma grande rede de fast food, para garantir que todo brasileiro tenha acesso a pelo menos dois hambúrgueres por dia.

Percebem? Nas mãos da iniciativa privada, nossa qualidade de vida vai melhorar muito e, com a faca e o queijo nas mãos, as empresas privadas vão até conseguir baixar os preços para os consumidores finais.
Aí, quem sabe daqui uns 20 anos, com o País saneado e sem corrupção, poderemos pensar em voltar a um sistema de governo mais manjado.

Afinal, convenhamos que, por aqui, essa história de democracia não funcionou.

Texto de Mentor Neto