Jair Bolsonaro foi
eleito porque, no primeiro turno, nosso esclarecidíssimo eleitorado
descartou 11 candidatos (que não valiam dois tostões de mel coado, verdade seja dita) e levou ao
segundo turno os dois extremos (extremistas? extremados?) do espectro político-partidário.
Como a perspectiva de um poste-fantoche controlado remotamente desde Curitiba se
aboletar no Palácio do Planalto era muita desgraça para um só país, o jeito foi
apoiar o deputado-capitão, que venceu por uma vantagem de quase 11 milhões de
votos.
Eleger Bolsonaro
foi só o primeiro passo. É preciso apoiá-lo e ao seu governo. Mas isso não significa
aplaudi-lo de pé quando ele se deixa fotografar trajando uma camiseta pirata do Palmeiras e chinelos de dedo, ou quando dá respostas estapafúrdias a perguntas
que sequer foram feitas — exemplo: na semana passada, “do nada”, ele disse poderia “suavizar” a
reforma da Previdência, e causou uma queda de quase 2 pontos no Ibovespa.
Todos conhecemos as limitações do presidente. Todos
sabemos que, durante os últimos 30 anos (ou quase isso), ele foi um obscuro deputado do baixo-clero, que economia
não é o seu forte, que seus discursos não arrebatam e que algumas de suas
ideias... não fascinam, para dizer o mínimo. Mas não é preciso ser um chef de cuisine para dizer se a sopa
ficou salgada ou se o filé passou do ponto.
O Brasil não é para principiantes,
mas se a Dilma conseguiu ficar 5
anos 4 meses e 12 dias no Palácio do Planalto, Bolsonaro pode dar certo se aprender a ouvir e cercar de assessores
qualificados.
Infelizmente, tirando Paulo
Guedes, Sérgio Moro e, com muito
boa vontade, Onyx Lorenzoni e um ou
outro ministro da “ala militar”, pouca coisa se aproveita. Isso sem mencionar o
ministro da Educação, a ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (para
que raios precisamos de uma pasta da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos?),
o ministro das Relações Exteriores e o do Turismo, que inexplicavelmente continua
ministro, despeito de ser “chegado numa laranjada”. Dizem me Brasília que pau que bate em Chico bate em Francisco,
mas sabe-se lá se as razões de foro íntimo que pavimentaram a exoneração de Bebianno se aplicam a Antônio.
Por outro lado, os que não gostam de Bolsonaro e torcem para que ele não complete os quatro anos de mandato
previstos na lei estão inconsoláveis com a curta duração que os seus problemas
têm tido até agora, com as crises que estão terminando rápido demais. Um dos
melhores momentos nessa sucessão de problemas que queimam a largada teve como
herói o filho do meio do presidente, que também atende por zero dois, Carluxo e pitbull do “paipai”.
Mas não há mal que
sempre dure nem bem que nunca acabe: depois do bafafá que levou à exoneração
de Gustavo Bebianno — com direito a
mentiras, desmentidos, bate-bocas, versões sobrepondo-se a fatos e conversas
pelo WhatsApp que não foram
propriamente conversas, mas simples trocas de arquivos de áudio —, o “garoto”
se escafedeu de mala e cuia, supostamente para reassumir as funções de edil na
Cidade Maravilhosa, e levou a tiracolo o primo que, dizem as más-línguas, ele
havia encarregado de ficar de olho no paipai.
Mas, de novo, não há mal que sempre dure nem bem que nunca acabe: também
segundo as más-línguas, no último dia 25 Carlos Bolsonaro teve pelo menos um
compromisso com autoridades do governo na capital, além de falar com o próprio
pai sobre a possibilidade de renunciar ao mandato de vereador no Rio e ficar
definitivamente em Brasília... Céus e terras, tremei|!
Perguntado por Veja
até quando a prole presidencial continuará se imiscuindo em assuntos do governo,
o vice-presidente respondeu que a família do presidente é muito unida por tudo que
enfrentou (referindo-se ao atentado contra a vida do então candidato, durante
um ato de campanha em Juiz de Fora, em setembro do ano passado) e que a grande
preocupação é “o governo se perder num emaranhado de questões menores”. “Agora
que o pai está bem”, disse o general Mourão, “cada um dos filhos cuidará de suas
atividades; se a partir de agora ocorresse algo distinto, aí seria o caso de eu
conversar com ele”.
A hora é agora, general. Segue o baile.