De acordo com o modelo cosmológico padrão, o Universo passou por um estágio de expansão tão rápido (inflação cósmica) que não houve tempo para que objetos fora do horizonte observável interagissem termicamente. Mas esse pressuposto esbarra na radiação cósmica de fundo, observável em todas as direções do céu, e resvala para o Problema do Horizonte.
A teoria da inflação cósmica foi proposta nos anos 1980 pelo físico teórico estadunidense Alan Guth, que não descartou as ideias comprovadas do Big Bang, mas fez novas previsões sobre fenômenos que diferem do modelo convencional, mas que não são bem aceitas pela comunidade científica. Outras teorias sustentam que o surgimento do Universo não foi o começo do espaço-tempo, e sim uma transição de uma fase anterior. Mas elas não explicam o que havia nessa "fase anterior".
O físico Roger Penrose, Nobel de Física em 2020, sustenta a existência de outro cosmos antes do Big Bang, que se expandiu e depois se retraiu até voltar à singularidade (num processo conhecido como Big Crunch). Mas, também nesse caso, não falta quem ache a ideia um tanto maluca.
Para formular sua teoria matematicamente, Penrose recorreu à chamada geometria conforme, que preserva os ângulos, mas não as distâncias — elas são importantes porque o universo cresce várias ordens de magnitude de forma acelerada e "cola" o final de cada universo à singularidade inicial do universo seguinte. No entanto, mesmo sendo matematicamente consistente, essa proposta não é aceita pelas principais correntes da cosmologia.
Observação: Stephen Hawking descobriu que os buracos negros emitem radiação. Por ser muito fraca, a radiação Hawking nunca foi detectada, mas ninguém no campo da física teórica duvida de sua existência, até porque ela se baseia na teoria quântica de campos em espaços curvos, confirmada por múltiplas observações diferentes em outras áreas. Em linhas gerais, a teoria quântica de campos em espaços curvos combina os princípios da teoria quântica com os da teoria da relatividade geral de Einstein.
Penrose afirmou que encontrou evidências de sua teoria na radiação cósmica de fundo, que está presente em todo o universo (segundo a NASA, nos tempos anteriores à TV a cabo, todos os lares com televisão podiam ver o brilho do Big Bang como um sinal estático na tela, bastando ligar o aparelho e sintonizá-lo num canal "intermediário"). Posteriormente, ele e seus colaboradores descobriram pontos anômalos na radiação de fundo (que foram batizados de pontos de Hawking, são "anômalos" por serem excepcionalmente quentes, mas não se encaixam na teoria da inflação, que explica a homogeneidade e a isotropia do universo).
Penrose sustenta que os tais pontos são vestígios de universos passados, mas a comunidade científica questiona sua existência, já que nenhum outro físico teórico ou cosmólogo os identificou. Para os defensores da inflação cósmica, partículas teriam formado um "campo de inflação", causando uma expansão hiperacelerada do cosmos, mas há quem considere essa ideia um "ajuste" para uma hipótese cheia de lacunas. Até mesmo Paul Steinhardt, que foi um dos arquitetos originais da teoria inflacionária, admite que o modelo é "inconclusivo".
Ethan Siegel, defensor da Inflação Cósmica, reconhece que Penrose mereceu o Nobel por seu trabalho sobre buracos negros, mas diz que ele foi irresponsável ao defender tão fervorosamente uma hipótese baseada em dados totalmente opostos ao que ele afirma. Centenas de cientistas apontaram isso para Penrose — repetidamente e consistentemente por um período de mais de 10 anos —, mas ele "continua a ignorar o campo e ir em frente com suas contendas", afirma Siegel.
Observação: Em seu texto no Starts With A Bang, Siegel detalhou alguns motivos que apontam a Inflação como a teoria mais provável como complemento ao Big Bang, contrariando a ideia da Cosmologia Cíclica Conformada defendida por Penrose, que, segundo ele, "parece ter se apaixonado tanto pelas próprias ideias que não olha mais para a realidade para testá-las com responsabilidade".
Mas será que a Inflação Cósmica é tão infalível assim?