Desde o mês passado
que eu venho ensaiando algumas linhas sobre a gestão de Doria, mas a
trágica morte de Teori Zavascki, a conturbada homologação das
delações da Odebrecht, a frequente queda de integrantes do alto escalão
do governo Temer, o sorteio do novo relator dos processos da Lava-Jato
no Supremo, a indicação de Alexandre de Moraes para o lugar de TZ,
a demissão de Serra, o afastamento de Padilha, a possível
cassação da chapa Dilma-Temer e outras questões de projeção nacional me levaram
a sobrestar o assunto, que agora retomo com o tucano já no terceiro mês à
frente da maior e mais rica metrópole do Brasil (quiçá da América Latina).
Com exceção da
patuleia ignara, capitaneada pela militância inconformada com a derrota de
Haddad e a derrocada do PT nas capitais e boa parte dos quase 5.600
municípios brasileiros, a população paulistana está satisfeita com o novo
prefeito ― segundo dados divulgados em meados do mês passado, 50% dos
entrevistados consideram sua gestão boa ou ou ótima, 30% classificam-na de
regular, 10% a reprovam (dá-lhe, petralhada ignara) e outros 10% não souberam
responder, comprovando, mais uma vez, o “elevado
nível sociocultural” da nossa população e, por extensão, dos nossos
eleitores.
Os programas de
zeladoria da cidade, o retorno dos limites de velocidade nas marginais ao status quo ante e o Corujão da Saúde vêm
sendo elogiados, sobretudo pela parcela da população com renda familiar superior
a 10 salários mínimos (70%). Nas classes menos favorecidas, com renda igual ou
inferior a 2 salários mínimos, a aprovação cai para 35%, mas para a maioria dos
paulistanos a atual gestão será melhor do que a anterior ― e ainda que isso não
passe de pura futurologia, não deixa de demonstrar a satisfação geral com a
atuação do prefeito nos primeiros dois meses de governo.
Claro que não faltam
críticas ao gosto refinado do tucano ― muitos se incomodam com sua predileção
por cashmeres finos e tênis caros ―, às varrições simbólicas que ele promove
nos finais de semana, paramentado de gari, e por aí afora. Curiosamente, Haddad
era enaltecido quando fingia gostar de passear de bicicleta nas ciclofaixas
mal-ajambradas ― que custaram os olhos da cara, nunca é demais lembrar ―, Doria
é alvo frequente de ataques despropositados, frutos de puro revanchismo, da
birra infantil dos inconformados com a derrota acachapante de seu predecessor
(que ainda teve o desplante de disputar a reeleição) e da funesta facção
criminosa fantasiada de partido político que tanto mal fez à nação a partir de
2003, quando o molusco abjeto se elegeu presidente da Banânia.
Igualmente claro que
as críticas a Doria vêm de um segmento da imprensa ligado ao PT,
aos petralhas, a seus pares do PCdoB, Rede, PSOL, PCB
e aos inevitáveis líderes do MST e MTST, sindicalistas e
integrantes de outras agremiações ditas “de esquerda”. Até a doação do salário
de prefeito a instituições de caridade é motivo de chacota para seus detratores
― que parecem considerar R$ 18 mil “uma merreca”, embora esse valor, doado
mensalmente para instituições necessitadas (a primeira foi a AACD), pode
ser de grande serventia em tempos bicudos como os atuais. Aliás, o prefeito
afirmou que doar o próprio salário é uma
“política pública” de seu governo que deveria adotada por outros políticos
(que vistam a carapuça aqueles em que ela servir).
O modelo adotado por Doria ― que não se tem na conta de político, mas de gestor, e também por isso é alvo de críticas por parte de quem não tem mais o que fazer ― deveria servir de exemplo para outros administradores públicos. Negociando pessoalmente com empresas potencialmente “apoiadoras”, ele já conseguiu medicamentos para suprir o déficit na rede pública, automóveis, motocicletas e equipamentos eletrônicos de sinalização para a auxiliar a CET na fiscalização do trânsito, 114 projetores para iluminar a Ponte Estaiada (Octávio Frias de Oliveira), itens de higiene para distribuição entre moradores de rua, e por aí vai. Trata-se de uma maneira engenhosa e inovadora de implementar melhorias sem onerar os cofres do município ― e, para não haver risco de uso dos recursos no custeio da máquina, o dinheiro não vai para o caixa com da prefeitura, mas para um fundo de investimento voltado a projetos nas cinco áreas consideradas estratégicas pelo prefeito (saúde, educação, mobilidade urbana, moradia e segurança).
Observação: Como parte desse plano de parcerias, Doria viajou ao Oriente Médio em busca de recursos para a recuperação e manutenção de 19 pontes das marginais do Pinheiros e do Tietê, além de negociar a venda do Autódromo de Interlagos e do complexo do Anhembi (Sambódromo, Palácio de Convenções e Pavilhão de Exposições), que devem render respeitáveis R$ 7 bilhões.
Na falta do que dizer, intelectualóides e jornalistas “de esquerda” rosnam que tudo isso não passa de pirotecnia midiática com fins eleitoreiros, primeiro para impulsionar a campanha de Alckmin ― padrinho político de Doria ― à presidência, e agora em causa própria, já que alguns segmentos sugerem que os tucanos teriam mais chances se o próprio Doria saísse candidato. O prefeito nega, naturalmente. Ele diz que foi eleito para administrar São Paulo, não para governar o Estado ou concorrer à presidência. Seus detratores, indiretamente, avalizam seu bom trabalho, na medida em que somente resultados positivos poderiam favorecer o PSDB no próximo pleito. Mas a semente já foi plantada. Se vai germinar, só o tempo dirá.
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