segunda-feira, 9 de janeiro de 2023

EM BRASÍLIA DAS MARAVILHAS...

 

ATUALIZAÇÃO: Bolsonaristas radicais invadiram o Congresso, o STF e Palácio do Planalto neste domingo. PMs tentaram contê-los com spray de pimenta e bombas de efeito moral (só faltou levar flores). O ministro da Justiça exaltou o óbvio ao chamar os atos antidemocráticos de "absurdos" e afirmar que a "tentativa de impor a vontade pela força não vai prevalecer". Após a invasão, a sumidade que preside o Congresso postou que o governo do DF "envidou esforços para controlar a situação", e que "os atos antidemocráticos devem ser punidos com o rigor da lei (e com urgência)". Rápido no gatilho, o ministro Alexandre de Moraes determinou o afastamento de Ibaneis Rocha do cargo. A cada dia que passa, este que vos escreve fica mais orgulhoso de ser brasileiro e militante do partido PQP/VTnoC. 

O Ibovespa caiu 3% no dia seguinte à posse de Lula e recuou mais 2,08% no segundo pregão do ano, quando foi divulgado que privatizações de estatais como a Petrobras e os Correios seriam revogadas. O bonifrate do ex-presidiário mais famoso do Brasil, ora promovido a Ministério da Fazenda com a missão de obedecer seu mestre como o general pançudo obedecia o dele, tentou botar água na fervura, mas não sensibilizou o mercado, que, curiosamente, se comporta em relação a Lula e Haddad de forma inversa à adotada por ocasião da posse de Bolsonaro e Paulo Guedes.  
 
Em seu primeiro discurso como ministro da Fazenda, Haddad — seguramente um dos piores prefeitos que Sampa já amargou — fez promessas redundantes, e Lula agravou o quadro dizendo que "o teto de gastos é uma estupidez". Para o economista e ex-ministro Maílson da Nóbrega, "estupidez é dizer que o teto de gastos é estupidez". 
 
Na primeira semana do governo Lula, três temas negativos geraram 690,7 mil interações em redes sociais em três dias. A repercussão foi em torno de três ministros: Daniela Carneiro (Turismo), que fez campanha eleitoral com um miliciano condenado por homicídio; José Múcio (Defesa), que considerou democráticas as manifestações de bolsonaristas em frente aos quartéis; e Carlos Lupi (Previdência), que causou instabilidade no mercado ao defender uma antirreforma da Previdência.
 
Lula foi citado em 2,5 mil postagens sobre a polêmica envolvendo a ministra do Turismo. Dessas, 75,2% foram negativas; 18,1% foram neutras e 6,7%, positivas. Sobre o tema, foram registradas 238,9 mil interações nas três redes sociais analisadas. Sobre a declaração de José Múcio, foram cerca de 1,7 mil postagens citando o presidente nas redes. Do total, 41,2% tinham conteúdo negativo; 10,8% foram positivas e 48%, neutras. A soma das interações chegou a 230,8 mil nas três redes. Já a "antirreforma" proposta por Lupi totalizou 221 mil interações em postagens que mencionaram Lula. Ao todo, foram 1,2 mil postagens, das quais 34,1% foram negativas para Lula; 8% foram positivas e 57,9%, neutras.
 
O "superministro" Paulo Guedes passou os últimos anos tentando não borrar a maquiagem da personagem que lhe foi atribuída por Bolsonaro, mas a emenda ficou pior que o soneto. Apresentado como o "esteio liberal do governo e principal indutor das reformas estruturais do Estado", Guedes se revelou um mentiroso contumaz sobre supostos feitos do governo, um esbirro desconectado da realidade que assistiu impassível ao desmonte do teto dos gastos públicos, à ampliação dos recursos destinados a abastecer o “orçamento secreto” e ao uso do dinheiro do contribuinte para bancar benesses eleitoreiras concedidas a grupos que diziam apoiar a reeleição do capetão. A exemplo do mandatário de fancaria, o Posto Ipiranga tabajara viajou para os EUA dias antes da troca de comando (se ele pretende voltar ou não, só o vento sabe a resposta). 
 
Na terça-feira 3, o ex-presidente fujão anunciou pelo Twitter uma redução no preço médio da energia elétrica no Brasil. Como se ainda presidisse alguma coisa. Em contra partida, a versão 3.0 do Parteiro do Brasil Maravilha determinou a CGU que reavalie os casos postos sob sigilo de 100 anos por seu antecessor. O artigo 31 da Lei de Acesso à Informação permite o sigilo de “até 100 anos" para informações de caráter pessoal, referentes à "intimidade, vida privada, honra e imagem das pessoas", e que um levantamento feito pelo jornal O Estado de S. Paulo mostrou que o ex-presidente se valeu dessa prerrogativa em pelo menos 65 casos cujas informações deveriam ser públicas.
 
Se a Justiça brasileira agisse como manda o figurino, Bolsonaro responderia pelos crimes que cometeu e se tornaria inelegível. Mas basta lembrar que Lula colecionou 26 processos e chegou a ser condenado (em três instâncias) a mais de 26 anos de reclusão, mas deixou a carceragem da PF em Curitiba após míseros 580 dias. Temer passou menos de uma semana na cadeia. Dilma e Collor nunca foram presos. 
 
Não se trata de perseguição ou revanchismo, mas de não passar a mensagem de que, para os políticos, o crime compensa.