A CERTIDÃO DE NASCIMENTO DE ALGUMAS PESSOAS DEVERIA INCLUIR UM PEDIDO DE DESCULPAS DO FABRICANTE DE PRESERVATIVOS.
Toda escolha tem consequências — e as consequências vêm depois, como ensinou o Conselheiro Acácio. No entanto, a Interpretação de Muitos Mundos da mecânica quântica propõe a existência de inúmeros universos paralelos, onde toda decisão ou evento quântico que ocorre no nosso se desdobra em múltiplas realidades paralelas, cada uma com um desfecho diferente.
Talvez em algum desses universos Sergio Moro continue juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba e Lula continue cumprindo as penas que lhe foram impostas nos processos do tríplex e do sítio. Talvez até os eleitores de lá não façam a cada dois anos, por ignorância, o que Pandora fez, uma única vez, por curiosidade, nem mantenham bandidos de estimação na cúpula do poder público.
No nosso Brasil, a corrupção começou nos tempos coloniais, prosperou durante o Império e cresceu exponencialmente depois que um golpe de Estado trocou a monarquia parlamentarista por um presidencialismo republicano. A Lava-Jato (2014–2020) foi um ponto fora da curva, mas não há mal que sempre dure nem bem que nunca termine.
Quando membros do Clã Bolsonaro e alguns ministros do STF entraram no radar do MPF, a força-tarefa, que já era criticada pela banda podre do Congresso, passou a ser questionada pela alta cúpula do Judiciário. Bolsonaro, que fez campanha prometendo pegar em lanças no combate à corrupção, "acabou com Lava-Jato porque 'não tinha mais corrupção no governo'", e a "vaza-jato" (clique aqui para mais detalhes) jogou a derradeira pá de cal.
Em julho de 2020, o antiprocurador-geral Augusto Aras produziu a seguinte pérola: “O lavajatismo há de passar.” Na época, o chefe do executivo responsável por sua indicação estava incomodado com o avanço das investigações sobre as rachadinhas do filho Flávio, e o pau mandado não poupou esforços para exterminar a maior operação anticorrupção da história, que expôs as entranhas pútridas do mensalão e do petrolão.
A Lava-Jato foi encerrada em São Paulo em setembro de 2020, no Paraná, em fevereiro de 2021, e no Rio de Janeiro, no final do mês seguinte. Com a inestimável colaboração do ministro Gilmar Mendes, lulismo e bolsonarismo ficaram livres dos processos decorrentes da operação — assim como velhos tucanos, caciques do Centrão e empresários amigos do ministro que recebeu a toga de FHC. Mas não há nada como o tempo para passar.
Semanas atrás, Felipe Moura Brasil escreveu: "Cinco anos depois [do sepultamento da operação], o legado de provas materiais e testemunhais coletado pela força-tarefa voltou a produzir efeitos e embaraços no mundo real." Mas convém ir devagar com o andor. É fato que Collor foi preso no final do mês passado; também é fato que, menos de uma semana depois, foi autorizado a cumprir a pena em seu apartamento de R$ 9 milhões, na orla de Maceió.
Embora Collor tenha dito na audiência de custódia que não toma nenhum medicamento de uso contínuo, seus advogados argumentaram que ele é idoso, sofre de doença de Parkinson, apneia do sono grave e transtorno afetivo bipolar. Gonet e Xandão acreditaram. Resta saber se vão engolir também a tese de que o crime de corrupção passiva prescreveu.
E assim seguimos neste universo, onde a corrupção é cíclica, corruptos cumprem suas penas em mansões e apartamentos com vista para o mar e os contribuintes bancam essa putaria franciscana. Em algum outro mundo, talvez a justiça talvez seja cega; no nosso, a cegueira é seletiva, ou seja, nossa Themis sabe exatamente o que não deve enxergar.
Jobim disse que "o Brasil não é para principiantes", e Millôr, que "o país do futuro tem um enorme passado pela frente". Enquanto houver eleitores idiotas, haverá parlamentares fisiologistas e corruptos; enquanto houver foro privilegiado, haverá ministros que confundem toga com manto sagrado. Se nada mudar — e tudo indica que nada vai mudar no curto prazo —, o futuro continuará sendo apenas uma repetição burlesca do passado.
Continua...
A Lava-Jato foi encerrada em São Paulo em setembro de 2020, no Paraná, em fevereiro de 2021, e no Rio de Janeiro, no final do mês seguinte. Com a inestimável colaboração do ministro Gilmar Mendes, lulismo e bolsonarismo ficaram livres dos processos decorrentes da operação — assim como velhos tucanos, caciques do Centrão e empresários amigos do ministro que recebeu a toga de FHC. Mas não há nada como o tempo para passar.
Semanas atrás, Felipe Moura Brasil escreveu: "Cinco anos depois [do sepultamento da operação], o legado de provas materiais e testemunhais coletado pela força-tarefa voltou a produzir efeitos e embaraços no mundo real." Mas convém ir devagar com o andor. É fato que Collor foi preso no final do mês passado; também é fato que, menos de uma semana depois, foi autorizado a cumprir a pena em seu apartamento de R$ 9 milhões, na orla de Maceió.
Embora Collor tenha dito na audiência de custódia que não toma nenhum medicamento de uso contínuo, seus advogados argumentaram que ele é idoso, sofre de doença de Parkinson, apneia do sono grave e transtorno afetivo bipolar. Gonet e Xandão acreditaram. Resta saber se vão engolir também a tese de que o crime de corrupção passiva prescreveu.
E assim seguimos neste universo, onde a corrupção é cíclica, corruptos cumprem suas penas em mansões e apartamentos com vista para o mar e os contribuintes bancam essa putaria franciscana. Em algum outro mundo, talvez a justiça talvez seja cega; no nosso, a cegueira é seletiva, ou seja, nossa Themis sabe exatamente o que não deve enxergar.
Jobim disse que "o Brasil não é para principiantes", e Millôr, que "o país do futuro tem um enorme passado pela frente". Enquanto houver eleitores idiotas, haverá parlamentares fisiologistas e corruptos; enquanto houver foro privilegiado, haverá ministros que confundem toga com manto sagrado. Se nada mudar — e tudo indica que nada vai mudar no curto prazo —, o futuro continuará sendo apenas uma repetição burlesca do passado.
Continua...