Adélio Bispo de Oliveira esfaqueou Jair Bolsonaro em setembro do ano passado, durante um ato de
campanha em Juiz de Fora. Preso e interrogado, disse ter agido por “não
simpatizar com o candidato” e negou ligação com qualquer partido político.
O inquérito concluído semanas após o crime não identificou
patrocínio ou patrocinador; para a polícia, Bispo agiu sozinho, no melhor estilo “lobo solitário”, e motivado por “inconformismo político”. Cinco
dias antes do atentado, ele publicou uma ameaça numa página de apoiadores
de Bolsonaro, chamando o
candidato de “marionete do capitalismo”
e afirmando que ele merecia um tiro na cabeça — mas recorreu à faca porque
comprar uma arma de fogo seria caro e burocrático demais.
Não restaram dúvidas,
porém, de que o crime foi premeditado: Bispo
(que morava em Montes Claros) viajou para Juiz de Fora com duas semanas de
antecedência, fotografou previamente os locais por onde Bolsonaro passaria e o acompanhou
durante todo o dia 6 de setembro, tendo acesso até mesmo ao hotel em que o
candidato almoçaria com empresários mineiros.
Para chegar a essas conclusões, 50 policiais federais analisaram
150 horas de vídeos, 600 documentos e 1.200 fotos, além de 2 terabytes de
informações encontradas com Bispo e
de quebras de sigilo telefônico, bancários e telemático. Mas o segundo
inquérito, que apura quem está bancando a defesa o criminoso — e, portanto, teria
interesse no atentado —, foi paralisado pelo desembargador Néviton Guedes, do TRF-1, a pedido do Conselho Federal da OAB, depois que o advogado Zanone Manuel de Oliveira, que coordena
a defesa de Bispo, foi alvo de uma operação de busca e apreensão em casa, num
hotel e numa locadora de veículos de sua propriedade.
Há um departamento dentro do nosso psiquismo que adora teorias conspiratórias, que está sempre
em busca de alguém que trama, que intriga, que busca atrapalhar a vida de outro
ou até a nossa própria. Longe de mim querer transformar esse caso em usina de
teorias conspiratórias, mas há que jogar luz sobre alguns detalhes, digamos,
escabrosos:
1) O atual presidente nacional da OAB tem fortes laços com o PT;
2) O desembargador retrocitado foi nomeado por Dilma, que é crítico figadal da Lei da Ficha-Limpa, já suspendeu
os interrogatórios de Lula e Luleco na Operação Zelotes e uma decisão que
impedia o funcionamento do Instituto
Lula, vem acrescentar à lista a suspensão da investigação que realizou
buscas no escritório do advogado Zanone
Manuel de Oliveira Júnior, principal coordenador da defesa de Bispo.
3) Bispo foi filiado ao PSOL de 2007 até 2014 — a sigla confirma isso, mas diz que ele nunca foi dirigente partidário e que desconhece o motivo da desfiliação.
4) Bispo trabalhava
como servente de pedreiro e estava desempregado, mas possuía 4 smartphones e um
computador portátil (notebook).
5) Dois meses antes do crime, Bispo teria gasto centenas
de reais (em dinheiro vivo) num clube de tiro frequentado por dois dos filhos de
sua vítima em potencial. Mais adiante, pagou adiantado — também em dinheiro
vivo — por duas semanas de hospedagem numa pensão em Juiz de Fora.
6) Nas semanas subsequentes à do atentado, a dona da pensão
e outro hóspede (com quem Bispo
tivera contato nos dias anteriores ao do crime) empacotaram, esticaram as
canelas, foram para a chácara do vigário (segundo a versão oficial, a mulher sofria de câncer terminal e o sujeito era usuário de drogas e tinha
problemas de saúde).
7) No dia 6 de agosto de 2013, quando ainda era filiado
ao PSOL, Bispo esteve
no anexo 4 da Câmara dos Deputados, como ficou registrado no sistema. No dia do
atentado, alguém simulou sua entrada na Câmara — que fica a 1.000 quilômetros
de distância de Juiz de Fora —, produzindo um álibi perfeito se o esfaqueador
presidencial tivesse conseguido fugir (uma sindicância feita na Câmara afirmou
tratar-se de “um engano”, e eu não consegui apurar o que resultou da
investigação feita pelo Instituto
Nacional de Criminalística de Brasília).
8) Cinco horas após a prisão de Bispo, o advogado Pedro
Possa, convocado pelo colega Zanone,
estava a postos, na delegacia da PF
em Juiz de Fora, para blindar o cliente. Zanone disse
que aceitou o caso após receber um email (ou uma mensagem de WhatsApp) de um contratante misterioso
ligado à Igreja do Evangelho
Quadrangular de Montes Claros, e que escalou o colega porque ele
mora perto. No dia seguinte, 7 de setembro, o próprio Zanone voou de BH para Juiz de Fora em seu avião particular, acompanhado
do colega Fernando Magalhães.
Bispo está
preso numa ala do presídio federal de Campo Grande (MS), onde tem direito a
seis refeições diárias e duas horas de banho de sol — o resto do tempo, ele
passa lendo a Bíblia, pensando, talvez, numa futura promoção a Cardeal. Segundo
o laudo da perícia médica, ele sofre de transtorno delirante permanente paranoide
— o que tecnicamente o torna inimputável; quando muito, ele pode ser
internado num manicômio judiciário e reavaliado a cada dois anos. Aos médicos e
psicólogos, o dublê de carola e Jack, o Estripador, avisou
que, se for solto, voltará a atentar contra a vida do presidente. Diz um velho ditado que "de médico e de louco todos nós temos um pouco". Até onde
se sabe, Bispo não come merda
nem rasga dinheiro.
Todos são iguais perante a Lei, mas os que têm bons advogados são mais iguais que os outros. Lula acreditou nisso e acabou na cadeia. Voltando aos nobres defensores de Bispo, relembro a máxima eternizada por Mario Puzo em sua obra prima (O Chefão): “um advogado pode roubar mais com sua pasta do que 100 homens armados com metralhadoras”. Mas a pergunta de 1 milhão é: quem está bancando a defesa? Bispo é que não é. E muito menos o Vaticano.