sábado, 11 de janeiro de 2025

QUOUSQUE TANDEM ABUTERE PATIENTIA NOSTRA?

GRAÇAS A UMA DEFORMAÇÃO LASTIMÁVEL NA CONSCIÊNCIA POLÍTICA COLETIVA, O POVO ADORA SER ENGANADO, E POVO ALIENADO, POLITICALHA FELIZ...

Quem acompanha este Blog sabe o que eu penso do presidente de turno e da patuleia que o endeusa, e de seu antecessor e da choldra que o idolatra. Mas é preciso admitir quando alguém tem razão, mesmo que em um discurso fingido, com fins eminentemente eleitoreiros. Senão vejamos.

Na esvaziada cerimônia que marcou os dois anos do ataque à sede dos Poderes — supostamente convocada em defesa da democracia, mas que não passou de uma patética tentativa de justificar o fiasco da atual gestão —, Lula disse que considera "extremamente graves" as mudanças anunciadas por Mark Zuckerberg

Ecoando o chefe, Lindbergh Farias, futuro líder do PT na Câmara, afirmou que ele seus colegas de partido compareceram ao evento para "celebrar a democracia e repudiar todo tipo de golpe", esquecendo de lembrar — ou lembrando de esquecer — que o PT foi um dos primeiros a reconhecer a vitória de Nicolás Maduro, que assumiu ontem seu terceiro mandato após romper relações com pelo menos 8 países latino americanos

Somente Cuba, China, Rússia, Nicarágua, Irã e outros 15 países de viés autoritário reconheceram a vitória de Maduro, que não cai do galho graças a uma forte repressão e ao apoio de países como Rússia, China e Irã. Na última quinta-feira, a principal figura da oposição, María Corina Machado, que estava escondida havia meses, foi detida durante um protesto (e liberada depois que o episódio viralizou na Internet).

Diz o ditado que "o diabo sabe das coisas não por ser o diabo, mas por seu velho, e para enganar, ele até reza missa" e que "burros velhos não aprendem truques novos". A aversão chapada de Lula ao corte de gastos foi o exemplo mais agudo da dissonância crescente que se observa entre o que pensa o poder público e o que a sociedade espera dele. Sem mencionar que boa parte das soluções para problemas reais foram descartadas — tanto pelo Planalto quanto pelo Congresso, como bem observou Veja na edição desta semana — por questões políticas, ideológicas e eleitoreiras, escancarando ainda mais o descompasso entre os políticos e os cidadãos que bancam seus salários e mordomias.

Admirador confesso de Maduro, o pontifex maximus da seita do inferno reduziu a maior potencia do hemisfério sul à condição de impotência ao aceitar bovinamente as humilhações e desfeitas do sacripanta e não ser capaz de chamar a Venezuela de ditadura. Não é preciso ser de esquerda ou de direita para condenar o regime venezuelano; basta ter dois neurônios ativos e operantes e um mínimo de vergonha na cara.

Emparedado pelas circunstâncias (leia-se "popularidade em queda"), nosso conspícuo mandatário achou por bem não comparecer à posse do "cumpanhêro" nem escalar Geraldo Alckmin ou Celso Amorim para representá-lo, mas, ignorando a carta protocolada junto ao Itamaraty por um grupo formado por mais de 50 ONGs, enviou a embaixadora brasileira em Caracas à cerimônia.

Com uma frequência cada vez maior, discursos que pregam a democracia são desmentidos por ações que flertam com o autoritarismo. Lamentavelmente, quem paga o preço dessa hipocrisia é o povo, que lobotomizado pela maldita polarização, não vê que entre 212,5 milhões de brasileiro deve existir alguém melhor do que um ex-presidiário "descondenado" e um aspirante a golpista para presidir esta republiqueta de bananas.

Mas diz outro ditado que "cada povo tem o governo que merece", e argumentar com quem renunciou à lógica é como dar remédio a um defunto.