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segunda-feira, 30 de outubro de 2017

A VITÓRIA PÍRRICA DE MICHEL TEMER


Para quem não sabe, “vitória pírricaé uma expressão usada para designar uma vitória obtida a alto custo, potencialmente acarretadora de prejuízos irreparáveis. Sua origem remonta à Grécia Antiga e faz alusão às perdas sofridas pelo exército do Rei Pirro, que derrotou os romanos na Batalha de Heracleia, em 280 a.C., mas perdeu uma parte considerável forças que trouxera consigo, além de quase todos os seus amigos íntimos e principais comandantes. A despeito do viés militar, o uso dessa expressão é comum também na economia, política, justiça, literatura, arte e desporto, sempre para descrever uma luta prejudicial ao vencedor.

Como disse o jornalista José Simão, dias antes de votação na Câmara o presidente foi ao Shopping Congresso e comprou um deputado de Lego para o filho Michelzinho, um deputado Luiz Vuitton para a esposa Marcela e 200 deputados de baixo clero e alto custo para si mesmo. E assim sobreviveu à segunda denúncia, gostemos ou não. Com menos votos do que na primeira, é verdade, mas conseguiu se manter no cargo e lá ficará até o final do mandato ― ou até que sobrevenha uma nova denúncia que tenha resultado diverso das anteriores. Até porque o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, já mandou arquivar os 25 pedidos de impeachment contra Temer ― não sem deixar claro que o peemedebista lhe deve um favorzão pelo apoio empenhado nas duas votações (tire o leitor suas próprias conclusões).

Na avaliação do jornalista J.R. Guzzo, quem deveria ter feito o “Fora Temer”, anos atrás, era Lula. Não fez. Agora não adianta. Quando menos se espera que o presidente permaneça no cargo, segundo o que dizem dia e noite os analistas políticos, é aí que ele fica mais grudado que nunca na poltrona presidencial. As votações envolvendo a primeira e a segunda denúncia foram um duplo espetáculo de perda abusiva de tempo e de enganação em massa do público. Até porque a oposição sabe perfeitamente que nada do que está fazendo vai resultar em alguma coisa prática. Mas finge liderar uma epopeia nas “lutas populares” e afirma que seu objetivo real era fazer o governo “sangrar”, sem explicar que diabo a população teria a se beneficiar com isso. Não ganham porque não têm os votos necessários, não têm o apoio nem de meia dúzia de cidadãos de carne e osso dispostos a protestar na rua e não têm, por fim, a razão, pois seu objetivo não é obter justiça e sim derrubar um inimigo político.

Todo esse processo foi uma farsa grosseira, pois Temer e Lula são a mesma coisa. A gestão do peemedebista nada mais é que o “terceiro tempo” dos governos petistas, que focaram em roubar os brasileiros como nunca antes na história deste país ― aliás, nunca ninguém governou o Brasil tão mal quanto Dilma, e dificilmente alguém virá a governar. Fora isso, qual a diferença entre Lula e Temer? Lula, na verdade, é pior, pois foi ele que gestou a situação que está aí. O fato é que não existiria Temer nenhum se Lula não tivesse imposto seu nome para vice-presidente na chapa de Dilma, momento em que foi considerado, mais uma vez, um gênio político pela mídia e por todos os que hoje se horrorizam com o presidente que ele nos enfiou reto acima. Quem deveria ter feito o verdadeiro “Fora Temer”, muitos anos atrás, eram Lula e o PT. Agora é tarde.

Voltando ao placar da votação da segunda denúncia ― que o deputado Carlos Marun, líder da tropa de choque do presidente, considerou uma “vitória de lavada” e comemorou em grande estilo; vi pela televisão a cena ridícula em que ele, com a graça e a leveza de um hipopótamo, ensaiou uns passinhos de dança pra lá de idiotas ―, o os míseros 251 votos deixaram claro que o governo dificilmente conseguirá aprovar a reforma da Previdência e outras mais, tão necessárias para o país entrar nos eixos. Para o povo, fica mais uma vez a sensação de ter sido feito de palhaço, de que tudo não passou de um acordão, de que tudo acabou em pizza.

Por ser minoria e, portanto, incapaz de derrotar o Planalto, a oposição resolveu obstruir a votação ― o que se justificou à luz das negociatas que aconteceram nos bastidores. Mas, convenhamos: mesmo que tivesse logrado êxito, o único resultado que esse atraso produziria seria manter o país paralisado por mais alguns dias ou semanas, com mais danos à economia. Já os puxa-saco do presidente deram seguidas demonstrações do baixo nível da nossa política, ora falando bobagens ao microfone ― sobre o cultivo da tilápia ou as qualidades do vinho nacional ―, ora dando show de grosserias ― como aquele deputado que horas antes viralizara no plenário em um vídeo pornô em plena atividade sexual.

Em última análise, a votação foi um exemplo de hipocrisia política, com deputados do PT ou PCdoB criticando o governo por fragilizar nossas estatais e supostamente entregar nossas riquezas ao estrangeiro, como se não fossem os responsáveis pelo descalabro acontecido na Petrobras e companhia. Ou deputados governistas atacando as gestões petistas anteriores pela corrupção desavergonhada, como se não estivessem ali para discutir justamente as graves acusações de corrupção do governo que apoiam. Pouquíssimos parlamentares passaram a sensação de que são verdadeiros representantes do povo que os elegeu, de que respeitam seus mandatos e estão ali pensando nos interesses da nação.

De acordo com Merval Pereira, os tucanos foram os principais responsáveis pela salvação de Temer, notadamente pelo relatório de Bonifácio de Andrada ― o “nosso relator”, como se referiam a ele os integrantes da tropa de choque do Planalto. Os elogios que o macróbio recebeu dos governistas não podiam ser compartilhados com boa parte da bancada tucana, que votou contra o presidente ― e muito menos com a maioria de seus eleitores ―, mas os ataques oposicionistas contra o relatório eram ataques contra o partido que representava, queira ou não a alta cúpula do PSDB.  

Ainda que a vitória do Planalto tenha gerado menos instabilidade do que uma eventual derrota ― até porque o mercado já “precificou” Michel Temer ―, no dia seguinte á votação o IBOVESPA recuou mais de 1%, e o dólar acompanhou o exterior e encostou em R$ 3,30. O fato de Temer ter obtido 12 votos a menos, se não chega a enfraquecê-lo, certamente exigirá esforços redobrados para aprovar a reforma da Previdência ainda neste ano. Pelo andar da carruagem, Temer ― que, segundo os resultados das últimas pesquisas, goza de míseros 3% de aprovação popular ―, se sobreviver até as próximas eleições, dificilmente terá cacife político para eleger seu sucessor.

Por hoje é só, pessoa. Amanhã tem mais.

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sexta-feira, 27 de outubro de 2017

QUEM NÃO APRENDE COM OS ERROS DO PASSADO VOLTA A COMETÊ-LOS NO FUTURO



O PSDB já foi o maior partido de oposição aos governos corruptos de Lula e Dilma. Agora, é tão inútil quanto um casaco de pele, ao meio dia, sob o sol causticante do verão senegalês. 

Consenso, dentro da legenda, é como nota de US$ 100 em bolso de mendigo. Não existe. O tucanato faz reuniões e mais reuniões, mas nada fica decidido. Nem para expulsar o senador corrupto que traiu 51 milhões de eleitores os tucanos prestam. E o mesmo vale para o Senado Federal: na última terça-feira, 24, o senador maranhense João Alberto Souza, presidente da Comissão de Ética do Senado, determinou, com base no parecer da Advocacia Geral da Casa, o arquivamento da representação que pedia a cassação do neto de Tancredo. Ainda cabe recurso ao plenário da Comissão, até porque estamos no Brasil, onde sempre existe uma instância superior a quem se pode recorrer contra uma decisão desfavorável, daí ser fundamental, para a classe política, manter o famigerado foro privilegiado. Numa estimativa otimista, 99% dos recursos contra condenações na esfera penal que chegam até STF caducam, caem de maduro ou morrem de velhice.

O PSDB nasceu de uma costela do PMDB e teve seu momento de glória ao emplacar FHC, que, quando ministro de Itamar, conseguiu vencer a hiperinflação sistêmica. Mas os tucanos deixaram a esquerda criar asas e perderam a presidência para Lula. O sonho de recuperá-la em 2010 até poderia ter se concretizado se eles tivessem se empenhado mais, mas esse cemitério de egos ainda não se conscientizou de que brigar entre si não serve como treinamento para lutar contra os verdadeiros adversários.

Depois da derrota de Aécio em 2014, o partido entrou em parafuso. Ainda que tenha contribuído para o impeachment de Dilma, que o tenha feito em nome da estabilidade, da governança, da austeridade, da “salvação nacional”, que tenha apoiado a ideia de se ter um governo de transição que, mantendo de pé uma “pinguela” reformista, atravessasse a pior fase da crise e entregasse o país em melhores condições para o presidente a ser eleito em 2018, o PSDB nada fez para influenciar ou direcionar esse governo. Um governo de perfil “parlamentar”, mas com uma base pouco confiável, sem grandeza e sem projeto, que se refletiu na composição ministerial, gerou turbulências e explodiu com as delações da JBS, que se deixou impregnar pelos interesses escusos do Congresso e pela preocupação em esvaziar a Lava-Jato e recompor oligarquias e práticas clientelistas, trocando a grande política pela pequena política. 

O PSDB ficou ainda mais desmoralizado com o afastamento judicial de Aécio Neves, cuja imagem de bom moço enganou meio mundo (e aí se inclui este que vos escreve). Agora, seus caciques vão empurrando com a barriga a decisão de podar as asinhas do mineirinho safado, que continua senador e presidente afastado da sigla ― e como seu amiguinho e aliado de ocasião Michel Miguel Elias Temer Lulia, não pode nem ouvir falar em renúncia.

Os tucanos deram as costas para a opinião pública e deixaram passar a oportunidade de resgatar a imagem de alternativa lógica para quem não suporta mais corruptos como os do PT e do PMDB. Hoje, criticar o governo é como um roto falar mal de um esfarrapado, mas apoiar Michel Temer foi mais um tijolo na obra de desconstrução do tucanato ― algo que certamente cobrará seu preço, tanto do partido, que prolongou sua indefinição, quanto da política nacional, que perdeu outro personagem que poderia fazer a diferença. Ou será que a sociedade, a opinião pública e o eleitorado perdoarão os tucanos nas próximas eleições?

Falando em erros crassos, embora não me agrade nem um pouco falar na patuleia ignara, vale registrar que supostas conversas de bastidores do PT davam conta de que Temer não sairia vivo do hospital ― onde foi internado na última quarta-feira, 25, devido a problemas urinários. Mas faltou um chazinho como aquele que, dizem, abreviou o pontificado do papa João Paulo I. Afinal, rezar e acender vela até pode ajudar, mas se não jogar pedra nos cachorros é mordida na certa.

Para o PT, interessava a permanência de Temer na presidência, não só porque ambos querem enterrar a Lava-Jato, mas também porque os petralhas acham que a impopularidade do presidente acabará enterrando de vez a já combalida economia. Mas não é o que se vê. Mesmo que a gestão do vampiro do Jaburu não passe de um “terceiro tempo” dos governos de Lula e Dilma, o mercado, sabiamente, precificou o dito-cujo. Prova disso é que, no dia seguinte ao sepultamento da segunda denúncia, a bolsa abriu em alta e a cotação do dólar recuou. 

Faltou o PT combinar com o mercado ― e dar o tal chazinho revigorante a sua insolência, naturalmente.

Aliás, segundo a Folha, em sua peregrinação por Minas Gerais o incansável candidato eneadáctilo esteve numa aldeia indígena em Coronel Murta, onde foi benzido por Benvina Pankararu, cacique da tribo. Ela teria dito que o indigitado “precisa mesmo ser rezado”. Mas nem reza brava vai impedir sua condenação pelo TRF-4. Vade retro, Satanás!

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quarta-feira, 18 de outubro de 2017

MINEIRINHO SAFO SE SAFOU. PARABÉNS, SENADO CORPORATIVISTA! PARABÉNS, STF PUSILÂNIME!


Por 44 votos a 26, o Senado revogou as medidas cautelares impostas a Aécio Neves pelo STF. Com isso, o mineirinho safado, que estava afastado do cargo desde o último dia 26, por decisão da 1ª Turma, deve voltar, a partir de amanhã, a exercer as funções de seu mandato e a circular livremente durante a noite.

Aécio contava com o apoio de Temer para conseguir votos no PMDB, e Temer, com a ajuda de Aécio e do PSDB para barrar, na Câmara, a segunda denúncia da PGR. Para bom entendedor, pingo é letra.

Foi revoltante ver Romero Jucá ― que tirou parte das tripas recentemente, mas interrompeu o resguardo para proferir seu discurso caga-raiva pela imunidade parlamentar ampla, geral e irrestrita e votar em favor de Aécio ― às gargalhadas com o igualmente imprestável Renan Calheiros, e virar as costas para a câmera quando se deu conta de estar sendo filmado. A propósito: Jucá responde a 13 inquéritos, 8 na Lava-Jato, ao passo que Renal é réu por peculato, investigado em outros 17 inquéritos, 13 dos quais oriundos da Lava-Jato. Aliás, entre os senadores que votaram em favor de Aécio, 17 são investigados em ações originadas na operação Lava-Jato.

A votação da admissibilidade da segunda denúncia contra Temer, na CCJ, já começou, e a decisão em plenário deve sair até o final do mês. Alguém duvida de que o espírito de porco ― digo, espírito de corpo ― baixará nos conspícuos deputados, sobretudo nos dublês de amante argentina, que, em troca dos tradicionais presentinhos, concederão seus favores ao sucessor de Dilmanta Rousseff?

Essa corja de filhos da puta está brincando com fogo. Depois os milicos resolvem dar um basta na farra (e promover sua própria festa) e quem paga o pato somos todos nós.

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domingo, 25 de junho de 2017

O ÁUDIO DE TEMER, AS JÓIAS DA PERUA E AS LAMBANÇAS DO PSDB


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segunda-feira, 19 de junho de 2017

MAIS SOBRE COMO MELHORAR A PERFORMANCE DO WINDOWS

NÃO É TRISTE MUDAR DE IDEIAS, TRISTE É NÃO TER IDEIAS PARA MUDAR.

Antigamente, quando a gente comprava um carro novo, precisava rodar os primeiros (milhares de) quilômetros sem esticar demasiadamente as marchas ou andar em alta velocidade, sob pena de danificar os componentes internos do motor, que ainda não estavam devidamente ajustados. Somente depois desse “amaciamento” é que o veículo atingia seu melhor rendimento, tanto em desempenho quanto em consumo de combustível.

Com o computador, no entanto, dá-se o contrário ― ou seja, a performance tende a se degradar com o passar do tempo e o uso normal do aparelho.

Embora a gente já tenha conversado sobre essa “característica” dos PCs, não custa reforçar que é possível manter o despenho do sistema em patamares aceitáveis com o uso de uma boa suíte de manutenção ― como o System Mechanic, o Advanced System Care, o CCleaner e o Glary Utilities, dentre inúmeras opções que a gente já analisou em diversas oportunidades. Na falta desse recuso, convém ao menos rodar os utilitários que o Windows oferece para limpeza do disco, correção de erros e desfragmentação dos dados. (Já expliquei "n" vezes como fazer isso, de modo que não faz sentido encompridar esta matéria "chovendo no molhado", se você tem dúvidas, pesquise o Blog ou deixe um comentário).

Observação: Note que uma suíte não só facilita o trabalho, mas também proporciona melhores resultados, até porque algumas delas (como as que sugeri linhas atrás) atuam em outras frentes, com destaque para o Registro do sistema, que deve ser mantido limpo e desfragmentado (para saber mais sobre esse importante banco de dados do Windows, reveja a sequência de postagens iniciada por esta aqui).

Mas não é só. Mesmo um sistema saudável pode ter o desempenho melhorado com alguns ajustes simples. Dentre outros, sugiro desabilitar a indexação de busca, notadamente em máquinas de configurações (de hardware) mais modestas. Isso porque esse serviço roda em segundo plano para agilizar eventuais pesquisas que você só faz eventualmente, mas consome recursos do computador durante todo o tempo. No cômputo geral, é melhor esperar um pouco mais pelos resultados de uma pesquisa ― se e quando você a fizer ― do que conviver com lentidão constante.

Para fazer essa configuração no Windows 10, digite index na caixa da Cortana e clique em Opções de Indexação. Na janela que se abre em seguida, clique no botão Modificar; na próxima, faça os ajustes desejados (sugiro desmarcar todas as caixas de verificação exibidas no campo Alterar locais selecionados).

Observação: Note que esse procedimento é desnecessário em computadores equipados com SSDs.

Continuamos na próxima postagem. Até lá.

NADA ALÉM DE INCERTEZAS

Ao investigar o presidente Michel Temer e afastar dois parlamentares do cargo, a PGR e o STF se tornaram alvos do Planalto e do Congresso. Receando pela própria sobrevivência política, os aliados do governo não se constrangem em descumprir decisão judicial e fustigar o procurador-geral, Rodrigo Janot, e o relator da Lava-Jato no Supremo, ministro Edson Fachin.

Antes restrita a conversas de bastidores, a discórdia ficou explícita com a denúncia de que o Planalto teria acionado o serviço secreto para investigar Fachin, e o Senado, descumprido a decisão judicial de afastar Aécio Neves. A fervura baixou nos últimos dias, devido a um recuo estratégico de ambos os lados, mas as manobras sub-reptícias persistem: aliados do governo tramam com Rodrigo Maia uma forma de arquivar o mais rápido possível a denúncia contra Temer ― fala-se até que Maia cogita suspender o recesso parlamentar para barrar o processo enquanto o presidente ainda conta com o apoio de mais de 1/3 dos deputados.

Como a autorização pela Câmara deverá ser feita mediante votação nominal, a intenção da PGR é constranger os deputados (vale lembrar que, no ano que vem, os eleitores terão a chance de substituir todos os 513 deputados federais e 2/3 dos 81 senadores). Janot pretendia esperar até o final deste mês para denunciar Temer, mas agora cogita ampliar o leque de crimes, o que resultaria em pelo menos duas ações penais contra o presidente. Além disso, o procurado aposta na “colaboração” de Fachin, que parece disposto a cumprir todos os prazos processuais ― o que retardaria a chegada da denúncia à Câmara em pelo menos 20 dias e, consequentemente, frustraria o plano do governo de votar antes do recesso.

Especula-se também que Temer indicará algum nome alinhado à sua causa para substituir Janot na PGR, em setembro, com o objetivo de frear a Lava-Jato. Isso interessa aos congressistas alvejados por denúncias e processos, mas deve afastar os demais do Executivo (como dito, as eleições estão aí), sem mencionar que a opinião pública certamente irá se manifestar contra mais essa maracutaia.

Existe ainda a possibilidade ― remota, mas enfim... ― de o STF passar a adotar uma posição sistematicamente obstrucionista. Um bom indício nesse sentido foi a atuação do ministro Gilmar Mendes no julgamento da chapa Dilma-Temer. Restam 10 ministros no Supremo, e nem todos são admiradores confessos de Temer, mas o governo briga pela sobrevivência e já mostrou que está disposto a “ir até o fim” (que se ferre o Brasil e que se lasquem os brasileiros).

Temer se vale do fato de seus aliados não terem força suficiente para excretá-lo a baixo custo e de os adversários preferirem o apodrecimento progressivo à ruptura de consequências incertas. Para um moribundo, cada dia a mais é uma vitória, e o governo aposta que uma melhora na economia lhe dê alguma força para influir na sucessão e proteger o presidente e seus comparsas. Não é o melhor plano, mas não deixa de ser um plano, embora seja grande o risco de Temer não ver sequer aprovadas as reformas que defende ou de chegar ao final de 2018 no cargo, pois novas denúncias poderão surgir para sangrá-lo em praça pública.

Como escreveu Ricardo Noblat em seu blog, quando só o problema tem as chaves da solução, a tendência da crise é perenizar, num processo de contaminação progressiva. Os atores “neutros” vão sendo arrastados para o ringue, e os árbitros vão perdendo a capacidade de arbitrar. Até que alguém, velho ou novo, prevaleça pela força e corte o nó górdio, pois nenhuma crise dura para sempre. Mas parece que ninguém tem a espada mágica. Um desembarque do PSDB certamente catalisaria o impulso para Temer cair pela via congressual, pela autorização ao STF ou mesmo por impeachment. Só que o PSDB também reluta ― por razões óbvias ― em contribuir para fortalecer decisivamente a Lava-Jato, o Ministério Público e a Justiça.

A situação não pode se eternizar, mas pode se estender até as próximas eleições, e é nisso que apostam o núcleo dirigente do PT e Lula, que hoje preferem o cenário de definhamento progressivo do governo Temer. O problema do PT é que, se o atual governo tem instrumentos para bloquear ― ou pelo menos frear ― as coisas em Brasília, os petralhas não têm como neutralizar Curitiba, e a ameaça para Lula e o PT está no Paraná, não em Brasília. Mesmo assim, os esquerdopatas esperam que a derrocada do governo lhes sirva de “mão do gato” para tirar castanha do fogo. Lembro que eles também achavam que o fiasco de Sarney propiciaria uma virada em 1989, e o resultado a gente sabe muito bem qual foi.

É fundamental ter em mente que nosso maior problema não é Temer nem Lula, mas a falta de oposição. O PSDB, tão inútil quanto um sexto dedo do pé, teve seu momento de glória ao emplacar FHC, que, quando ministro de Itamar, conseguiu vencer a hiperinflação sistêmica com o Plano Real, mas deixou a esquerda criar asas e perdeu a presidência para Lula. O sonho de recuperá-la em 2010 até poderia ter se concretizado se o tucanato tivesse se empenhado mais, mas esse cemitério de egos ainda não se conscientizou de que brigar entre si não serve como treinamento para lutar contra os verdadeiros adversários.

O PSDB nasceu socialdemocrata, mas foi perdendo vigor conforme se distanciava da sociedade e passava a se orientar pela lógica do poder, notadamente depois de se tornar oposição aos governos do PT. Depois da derrota de Aécio em 2014, o partido entrou em parafuso. É certo que tenha contribuído para o impeachment de Dilma, que o tenha feito em nome da estabilidade, da governança, da austeridade, da “salvação nacional”, e que tenha apoiado a ideia de se ter um governo de transição que, mantendo de pé uma “pinguela” reformista, atravessasse a pior fase da crise e entregasse o país em melhores condições para o presidente a ser eleito em 2018. Só que nada fez para influenciar ou direcionar esse governo, que se deixou impregnar pelos interesses escusos do Congresso e pela preocupação em esvaziar a Lava-Jato e recompor oligarquias e práticas clientelistas, trocando a grande política pela pequena política. Um governo de perfil “parlamentar”, mas com uma base pouco confiável, sem grandeza e sem projeto, que se refletiu na composição ministerial, gerou turbulências e explodiu com as delações da JBS.

O PSDB ficou ainda mais desmoralizado com o afastamento judicial de Aécio Neves, cuja imagem de bom moço enganou meio mundo (e aí se inclui este obscuro articulista). Com seu espaço de manobra reduzido, os tucanos optaram por permanecer no barco, mas, por não terem forças para assumir o leme, dividiram-se entre “cabeças pretas” e “cabeças brancas”. Por não conseguir esclarecer as razões da opção, o partido virou as costas para a opinião pública e deixou que se fechasse a janela de oportunidade que lhe permitiria resgatar a imagem que teve outrora, qual seja de alternativa lógica para quem já não suporta mais corruptos como os do PT e do PMDB.

Observação: Na semana passada, a prisão temporária da irmã de Aécio foi mantida por decisão da 1ª Turma do Supremo, que decidirá, na próxima terça-feira, se pede ou não a prisão do próprio senador. Lula e PT, “esquecidos” temporariamente devido ao cataclismo gerado pela delação da JBS, apostam no “quanto pior melhor” para prolongar a crise e capitalizar suas chances no pleito de 2018. Para esses imprestáveis, é imperativo manter a militância coesa e vender a ilusão de que somente o molusco abjeto poderá reverter a crise que ele mesmo ajudou a criar ao escolher Dilma para sucedê-lo no final do seu segundo mandato. E o pior é que sempre tem quem compra.

Enfim, o PSDB fez sua aposta ― pouco importando, nesse contexto, ta “fresta” deixada aberta para o caso de “fatos novos” forçarem uma revisão da decisão. Disseram seus caciques que decidiram balizados pela “ética da responsabilidade”, quando na verdade foram motivados por expectativas futuras de autopreservação. Combate à corrupção, reforma política e qualificação da democracia saíram da agenda, o que também possibilita ao PT embarcar nessa canoa, juntando a fome com a vontade de comer.

Manter apoio ao governo foi mais um tijolo na obra de desconstrução do tucanato. Algo que certamente cobrará seu preço, tanto do partido, que prolongou sua indefinição, quanto da política nacional, que perdeu outro personagem que poderia fazer a diferença. Ou será que a sociedade, a opinião pública e o eleitorado perdoarão os tucanos nas próximas eleições?

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sábado, 17 de junho de 2017

O BALAIO DE GATOS DO CENÁRIO POLÍTICO

Como escreveu o jornalista Merval Pereira em sua coluna desta sexta-feira, a situação está de vaca não conhecer bezerro. Os partidos, que há muito perderam o rumo, agora começam a defender posições opostas às que sempre defenderam.

FHC, depois de muitas idas e vindas, passou a defender a antecipação das eleições diretas, enquanto o PT defende a tese de que não é preciso aval da Câmara para que um presidente da República seja processado.

O cacique tucano vê nas diretas uma solução para seu partido sair do imbróglio em que se meteu ao defender o atual governo a qualquer custo, enquanto os petralhas querem pegar o presidente Temer, esquecendo-se de que quem com ferro fere, com ferro será ferido, pois Lula ― ou qualquer outro petista eventualmente eleito presidente num pleito antecipado ― poderia vir a ser objeto de uma ação da PGR.

A emenda constitucional que permite processar parlamentares sem a autorização da Câmara ou do Senado ― e que o PT pretende usar como parâmetro legal para permitir que Temer seja processado pelo STF sem autorização da Câmara ― foi aprovada em 2001, quando o então deputado Aécio Neves era presidente da Casa. Os petralhas, que saudaram a aprovação desse “pacote ético”, agora alegam que a necessidade de permissão para processar o presidente da República (prevista no artigo 86 da Constituição) não é compatível com essa alteração constitucional e nem com a autorização dada pelo STF de abertura de ações contra governadores sem aval das assembleias.

Mutatis mutandis, o mesmo se dá com a emenda constitucional que acaba com o foro privilegiado ― já aprovada no Senado e que agora tramita na Câmara ―, segundo a qual os parlamentares continuariam podendo ser presos somente em flagrante e por crime inafiançável, mas, em vez de ter que conceder permissão para a prisão, a Câmara ou o Senado poderiam relaxá-la.

Hoje, o foro privilegiado continua blindando parlamentares, e as Casas Legislativas continuam tendo de avalizar a prisão de um de seus membros ― como no caso que será analisado na próxima terça-feira pela 1ª Turma do STF em relação ao senador afastado Aécio Neves (a PGR voltou a pedir sua prisão, enquanto há uma ação para que ele reassuma suas funções no Senado; se a Turma aprovar a prisão, o plenário do Senado terá de autorizá-la, o que indica a possibilidade de uma disputa entre o Legislativo e o Judiciário que pode complicar ainda mais a crise política).

Em última análise, o PSDB só mantém o apoio ao governo para obter a contrapartida do PMDB na eventual votação sobre Aécio no Senado, mas, com a mudança de posição de seus principais líderes, é possível que o senador tucano seja uma vítima colateral desse desentendimento entre os dois partidos.

Parafraseando o ministro Gilmar Mendes, que teve papel determinante na absolvição da chapa Dilma-Temer durante a palhaçada travestida de “julgamento do século” no TSE, essas questões não são “coisas para leigos”. A propósito, escreveu J.R. Guzzo em sua coluna na revista Veja da semana passada:

(...) Tudo isso só é incompreensível para o leigo, esse amador ingênuo, chato e incapaz de raciocinar como um jurista; é um bobo que utiliza a palavra “justiça” e acredita que a autoridade pública deva tomar decisões “justas”. Para os que influem ou mandam no sistema judiciário brasileiro, o leigo, tristemente, é incapaz de pensar como um profissional sério da ciência jurídica. Ali, como sabem as pessoas realmente qualificadas para tomar decisões legais, o que importa não é a aplicação do conceito romântico, tolo e pedestre de “justiça”, e sim a aplicação da “lei”; não interessa que as decisões sejam “justas”, e sim que sejam “legais” — isto é, que estejam de acordo com o que os altos tribunais decidirem.

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sexta-feira, 16 de junho de 2017

A CONFRARIA DOS IMPRESTÁVEIS

O PSDB, conhecido por sua indecisão congênita, agora dá mostras de que a incoerência é outra de suas “virtudes”: depois de passar semanas ameaçando bater asas e voar, os tucanos (ou boa parte deles, pois a decisão nem de longe foi unânime) resolveram continuar apoiando o governo “até que surja algum fato novo” e, paradoxalmente, recorrer da sentença esdrúxula do TSE, que, por 4 votos a 3, ignorou o monumental elenco de provas reunidas pelo ministro-relator e, a pretexto de resguardar a governabilidade do país (ou outra justificativa igualmente estapafúrdia), salvou o mandato de Michel Temer e os direitos políticos da anta vermelha que o antecedeu na presidência da Banânia.

Romper com o governo prejudicaria a aprovação das reformas, justificam-se os líderes do tucanato. Mas o fato é que essa decisão não passa de uma tentativa de salvar o rabo do senador zumbi Aécio Neves ― que foi afastado por decisão do STF, mas continua assombrando o Congresso e recebendo salários e benefícios ― e de garantir o apoio do PMDB nas eleições de 2018 ― como se o PSDB fosse a alternativa aos corruptos PT e PMDB para os eleitores que estão fartos de tanta corrupção e anseiam por mudanças, e como se Geraldo Alckmin fosse realmente um nome de peso para disputar a presidência (claro que existe a possibilidade de João Doria concorrer, mas isso é outra história).

Falando em Aécio, sua irmã e “braço direito”, presa preventivamente desde 18 de maio, teve seu pedido de liberdade negado pela 1ª Turma do STF (o placar foi apertado; após o ministro Marco Aurélio, relator do agravo, e Alexandre de Moraes votarem pela revogação, o ministro Luís Roberto Barroso abriu divergência e foi seguido por Rosa Weber e Luiz Fux). No próximo dia 20, a mesma Turma deverá decidir o destino do senador tucano, que ainda não foi preso por prerrogativa do cargo (parlamentares só podem ser presos em flagrante delito e por crimes inafiançáveis).

Mudando de pato para ganso, mas sem deixar a avícola dos imprestáveis, o PT, que defende “diretas já” para escolher o substituto de Temer, elegeu por via indireta e com o beneplácito de Lula a sua nova presidenta ― como prefere ser chamada a senadora Gleisi Hoffmann e, antes dela, a anta vermelha que destruiu nossa economia e ora pugna por ser reconduzida ao cargo para “consertar o Brasil que Temer destruiu”. Gleisi, que venceu o senador Lindbergh Farias por 367 votos a 226, é ré no STF, investigada na Lava-Jato e citada por pelo menos 3 delatores da Odebrecht. Afinal, nada como um criminoso para chefiar uma organização criminosa.

E já que falamos em Lula, sua excelência deve estar se sentindo desprestigiada. Enquanto Sérgio Cabral foi preso preventivamente em novembro do ano passado, tornou-se réu pela primeira vez no mês seguinte, responde (como réu) a 10 processos e já foi agraciado com sua primeira sentença (a 14 anos e dois meses de prisão em regime fechado), o molusco indigesto, que se tornou réu pela primeira vez há um ano, ainda não passou do penta e continua livre, leve e solto. A despeito de o ex-diretor da Petrobras Rento Duque e o ex-presidente da OAS Leo Pinheiro tenham declarado, em depoimento ao juiz Sergio Moro, que foram incitados pelo petralha a destruir provas contra a ORCRIM ― e de essa prática caracterizar obstrução da Justiça ―, o eneadáctilo não teve a prisão decretada. Hello, ministério público, hello, juiz Moro!

Fecho esta revoltante lista de imprestáveis com uma breve alusão ao cangaceiro das Alagoas, o ex-presidente do Congresso e senador da República (pelo PMDB, como não poderia deixar de ser) Renan Calheiros ― um rebotalho do coronelismo nordestino que já foi denunciado 3 vezes, responde a dezenas de processos e procedimentos judiciais e agora é suspeito de receber propina na compra de um poço seco da Petrobras na África, mas, como Lulalalau, continua livre, leve e solto, agora fazendo oposição ao governo, de olho nas próximas eleições, até porque, como Renan bem sabe, o eleitorado nordestino não é grande fã de Michel Temer. Aliás, de uns tempos a esta parte o presidente é como leprosário: um mal necessário, mas que não faz sucesso em lugar nenhum.

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sábado, 11 de março de 2017

DORIA NA PREFEITURA DE SAMPA

Desde o mês passado que eu venho ensaiando algumas linhas sobre a gestão de Doria, mas a trágica morte de Teori Zavascki, a conturbada homologação das delações da Odebrecht, a frequente queda de integrantes do alto escalão do governo Temer, o sorteio do novo relator dos processos da Lava-Jato no Supremo, a indicação de Alexandre de Moraes para o lugar de TZ, a demissão de Serra, o afastamento de Padilha, a possível cassação da chapa Dilma-Temer e outras questões de projeção nacional me levaram a sobrestar o assunto, que agora retomo com o tucano já no terceiro mês à frente da maior e mais rica metrópole do Brasil (quiçá da América Latina).

Com exceção da patuleia ignara, capitaneada pela militância inconformada com a derrota de Haddad e a derrocada do PT nas capitais e boa parte dos quase 5.600 municípios brasileiros, a população paulistana está satisfeita com o novo prefeito ― segundo dados divulgados em meados do mês passado, 50% dos entrevistados consideram sua gestão boa ou ou ótima, 30% classificam-na de regular, 10% a reprovam (dá-lhe, petralhada ignara) e outros 10% não souberam responder, comprovando, mais uma vez, o “elevado nível sociocultural” da nossa população e, por extensão, dos nossos eleitores.

Os programas de zeladoria da cidade, o retorno dos limites de velocidade nas marginais ao status quo ante e o Corujão da Saúde vêm sendo elogiados, sobretudo pela parcela da população com renda familiar superior a 10 salários mínimos (70%). Nas classes menos favorecidas, com renda igual ou inferior a 2 salários mínimos, a aprovação cai para 35%, mas para a maioria dos paulistanos a atual gestão será melhor do que a anterior ― e ainda que isso não passe de pura futurologia, não deixa de demonstrar a satisfação geral com a atuação do prefeito nos primeiros dois meses de governo.

Claro que não faltam críticas ao gosto refinado do tucano ― muitos se incomodam com sua predileção por cashmeres finos e tênis caros ―, às varrições simbólicas que ele promove nos finais de semana, paramentado de gari, e por aí afora. Curiosamente, Haddad era enaltecido quando fingia gostar de passear de bicicleta nas ciclofaixas mal-ajambradas ― que custaram os olhos da cara, nunca é demais lembrar ―, Doria é alvo frequente de ataques despropositados, frutos de puro revanchismo, da birra infantil dos inconformados com a derrota acachapante de seu predecessor (que ainda teve o desplante de disputar a reeleição) e da funesta facção criminosa fantasiada de partido político que tanto mal fez à nação a partir de 2003, quando o molusco abjeto se elegeu presidente da Banânia.

Igualmente claro que as críticas a Doria vêm de um segmento da imprensa ligado ao PT, aos petralhas, a seus pares do PCdoB, Rede, PSOL, PCB e aos inevitáveis líderes do MST e MTST, sindicalistas e integrantes de outras agremiações ditas “de esquerda”. Até a doação do salário de prefeito a instituições de caridade é motivo de chacota para seus detratores ― que parecem considerar R$ 18 mil “uma merreca”, embora esse valor, doado mensalmente para instituições necessitadas (a primeira foi a AACD), pode ser de grande serventia em tempos bicudos como os atuais. Aliás, o prefeito afirmou que doar o próprio salário é uma “política pública” de seu governo que deveria adotada por outros políticos (que vistam a carapuça aqueles em que ela servir).

O modelo adotado por Doria ― que não se tem na conta de político, mas de gestor, e também por isso é alvo de críticas por parte de quem não tem mais o que fazer ― deveria servir de exemplo para outros administradores públicos. Negociando pessoalmente com empresas potencialmente “apoiadoras”, ele já conseguiu medicamentos para suprir o déficit na rede pública, automóveis, motocicletas e equipamentos eletrônicos de sinalização para a auxiliar a CET na fiscalização do trânsito, 114 projetores para iluminar a Ponte Estaiada (Octávio Frias de Oliveira), itens de higiene para distribuição entre moradores de rua, e por aí vai. Trata-se de uma maneira engenhosa e inovadora de implementar melhorias sem onerar os cofres do município ― e, para não haver risco de uso dos recursos no custeio da máquina, o dinheiro não vai para o caixa com da prefeitura, mas para um fundo de investimento voltado a projetos nas cinco áreas consideradas estratégicas pelo prefeito (saúde, educação, mobilidade urbana, moradia e segurança).

Observação: Como parte desse plano de parcerias, Doria viajou ao Oriente Médio em busca de recursos para a recuperação e manutenção de 19 pontes das marginais do Pinheiros e do Tietê, além de negociar a venda do Autódromo de Interlagos e do complexo do Anhembi (Sambódromo, Palácio de Convenções e Pavilhão de Exposições), que devem render respeitáveis R$ 7 bilhões.

Na falta do que dizer, intelectualóides e jornalistas “de esquerda” rosnam que tudo isso não passa de pirotecnia midiática com fins eleitoreiros, primeiro para impulsionar a campanha de Alckmin ― padrinho político de Doria ― à presidência, e agora em causa própria, já que alguns segmentos sugerem que os tucanos teriam mais chances se o próprio Doria saísse candidato. O prefeito nega, naturalmente. Ele diz que foi eleito para administrar São Paulo, não para governar o Estado ou concorrer à presidência. Seus detratores, indiretamente, avalizam seu bom trabalho, na medida em que somente resultados positivos poderiam favorecer o PSDB no próximo pleito. Mas a semente já foi plantada. Se vai germinar, só o tempo dirá.

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sábado, 22 de outubro de 2016

GOSTE-SE OU NÃO, DORIA É O HOMEM A OBSERVAR

E é um espanto o tanto de gente que não gosta de Doria, embora mal saiba quem ele é ― ou jamais tivesse ouvido falar dele antes de meados de agosto, quando teve início a campanha pela sucessão municipal.

Não é a primeira vez que uma figura “desconhecida” surge “do nada” e, quando se vai ver, está no comando da maior cidade latino-americana. Pitta e Haddad são bons exemplos: o primeiro ― “foi Maluf que fez” ― saiu do mais merecido anonimato para se tornar o pior prefeito desde João Eanes (eleito em 1561); o segundo ― desafortunada invenção do ex-presidente Lula Lalau ― ainda está no cargo e, portanto, dispensa maiores apresentações.

Para o mundo onde circulam as ideias aceitáveis, parece irritante um ser político tão “incorreto” como Doria ― com suas malhas de cashmere, corte de cabelo, endereço residencial e saldo bancário de herói dos “coxinhas” do Brasil  ― ter reduzido a pó o candidato do “maior gênio político que este país já conheceu”, deixando-o com infames 17% dos votos, notadamente porque, a um mês da votação, os entendidos viam no tucano, em quarto lugar nas pesquisas, o exemplo perfeito do candidato errado, mas que, no dia da decisão, revelou-se o mais certo de todos, e que se elegeu em primeiro turno (fato inédito na capital paulista).

Talvez Doria venha a se tornar apenas “mais um ex-prefeito”, mas enquanto isso não fica definido ele incomoda. Tudo bem que Lula e o PT, com a calamidade que produziram no país, perdessem a eleição ― e não apenas em Sampa, mas em todo o país. Mas não “para esse aí”, que aí já é demais.
Doria é a soma de tudo o que menos se recomenda nos manuais de propaganda a um candidato a prefeito de uma cidade com 9 milhões de eleitores ― a grande maioria composta de gente pobre e empenhada na luta diária pela sobrevivência. Na direção exatamente oposta ao que a esquerda, em geral, e os analistas políticos, em particular, prescrevem a um candidato popular, ele não tem a menor hostilidade contra o automóvel. Quando ouve dizer que esta ou aquela medida “higieniza” a cidade, fica a favor ― acha que higiene é coisa boa. É contra doações à população ― esmolas, casas, mesadas. É a favor da polícia e contra os criminosos, sempre. Não gosta de impostos nem de multas, e acha que propriedades invadidas devem ser desocupadas e devolvidas.

E se isso tudo, ao contrário do que pregam nossas “classes intelectuais”, fizer sentido para as massas populares que imaginam conhecer tão bem? Não parece nenhum absurdo deixar em paz o automóvel numa cidade com 8 milhões de automóveis ― pode até ser errado, mas absurdo não é. Abster-se de propor doações ditas “sociais” parece adequado à grande cidade brasileira menos dependente do Bolsa Família e do governo. Faz sentido, numa metrópole onde milhões aspiram à propriedade privada e não abrem mão de sua defesa, combater invasões ― ou ser contrário à pichação de imóveis. Estará do lado da imensa maioria, também, quem ficar contra à entrega do espaço público a viciados em drogas, moradores de rua e desocupados. Que mal haveria em defender a repressão à desordem perante uma população que jamais ganhou um centavo com a destruição de vidraças de bancos? Ou em ser contra o crime diante de um eleitorado que defende o direito a portar armas? Ou em estar bem de vida quando isso é algo admirável para o paulistano pobre que trabalha e quer ter amanhã mais do que tem hoje? Nenhum, claro, sobretudo quando se pode dizer que esse dinheiro vem do próprio esforço, e não de roubalheira na Petrobras. Em suma: e se João Doria, justamente por ser quem é, for o retrato do político mais bem sintonizado, hoje, com as grandes classes populares de São Paulo?

Os pobres, aparentemente, não querem o que a esquerda quer que eles queiram. Querem coisas diferentes, muitas vezes o oposto ― e aí quem faz política precisa resolver de que lado está. Doria, no começo, foi visto como “uma loucura”. Loucos, como se vê agora, parecem os outros.

Com excerto do artigo FORA DA LINHA, de J.R. GUZZO


CUNHA VAI OU NÃO DELATAR? OH, DÚVIDA CRUEL!

De acordo com o jornalista Reinaldo Azevedo, existe uma disputa surda de estratégias e pontos de vista entre os procuradores da Lava-Jato e os delegados da Polícia Federal, para os quais é chegada a hora de pôr fim às delações premiadas ― não para frear, mas para não desmoralizar a investigação.

Para a oposição, o governo Temer pode ser alvo da eventual delação ― possibilidade que não foi descartada por Paulinho da Força, fiel escudeiro do ex-deputado. O governo e os governistas preferiram não comentar o episódio — no que, convenhamos, fizeram muito bem, pois qualquer pronunciamento impensado vira um tsunami de problemas.

A petralhada vê essa possibilidade com bons olhos, já que, em tese, apertaria o cerco em torno de Temer e do PMDB, embora Palocci esteja preso por, dentre outras acusações, ter criado facilidades para a Odebrecht, e a situação de Lula vir se agravando a cada dia que passa. E mais: Temer não tinha instrumentos para aquinhoar este ou aquele; até onde se sabe, ninguém o relacionou diretamente às safadezas. Talvez não se possa dizer o mesmo de alguns ministros de Estado, mas isso não quer dizer que o governo vai “desmoronar” se Cunha botar a boca no trombone, pois o presidente sempre poderá substituir os assessores comprometidos.

Por essas e outras, talvez os petistas devessem comemorar a coisa com mais parcimônia e focar seu próprio partido. Afinal, uma eventual queda do governo Temer não teria, por si só, o condão de lhes devolver o poder, como o resultado das eleições municipais deixou bem claro. E ainda que se queira ligar Cunha a Temer, o fato é que aquele nunca foi tão próximo deste quanto Palocci foi de Lula.

Volto ao assunto numa próxima postagem. Abraços e até lá.
 
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