sexta-feira, 13 de janeiro de 2023

SER CONTRA O VANDALISMO NÃO SIGNIFICA SER A FAVOR DO PETISMO

 

Interdições de ruas e rodovias, depredação do patrimônio público, violência física e até assassinatos foram estimulados, direta ou indiretamente, por um presidente useiro e vezeiro em conspirar contra o Estado Democrático de Direito e cuja presença no Palácio do Planalto foi, à luz dos interesses da Nação, um grande desperdício de espaço. 

 

A despeito da renúncia branca do "mito" de fancaria, fanáticos travestidos de "patriotas" tomaram de assalto a Praça dos Três Poderes. É provável que o idealizadores e patrocinadores do ato terrorista imaginassem que a selvageria mergulharia o país numa crise política que desaguaria em intervenção militar com a volta de Bolsonaro ao poder. Mas deu-se o oposto. 


O governador do DF (ora afastado), seu secretário de Segurança Pública (ora exonerado) e diversos extremistas identificados pela polícia poderão ser condenados a ressarcir os prejuízos (estimados em R$ 8 milhões). Mas mais o conserto das avarias institucionais será mais trabalhoso que a reforma dos palácios,


Já há assinaturas suficientes para instalar a CPI do Golpe, mas o Congresso só retomará as atividades em fevereiro, e com uma nova composição — com parlamentares como Pazuello, Mourão, Damares e (quem diria) Sergio Moro, que não só trabalhou em prol da reeleição de Bolsonaro como... enfim, veja você mesmo. Mas não custa lembrar o que Augusto Aras (nomeado e reconduzido ao cargo ao arrepio da lista tríplice do MPF) e Arthur Lira, eleito Presidente da Câmara (eleito graças ao "orçamento secreto") fizeram com o relatório da CPI do Genocídio. 


Observação: Maracutaias à parte, Bolsonaro, que já era alvo de inquéritos criminais e ações na Justiça Eleitoral, perdeu a blindagem de e, encurralado por mais uma investigação parlamentar, pode ser preso quando — e se — voltar ao Brasil.

 
Vivandeiras civis e oficiais articulam golpes desde a segunda metade do século XIX. Bolsonaro adicionou à receita os ingredientes da indisciplina nas polícias militares e dos cidadãos dispostos a servir de bucha de canhão em atos contra a Democracia. Derrotado nas urnas, encastelou-se no Alvorada e se escafedeu no apagar das luzes de sua abominável gestão, deixando atrás de si um movimento violento de negacionistas das eleições.
 

Lula saiu fortalecido do episódio, mas não será com um governo de esquerda que ele aplacará a ira dos grupos radicais ou conquistará votos de quem ajudou a eleger Bolsonaro achando que a volta do PT seria um mal maior. As cenas de terrorismo explícito podem levar afastar eleitores de direita do bolsonarismo tóxico, mas dificilmente os levarão a apoiar o atual presidente, já que ser contra o vandalismo não significa necessariamente ser a favor do petismo. Para além disso, ao falar sobre a situação como chefe de facção, Lula pareceu defender uma suposta superioridade da esquerda sobre a direita, o que acirra ainda mais os ânimos de quem não queria a volta do PT ao poder. 


Sabe-se que os golpistas contaram com colaboracionistas incrustados nas FFAA, na PM e na máquina pública, mas não será fácil desaparelhar esse órgãos, e aparelhá-los com petistas, como se fez no passado, não é a melhor solução. Quando o PT era hegemônico, ser “de direita” tornava o cidadão um pária. Hoje, líderes de direita surgidos nos últimos anos, com gestões competentes e ação política eficaz, atraem eleitores que não querem se misturar com os extremistas, mas também não veem Lula como a melhor opção. E o próprio Lula reconheceu que sua gestão dependerá mais do Congresso do que este dela.