Mostrando postagens com marcador Carlos Bolsonaro. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Carlos Bolsonaro. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 1 de maio de 2019

ZERO ZERO, ZERO DOIS E A GUERRA CIVIL NA VENEZUELA



Carlos Bolsonaro, dublê de pitbull palaciano e franco-atirador das redes sociais, tuitou que o general Santos Cruz, ministro da Secretaria de Governo da Presidência da República, exerceu com competência máxima sua incompetência na área de comunicação ao perder as chances claríssimas de trombetear o "bom trabalho" do seu pai, embora não tenha especificado quais feitos notáveis do presidente mereceriam um rufar de tambores. 

A exemplo de Mourão, Santos Cruz não é fã de carteirinha do polemista Olavo de Carvalho, guru do clã Bolsonaro e grande herói daquele que, ao incluir outro general no seu rol de alvos, deixou claro que o tiro ao general se tornou seu esporte predileto, enquanto seu papai presidente, ao permitir que o pimpolho ocupe todos os espaços da oposição, consolida sua inequívoca vocação para um esporte ainda mais radical: o tiro no próprio pé.

A frequência com que vem interferindo na administração de estatais e bancos públicos não só causa arrepios na equipe econômica como já garantiu ao presidente-capitão o apelido nada elogioso de “Dilmo”. Menos de uma semana depois de ordenar ao Banco do Brasil a suspensão de uma peça publicitária (que custou R$ 17 milhões) e demitir o diretor de marketing da instituição, o boquirroto, visando à redução dos juros para empréstimos ao setor rural, apelou publicamente “ao coração e ao patriotismo” do presidente da instituição, que, ao ser empossado no cargo, afirmou que o banco não voltaria a ser usado para baixar artificialmente os juros, como aconteceu no governo Dilma, cujo intervencionismo levou o país para o buraco.

Para desassossego de seu ministro e da equipe econômica, Bolsonaro vem se revelando um liberal de gogó. Ao repetir no Banco do Brasil o que tentou fazer na Petrobras, o capitão derrubou o valor das ações da instituição, justificou o apelido que recebeu dos parlamentares do centrão e demonstrou ser incapaz de aprender com os próprios erros, pois imaginava-se que a tentativa atabalhoada de controlar os preços do diesel na Petrobras a golpes de gogó lhe tivesse lhe ensinado que o órgão a ser governado nas empresas — estatais ou privadas— é a cabeça, e que não se melhora um balanço com o coração. E governante que demora a perceber algo tão trivial estimula o eleitor a acreditar que a República já não precisa de um presidente, mas de um médico-legista.

Enquanto escrevo este texto (no final da tarde de terça-feira, 30), o caldeirão ferve como nunca na Venezuela. Se as imagens transmitidas pela TV não são de uma guerra civil, então eu não sei o que seriam. Graças ao bolivarianismo tão admirado por Gleisi, Haddad e outros esquerdopatas, e insuflado com dinheiro do BNDES (nosso dinheiro, portanto) durante os governos de Lula, de sua imprestável pupila e sucessora e de seu "bando de maluco", o país vizinho chegou ao ponto que chegou, e só se salvará com a queda — ou o extermínio, que assim não fica dando despesa na prisão — do ditador sanguinário que se agarra ao poder como carrapato em lombo de boi. Que Maduro caia rápida e definitivamente, livrando a América Latina de mais essa aberração populista de esquerda.

O Planalto, que foi pego de surpresa pelos acontecimentos (pelo menos, foi essa a impressão que deu), afirmou que o desfecho do imbróglio depende do comportamento das Forças Armadas. A sensação de que a adesão a Guaidó poderia ser mais densa foi potencializada pelas imagens em que ele se exibia ao lado de militares fardados e de outro líder oposicionista, Leopoldo López, que estava em prisão domiciliar, sob forte vigilância, desde 2014, mas a repressão que veio na sequência, com a imagem chocante de um blindado atropelando manifestantes, levou o governo brasileiro a moderar seu entusiasmo.

Segundo Josias de Souza, a impressão que vigora no momento é a de que a crise mudou de patamar, pois um pedaço da estrutura militar migrou para o lado de Guaidó. Entretanto, o Planalto concluiu que a migração pode ter relevo apenas quantitativo. Em termos qualitativos, a cúpula militar se mantém leal a Maduro. Foi essa a principal avaliação feita durante reunião de emergência convocada por Jair Bolsonaro, na manhã de ontem, para analisar o recrudescimento da crise venezuelana.

O PT sustenta em nota oficial que não há ditadura na Venezuela — os blindados que atropelaram manifestantes nas ruas de Caracas decerto são fruto de um complô de cenas irreais com as lentes das câmeras. Aos esquerdopatas fanáticos, pouco importa que Maduro tenha sido reeleito em 2018 numa votação contestada e tisnada pelas fraudes, que o pleito foi antecipado e os principais opositores do regime, acomodados na cadeia. Para eles, o que houve foi uma "tentativa de golpe levada a cabo pela oposição da direita golpista e antichavista." A cúpula militar que segura Maduro no poder para salvar seus privilégios talvez seja fruto de alucinação coletiva.

Na avaliação imprestável dos seguidores da seita do inferno e postulantes do Lula-Livre, os golpistas "tentam há anos derrubar o governo democraticamente eleito do Partido Socialista Unido da Venezuela", mas fracassam por causa do "apoio que o partido e seu governo têm junto às pessoas, após anos de políticas voltadas ao bem-estar da população e contrárias à exploração imperialista e das elites locais." A miséria, a hiperinflação, os milhões de venezuelanos fugindo do país… Tudo isso é efeito especial produzido pelo império nos estúdios de Hollywood. 

A certa altura, a nota faz uma concessão à realidade, admitindo a existência de "problemas" na Venezuela. O texto não especifica as encrencas, mas apresenta a solução: basta "levantar o embargo econômico internacional de que o país e, principalmente, sua população, são vítimas." Para que a coisa funcione, o PT ensina que "é importante que as forças democráticas busquem o caminho do diálogo e levem em consideração a vontade expressa no voto popular." Diante dessa conjuntura, o PT precisa definir o que entende por "vontade popular". Refere-se aos anseios das urnas fraudadas ou ao desejo das ruas sublevadas e das legiões que fogem do inferno e buscam refúgio em países vizinhos?

Sem rumo, com seu principal líder na cadeia e com um inimigo no Planalto, o PT enfiou-se em algo muito parecido com um buraco. A legenda podia celebrar o fato de que, pelo menos, ainda não havia terra em cima. Mas a nota sobre a Venezuela revela a existência de um plano secreto do petismo: a organização do próprio funeral. Assinam a nota do PT quatro coveiros: a presidente Gleisi Hoffmann; os líderes Humberto Costa (Senado) e Paulo Pimenta (Câmara) e a secretária de Relações Internacionais Mônica Valente.

Para o deputado federal Rubens Bueno, membro da Comissão de Relações Exteriores da Câmara e que é contra uma intervenção militar no país vizinho, o Brasil e a grande maioria das democracias do mundo vêm defendendo a saída de Maduro do poder. De acordo com o parlamentar, "Maduro insiste em manter sua ditadura, fraudou todas as últimas eleições, mergulhou o país na mais grave crise econômica de sua história e agora quer jogar o país em uma guerra civil. Nós reconhecemos a legitimidade de Guaidó para promover a retomada da democracia na Venezuela e repudiamos a postura de Maduro de atacar seu próprio povo. O que acontece hoje naquele país é uma revolta contra um governo déspota. Sempre defendemos uma saída negociada para a crise, com a convocação de novas eleições. Pelo que estamos assistindo, a população cansou de esperar. É lamentável que Maduro continue resistindo e levando o país a um caos generalizado". Há como discordar?

O líder da oposição e autoproclamado presidente interino da Venezuela fez um novo apelo para que as pessoas saiam às ruas para protestar neste feriado mundial de 1 de maio. Segundo Guaidó, hoje é a “fase definitiva da Operação Liberdade”. Vamos continuar acompanhado e torcendo para que Maduro, o tiranete de merda, seja devidamente despachado para o quinto dos infernos. E Lula lá.

terça-feira, 30 de abril de 2019

O BRASIL NÃO É PARA PRINCIPIANTES



A frase que intitula esta postagem é atribuída ao saudoso maestro Antonio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim — brasileiro até no nome —, mas eu vou mais além: governar este país é para poucos, e governá-lo bem, então, para muito poucos. Se Bolsonaro se enquadra nesta seleta confraria, bem, prefiro deixar o leitor tirar suas próprias conclusões. Vamos aos fatos.

Dentre outras coisa, o 38.º presidente do Brasil já nos deu a saber que não nasceu para ser presidente, mas para ser militar, embora tenha passado menos anos no Exército do que na política, para a qual entrou como vereador e se elegeu deputado federal sete vezes consecutivas. Ao longo de quase 30 anos de vida parlamentar, ele apresentou 172 projetos, relatou 73 e aprovou apenas dois, mas isso não vem ao caso. Na eleição de 2014, ao ver a calamidade em forma de gente derrotar o tucano corrupto, Bolsonaro resolveu disputar a Presidência — antes disso ele havia colocado seu nome à disposição do PP para concorrer com “a cara da direita”, mas foi ignorado pela própria legenda, que apoiou a campanha de Dilma. Durante a convenção partidária, lançou seu ultimato: “Ou o PP sai da latrina ou afunda de vez”. Graças à Lava-Jato, o PP afundou de vez; graças a sua pregação antipetista, o hoje presidente se reelegeu como deputado mais votado do Rio de Janeiro, saltando de 120,6 mil votos em 2010 para 464,5 mil em 2014.

No final de 2014, o hoje presidente rodou o país em carreatas, estampou camisetas e adesivos, posou para “selfies” com eleitores e ganhou um público jovem e ligado nas redes sociais — os “bolsomínions”, que são uma espécie de militantes petistas com o sinal político trocado. E o resto é história recente: com a população dividida em petistas-lulistas e antipetistas-antilulistas, o candidato de extrema direita obteve 55% dos votos válidos, derrotando a marionete de Lula por uma vantagem de quase 11 milhões de votos — que não vieram somente de bolsomínions, simpatizantes e admiradores, mas também de eleitores que não queriam (e continuam não querendo) ver o Brasil governado por um fantoche controlado remotamente por um presidiário. E isso com uma campanha espartana (que não usou o dinheiro do fundo partidário), feita por uma coligação raquítica e que dispunha de míseros 8 segundos de exposição diária no horário político obrigatório.

De estatista, o deputado-capitão passou a defensor da liberdade de mercado, selou pareceria com o economista liberal Paulo Guedes (seu Posto Ipiranga). Para compor a chapa como vice, convidou o senador Magno Malta, que errou feio ao declinar, pois não conseguiu se reeleger — mesmo com a maior verba partidária da sigla em seu estado, Malta obteve menos da metade dos 1.500 mil votos que esperava. A lista seguiu pelo general Augusto Heleno (que aceitou, mas não obteve sinal verde do PRP), pela advogada Janaína Paschoal (que recusou e acabou se elegendo a deputada estadual mais votada de São Paulo), pelo príncipe Luiz Philippe de Orleans e Bragança (que foi desconvidado quando se divulgou que teria sido filmado agredindo um morador de rua), chegando afinal ao general da reserva Hamilton Mourão — aquele que defendeu numa loja maçônica em Brasília, em 2017, a intervenção militar no caso de o Judiciário não conseguir expurgar os corruptos da política nacional (voltaremos ao general mais adiante).

Bolsonaro começou a campanha liderando as pesquisas — atrás somente do ex-presidente presidiário, cuja candidatura nunca passou de uma quimera. Houve um consenso de que o capitão teria atingido o ápice da popularidade e que a tendência natural seria de desidratação, mas o cenário mudou com o atentado em Juiz de Fora, que quase lhe custou a vida. No segundo turno, debilitado por duas cirurgias, permaneceu recluso no condomínio na Barra da Tijuca (onde morava antes de se mudar para Brasília), mas continuou subindo nas pesquisas. Mesmo liberado pelos médicos, preferiu (sabiamente) não participar de debates — algo inédito no segundo turno das eleições presidenciais no Brasil —, e mesmo entrincheirado em casa, com uma bolsa de colostomia presa ao abdome, defendendo-se e atacando através das redes sociais, alcançou a vitória mais improvável da história da democracia tupiniquim.

Para gáudio dos bolsomínions e apreensão dos que ajudaram a eleger o capitão por absoluta falta de opção, Bolsonaro vestiu a faixa e subiu a rampa do Palácio do Planalto sem tirar os pés do palanque. Seus primeiros 100 dias no cargo foram decepcionantes, sobretudo no que tange à reforma previdenciária (indispensável para o país e para a sustentabilidade do atual governo). Com o PT debilitado pela derrota, o presidente, três de seus filhos e alguns ministros de Estado pinçados lá do fundo baú da incompetência vem tomando para si a função da oposição, transformando o Planalto e se entorno numa usina de crises sem capacidade ociosa. O combustível da autossabotagem do governo é o caldeirão ideológico em que ele está mergulhado, no qual múltiplas correntes de direita se engalfinham por hegemonia e pelo controle da administração federal, ou setores dela. Seu lema: "se está ficando bom para todos, alguém precisa estragar algo".

O “caso Queiroz” é um bom exemplo — que ainda não produziu efeitos ainda mais deletérios porque novos fatos vêm se sobrepondo dia sim, outro também. Outro é a demissão de Gustavo Bebianno — o grande articulador da campanha do capitão — da secretaria-geral da Presidência, cuja permanência no governo se tornou insustentável depois de ter sido chamado publicamente de mentiroso pelo filho zero dois. Outro, ainda, remete ao “laranjal do PSL”, e haveria muitos mais, sem mencionar as estultices de um presidente que parece escolher os momentos mais impróprios para dizer o que não deve (haja vista a estúpida, despropositada e escandalosa queda de braço com o presidente da Câmara, que dificultou ainda mais a tramitação da PEC da Previdência).

Abril se despede e maio começa com um feriado prolongado no Congresso Nacional e um céu carrancudo, toldado pelas nuvens da indefinição. E as ingerências palacianas, como a que suspendeu o reajuste do preço do diesel a pretexto de evitar uma nova greve de caminhoneiros, e, mais recentemente, uma campanha publicitária do Banco do Brasil, não tem ajudado em nada, antes pelo contrário: há quem especule se não estaríamos numa situação melhor se o vice assumisse o comando desta nau de insensatos — o que não seria novidade, haja vista os governos de José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer, mas seria a ironia das ironias, na medida em que muita gente se preocupava com a possibilidade de a vitória do capitão ressuscitar a ditadura militar (aquela que hoje sabemos nunca ter existido no Brasil). Igualmente curioso é o fato de o presidente ter recheado seu ministério de generais, e estes serem os ministros que menos têm dado motivos para preocupação. Coisas do Brasil.

Para muitos analistas, a incompatibilidade entre Bolsonaro e o cargo de presidente, com combinada com a atuação deletéria de sua prole, responde pelo fiasco do governo em seus primeiros 100 dias. Sobre a crise da vez — que envolve o general Mourão e Carlos Bolsonaro (sempre ele, embora não somente ele) —, há que ter em conta que ministros podem ser exonerados, bastando para isso uma simples publicação no diário oficial, mas nem filhos nem vice-presidentes são passíveis de demissão

Talvez por isso o capitão e o general tentam passar a impressão de que vivem um casamento sólido, visitado apenas por desavenças ocasionais e amenas, próprias das uniões estáveis e felizes. “Esse casamento é até 2022, no mínimo”, disse Bolsonaro em café da manhã com a imprensa na quinta-feira 25, no Palácio do Planalto. “Continuamos dormindo na mesma cama. Só tem briga para saber quem vai arrumar a cozinha”, divertiu-se Bolsonaro. “Ou cortar a grama”, emendou Mourão. Por trás das alegres metáforas matrimoniais, porém, a realidade que se esconde nos bastidores mostra que, das crises políticas que o governo enfrentou até aqui, a mais grave é esta, com hostilidades entre o presidente e o vice, ainda que amenizadas em público, se mostram em franca ebulição no âmbito privado.

Para além de zero dois, o pivô de mais essa controvérsia é o autodeclarado “intelectual” Olavo de Carvalho, ex-astrólogo, esotérico e ultraconservador famoso não só pelas teorias delirantes que oferece em um curso virtual de filosofia, mas por ser uma espécie de guru do clã Bolsonaro e de eminência parda neste governo. Dentre outros prodígios, o "professor" foi responsável pela indicação dos ministros Eduardo Araújo, das Relações Exteriores (que “balança mas não cai”) e Ricardo Vélez, da Educação (que felizmente já caiu). É certo que, pela essência da pregação e pelo histrionismo do pregador, o guru de botequim e seus apóstolos (olavetes) mas cedo ou mais tarde voltarão para o ostracismo com certas curiosidades folclóricas de onde vieram. Mas as rusgas entre o presidente e o vice podem ensejar situações delicadas e produzir efeitos nefastos, sobretudo num governo instável, incerto, que claudica com sérias dificuldades.

As divergências entre zero dois e o vice vieram à tona quando Carluxo postou um vídeo na conta do pai no YouTube — pois é, a versão bolsonariana do “menino de ouro” de Lula é fiel depositário das senhas do papai e de outros integrantes do clã —, onde o guru araque desfia críticas impiedosas aos militares, mas que tem como alvo o general Mourão, a quem o proselitista já chamou de “adolescente desqualificado”. Bolsonaro pediu que o vídeo fosse retirado do ar, mas aí o estrago já estava feito: tinha sido aberta a temporada de ataques ao vice-presidente. 

Na saraivada de tuítes que se seguiu ao episódio, Mourão foi acusado de se opor às propostas do presidente, de se aliar a adversários, de se aproximar de empresários importantes, de bajular a mídia, de se apresentar como sensato e transigente — tudo isso, segundo zero dois, planejado para se viabilizar como alternativa de poder. Para piorar, a exemplo do que se deu no episódio Bebianno, o presidente endossa as críticas públicas que o filho tem feito ao general. Ele não concorda com tudo, mas acha que seu rebento está mirando no alvo certo.

Desde a postagem do vídeo, Mourão começou a desconfiar de que os ataques tinham o aval do presidente. Contrariado, disse que, se aquilo continuasse, não descartava a saída extrema de renunciar. No governo, afirmou o general, tudo o que tem feito é tentar ajudar o presidente, e não o contrário. Mas Bolsonaro parece estar convencido do oposto. 

Na terça-feira 23, durante a reunião do Conselho de Governo, alguém elogiou o presidente e declarou que ele vencera sozinho uma eleição difícil, sem a ajuda dos políticos. “Não, teve o Mourão comigo”, ironizou Bolsonaro. Semanas atrás, irritado com algo que não deixou muito claro aos interlocutores, o presidente voltou a censurar o vice: “O negócio é o seguinte: o Mourão é general lá no Exército. Aqui quem manda sou eu. Eu sou o presidente”. E tampouco freou os filhos. Ao contrário, Carluxo, depois do vídeo de Olavo de Carvalho, intensificou os ataques. Eduardo também entrou na roda, declarando que o Mourão enseja a desconfiança de que poderia almejar um cargo mais alto da República. “No começo eu ouvia esse papo e achava besteira. Agora, já não sei mais”, afirmou o pimpolho de número 3.

Em um governo tão sectário na política e na ideologia, o amplo leque de ações do vice-presidente soa como provocação — ou, o que é pior, como conspiração. E os petardos que mantêm o fogo alto costumam ser disparados por assessores que, às vezes mais realistas que o rei, apostam no confronto. Tanto que foi zero dois quem publicou o vídeo na conta do pai, e foi o coronel Itamar, que cuida da rede social do vice, quem curtiu um comentário da jornalista Rachel Sheherazade, do SBT, que enfureceu Carluxo.

Observação: Na postagem do último dia 22, eu comentei que o vice-líder do governo na Câmara, por influência do guru de meia pataca, apresentou um pedido de impeachment contra o vice-presidente da República, alegando “conduta indecorosa, desonrosa e indigna” e “conspiração para conseguir o cargo de Bolsonaro”. Um dos argumentos sustentados pelo congressista patarateiro é um like de Mourão na publicação em que a jornalista Rachel Sheherazade dirigiu elogios ao vice-presidente e críticas ao titular. O general classificou como “bobagem” o pedido de impeachment e afirmou que "se prosperar, ele volta para a praia". Quanto ao dublê de pensador e astrólogo, talvez fosse melhor ele voltar a fazer mapa astral, chupar seu cachimbo lá em Richmond, na Virgínia, e palpitar menos no governo tupiniquim. Todo mundo sairia ganhando.

Se Carlos Bolsonaro fosse mulher, teríamos um caso clássico de Complexo de Édipo. No afã de proteger o papai, o filhote-pitbull extrapola, exorbita e ultrapassa todos os limites, começando pelo do bom senso. Sua cisma com Mourão começou no ano passado, depois do atentado contra Bolsonaro, quando insinuou que a morte do pai interessaria ao general. De lá para cá, vire e mexe ele volta à carga.

No domingo de Páscoa, zero dois postou um vídeo em que o guru do clã ataca os militares; no dia seguinte, Mourão ironizou as críticas e disse que Olavo deveria focar o que entende — astrologia. Na sequência, o pimpolho mostrou que o general curtiu um post da jornalista que classificou o presidente de “vinagre” e o vice de “vinho”. Depois postou o convite de uma palestra nos Estados Unidos para a qual o Mourão foi convidado e insinuou que o general foi chamado com a missão de falar mal do governo; em outro post, escarneceu de uma fala de Mourão sobre a crise na Venezuela (o general disse que a população do país tinha de estar desarmada para evitar uma guerra civil — “uma pérola!”, ironizou zero dois). Na sequência, compartilhou um vídeo que fala de uma suposta articulação política do PRTB, partido de Mourão, para ter independência do governo, e, poucas horas depois, uma entrevista em que Mourão diz que não iria comentar a decisão da Justiça de reduzir a pena de Lula, e um comentário do vice criticando o processo de “despetização” promovido no governo pelo ministro Onyx Lorenzoni. No mesmo dia, criticado pela ofensiva, zero dois escreveu candidamente que não se trata de atacar o general, mas apenas de estabelecer os fatos. E por aí segue a procissão.

No café da manhã da última quinta-feira, presidente e vice sentaram-se lado a lado, em cena de harmonia. Fizeram questão de dizer que Carlos tem o direito de expressar sua opinião. Mourão chegou a comentar que o fato de Carlos ser filho do presidente não o obriga a ficar “de bico calado”. Mas é uma ingenuidade achar que a crítica de zero dois seja comparável à de qualquer político, ainda mais quando o dito-cujo teve papel fundamental na campanha e exerce influência indiscutível sobre o papai presidente.

Conflitos entre titular e vice permeiam a história desta república desde as mais priscas eras. O primeiro presidente do Brasil, marechal Deodoro da Fonseca, desconfiava de Floriano Peixoto, que assumiria seu lugar nove meses depois da posse. Café Filho conspirava contra Getúlio Vargas. João Goulart não dava trégua a Jânio Quadros. Na redemocratização, Itamar Franco voltou-se contra Collor e Dilma, vejam só, acreditava que Michel Temer era o vice mais discreto e servil com que um presidente poderia contar — e deu no que deu. 

Para evitar novas crises, há que lavar a roupa suja em casa. A nação agradece.

segunda-feira, 25 de março de 2019

A REFORMA DA PREVIDÊNCIA, OS FILHOS DO PRESIDENTE E A NAU DOS INSENSATOS


Se a popularidade de Jair Bolsonaro está em declínio, como afirma o Ibope (detalhes na postagem da última sexta-feira), isso se deve em grande parte à ingerência da “família real”: três dos filhos do presidente têm mandato, mas insistem em palpitar no governo federal, e o caçula, de apenas 20 aninhos, já se mostra promissor.

Flávio, o zero um, se notabilizou pelas suspeitas de mensalinho em seu gabinete na Alerj, e a exemplo de seu ex-assessor e factótum da família, Fabrício Queiroz, apresentou diversas “explicações plausíveis” para as irregularidades apontadas pelo Coaf, mas nenhuma delas convenceu ninguém além dos bolsomínions. O senador ainda tentou se escudar sob o foro especial, mas foi abatido em seu voo de galinha pelo ministro Marco Aurélio — o magistrado adiantou que o pedido teria como destino a lata do lixo, e tão logo terminou o recesso do Judiciário, no dia 1ª de fevereiro, determinou que as investigações ficassem a cargo do MP-RJ. Na semana passada, Flávio e seu partido apresentaram à Corregedoria-Geral do Ministério Público representações disciplinares contra o MP-RJ, alegando atuação irregular dos procuradores. Seria mais ou menos como atirar no mensageiro por trazer más notícias.

Carlos, o zero dois, especializou-se em tuitar vitupérios contra inimigos reais e imaginários e em derrubar desafetos — como Gustavo Bebianno, a quem chamou publicamente de mentiroso (o pelotão de choque palaciano cortou um dobrado para evitar que o ex-ministro revolvesse em público as entranhas da campanha presidencial, da qual ele havia sido coordenador). Carluxo vereador na Câmara Municipal do Rio, mas não sai de Brasília, de onde comanda (não sei se oficial ou informalmente) as redes sociais do papai presidente. Rodrigo Maia desconfia que ele seja o mentor dos ataques que passou a sofrer nas redes sociais, o que é ruim, pois parece que relação entre o presidente da Câmara e o chefe do Executivo desandou feito maionese batida com ovo gelado (detalhes mais adiante).

Eduardo, o zero três, que, como o pai, é fã de carteirinha de Donald Trump, foi promovido informalmente a chanceler durante a visita oficial aos EUA. Em entrevista ao jornal O Globo, disse ser uma pessoa interessada em relações exteriores e negou que tenha ofuscado Ernesto Araújo, atribuindo à imprensa uma tentativa de desviar o foco do “sucesso” que foi a viagem e de tentar desunir o “clã”. Disse também que "de alguma forma será necessário usar força" para que Nicolás Maduro deixe governo — eu também acho, mas isso não significa que o Brasil tenha de se envolver militarmente nessa crise. O presidente voltou a dizer que não apoia uma intervenção militar na Venezuela. "Tem gente divagando, tem gente sonhando. Da nossa parte, não existe essa possibilidade". Mais tarde, em entrevista à imprensa brasileira, zero três afirmou que a manchete do jornal chileno foi exagerada e que ele não fez nada além de repetir a posição do presidente Donald Trump.  

Jair Renan, o zero quatro, é o mais jovem e menos conhecido do Clã, mas já criou uma saia­-justa para o pai por ter namorado a filha do PM reformado Ronnie Lessa, apontado como executor da vereadora Marielle Franco (Lessa mora no mesmo condomínio em que Bolsonaro morava antes de se mudar para o Planalto, mas o presidente disse que não o conhece), e outra ao postar no Instagram fotos e vídeos fazendo treinamento de tiro.

Observação: A afinidade dos Bolsonaros com armas de fogo não é nenhuma novidade, e o fato de o filho caçula seguir a manada não teria nada de mais se seus instrutores não fossem agentes da PF e o local das aulas, a Academia Nacional de Polícia em Brasília, cujas instalações são privativas para policiais. Zero quatro morava em Resende (RJ) com a mãe até o fim de 2018, mas se mudou para Brasília para ficar perto do pai. Pelo visto, o garoto promete.

“O bom político costuma ser mau parente”, dizia Ulysses Guimarães. No governo atual, porém, questiúnculas domésticas são frequentemente confundidas com questões de Estado. O presidente eleito parece ser o mandatário de direito, mas o poder de fato é exercido por seus filhos. Como se não bastasse, o presidente da Câmara e o ministro da Justiça “se estranham”, zero dois dispara farpas contra ele, e o pai se mostra mais preocupado em tomar partido nessa guerra de egos do que em serenar os ânimos e focar a reforma previdenciária.

No Chile, sem citar Maia nominalmente, o presidente culpou a velha política pelos entraves na aprovação da PEC. Maia retrucou que Bolsonaro precisa dizer o que é a nova política e assumir ele próprio a articulação para a aprovação da reforma “em vez ‘terceirizar’ a tarefa”. Disse também que só voltaria a agir pelas tramitações depois que o presidente se apresentasse para tratar da situação. Num coletiva de imprensa, Bolsonaro comparou o comportamento do deputado ao de uma namorada: "Você nunca teve uma namorada? E quando ela quis ir embora você não conversou? Estou a disposição do Rodrigo Maia para conversar com ele", disse. Maia, depois de ter dito que a página da disputa estava virada, respondeu que não precisa se encontrar com ninguém, que cabe ao governo conseguir os votos necessário para a aprovação do projeto de reforma, que continua como grande defensor da proposta e que vai defendê-la na Câmara, mas que o papel de formar maioria é do governo e dos ministros. "Vou pautar (a reforma) quando o presidente disser que tem votos para votar. A responsabilidade do diálogo com os deputados daqui para frente passa a ser do governo. É ele que vai negociar com os deputados. A reforma da Previdência continua sendo a minha prioridade, mas essa responsabilidade de articular com os deputados para construir uma base sólida é do presidente da República, não do presidente da Câmara. Ele tem que articular diretamente, chamar os presidentes dos partidos, as bancadas, ou chamar e ver no que dá".

Salta aos olhos que, a despeito de todas as negativas, essa rusga pôs em risco a articulação da PEC, assustou o mercado e reduziu o otimismo de analistas políticos e econômicos com a aprovação daquela que é a considerada a mais importante das reformas. Na semana passada, o Ibovespa, que havia superado a marca história dos 100 mil pontos, desabou mais de 5% (só na última sexta-feira a queda foi de 3,1%). O presidente da CCJ da Câmara só deve anunciar o nome do relator da reforma na comissão depois da ida de Paulo Guedes ao colegiado, que está marcada para amanhã. Os parlamentares esperam que ele detalhe a PEC e explique melhor o projeto de lei que afeta os militares. Isso certamente não ocorreria se o governo estivesse articulado, mas o péssimo ambiente político dos últimos dias pôs em xeque a capacidade do Planalto de garantir a aprovação da reforma.

Citando a frase “Ave Caesar, morituri te salutant”, o jornalista Alon Feuerwerker sugere que o Planalto espera que os deputados votem medidas impopulares e morram nas eleições. Na sua avaliação, o presidente, surfando no clamor por uma “nova política”, distribuiu os cargos entre os dele e não dividiu poder com mais ninguém. Mas se os gladiadores romanos não tinham opção além obedecer ao imperador e torcer para sobreviver até a luta seguinte, os parlamentares têm a alternativa de simplesmente não fazer o que o governo deseja e esperar o tempo passar. A boa vontade é limitada, o que introduz um vetor de fragilidade potencial que começa a se manifestar nas pesquisas de popularidade. 

Governos sem base própria enfrentam risco maior de colapso quando a popularidade declina além de um patamar, até porque os políticos são dotados de olfato sensível para o cheiro de sangue na água. Bolsonaro abre múltiplas frentes de atrito e é visto como mal menor por boa parte do establishment. Então, basta esperar a hora em que o governo vai precisar de apoio. A nova administração vem abrindo espaço inédito para referências religiosas, particularmente cristãs. Talvez fosse o caso de a turma dar uma folheada na Bíblia e estudar a interpretação de José para o sonho do Faraó com as vacas gordas e as magras.

Enfim, há quem diga que esse ambiente hostil será superado. “Faz parte do jogo. Maia está tentando se posicionar e ganhar um pouco mais de voz e espaço neste momento. É fundamental que o presidente da Câmara esteja na articulação e Bolsonaro sabe disso. É claro que é um ruído desnecessário e que causa volatilidade, mas as pessoas se esquecem de como foram os outros processos de mudanças na Previdência. Mesmo com esses últimos dias, acho que haverá pouca desidratação da proposta e que grande parte do texto original vai passar”, ponderou o economista da PUC-Rio José Marcio Camargo. Tomara que ele esteja certo.

Bolsonaro fará uma reunião nesta segunda-feira com os ministros Onyx Lorenzoni, Paulo Guedes, Santos Cruz e Augusto Heleno para discutir a crise política na relação entre o Executivo e o Legislativo. Tomara que o bom senso prevaleça.

ATUALIZAÇÃO: Contrariando as expectativas, o desembargador Ivan Athié determinou nesta tarde a soltura de Michel Temer, preso desde a última quinta-feira (clique aqui para ler a íntegra da decisão). O magistrado havia pedido que o caso fosse incluído na pauta de julgamento do tribunal na próxima quarta-feira, para que a decisão sobre o habeas corpus fosse colegiada, mas resolveu se antecipar: “Mesmo que se admita existirem indícios que podem incriminar os envolvidos, não servem para justificar prisão preventiva, no caso, eis que, além de serem antigos, não está demonstrado que os pacientes atentam contra a ordem pública, que estariam ocultando provas, que estariam embaraçando, ou tentando embaraçar eventual, e até agora inexistente instrução criminal, eis que nem ação penal há, sendo absolutamente contrária às normas legais prisão antecipatória de possível pena, inexistente em nosso ordenamento, característica que tem, e inescondível, o decreto impugnado”.

terça-feira, 5 de março de 2019

GOVERNO BOLSONARO EM RITMO DE CARNAVAL



Sabemos porque Jair Bolsonaro derrotou o poste-fantoche do presidiário de Garanhuns por uma diferença de quase 11 milhões de votos; o que não sabemos é como será o seu governo. A julgar pelo que se viu desde que o presidente assumiu, há que torcer para que a performance da trupe melhore. Mas de uma coisa estou certo: como na fábula do Velho, o Menino e Burro, Bolsonaro será impiedosamente bombardeado, diga o que disser, faça o que fizer. E as críticas virão tanto da ala dos descontentes, que queriam o PT no poder, como dos que não entendem por que o atual governo ainda não resolveu todos os problemas que o PT criou ao longo de treze anos e fumaça, com destaque para os 5 anos, 4 meses e 12 dias em que a calamidade em forma de gente, que atende por Dilma Rousseff, fez o diabo para quebrar o país.

A crítica política em forma de sátira e protestos tomou conta de parte dos foliões neste carnaval. O destaque foi a relação do zero um com o enrolado e inexplicado Fabrício Queiroz, e com zero dois, que ameaçou voltar para o Rio depois de articular a demissão de Bebianno — e ora ameaça ficar por Brasília (detalhes mais adiante). 

No bloco Ladeira Abaixo, em Belo Horizonte, os foliões cantaram em coro debaixo de chuva “ai, ai, ai, Bolsonaro é o carai” — mesmo refrão repetido no bloco Eu Acho É Pouco, em Olinda. Em alguns momentos, era seguido por outro: “Ei, Bolsonaro, vai tomar no cu”, e até o antigo refrão “olê, olê, olê, olá, Lula, Lula” apareceu.

Também em BH, o bloco Tchanzinho Zona Norte mesclou versos como “Lula livre”, “olê, olê, olá, Lula”, “ele não” e “Bolsonaro é o caralho”, causando confusão. Segundo uma das produtoras do bloco, a manifestação foi espontânea e acabou repetida no palco, mas o capitão da PM responsável pela segurança no local alertou que, se seguissem criticando Bolsonaro e defendendo Lula, “que é um vagabundo”, a corporação retiraria seu efetivo (o porta-voz da corporação, major Flávio Santiago, disse que o que motivou a intervenção foi o risco de briga generalizada que os coros poderiam causar). Não vejo como não dar razão ao capitão.

Observação: Dando tempo e jeito, assista a este vídeo:


Mudando de pato para ganso, a mídia quase não repercutiu a curiosa decisão do desembargador Néviton Guedes, do TRF-1, que, na última quarta-feira, acolheu um mandado de segurança interposto pela OAB contra a busca e apreensão realizada no escritório do advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior, coordenador da defesa do esfaqueador Adélio Bispo, bem como contra a quebra do sigilo bancário e telefônico e a realização de perícias nos materiais apreendidos e que envolvam o sigilo profissional do causídico. Na prática, isso paralisa a última linha de apuração da PF sobre o caso, que é a identificação de quem está por trás da defesa de Adélio e que também poderia ter interesse no atentado (volto a este assunto numa próxima postagem).

Deputados do “Centrão” — ou "Blocão" — prometem emperrar a reforma da Previdência caso seus interesses não sejam atendidos. (Quanto patriotismo. Ou eu deveria dizer fisiologismo?). Depois que os parlamentares reclamaram da inércia de Bolsonaro nas redes sociais, o presidente se comprometeu com os líderes dos partidos que podem votar a favor da reforma a fazer uma defesa mais enfática do tema com a "inestimável" ajuda do zero dois. Na terça-feira passada, Carluxo criticou pelo Twitter o silêncio de "deputados eleitos por Bolsonaro" e fez um apelo para que eles defendam o texto da PEC. A crítica causou mal-estar no Congresso. "Eu não vejo autoridade no filho do presidente para dar pito nem mesmo nos seus companheiros, colegas vereadores da Câmara Municipal, quanto mais em deputado federal eleito pela população", disse o líder do DEM na Câmara e do Centrão, Elmar Nascimento. "A gente não vai votar a reforma da Previdência porque o filho do presidente quer. Vamos votar pelo Brasil. Temos convicção de que o País precisa da aprovação dessa reforma". De novo: quanto patriotismo!

Para quem não se lembra, zero dois teve papel determinante na demissão de Gustavo Bebianno. Após o episódio, e graças a alguma pressão da cúpula militar, que não vê com bons olhos envolvimento da prole presidencial em questões administrativas do governo, o pitbull do papai voltou para o Rio, supostamente para reassumir suas funções na Câmara Municipal. Mas o afastamento durou pouco: segundo reportagem da Folha, ele se reuniu nesse início de semana com o secretário de Comunicação Social, Floriano Barbosa, para discutir estratégias para defender a reforma da Previdência.

Bolsonaro-pai parece apreciar a ajuda de Bolsonaro-filho-do-meio para promover a PEC da Previdência e conseguir mais apoiadores — não só no Congresso, mas também na sociedade civil. Na última terça-feira, o pimpolho postou no Twitter: "Gostaria de ver mais deputados eleitos por Bolsonaro defendendo a não tão popular, mas necessária proposta da nova previdência. Sabemos que alguns já o fazem, mas qualquer um vê que a esmagadora maioria nem toca no assunto. Um time tem que jogar junto interessado só no Brasil". Até aí não há como discordar.

A propaganda é a alma do negócio, dizem, mas sem dinheiro o coisa não anda, sobretudo no antro de corruptos que se tornou o Congresso Nacional. Assim, outra estratégia do Planalto para enfunar as velas da reforma previdenciária é adoçar a boca, digo, o bolso dos congressistas de primeira viagem com repasses individuais de R$ 5 milhões, visto que eles só terão direito a emendas parlamentares a partir do ano que vem.

Dos 513 deputados, 243 estão no primeiro mandato; no Senado, 46 dos 81 são novos. Uma simples conta de padeiro nos leva ao total de R$ 1,4 bilhão — isso sem incluir as emendas impositivas para os deputados e senadores que foram reeleitos (cada um receberá R$ 15,4 milhões, o que perfaz o total de R$ 9,2 bilhões). Embora sejam obrigatórias, as emendas sempre funcionaram como moeda de troca em momentos de votações cruciais para o governo, como é o caso da reforma da Previdência — e foi o caso das denúncias de Janot, que levaram Temer a torrar seu capital político e o nosso dinheiro para comprar o apoio das marafonas da Câmara Federal e se escudar das “flechadas” do então PGR.

A despeito do discurso oficial contrário à barganha política, o governo deve liberar, além das emendas para os veteranos e do crédito para os calouros, cargos de segundo escalão. Responsável pela articulação política do Planalto com o Congresso, o ministro Onyx Lorenzoni avisou aos políticos que eles poderão fazer indicações para cargos em repartições federais nos Estados, desde que preenchidos “critérios técnicos”, como determina a Controladoria-Geral da União, e advertiu que ministros terão poder de veto sobre as indicações.

“Se fosse toma lá, dá cá, os repasses seriam só para os deputados e senadores aliados, mas não é isso. Todos os novatos vão receber, independentemente de partidos, para colocar nas suas bases”, defendeu o ex-deputado e atual secretário especial da Casa Civil para a Câmara, Carlos Manato. Pode até ser. Mas o problema é que até agora o governo são conseguiu consolidar uma base de sustentação no Congresso e só conta com a adesão formal do seu partido, que tem se mostrado dividido.

Joice Hasselmann, escolhida como líder do governo no Congresso, promete pedir votos até para o PT. “Na pauta de costumes a gente briga, mas, na Previdência, precisamos ter união”, afirma a deputada. Falando na quadrilha, o líder da ORCRIM na Câmara, Paulo Pimenta, classificou como “uma vergonha” a liberação do crédito para os novatos. “É fisiologismo e contraria tudo o que Bolsonaro disse na campanha”, afirmou o petralha, “esquecendo-se” muito convenientemente de que verba também deve beneficiar a oposição. E isso depois que Lula e seus asseclas rapinaram a Petrobras em prol de seu espúrio projeto de poder (e de encher os bolsos, deles próprios e de parentes, amigos e apaniguados). Não fosse trágico, o pronunciamento desse projeto mal-ajambrado de monte de merda seria cômico. Mas essa corja não tem jeito; é como o escorpião da fábula, que convence o sapo a levá-lo nas costas até o outro lado do rio, alegando que, se ferroá-lo, ambos morrerão, e então lhe casca o ferrão, simplesmente porque agir assim é da sua natureza, não há nada que ele possa fazer para mudar. Quer um exemplo? Então vamos lá:

PT disse que vai acionar a Corregedoria da PF contra Danilo Campetti, um dos agentes que fizeram a escolta de Lula durante o velório e a cerimônia de cremação do neto do petralha, no último sábado. Campetti integrou a equipe que cuidou da segurança do então candidato Bolsonaro e ostenta nas redes sociais uma aversão ao PT e um engajamento ao hoje presidente Bolsonaro. Também contrariou a escumalha vermelha o fato de o agente aparecer em imagens ao lado de Lula ostentando no colete à prova de balas um emblema da SWAT (divisão de táticas especiais da polícia dos Estados Unidos onde ele fez cursos de especialização).

De novo: Se não fosse trágico, seria cômico! Para concluir, relembro esta perola do Ultraje a Rigor.


segunda-feira, 4 de março de 2019

SOBRE BOLSONARO PAI E A VOLTA DE BOLSONARO FILHO (ZERO DOIS)



Jair Bolsonaro foi eleito porque, no primeiro turno, nosso esclarecidíssimo eleitorado descartou 11 candidatos (que não valiam dois tostões de mel coado, verdade seja dita) e levou ao segundo turno os dois extremos (extremistas? extremados?) do espectro político-partidário. Como a perspectiva de um poste-fantoche controlado remotamente desde Curitiba se aboletar no Palácio do Planalto era muita desgraça para um só país, o jeito foi apoiar o deputado-capitão, que venceu por uma vantagem de quase 11 milhões de votos.

Eleger Bolsonaro foi só o primeiro passo. É preciso apoiá-lo e ao seu governo. Mas isso não significa aplaudi-lo de pé quando ele se deixa fotografar trajando uma camiseta pirata do Palmeiras e chinelos de dedo, ou quando dá respostas estapafúrdias a perguntas que sequer foram feitas — exemplo: na semana passada, “do nada”, ele disse poderia “suavizar” a reforma da Previdência, e causou uma queda de quase 2 pontos no Ibovespa.

Todos conhecemos as limitações do presidente. Todos sabemos que, durante os últimos 30 anos (ou quase isso), ele foi um obscuro deputado do baixo-clero, que economia não é o seu forte, que seus discursos não arrebatam e que algumas de suas ideias... não fascinam, para dizer o mínimo. Mas não é preciso ser um chef de cuisine para dizer se a sopa ficou salgada ou se o filé passou do ponto. 

O Brasil não é para principiantes, mas se a Dilma conseguiu ficar 5 anos 4 meses e 12 dias no Palácio do Planalto, Bolsonaro pode dar certo se aprender a ouvir e cercar de assessores qualificados. 

Infelizmente, tirando Paulo GuedesSérgio Moro e, com muito boa vontade, Onyx Lorenzoni e um ou outro ministro da “ala militar”, pouca coisa se aproveita. Isso sem mencionar o ministro da Educação, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (para que raios precisamos de uma pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos?), o ministro das Relações Exteriores e o do Turismo, que inexplicavelmente continua ministro, despeito de ser “chegado numa laranjada”. Dizem me Brasília que pau que bate em Chico bate em Francisco, mas sabe-se lá se as razões de foro íntimo que pavimentaram a exoneração de Bebianno se aplicam a Antônio.

Por outro lado, os que não gostam de Bolsonaro e torcem para que ele não complete os quatro anos de mandato previstos na lei estão inconsoláveis com a curta duração que os seus problemas têm tido até agora, com as crises que estão terminando rápido demais. Um dos melhores momentos nessa sucessão de problemas que queimam a largada teve como herói o filho do meio do presidente, que também atende por zero dois, Carluxo e pitbull do “paipai”

Mas não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe: depois do bafafá que levou à exoneração de Gustavo Bebianno — com direito a mentiras, desmentidos, bate-bocas, versões sobrepondo-se a fatos e conversas pelo WhatsApp que não foram propriamente conversas, mas simples trocas de arquivos de áudio —, o “garoto” se escafedeu de mala e cuia, supostamente para reassumir as funções de edil na Cidade Maravilhosa, e levou a tiracolo o primo que, dizem as más-línguas, ele havia encarregado de ficar de olho no paipai

Mas, de novo, não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe: também segundo as más-línguas, no último dia 25 Carlos Bolsonaro teve pelo menos um compromisso com autoridades do governo na capital, além de falar com o próprio pai sobre a possibilidade de renunciar ao mandato de vereador no Rio e ficar definitivamente em Brasília... Céus e terras, tremei|!

Perguntado por Veja até quando a prole presidencial continuará se imiscuindo em assuntos do governo, o vice-presidente respondeu que a família do presidente é muito unida por tudo que enfrentou (referindo-se ao atentado contra a vida do então candidato, durante um ato de campanha em Juiz de Fora, em setembro do ano passado) e que a grande preocupação é “o governo se perder num emaranhado de questões menores”. “Agora que o pai está bem”, disse o general Mourão, “cada um dos filhos cuidará de suas atividades; se a partir de agora ocorresse algo distinto, aí seria o caso de eu conversar com ele”.

A hora é agora, general. Segue o baile.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2019

LULA E O DEDO PERDIDO


Complementando o apanhado das muitas “virtudes” que renderam ao ex-presidente presidiário duas penas que somam 25 anos de cadeia (e ainda falta julgar seis ou sete processos), cumpre lembrar que o cinismo, a cara de pau e a desfaçatez são a marca registrada do DEMIURGO DE GARANHUNS desde muito antes da fundação do PT. Na época, diziam ele e seus asseclas, era preciso criar um partido que fizesse diferença na política, “não roubando nem deixando roubar”. Sabe-se agora, porém, que estava em gestação uma colossal organização criminosa que rapinaria o Erário por mais de uma década.

Se Lula tirou milhões da miséria, como insistem em dizer os militantes petistas — que não veem provas contra o SUMO PONTÍFICE DA SEITA DO INFERNO nem que elas lhes mordam a bunda —, foi para azeitar seu espúrio projeto de se perpetuar no poder encher as burras — dele, de seus familiares, amigos, apaniguados e afins.

O PARTEIRO DO BRASIL MARAVILHA já era uma fraude nos anos 1960, quando perdeu o dedinho da mão esquerda num rocambolesco acidente de trabalho (que lhe rendeu uma indenização de 350 mil cruzeiros). Segundo ele disse ao jornalista Mário Morel em 1979, “um companheiro que estava cochilando largou o braço da prensa, que fechou e lhe amputou o dedo”, e que, como o acidente ocorreu de madrugada, “ele teve de esperar o dia amanhecer para ser levado ao Hospital Monumento” — o único que atendia ao IAPI (instituto de previdência social da época).

Naquela época, frisou o ENVIADO PELA DIVINA PROVIDÊNCIA PARA ACABAR COM A FOME, PRESENTEAR A IMENSIDÃO DE DESVALIDOS COM TRÊS REFEIÇÕES POR DIA E MULTIPLICAR A FORTUNA DOS MILIONÁRIOS , “a segurança do trabalho era quase inexistente”. O que não deixa de ser verdade: o número de irmãos do REDENTOR DOS MISERÁVEIS que sofreram algum tipo de lesão confirma o título de "campeão de acidentes de trabalho" que o Brasil detinha na década de 1970; Vavá (cuja morte o explorador de cadáveres não perdeu a chance de usar politicamente) por pouco não ficou sem uma das mãos quando trabalhava em uma algodoeira; Jaime, o mais velho, teve parte dos dedos decepados numa serralheria; Zé Cuia, mecânico de caminhão, amassou a mão em uma máquina. E por aí vai.

O EXTERMINADOR DO PLURAL é tão falso quanto uma nota de 3 reais. É um protótipo de “desempregado que deu certo”, alguém que não trabalha desde os 30 anos — Lula deixou de ser operário em 1980, quando fundou o PT, mas, como líder sindical, já não dava expediente em chão de fábrica desde 1972. Numa conta de padeiro, mais da metade dos gloriosos dias do PICARETA DOS PICARETAS foi dedicada à “arte da política”, não ao batente diário que consome o tempo de milhões de brasileiros. 

Nem mesmo a narrativa da ALMA VIVA MAIS HONESTA DO BRASIL sobre seu “acidente” resiste a uma análise mais detalhada. Mas o mais curioso, nesse caso, é que a Fris-Moldu-Car — empresa que funciona até hoje e continua dando calote nos funcionários — “se apropriou” dessa falácia para reivindicar “relevância histórica” e escapar da falência através da recuperação judicial, a despeito de o SUPER MACUNAÍMA ter iniciado sua carreira de torneiro mecânico em outra metalúrgica. Na verdade, ele já havia trabalhado em duas empresas antes de ingressar na Fris, e foi numa delas — a Metalúrgica Independência, que ficava no bairro paulistano do Ipiranga — que perdeu o dedo.

As chances de alguém perder o dedinho ao operar um torno mecânico, que já são remotas, caem para quase zero quando o operador é destro — e o CRIADOR DE POSTES SEM LUZ é destro. Vale a pena conferir o que diz Lewton Verri, ex-engenheiro sênior da CSN e especialista em metalurgia de produção que conheceu o molusco na década de 70 e o tem na conta de um sindicalista predador e malandro, que traía os “cumpanhêros” começando e encerrando greves para ganhar dinheiro em acordos espúrios (mais detalhes nesta postagem).

Golbery do Couto e Silva ex-chefe da Casa Civil em dois governos militares e artífice da “abertura lenta e gradual” disse certa vez a Emílio Odebrecht que O FILHO DE MÃE NASCIDA ANALFABETA QUE NEM PRECISOU ESTUDAR PARA FICAR TÃO SABIDO QUE FALTA PAREDE PARA TANTO DIPLOMA DE DOUTOR HONORIS CAUSA “nada tinha de esquerda e que não passava de um bon vivant”. E o tempo provaria que ele estava certo.

Longe de ser o que a construção de sua imagem pretendia que fosse, O METALÚRGICO QUE APRENDEU A FALAR COM TANTO BRILHO QUE BASTA ABRIR A BOCA PARA ILUMINAR O MUNDO DE MARILENA CHAUÍ jamais passou de alguém avesso ao trabalho, que sempre viveu de privilégios e mordomias conquistados através de contatos proveitosos e a poder da total ausência daquele conjunto de valores éticos e morais que permitem distinguir o aceitável do inaceitável.

O EGUN MAL DESPACHADO que emergiu das delações da Odebrecht, desnudado da roupagem de mito, de salvador da pátria, não passa de um prestador de serviços a corporações corruptas de todos os matizes e origens em troca dos prazeres da boa vida, entre os quais a delícia de desfrutar do poder de maneira indecorosa e ainda se passar por político habilidoso, honesto e provido de um senso de justiça social sem paradigma na história deste país. 

Por essas e outras, O PAI DA MENTIRA pode passar o resto de seus imprestáveis dias numa cela de cadeia. Lula lá!

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2019

LARANJADA NO PSL E CRISE NO PLANALTO

ATUALIZAÇÃO (16h45): O governo está em compasso de espera para o desfecho que Jair Bolsonaro dará ao imbróglio iniciado na semana passada, envolvendo o ainda ministro da Secretaria-Geral da Presidência. A expectativa é de que o impasse seja resolvido ainda hoje, e que o capítulo final seja transmitido daqui a alguns minutos, durante briefing do porta-voz da Presidência. A conferir.

O imbróglio envolvendo Flávio Bolsonaro e seu ex-assessor Fabrício Queiroz quase subiu rampa do Planalto quando zero um resolveu pleitear foro privilegiado junto ao STF. Mas o pedido foi negado pelo ministro Marco Aurélio, que de vez em quando dá uma dentro, e a investigação foi enviada de volta ao MP-RJ. Tanto o senador quanto seu ex-assessor negam ter participado ou tido conhecimento de irregularidades no caso, mas, curiosamente, nenhum dos dois anjinhos compareceu aos depoimentos agendados pelos procuradores.

Uma vez empossado Presidente, Jair Bolsonaro não pode ser investigado por fatos ocorridos anteriormente ao mandato, de modo que a parte que lhe toca nesse furdunço — e que se resume basicamente ao depósito feito por Queiroz na conta da hoje primeira-dama — vai ter de ficar para depois. Quanto a Flávio, o mínimo que se espera dele são explicações convincentes — que ele vem se recusando a dar, talvez com a esperança de que um fato novo o tire do foco da mídia. Se seu desejo for realmente esse, o senador pode se considerar atendido: uma nova crise eclodiu no governo assim que a Folha denunciou a ação de laranjas do PSL nas últimas eleições.

Durante o período eleitoral, Gustavo Bebianno era o presidente nacional do PSL e, portanto, o responsável pelo repasse de verbas aos candidatos. Diante da denúncia da Folha, ele disse em nota que não escolheu as candidatas que disputaram as eleições nos estados, pois isso era atribuição dos diretórios regionais. Mais adiante, em entrevista ao Globo, minimizou a crise afirmando ter conversado sobre o caso com o Presidente Jair Bolsonaro. Luciano Bivar, que sucedeu a Bebianno na presidência nacional do PSL, confirmou a versão do antecessor, e com isso a crise passaria ao largo do Palácio do Planalto se Carlos Bolsonaro não a puxasse rampa acima e depositasse no colo do papai.

Carluxo jamais simpatizou com Bebianno e sempre teve ciúmes de sua influência sobre o pai. As rusgas começaram durante a campanha, quando o factótum tinha carta branca para tomar as decisões mais delicadas e o rebento, que tinha um palpite a dar sobre tudo, se via limitado a cuidar das redes sociais da família. Vencida a eleição, o poder do “cão de guarda” se sobrepôs ao do “pitbull”: o primeiro assumiu a Secretaria-Geral da Presidência da República, e o segundo, que aspirava ao comando da Secretaria de Comunicação, ficou sem cargo no governo. 

Na semana passada, porém, zero dois viu a chance de se vingar do desafeto: “Ontem estive 24 horas do dia ao lado do meu pai e afirmo: É uma mentira absoluta de Gustavo Bebbiano (sic) que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro”, postou o filho enciumado no Twitter, seguido de um áudio no qual se ouve o pai dizer: “Ô Gustavo, está complicado eu conversar ainda. Então, não vou falar, não vou falar com ninguém, a não ser estritamente o essencial. Estou em fase final de exames para possível baixa hoje, tá ok? Boa sorte aí”. E assim foi feita a merda.

Visando minimizar os danos, Bebianno disse que suas conversas com o Presidente se deram pelo WhatsApp, e não por telefone, “como talvez tenha imaginado o filho Carlos”. Mas o pitbull não recuou, e, para piorar, o próprio Bolsonaro sustentou que não havia conversado com Bebianno, o que desfez a impressão de que o filho estava criando um salseiro no governo por conta própria, mas ao mesmo tempo deixou claro que ambos cantavam em coro.

A perspectiva da exoneração do ministro causou mal-estar no Planalto, inclusive no núcleo militar do governo. No último sábado, depois de se reunir com Bolsonaro no Alvorada, Onyx Lorenzoni, evitou falar com a imprensa, mas sabe-se que ele foi encarregado de costurar uma “saída honrosa” para pôr fim à polêmica em torno da exoneração do colega. A ideia de compensar Bebianno pela saída do primeiro escalão com um cargo na máquina federal fora do Palácio, porém, foi descartada, já que o artigo 17 da Lei 13.303/2016 veta essa possibilidade. 

Bebianno está nitidamente magoado com Jair Bolsonaro, e não se descarta a possibilidade de ele “cair atirando" . Ao portal G1, o ministro disse que "não se dá um tiro na nuca do seu próprio soldado”, que "é preciso ter o mínimo de consideração com quem esteve ao lado dele o tempo todo", além de publicar nas redes sociais um texto sobre “lealdade”. A julgar pelo trailer, o filme pode ser assustador.

Entre os 22 ministros de Estado, nenhum compartilhou mais a intimidade do Presidente do que Bebianno, que atuou como faz-tudo durante a campanha e, antes disso, como advogado, ganhou a confiança do então deputado ao se oferecer para defendê-lo de graça de uma acusação de homofobia. Agora, pego no contrapé, ele diz não entender a violência com que vem sendo atacado e a facilidade com que foi abandonado pelo Presidente.

Não convide Carlos Bolsonaro e Gustavo Bebianno para a mesma festa. Desde a companha que o filho do Presidente vem atuando nos bastidores para minar o poder do advogado junto ao pai. A grande chance surgiu na semana passada, e deu no que deu.

Carluxo sempre foi genioso, beligerante e adepto a teorias conspiratórias. Já arreganhou os dentes para o general Mourão, insinuando pelo Twitter que vice estaria interessado na morte do titular. Sua relação com o pai chega a ser obsessiva. Em 2000, aos 17 anos, desbancou a mãe e se tornou o vereador mais jovem do Rio, mas sentiu-se usado pelo pai quando descobriu que ele apoiou sua candidatura para evitar a reeleição da ex-esposa. Pai e filho ficaram sem se falar por anos, e, para reconquistar o rebento, o primeiro passou a ser mais tolerante com os caprichos do segundo.

Na última sexta-feira, os vereadores cariocas encerraram o recesso, mas não se sabe se Carluxo deixará Brasília para reassumir seu mandato. No Planalto, a torcida para que isso aconteça é grande, sobretudo devido à quantidade de problemas que a relação entre pai e filho tem gerado. Pelo sim ou pelo não, o pitbull infiltrou um primo no Palácio e o encarregou de acompanhar de perto os passos do pai. Vamos ver até onde tudo isso vai levar.

domingo, 17 de fevereiro de 2019

A CRISE CARLOS BOLSONARO/GUSTAVO BEBIANNO



Não bastasse a novela Queiroz/Flávio Bolsonaro, que ainda promete novos e emocionantes capítulos, uma nova crise se instalou no governo depois que Carlos Bolsonaro, o zero dois, causou constrangimentos tanto inoportunos quanto desnecessários ao desmentir, pelo Twitter, o Secretário-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, que afirmou ter se encontrado com Jair Bolsonaro

O que poderia ser creditado ao destempero e inabilidade política do pitbull palaciano adquiriu maior dimensão porque, ao que tudo indica, ele tinha o aval do pai, que quer se livrar do ministro, mas prefere não exonerá-lo para não desagradar parte da bancada federal do PSL e alguns líderes de siglas aliadas, que têm em Bebianno um interlocutor. 

O general Mourão classificou o caso como futriquinha, mas reprovou a postura de zero dois: “Diz a velha prática que roupa suja a gente lava no tanque da casa e não da casa dos outros. Esta crise está ligada às denúncias em relação aos gastos de campanha do PSL e a um certo protagonismo do filho do presidente que, no afã de defender o pai, interferiu levando as discussões e debates em rede social que acabam sendo de domínio público, o que não é bom”. Não há como não lhe dar razão.

Através de sua conta no Twitter, FHC também se manifestou: “Início de governo é desordenado. O atual está abusando. Não dá para familiares porem lenha na fogueira. Problemas sempre há, de sobra. O Presidente, a família, os amigos e aliados que os atenuem sem soprar nas brasas. O fogo depois atinge a todos, afeta o país. É tudo a evitar”. Também não há como não lhe dar razão.

Para Rodrigo Maia, o Presidente está usando o filho para se livrar de Bebianno. “Ele é presidente da República, não é? Não é mais um deputado, ele não é presidente da associação dos militares. Então, se está com algum problema, tem que comandar a solução, e não pode, do meu ponto de vista, misturar família com isso, porque acaba gerando insegurança, uma sinalização política de insegurança para todos". Maia alertou também que o risco é grande para um governo que vai ter desafios importantes, como a reforma da Previdência.

Não é segredo que o clã Bolsonaro aprecia um enfrentamento. Já na transição do governo houve um arranca-rabo entre zero dois e Bebianno. O pitbull se considera o responsável pela comunicação do pai nas mídias sociais — tem até mesmo as senhas dele, o que é gravíssimo, pois o Estado não pode ficar em mãos indiretas, não importa se do filho do Presidente, da mulher, ou do cachorro — e não admite concorrência. Antes da posse, zero dois postou no Twitter que a morte de Bolsonaro interessava “também aos que estão muito perto” (...) “Principalmente após sua posse”. Na cerimônia, dizendo ter acordado com um mau pressentimento, armou-se de uma Glock e pediu para ser o guarda-costas do pai. Detalhe: Para quem afirma que sua prioridade é proteger o pai, o filho deveria ser mais cauteloso.

Observação: “Governar” pelo Twitter é uma prática que Bolsonaro copiou de Donald Trump. Vale lembrar que o uso de meios particulares para atividades oficiais deu muita dor de cabeça a Hillary Clinton, que, quando Secretária de Estado no governo Obama, dispensou sua conta de email oficial para usar a privada, mesmo para assuntos de Estado (e talvez por isso, ainda que não só por isso, foi derrotada pelo megalômano da peruca laranja).

Pelo andar da carruagem, a saída de Bebianno do ministério não é uma questão de se, mas de como e quando. E deixará mágoas difíceis de superar. O apoio que ele recebeu de políticos e militares surpreendeu o Presidente, que, aliás, terá dificuldade para substituí-lo por outro articulador de igual quilate, sobretudo no momento em que o governo precisa aprovar a reforma da Previdência e não tem uma base aliada organizada e coordenada por políticos experientes. Bebianno seria o interlocutor do governo com Rodrigo Maia, que não por acaso deu a declaração que eu reproduzi linhas atrás, afirmando, dentre outras coisas, que Bolsonaro não é presidente da associação dos militares. A relação de Maia com Onyx Lorenzoni nunca foi boa, embora ambos sejam do mesmo partido, e a conexão entre Maia e Bebianno, assim como com Paulo Guedes, é que facilitaria a tramitação das reformas.

Atualização: A exoneração de Gustavo Bebianno deverá ser publicada amanhã no Diário Oficial da União. Bolsonaro havia resolvido manter o ministro no cargo, mudou de ideia depois de saber do vazamento de áudios com diálogos mantidos entre os dois. No Planalto, o receio é de que, uma vez penabundado, o desafeto crie problemas para o governo, já que é o que se chama no jargão político de “homem bomba”. 

A relação de Bolsonaro com os filhos vem provocando intrigas intra murus, especialmente entre os militares, e desestabilizando um governo que mal começou (e, por que não dizer, que começou mal). Sem cargos no governo, mas agindo como membros da família real numa monarquia, a prole presidencial se dedica a fabricar crises. Flávio, o zero um, tenta se desvencilhar do caso Queiroz; Eduardo, o zero três — que foi filmado em uma palestra dizendo que para fechar o STF bastaria “um soldado e um cabo” e se considera-se um assessor presidencial especialíssimo — já admitiu concorrer à sucessão do pai, caso ele cumpra a promessa de acabar com a reeleição. 

Detalhe: Zero um nunca recebeu apoio de zero dois, e zero três evita falar sobre a crise em que o irmão do meio está metido.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2019

BEBIANNO E O PITBULL DE BOLSONARO


Tem gente que nasceu para falar merda, gente que nasceu para fazer merda e gente que não passa de um monte de merda. 

Gleisi Hoffmann, que se enquadra na primeira categoria, é o que há de pior no PT (e olha que a concorrência é brava). Na segunda, destaca-se com louvor a prole bolsonariana: não bastasse a lambança de zero um e seu ordenança, zero dois resolveu acusar, pelo Twitter, um ministro de Estado de ter mentido sobre conversar com o presidente. Na terceira, brilha a estrela moribunda, o clone do Tinhoso que, por receio de perder para seu fantoche o comando da quadrilha que ajudou a fundar, assinou nova procuração para o esbirro voltar a advogar para ele e ter livre acesso à cela VIP onde permanece encarcerado (ao constranger a marionete a visitá-lo regularmente, o presidiário reafirma que nada pode ser decidido sem o seu aval).

Carlos Bolsonaro resolveu “morder” o Secretário-geral de Presidência, Gustavo Bebianno, jogando nas redes o áudio em que se ouve o pai se recusando a atendê-lo — desmentindo, portanto, o ministro, que jura ter se encontrado com o Presidente.

A prole bolsonariana vem se revelando uma usina de encrencas; quando não há crise no horizonte, há sempre um dos rebento do Presidente pronto a preencher a lacuna. No caso em tela, porém, tudo indica que o próprio Presidente terceirizou ao zero dois a desmoralização de Bebianno, mas isso não afasta o risco de o alvejado cair atirando — e ele tem muita munição para uma guerra contra o clã Bolsonaro.

Coordenador da campanha e principal articulador da ida do capitão para o PSL, Bebianno resolveu jogar no colo do chefe o escândalo das candidaturas-laranjas do partido. Ao saber que sua cabeça estava a prêmio, declarou que não havia crise alguma, que havia conversado três vezes com o chefe na última terça-feira, mas foi prontamente desmentido pelo tuíte do pitbull: “Ontem estive 24h do dia ao lado do meu pai e afirmo: É uma mentira absoluta de Gustavo Bebianno que ontem teria falado 3 vezes com Jair Bolsonaro para tratar do assunto citado pela Globo e retransmitido pelo Antagonista”. 

Fritado e irresignado com a ideia de ser demitido via Twitter pelo filho, Bebianno resolveu arrastar o pai para a beira da cova e imprimir suas digitais no cabo da última pá de cal. Seu aborrecimento aumentou quando Bolsonaro disse ter encomendado à PF uma investigação sobre o laranjal do PSL, e que, se Bebianno estiver envolvido, "lamentavelmente o destino não pode ser outro a não ser voltar às suas origens". E a coisa ficou ainda pior depois que o Presidente reproduziu, em suas redes sociais, as postagens do zero dois.

Principal liderança bolsonarista no Congresso, o Major Olímpio já pediu a cabeça de Bebianno: “Se proceder alguma acusação, não dá para estar no time de confiança do Presidente”. E é bom que seja assim. Já a deputada Joice Hasselmann criticou Carlos Bolsonaro pelo ataque feito a Bebianno. "Não pode se misturar as coisas. Filho de presidente é filho de presidente. Temos que tomar cuidado para não fazer puxadinho da Presidência da República dentro de casa para expor um membro do alto escalão do governo dessa forma", disse.

É difícil não comparar a situação atual com a do governo anterior, quando Temer prometeu um ministério de notáveis e entregou um agremiação de corruptos. Vale frisar que Jair Bolsonaro conquistou a presidência com o apoio de milhões de brasileiros que, sem outra opção para impedir a vitória do fantoche do presidiário, apostaram todas as fichas no capitão. Seria muito triste para todos nós (porque eu me incluo nesse grupo) se essa escolha resultasse em mais do mesmo, ou seja, se a merda continuasse a mesma a despeito de mudarmos as moscas.

Afora os enroscos de zero um com o Coaf, o “time de confiança” a que se referiu o Major Olímpio inclui um condenado por improbidade administrativa (Ricardo Salles), um denunciado por fraude em licitação e tráfico de influência (Luiz Henrique Mandetta), um investigado por transações suspeitas com fundos de pensão (Paulo Guedes), uma citada em delação da JBS (Tereza Cristina), um beneficiário confesso de caixa dois (Onyx Lorenzoni) e outro suspeito de envolvimento no caso dos candidatos laranjas do PSL (Marcelo Álvaro Antônio).

Filhos”, dizia o poeta, “melhor não tê-los; mas se não os temos, como sabê-lo?” Filhos pequenos, como sabe quem os tem, estão sempre prontos a desmentir seus progenitores, trazendo a lume a verdade, doa a quem doer. Mas cenas como essas, quando protagonizada por filhos crescidos e, sobretudo, no seio do Executivo comandado pelo papai, são imperdoáveis. Mesmo que o pronunciamento do pitbull tenha sido combinado com o próprio Presidente, a atitude do vereador foi de uma inabilidade política a toda prova.

Ainda assim, torçamos pelo melhor — até porque isso é tudo que nos resta fazer.