quarta-feira, 1 de fevereiro de 2023

MUITO FAZ QUEM NÃO ATRAPALHA


Há quem crie problemas e quem ofereça soluções, e a turma das soluções precisa cuidar para que suas ideias não se transformem em parte do problema. O Pacote da Democracia proposto pelo ministro Flávio Dino em resposta aos ataques do último dia 8 contém algumas soluções simples, diretas e erradas. O embrulho inclui, por exemplo, a criação de uma Guarda Nacional e uma proposta (inspirada num arranjo adotado pelo TSE nas eleições de 2022) para se contrapor à difusão de ódio e mentira nas redes sociais.

Entre outras atribuições, a tal Guarda Nacional seria responsável por reforçar a segurança dos prédios públicos em Brasília. Mas a questão é que o quebra-quebra ocorreu por falta de vergonha na cara, não por falta de tropa. Em outras palavras, as hordas bolsonaristas não invadiram a Praça dos Três Poderes porque a PM, a Guarda Presidencial e o Exército não fizeram o que deveriam ter feito.
 
No que tange às mídias digitais, a ideia é obrigar as plataformas a tirar do ar, no prazo de duas horas, conteúdo tóxico capaz de estimular crimes e ataques às instituições democráticas. Ora, se as decisões monocráticas do ministro Alexandre de Moraes são criticadas depois de referendadas pelos plenários do TSE e do STF, imagine-se o salseiro que seria provocado por uma interferência governamental nas redes antes do filtro do Judiciário.
 
Há coisas boas no pacote, como o aumento das penas impostas a criminosos que atentam contra a democracia e a criminalização de pessoas jurídicas que investem no financiamento de atos contra o Estado democrático de direito. Quanto à Guarda Nacional, o atual presidente sustenta que seu antecessor cooptou a maioria das Forças Armadas e das polícias. 
 
Goste-se ou não de Lula, não há como negar que o golpismo se converteu num novo ramo do crime organizado no Brasil, mas pendurar uma tropa nova num orçamento deficitário parece mais uma rendição que uma solução. 

É melhor pôr para trabalhar gente que o bolsonarismo estragou. Gente que recebe salário do contribuinte para proteger Brasília.
 

Com Josias de Souza