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quarta-feira, 29 de maio de 2019

ROUBAR E ROUBAR...



Quer fazer um teste para saber em alguns segundos como você ajuda a manter de pé um dos mais notáveis monumentos à concentração de renda que existem atualmente no mundo? Pegue as suas últimas contas de telefone ou de luz e vá até onde está escrito “total a pagar”. Se você é um morador de São Paulo, por exemplo, verá que 25% desse total é imposto puro, o ICMS — ao qual se somam outras taxas que o governo ainda consegue lhe arrancar. O que não se vê na conta é que quase 10% do ICMS arrecadado a cada vez que alguém acende a luz ou fala ao telefone vai direto para o caixa das três universidades públicas de São Paulo. Acontece todo santo mês, sem falhar nunca, e provavelmente vai continuar acontecendo até o fim da sua vida. Mais: esse pedágio é retirado de todo ICMS pago no estado — não só nas contas de luz, telefone ou gás, mas em qualquer outra coisa cuja existência o Fisco paulista consiga identificar dentro do território estadual.

Uma vez sacado do seu bolso, o dinheiro vai para jovens, em geral de boa família, estudarem de graça temas como arte lírica, ou educomunicação, incluindo aí “prática epistemológica do conceito” e “gestão democrática de mídias”. Podem estudar armênio. Podem tentar um diploma de semiótica sobre “linguagens imaginárias”, ou sobre a “imanência e transcendência na emergência do sentido”. É claro que o contribuinte paga todos os cursos das três universidades — e muitos deles são indispensáveis. Mas isso não melhora nada. Só significa, na prática, que os cursos úteis para a sociedade recebem menos dinheiro porque têm de dividir a verba com os inúteis. Aliviado por não morar em São Paulo? Esqueça. Há o dragão das universidades federais — um bicho que pega geral, até o último confim do Acre. A diferença é que o paulista, e os cidadãos de todos os estados que mantêm universidades, toma duas contas no lombo.

O fato é que os impostos pagos por todos os trabalhadores brasileiros são doados aos filhos das classes média e alta para que estudem na universidade pública sem pagar um centavo. Isso se chama transferência de renda do mais pobre para o mais rico — que passou no vestibular porque foi capaz de financiar seu ensino básico em escolas particulares. Não tem conversa: se o governo tira de todos e dá a alguns, está tomando dinheiro da pobralhada, que é 80% desse “todos”, e fazendo um presente para a minoria que forma o “alguns”. É um método praticamente infalível, se você quer manter as desigualdades neste país exatamente como elas estão. Uma excelente escolha, também, para fazer a pobreza no Brasil durar o máximo de tempo possível. Em compensação, o sistema nos dá as universidades federais “gratuitas” — são nada menos que 63 ao todo, que talvez sejam 68, segundo os caprichos da burocracia educadora nacional.

Esse monstro é caro, injusto e burro. Dos cerca de 120 bilhões de reais do Orçamento federal de 2019 para a educação, quase metade vai para as universidades — o contrário do que a inteligência mais rudimentar recomenda a um país onde o ensino básico está em colapso há anos e que, por causa disso, ocupa o 119.º lugar na classificação mundial dos países segundo a qualidade da sua educação. Grande parte dessa despesa vai para o lixo. Na Universidade Federal do ABC, que custa mais de 250 milhões de reais por ano, há uma licenciatura em “afro-matemática” — aparentemente, a equação de segundo grau ou a progressão geométrica, do jeito que os alunos aprendem hoje, são “brancas”, e “reproduzem o racismo nas salas de aula”. É preciso, portanto, “descolonizar os referenciais teóricos”. Há uma Universidade Federal da Integração Latino-Americana. Há uma da Integração Internacional da Lusofonia Afro-Brasileira. Há uma Universidade Federal da Fronteira Sul e uma Universidade Federal do Pampa.

Nenhuma delas está entre as 150 melhores universidades do planeta segundo o ShanghaiRanking, um dos termômetros mais respeitados para medir a qualidade mundial da educação superior. Em outra lista de prestígio, a Times Higher Education, o resultado é pior: não há nenhuma brasileira entre as melhores 250. Dá o que pensar. Ou o Brasil se livra dos educadores, ou os educadores conduzirão o Brasil ao nível de instrução vigente na Idade da Pedra. Há outra consideração a fazer, na sequência. Um jeito conhecido de roubar dinheiro público é fechar-se numa sala com Marcelo Odebrecht, por exemplo. Outro é ensinar imanência e transcendência na emergência, com o dinheiro do ICMS que você pagou na sua última conta de luz. O primeiro jeito talvez acabe saindo mais barato.

Texto de J.R. Guzzo.

quinta-feira, 4 de janeiro de 2018

ATÉ QUANDO, LULA, ABUSARÁS DA NOSSA PACIÊNCIA?


Lula disse que vai a Porto Alegre para pressionar os desembargadores do TRF-4. Segundo o Estadão, sua defesa solicitou à Corte que ele seja ouvido durante o julgamento, mas o pedido ainda não foi apreciado. E ainda que seja negado, o petralha deve viajar à capital gaúcha, onde participará das manifestações programadas pelo PT.

A petralhada está focando sua artilharia no desembargador Victor Laus, que vem sendo pressionado a pedir vista do processo ou absolver Lula em troca de uma promoção a ministro do STJ. Uma derrota por 2 a 1 no TRF-4 “daria fôlego” ao ex-presidente, que “poderia apresentar mais de um recurso para protelar a condenação definitiva”. É exatamente por isso que os ministros lulistas do STJ (com o ajuda das colunistas lulistas da Folha) tentam cabalar o voto do desembargador Victor Laus, o único que ainda não se pronunciou.

Não existe respeito à lei nesta terra de corruptos. O corporativismo tomou conta do Legislativo e do Executivo e já vem ameaçando o Judiciário (haja vista o comportamento de alguns ministros da nossa Suprema Corte). Falando em ministro, mas agora sob outro enfoque, Ricardo Barros, titular da pasta da Saúde, teve o desplante de criticar a prisão de Maluf e acusar o Judiciário de fazer “jogo político” contra o Congresso (leia mais na entrevista publicada no Blog da  jornalista Andréia Sadi). Para ele, que é do mesmo partido de Maluf, a decisão do STF deixou o turco lalau “pendurado” até o final do recesso, em fevereiro.

Observação: Como o leitor pode conferir clicando no link respectivo (a propósito, esses trechos grafados e sublinhadas na cor azul que aparecem nas minhas postagens não elementos decorativos, mas sim links clicáveis que remetem a informações complementares), na valiosa opinião do político progressista, as prisões de Eduardo Cunha e Geddel Vieira Lima ocorreram porque o Congresso ameaçou votar o projeto de lei de abuso de autoridade do Judiciário. Perguntado se o partido dele pensa em expulsar Maluf ― condenado a 7 anos e lá vai fumaça por lavagem de dinheiro e corrupção ―, Barros disse que o PP “não é muito dessas coisas”, elogiou o ministro Gilmar Mendes por proibir conduções coercitivas e disse acreditar que a Corte irá rever decisões envolvendo delações premiadas e prisões.

Barros é investigado por fraude em licitação para publicidade realizada em 2011, no segundo mandato do irmão Silvio Barros II como prefeito de Maringá. Como deputado relator do Orçamento da União de 2016, envolveu-se em polêmica com relação aos cortes que promoveu nas dotações para a Justiça do Trabalho, o que acabou resultando em uma ação direta de inconstitucionalidade junto ao Supremo. No relatório, justificou os cortes por desejar “estimular uma reflexão” sobre a flexibilização do Direito do Trabalho, cujas regras, nas suas palavras, “são extremamente condescendentes com o trabalhador”. Mais adiante, já como ministro da Saúde, disse que “os pacientes do SUS inventam [ou imaginam] doenças”. Criticado por entidades médias, afirmou que “as pessoas correm aos postos de saúde com efeitos psicossomáticos”, e que homens procuram menos os serviços de saúde “porque trabalham mais que as mulheres”.

Voltando agora ao julgamento de Lula, o grão-petista-criminoso-condenado José Dirceu ― que continua solto por obra e graça da 2ª Turma do STF ― publicou na Web um vídeo no qual chama de “golpistas” os desembargadores do TRF-4, que acusa de agir com o propósito deliberado de impedir a candidatura presidencial do líder máximo do PT. Disse ele, a certa altura: “Por isso o povo está de costas para eles, para os golpistas, para aqueles que querem refundar a República quando não receberam esse mandato da nação. São juízes, não foram eleitos, mas fazem algo mais grave. Querem usurpar o poder do Legislativo e do próprio Executivo, violando direitos fundamentais. Tudo em nome de impedir Lula de ser candidato. Mas nós derrotamos a ditadura militar, que governava por Atos Institucionais, e não vamos permitir a ditadura da toga.”

Septuagenário e com 3 condenações nas costas ― uma no mensalão e duas no petrolão ―, o ex-líder estudantil e guerrilheiro de araque é o epítome da perversão que marcou a passagem do PT pelo poder federal. Ao conquistar a chave do cofre, o pedaço do petismo simbolizado por Dirceu esqueceu toda a noção de ética que possa ter existido um dia. Na política, no comportamento, nas artimanhas, na maneira de viver e de encarar a vida, tudo foi virado do avesso e assaltaram-se as arcas da República. Resta saber o que ele planeja fazer para virar a mesa no caso de o TRF-4 deixar Lula mais perto da cadeia do que das urnas.

É preciso ter estômago de avestruz para acompanhar a política nacional. E o meu, por hoje, já está no limite. O resto fica para amanhã. Tenham todos um ótimo dia.

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