Diante das declarações de Marcelo Calero, esperava-se que Geddel fosse devidamente defenestrado ―
até por uma questão de coerência: em entrevista concedida em maio ao Fantástico,
dias depois de assumir interinamente a Presidência da Banânia, Temer disse ter alertado seus ministros
de que se algum deles não agisse
"adequadamente" seria demitido. No entanto, contrariando as
expectativas, Geddel não caiu ― pelo
menos até o momento em que escrevo estas linhas.
Para Temer, a
situação é, no mínimo, desconfortável. Interessa-lhe manter Geddel na Secretaria do Governo, onde o amigo é peça-chave na articulação de
importantes medidas para tirar o país da crise ― dentre as quais a PEC dos gastos ―, sem mencionar que
demití-lo seria reconhecer que um de seus principais assessores de confiança
tramou para se beneficiar pessoalmente. Por outro lado, a saída de Calero do ministério não foi mera
divergência interna, e ignorar suas denúncias ― de que Geddel tê-lo-ia pressionado para favorecer interesses pessoais ― o
presidente se vê no velho dilema da mulher
de César, que além de ser honesta
precisa parecer honesta.
Calero foi o
quinto ministro a deixar a Esplanada desde que Temer assumiu a presidência. Antes deles, saíram Romero Jucá (Planejamento), Fabiano Silveira (Transparência), Henrique Alves (Turismo) e Fábio Osório (Advocacia-Geral da
União). Geddel será o sexto?
Segundo O GLOBO, o caso Geddel reproduz o dilema do caso Jucá, quando Temer se viu obrigado a escolher entre priorizar a amizade ou
defender um padrão ético minimamente aceitável no poder. Aliás, ser ético e ter
reputação ilibada é o mínimo que se espera de um ministro de Estado ― ou não? No
entanto, sua excelência não deixou dúvidas sobre sua posição: mesmo sob pressão para afastar Geddel do cargo,
ele escolheu manter o amigo.
Para entender melhor essa novela ― que parece estar longe de
terminar ―, o empreendimento imobiliário La Vue Ladeira da Barra, do qual Geddel é proprietário de uma unidade e
seus parentes são representantes legais do edifício, foi embargado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Apesar das tentativas
via AGU, o órgão determinou que o
prédio não tivesse mais do que 13
andares (o projeto original previa 31
pavimentos), contrariando os interesses da construtora Cosbat. Calero diz que Geddel tê-lo-ia pressionado a liberar o
projeto, que as pressões continuaram mesmo depois do parecer contrário do Iphan, que Temer teria dito que a decisão do órgão criara “dificuldades
operacionais” em seu gabinete, que “o ministro Geddel se encontrava bastante irritado”, e que “política tinha dessas
coisas, esse tipo de pressão”. Além de Temer
e de Geddel, o ex-ministro implica também
Eliseu Padilha, chefe da Casa Civil,
que lhe teria recomendado “construir uma saída com a AGU”.
Temer disse que
tratou duas vezes com Calero sobre a
divergência com Geddel, mas negou
que tenha feito pressão para modificar decisão do Iphan. Em nota pública, o presidente afirma que sugeriu uma
avaliação jurídica da AGU sobre o tema,
uma vez que “o órgão federal tem competência legal para solucionar eventuais
dúvidas entre órgãos da administração pública”. Na última segunda-feira (21), a
Comissão de Ética Pública da Presidência
da República decidiu abrir um processo para
investigar a conduta de Geddel no
episódio. Nos últimos dias, Geddel
admitiu ser proprietário de um apartamento no empreendimento, confirmou que
procurou o então ministro da Cultura para tratar do embargo à obra, mas negou que o
tivesse pressionado para liberar a obra.
Aguardem novas emoções.
ATUALIZAÇÃO:
Novas emoções que vieram logo em seguida, com o pedido de exoneração apresentado por Geddel, que continuará sendo investigado ― e agora, vale lembrar, sem a prerrogativa de foro.
Resta saber o que realmente contém a gravação que Calero diz ter feito durante sua conversa com Temer, mas a verdade é uma só: os dois envolvidos deixaram de ser ministros, e, restando comprovada a culpa deste ou daquele, a punição de perda do cargo já não faz mais sentido. Temer, todavia, continua à frente da Presidência ― e deverá continuar, a despeito do ridículo pedido de impeachment que o PSOL deverá protocolar na próxima segunda-feira.
Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a saída de Geddel encerra a crise, e agora o presidente deve se preocupar em colocar no lugar do (mui) amigo outro articulador que lhe faça as vezes. Até porque o país precisa seguir adiante, e a PEC dos gastos, a reforma da Previdência, o combate à corrupção (as famosas 10 medidas que já chegaram a 18) e outras tantas precisam ser votadas e aprovadas o quanto antes.
Novas emoções que vieram logo em seguida, com o pedido de exoneração apresentado por Geddel, que continuará sendo investigado ― e agora, vale lembrar, sem a prerrogativa de foro.
Resta saber o que realmente contém a gravação que Calero diz ter feito durante sua conversa com Temer, mas a verdade é uma só: os dois envolvidos deixaram de ser ministros, e, restando comprovada a culpa deste ou daquele, a punição de perda do cargo já não faz mais sentido. Temer, todavia, continua à frente da Presidência ― e deverá continuar, a despeito do ridículo pedido de impeachment que o PSOL deverá protocolar na próxima segunda-feira.
Para o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, a saída de Geddel encerra a crise, e agora o presidente deve se preocupar em colocar no lugar do (mui) amigo outro articulador que lhe faça as vezes. Até porque o país precisa seguir adiante, e a PEC dos gastos, a reforma da Previdência, o combate à corrupção (as famosas 10 medidas que já chegaram a 18) e outras tantas precisam ser votadas e aprovadas o quanto antes.