O mais recente imbróglio envolvendo a delação da JBS foi causado pela conversa nada edificante que Joesley Batista e seu assecla Ricardo Saud mantiveram e gravaram “inadvertidamente”, e que acabou indo parar “acidentalmente” nas mãos do MPF.
O bate-papo descontraído, regado a uísque e ao som de Axé Music, durou longas quatro horas e suscitou quatro ministros do Supremo, dois governadores de Estado, dois senadores e dois ex-ministros. Sobrou até para a ex-presidanta e seu esbirro, José Eduardo Cardozo, entre outros que, como de praxe, negam qualquer participação e juram de pés juntos que são honestos, probos e acima de qualquer suspeita, ontem, hoje, amanhã e até o fim dos dias.
Na primeira parte do áudio, Joesley e Saud falam sobre como se aproximar de Rodrigo Janot por meio do então procurador Marcelo Miller e sobre a condição de não serem presos após fecharem os acordos de delação. Mas o “x” da questão ― que pode levar à revisão dos benefícios concedidos por Janot e avalizados pelo ministro Fachin a essa dupla de escroques ― foram os momentos em que os interlocutores sugerem que Miller ― que deixou a assessoria de Janot para atuar em escritório de advocacia que defende a JBS ― favorecia o grupo quando ainda integrava o MPF.
Em nota, os delatores boquirrotos pediram “sinceras desculpas” aos ministros do STF e ao PGR pelas citações indevidas, mas só depois que Janot determinou a abertura de investigação para apurar a omissão de informações nas negociações do acordo de colaboração.
A suspensão do acordo para apurar os fatos era de se espera, mas é lamentável que oportunistas de plantão se aproveitem do episódio para tentar (mais uma vez) barrar a Lava-Jato em seu esforço de reprimir e punir os esquemas de corrupção que conspurcam a política brasileira.
A defesa de Temer, por exemplo, tem se valido do ocorrido para desqualificar as acusações da PGR contra o presidente. A anulação de provas consistentes, se ocorrer, será um desserviço ao combate à corrupção, até porque o próprio acordo de colaboração tem cláusulas específicas para o caso: as de números 26 e 27 enquadram o que houve entre os motivos para a rescisão do acordo pela PGR, mas com a manutenção de todas as provas e depoimentos, além do pagamento de multas.
O senador Romero Jucá, integrante do grupo palaciano e alvo de inquéritos e processos no STF, diz que o ocorrido “projeta dúvidas sobre várias delações” ― notadamente a de Sérgio Machado, da Transpetro, em que ele, Jucá, é um dos protagonistas. E a maracutaia assume proporções pluripartidárias, já que, no Congresso, se alguém gritar “pega ladrão”, não ficam nem os faxineiros.
Omissões e manobras de Joesley podem ― e devem ― levar Janot a rever o acordo e estabelecer algum tipo de punição, mas contraria a sensatez e a própria lógica que os termos da delação ― que fazem dela um ato jurídico perfeito, assinado por meio de um rito sancionado pelo Supremo ― sejam descumpridos e que provas concretas desapareçam, como as cenas de Rodrigo Loures ― “homem da mala” de Temer e pessoa de sua mais estrita confiança, segundo o próprio Temer ― arrastando pela Rua Pamplona, em São Paulo, uma mala com R$ 500 mil de propina entregues pela JBS (mala essa que, depois da apreensão feita pela PF no “bunker” dos ex-ministro Geddel Vieira Lima, passou a ser considerada simples necessaire).
A conferir o resultado dessa merdeira toda.
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