segunda-feira, 24 de novembro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 55ª PARTE

entender como e por que o universo é como é nos ajuda a compreender por que estamos aqui.

 

Repetições são cansativas, mas necessárias em situações específicas. No caso deste blog, a audiência rotativa justifica (exige, melhor dizendo) eventuais contextualizações. Então, vamos a elas: 

 

Viajar no tempo pode parecer uma ideia tão maluca quanto o Concorde nos tempos do 14-Bis, ou uma viagem tripulada à Lua na Era das Grandes Navegações. 


Como não há nada como o tempo para passar, o supersônico que cruzava o Atlântico em cerca de três horas virou peça de museu, e a NASA não só enviou seis missões tripuladas bem-sucedidas à Lua, como também lançou duas sondas que já deixaram o Sistema Solar rumo ao espaço interestelar.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


A Famiglia Bolsonaro é especialista em criar crises, mas tenta resolvê-las criando outras ainda maiores, como se toda confusão não tivesse um custo e qualquer tentativa de pechinchar não aumentasse o prejuízo. Foi o que aconteceu na madrugada deste sábado, quando o ministro Alexandre de Moraes foi comunicado sobre a violação da tornozeleira eletrônica e ordenou a prisão preventiva do chefe do clã em uma sala da PF em Brasília. 

Xandão enxergou o óbvio propósito de fuga potencializado pela “vigília” pela saúde de Jair Bolsonaro, convocada via Xwitter pelo filho Flávio. Em seu despacho, o magistrado realçou que o tumulto nos arredores da residência do réu — que fica a 15 minutos de carro da embaixada dos EUA — poderia facilitar sua fuga. Lideranças e governadores bolsonaristas correram às redes sociais para acusar o ministro de impor suplícios a um mito dodói. A defesa declarou ter recebido a ordem de prisão com "profunda perplexidade", já que a detenção “coloca em risco a vida de seu cliente”. 

O lero-lero derreteu nas imagens de um vídeo produzido pela equipe de inspeção da Secretaria de Administração Penitenciária do DF, no qual se vê a tornozeleira com sinais de grave avaria e se ouve Bolsonaro dizer à diretora-adjunta do órgão que “por curiosidade, meteu um ferro de solda no dispositivo”. 

Moraes escreveu: “não bastassem os gravíssimos indícios da eventual tentativa de fuga de Bolsonaro, o corréu Alexandre Ramagem, a aliada política Carla Zambelli e o filho Eduardo se valeram da estratégia de evasão do território nacional para evitar a aplicação da lei penal”.

O ministro deu 24 horas para a defesa explicar o atentado contra a tornozeleira, enquanto os filhos, insatisfeitos em aprofundar o buraco em que o pai se meteu, resolveram jogar terra em cima do sacripanta moribundo.

 

Viajar no tempo como nos filmes continua sendo o fruto mais cobiçado — e inalcançado — da "árvore da relatividade", mas a história está repleta de exemplos de teorias e tecnologias mirabolantes que se tornaram realidade. A maioria de nós dificilmente testemunhará o assentamento da primeira colônia em Marte, mas passar férias no planeta vermelho pode ser tão normal para os netos de nossos netos como veranear na praia ou na montanha é para nós. Ainda assim, é pouco provável que eles voltem no tempo até o "nosso presente" para nos contar suas aventuras interplanetárias.

 

Viagens no tempo são matematicamente possíveis, mas, com a tecnologia disponível atualmente, enviar uma missão exploratória tripulada aos confins do Sistema Solar está fora de questão — lembrando que os benefícios da dilatação temporal, magistralmente ilustrados pelo paradoxo dos gêmeos, só são significativos em velocidades próximas à da luz. 


Acredita-se que a distância entre dois pontos no Universo possa ser significativamente reduzida por buracos de minhoca (ou pontes Einstein-Rosen), e muitos astrofísicos conceituados sustentam que provar a existência desses atalhos é apenas uma questão de tempo. Mas daí a visitarmos mundos longínquos — neste ou em outro universo, no presente ou em outro ponto da linha do tempo — vai uma longa distância. Tão longa quanto os 14,76 quatrilhões de quilômetros que nos separam de Gaia BH1 (o buraco negro mais próximo da Terra encontrado até agora, que fica na constelação de Ofiúco, a 1.560 anos-luz do nosso Sistema Solar). 

 

Ainda que os buracos de minhoca realmente existam e que haja um exemplar nas profundezas de Gaia BH1, para conferir seria preciso viajar 1.560 anos à velocidade da luz ou 2,5 milhões de anos na velocidade que a Parker Solar Probe atingiu no final do ano passado (692 mil km/h, o que representa 0,064% da velocidade da luz). Como os efeitos da dilatação temporal só são significativos em velocidades próximas à da luz, nem Matusalém — que, segundo a Bíblia, viveu improváveis 969 anos — sobreviveria a uma viagem tão longa.

 

Se por um lado não se descarta a possibilidade de um buraco de minhoca ser detectado a qualquer momento em alguma esquina do Universo, por outro essa esquina pode estar tão longe que seria impossível enviar uma missão tripulada até lá para conferir e passar recibo. Pelo menos por enquanto. 


Um engenheiro da NASA vem desenvolvendo um motor que usa íons e eletroímãs para acelerar partículas em loop helicoidal e gerar empuxo suficiente para impulsionar uma nave espacial a 99% da velocidade da luz. A ideia viola o princípio da conservação do momento linear, mas, se vingar, pode mudar o futuro das viagens espaciais.

 

Outra possibilidade promissora é dobrar o espaço-tempo ao redor da nave criando uma "bolha" que se move mais rápido que a luz sem violar a relatividade (porque não é a nave que se move dentro da bolha, e sim o espaço ao redor dela). Essa ideia encontra respaldo na física teórica, mas colocá-la em prática exigiria energia negativa e/ou matéria exótica, cuja existência carece de confirmação experimental direta). 

 

Também se cogita construir uma Esfera de Dyson, usar feixes de laser para impulsionar velas ultraleves a 20% da velocidade da luz (não parece grande coisa, mas daria para ir até Alpha Centauri em cerca de 22 anos), ou reatores como o ITER e o SPARC, que replicam o funcionamento das estrelas para gerar energia limpa e praticamente ilimitada — um passo crucial para viabilizar as ambições interestelares da humanidade.

 

Por ora, o sonho de entrar num buraco de minhoca e sair na Roma Antiga ou numa Terra apinhada de robôs conscientes permanece no território da ficção científica, mas existem outros caminhos que não a luz e a gravidade para contornar a tirania do tempo. A maioria das propostas nesse sentido é meramente especulativa (como foi um dia o helicóptero projetado pelo polímata Leonardo da Vinci), mas a história nos ensinou que tanto a arte imita a vida quanto a vida imita a arte, e que ficção de hoje pode ser a ciência de amanhã.

 

Os chamados cristais do tempo — estruturas exóticas que mudam de estado de forma periódica sem gastar energia, desafiando a Termodinâmica — podem não ser a chave para viagens temporais propriamente ditas, mas abrem precedentes curiosos sobre como o tempo pode ser manipulado em escalas microscópicas. Em teoria, eles seriam como relógios que funcionam ao contrário, isto é, no sentido inverso ao da seta do tempo.

 

Interpretação de Muitos Mundos — ramificação da mecânica quântica segundo a qual o Universo se divide a cada escolha ou evento — sustenta a existência de incontáveis realidades paralelas, cada qual representando uma versão diferente da História. Se essa teoria estiver correta, navegar entre esses mundos permitiria visitar uma realidade onde os dinossauros vão muito bem, obrigados, ou em que Klara Hitler abortou o feto que, na nossa realidade, nasceu, cresceu e protagonizou o Holocausto, entre outros requintes de crueldade. 

 

Mais pé-no-chão (mas ainda ambicioso) é o conceito de recriar o passado por meio da simulação computacional ultra-avançada. Com o fabuloso poder de processamento que os computadores quânticos devem atingir no médio prazo, seria possível reconstruir o estado do Universo com tamanha precisão que permitiria "reviver" o passado virtualmente, como num filme interativo da História. Não seria propriamente uma viagem física no tempo, mas seria o mais próximo disso que poderemos ter até que nossa tecnologia ombreie com a dos alienígenas que supostamente visitam nosso planeta há milhares de anos.

 

Cogita-se ainda a possibilidade de manipular o próprio tecido causal do universo. Na Teoria dos Conjuntos Causais, o espaço-tempo não seria contínuo, mas composto por blocos fundamentais — algo como os pixels de uma imagem digital. Se um dia conseguirmos manipular essa rede microscópica de eventos, talvez possamos saltar de um ponto a outro na linha do tempo como quem avança ou retrocede uma faixa de áudio digital. 


Claro que nenhuma dessas ideias inclui a tão sonhada fórmula mágica que permitiria saborear um filé de brontossauro em Bedrock, ao lado de Fred Flintstone e Barney Rubble. Mas o que realmente importa é que seguimos desafiando o tempo com aquilo que nos torna humanos: a curiosidade, a imaginação — e a teimosia científica de nunca aceitar o impossível como definitivo.

 

Continua...