segunda-feira, 6 de outubro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 51ª PARTE

A EXPERIÊNCIA É COMO UMA LANTERNA PENDURADA NAS COSTAS: ILUMINA APENAS O CAMINHO PERCORRIDO.

O tempo intriga a humanidade desde tempos imemoriais. Para Heráclito de Éfeso, "nenhum homem pode banhar-se duas vezes no mesmo rio" — mesmo porque nem o homem nem o rio são os mesmos no instante seguinte. Parmênides de Eleia acreditava que a verdadeira realidade seria imóvel e eterna, e as mudanças que percebemos não passariam de aparências. Já Aristoteles, mais prático, via o tempo como "o número do movimento segundo o antes e o depois" — ou seja, uma medida do movimento vinculada ao que acontece no mundo material.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


A isenção/redução do Imposto de Renda para assalariados de baixa renda (se é que salário pode ser considerado como renda) era uma das promessas de campanha de Lula, e será sancionada pelo macróbio com pompa, circunstância e sonoridade de um décimo quarto salário. Na prática, a nova lei alivia a barra de mais de 90% dos brasileiros adultos no melhor estilo Robin Hood — ou seja, tirando dinheiro dos ricos para dar aos pobres. Outra promessa era reconstruir o país e pendurar as chuteiras no final de 2026. No entanto, uma vez eleito, macróbio jamais desceu do palanque, e segue candidatíssimo a um (nada improvável, infelizmente) quarto mandato. Se o Brasil fosse um país lógico, a minoria rica não teria tanto peso no Congresso. Mas o eleitorado pobre não perde oportunidade de perder oportunidades de votar em si mesmo — ou seja, em vez de homenagear sua própria realidade nas urnas, elege o privilégio dos outros. Foi por isso que, na véspera da votação o pecuarista Arthur Lira se sentiu à vontade para pensar alto com colegas ruralistas sobre a compensação de 10%. "Vamos compensar em cima de todo mundo? Vamos querer excepcionalizar advogado, engenheiro, arquiteto? Vamos encontrar outra solução?" Já se sabia que o IR é a forma que os governos encontraram para tirar dinheiro de quem não consegue escapar. O que a aprovação do PL na Câmara trouxe de novo é a percepção de que o grande erro da evolução da humanidade é a hipocrisia não doer.

 

Na Idade Média, os pensadores viam o tempo como um fio que se desenrola no tear da história, com início e fim determinados pela vontade de Deus — distinto, portanto, da eternidade perfeita e imutável de seu Criador. Santo Agostinho celebrizou o dilema: "O que é, pois, o tempo? Se ninguém me pergunta, eu sei; se quero explicá-lo a quem me pergunta, já não sei." Segundo ele, o passado só existe como memória, o futuro como expectativa e o presente, como um instante fugaz em que nossa atenção se detém. 

 

Renascimento e o avanço da ciência trouxeram novas perspectivas. Galileu enxergou o tempo como um elemento fundamental para descrever o movimento dos corpos, associando-o pela primeira vez a leis quantitativas, Newton o via como absoluto e independente, um pano de fundo imutável, e Leibniz, como algo relacional, fruto das conexões entre os eventos.


Einstein criou o conceito de espaço-tempo e postulou que nem o espaço é "uma caixa rígida e inerte que contém as coisas", nem o tempo "uma linha reta pela qual as coisas fluem numa sucessão de acontecimentos formados por passado, presente e futuro". 


Ainda que possamos viver baseados na ilusão útil do tempo ou acreditar que tudo não passa de uma sequência de momentos independentes, o relógio e o calendário regem nossas tarefas do dia a dia. Do fluxo heraclitiano ao espaço-tempo do maior físico de todos os tempos, o tempo segue como um mistério que nos cerca, nos envolve... e nos escapa.

 

Em Gênesis: a história do Universo em sete dias (2019) e em Tempo: O Sonho de Matar Chronos (2023), o físico Guido Tonelli combina filosofia, mitologias e ciência para mostrar que "não vemos o espaço-tempo oscilando em nosso dia a dia, mas ele flui diferente em distintas regiões do Universo, pois depende do local e da quantidade de massa ao redor". Assim, alguns segundos no horizonte de eventos de um buraco negro supermassivo, por exemplo, correspondem a séculos ou milênios para quem está na Terra. De acordo com Tonelli , "apenas tecnicidades nos impedem de dobrar o tempo a nosso favor" (obstáculo que, ainda segundo ele, pode vir a ser superado no médio prazo).

 

Tonelli não oferece uma definição precisa do que é o tempo, mas faz referências a cientistas que exploram as teorias mais modernas da mecânica quântica sobre o tema, como seu conterrâneo Carlo Rovelli, autor de best-sellers como Sete breves lições de física (2015) e reverenciado por suas pesquisas sobre a existência da "gravidade quântica em loop". 


"As teorias quânticas vão se tornar parte de nossa compreensão básica do mundo, mas levará tempo para isso acontecer, como demorou mais de um século para aceitarem o modelo heliocêntrico de Copérnico", disse Rovelli em entrevista à revista Crusoé, durante o lançamento do livro O Abismo Vertiginoso. Segundo ele, em vez de medida cronológica (como a calculada nos calendários), o tempo é uma variável que resulta do aumento da entropia do cosmos ao longo de seus bilhões de anos de existência.

 

Podemos comparar o passado a um lugar distante que gostaríamos de visitar. Mas uma viagem à Disneylândia depende basicamente de quanto podemos gastar, ao passo que viajar para tempos idos é bem mais complicado, ainda que seja uma possibilidade matematicamente plausível à luz da Relatividade Geral, segundo a qual a experiência do fluxo do tempo é relativa, como ilustra o célebre paradoxo dos gêmeos e comprovam diversos experimentos feitos com relógios atômicos em satélites artificiais e sondas espaciais, contrariando a ideia do "relógio mestre" de Newton. 

 

Ainda que a maioria das leis e equações usadas pelos físicos sejam simétricas no tempo e possam ser revertidas, faltam explicações concretas e consensuais sobre a possibilidade de voltar no tempo. Aliás, basta alguém falar nesse assunto para outro alguém abrir a torneirinha da entropia e aguar o chope. 


Talvez o tempo como o percebemos seja apenas uma ilusão resultante de nossa interação com o Universo em grande escala, mas basta remover certas suposições clássicas (como a ideia de um fluxo universal) para entender a física fundamental sem a necessidade de um tempo absoluto. 

 

Em outras palavras, o tempo é como um truque de mágica — real para quem assiste, mas sem existência própria nos bastidores do universo quântico. Nesse contexto teórico, ele deixa de ser uma variável contínua e absoluta e passa a emergir das relações entre os eventos quânticos.

 

Continua...