No debate do último domingo, Marçal deixou claro que seu objetivo era irritar os adversários e desviar a atenção das acusações que ele sabia que viriam. Funcionou: o momento em que ele quase levou um pescoção repercutiu muito mais que a questão das fraudes bancárias em Goiás.
Na noite seguinte, aboletado no centro do Roda Viva da TV Cultura, o "influencer" parecia outro. Até tentar ensinar a jornalista Malu Gaspar a fazer jornalismo e levar uma invertida. A partir de então o espírito de porco da noite anterior tomou o centro da roda, com um entrevistado ora passivo-agressivo, ora só agressivo, que foi ficando mais arrogante enquanto fazia cortes (foram 11) para suas redes sociais, propunha soluções mirabolantes para espalhar prosperidade e — pasmem! — cantava "Diário de um Detento", dos Racionais MCs, para reforçar a narrativa de "filho da periferia". De quebra, culpou os adversários pelo baixo nível dos debates e reclamou de ser "atacado de forma deselegante".
Inspirado na profecia de Nelson Rodrigues — de que "os idiotas vão tomar conta do mundo; não pela capacidade, mas pela quantidade" —, Marçal afirmou que produz idiotices em série porque o eleitor, por idiota, deseja esse tipo de mercadoria, porém a inanição de sua pauta de propostas leva a crer que idiota é quem vota num sujeito como ele.
Campanha eleitoral movida a ódio não é novidade no Brasil, mas a coisa terminou mal todas as vezes que a raiva foi industrializada com propósitos políticos: Jânio renunciou, Collor foi impichado e Bolsonaro perdeu a reeleição, está inelegível e vive sob a sombra de uma sentença criminal esperando para acontecer — e isso depois de torrar bilhões em verbas orçamentárias secretas na compra do engavetamento de mais de quase 150 pedidos de impeachment.
Houve tempos em que a mídia controlava as massas. Com a Internet, as massas passaram a controlar a mídia, e o idiota da aldeia, que só tinha direito à palavra no boteco, passou a ter o mesmo direito de um ganhador do Premio Nobel.
Depois que as redes sociais deram asas à idiotice, a melhor vacina contra a desqualificação política seira a qualificação do voto. Mas isso parece cada vez mais um sonho irrealizável.
Em abril de 1919, enquanto negociava o Tratado de Versalhes para encerrar a Primeira Guerra Mundial, o presidente americano Woodrow Wilson contraiu gripe espanhola e sofreu um derrame que o deixou parcialmente incapaz. Como seu médico pessoal se recusou a assinar o atestado de incapacidade, o vice Thomas R. Marshall não foi promovido a titular; como o real estado de saúde do paciente foi mantido em segredo, a primeira-dama Edith Wilson se autoproclamou "guardiã" do marido e atuou como "presidente de fato" até o término de seu mandato, em março de 1921 (lembrando que a 25ª Emenda, que trata da sucessão presidencial em casos de incapacidade, só foi ratificada em 1967).
Em 1993, a pretexto de estudar ionosfera da Terra, as Forças Armadas dos EU criaram o Projeto HAARP. Os conspirólogos alegaram tratar-se de uma arma secreta de controle do clima que seria capaz de desativar satélites inimigos, desestabilizar nações e manipular a mente das pessoas. As autoridades envolvidas no projeto refutarem qualquer propósito sinistro, mas as teorias conspiratórias persistem até hoje, havendo inclusive culpe o projeto enchentes no Rio Grande do Sul.
Um esquema sem título oficial, mas que teve a veracidade comprovada, causou a morte de milhares de americanos durante a Lei Seca. Devido à proibição da produção, importação e venda de bebidas alcoólicas no território norte-americano nos anos 1920/30, produtos à base de etanol usados na fabricação de materiais de limpeza eram redestilados, engarrafados e vendidos no mercado negro. Visando inibir o consumo ilegal dessa bebida, o governo passou a adicionar metanol ao etanol, mas exagerou na dose e matou mais de 10 mil pessoas.
O Projeto Sunshine, conduzido secretamente pelos EUA nos anos 1950, visava entender os efeitos da radiação nuclear no corpo humano. As amostras de tecidos eram obtidas de cadáveres (não raro roubados de cemitérios), e os ossos de crianças recém-nascidas, suscetíveis aos efeitos do estrôncio-90, eram especialmente valiosos para o estudo. Em 1995, o presidente Bill Clinton desclassificou os documentos, mas o altíssimo custo moral do projeto continua ensejado discussões sobre ética em práticas científicas.