sábado, 5 de novembro de 2022

ENTRE A LUCIDEZ E A MALUQUICE...


Os protestos antidemocráticos travestidos de atos patriotas que eclodiram depois que Bolsonaro foi derrotado recrudesceram, mas as sequelas permanecem. A pergunta é: por que o "estadista" que a patuleia quer canonizar continua descansando em Troncoso, se suas habilidades de "encantador de serpentes poderiam pôr ordem no galinheiro? E mais: Por que a escumalha bolsonarista repudia a corrupção das gestões petistas e irreleva as rachadinhas, os cinquenta e tantos imóveis pagos com dinheiro vivo, o superfaturamento na compra das vacinas, as quase 700 mil vítimas da Covid, os escândalos no MEC e na Saúde, os pedidos de propina em barras de ouro e o dinheiro escondido em pneus não muda sua opinião sobre o governo do "mito"?  

No último dia 2, o ainda inquilino do Planalto concitou apoiadores a liberarem as rodovias, mas sua fala soou tão sincera quanto as lágrimas que os crocodilos derramam quando mastigam suas presas. O ainda vice-presidente (e senador eleito pelo RS) Hamilton Mourão exaltou o óbvio ao dizer que "o problema surgiu quando aceitamos passivamente a escandalosa manobra jurídica que, sob um argumento pífio e decorridos 5 anos, anulou os processos e consequentes condenações do Lula", e que "querem que as Forças Aramadas deem um golpe e coloquem o País numa situação difícil perante a comunidade internacional". 
 
Bolsonaro desistiu do autogolpe, mas continua manipulando a choldra ignara que lhe dá respaldo, uma gentalha abjeta que berra "eu autorizo" em porta de quartel. Faltam menos de 2 meses para a posse de vocês sabem quem, e nada indica que essa escumalha conseguira algo além de tumultuar ainda mais esta abjeção que chamamos de país. Eu desisti. Cansei. Só não dou o fora daqui porque estou velho demais para recomeçar a vida onde cavalos abanam o rabo e cachorros mijam nos postes (lembrando que aqui se dá o contrário). 

Quem se deu ao trabalho de olhar o balé encenado nos gabinetes de Brasília, na última quinta-feira, concluiu que os golpistas fizeram papel de bobos. A passagem de bastão do governo que envelheceu em quatro anos para a gestão seminova de um presidente de terceira safra já começou. O "mito", que se encontrava no Alvorada, foi até o Planalto para se encontrar com Geraldo Alckmin. Na descrição do ex-tucano, Bolsonaro expressou sua disposição de "prestar todas as informações, colaborações, para que se tenha uma transição pautada pelo interesse público." Mas os compromissos de campanha de Lula não cabem na proposta de orçamento federal que o atual mandatário enviou ao Congresso. O próprio Lula voará para Brasília, na semana que vem, para imprimir suas digitais na articulação que levará à aprovação dos remendos orçamentários.

Na prática, o verdugo do Planalto vai se tornando uma espécie de ex-presidente no exercício da Presidência. Quem pede nas ruas que a página da democracia seja virada para trás perde tempo, voz e nexo. Quando um político consegue fazer o eleitor de idiota, é porque encontrou material. 

Depois que a milícia digital bolsonarista aprendeu a deformar mentes nas redes sociais, verificou-se que a diferença entre a lucidez e a maluquice é que a lucidez tem limites.

Com Josias de Souza