O enésimo pedido de habeas
corpus impetrado pela defesa de Lula, desta feita com base na suposta parcialidade do ex-juiz federal Sérgio Moro, foi a julgamento na tarde
de ontem.
A impressão que a gente tem — sobretudo os 57,7 milhões de eleitores que
votaram contra Haddad no segundo
turno, sinalizando claramente que estão de saco cheio de Lula e do PT — é de que o Poder Judiciário
nada mais tem a fazer senão julgar a miríade de apelos do criminoso de
Garanhuns.
Enfim, iniciada a sessão, Cristiano
Zanin tentou
adiar o julgamento, ponderando que o HC
deveria ser analisado em conjunto com outro recurso interposto pela defesa, mas teve o pedido negado por 3 votos a 2, vencidos os ministros Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. Na sequência, depois que o relator, ministro Edson Fachin, votou contra o HC e a ministra Cármen Lúcia acompanhou seu voto, o laxante togado Gilmar Mendes pediu vistas e a sessão
foi encerrada.
Volto com mais detalhes na próxima postagem. Passemos ao assunto do dia.
Sérgio Gomes da Silva — o Sombra — foi denunciado em 2003 como mentor intelectual da execução do ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, mas o processo foi anulado em 2014, Sombra morreu de câncer em 2016 e o crime continua até hoje envolto em sombras (se o leitor me concede o trocadilho).
Em delação premiada, Palocci
referendou a versão oficial desse episódio, descartando qualquer vínculo com a cúpula do PT. Pelo
visto, ele não quer acabar como o ex-prefeito
e coordenador da campanha de Lula em 2002, tanto assim que seu
acordo de colaboração prevê garantia de vida para si e sua
família.
Muita gente apostava que delação-bomba
viria de Dirceu — e que por isso ele
vem sendo mantido fora da prisão, a despeito dos quase 40 anos de reclusão a
que foi condenado em duas ações criminais. Mas o guerrilheiro de araque nada tem a ganhar com uma delação; na condição de mentor intelectual das maracutaias
petistas, tudo — ou quase tudo — que ele revelasse aumentaria sua pena. Destarte, o homem bomba é Palocci, cujas revelações podem,
inclusive, pôr um fim a impunidade da ex-presidanta sacripanta, a quem o ex-PGR e o STF proporcionaram uma impressionante virgindade judicial.
Dilma finalmente se
tornou ré no tal “quadrilhão do PT”,
já que o cumpanhêro Janot, nas palavras
do jornalista Guilherme Fiuza, “fez uma pirueta estratégica no melhor estilo
engana trouxa, oferecendo uma denúncia carnavalesca que faz um ‘cozidão’ de
delitos de Lula, Dilma, Palocci, Mantega, Dirceu, Vaccari e companhia, um trabalho porco feito por um personagem que
meses depois estaria declarando publicamente seu voto em Haddad”. Segundo Fiuza, o
status de ré ajuda a
quebrar a redoma de hipocrisia em torno da “presidenta golpeada” — que continua
passeando pelo mundo com dinheiro do contribuinte para cantar seus réquiens. Mas
é a bomba — ou as bombas — de Palocci
devem virar esse jogo, trazendo a lume detalhes sobre a negociata de Pasadena, a cobertura para o tráfico de
influência de Erenice, as tentativas
de obstruir a Justiça e a Lava-Jato
tentando comprar o silêncio de Cerveró
e blindar João Santana e Monica Moura, a operação criminosa para
tentar salvar Lula da Justiça
nomeando-o ministro, toda a condescendência explícita com o banditismo dos
diretores da Petrobras prepostos do PT.
Isso sem falar no crime das pedaladas, no qual acabaram de se tornar réus Mantega, Bendine e Augustin,
entre outros que pintaram e bordaram com a bênção e sob a supervisão de Lula — a pobre vítima perseguida e injustiçada
que os áulicos de sempre querem mandar para casa.
Palocci pode
ajudar muito a elucidar as triangulações entre BNDES, ditaduras amigas e empreiteiras idem. Aliás, é interessante
ver o ex-chanceler de Lula, Celso Amorim, preocupado com os rumos
da política externa do novo governo. Diplomacia boa é a que dá cadeia — e a que
faz espirrar sangue no quintal dos facínoras gente boa como Nicolás Maduro. O Brasil está entrando
numa conjuntura em que, se Palocci
não virar Celso Daniel, essa página
infeliz da nossa história começará de fato a ser virada.
Voltando à execução do ex-prefeito de Santo André: Cesar Benjamin, um dos fundadores do PT, denunciou no Estadão, quase
uma década antes de o escândalo do Petrolão vir a público, uma série de
financiamentos de bancos e empreiteiras para a campanha do Lula de 1994. Perguntado
pela revista Época se achava que esses
episódios teriam gerado o cadáver de Celso
Daniel, ele respondeu: “Eu não acho, tenho certeza. E houve muitos
cadáveres morais. Este foi o físico.” (Não só aquele diga-se; outras
sete pessoas ligadas ao caso morreram, entre elas o legista que atestou que o
prefeito foi barbaramente torturado antes de ser assassinado).
Em 2015, já desfiliado do PT , Benjamin postou no Facebook, por ocasião da morte de outro co-fundador do partido:
“Acabo de saber da morte de Antônio Neiva. Muito teria a dizer sobre
ele: seu companheirismo, seu humor, sua lealdade, sua honestidade. Velho
militante da época da ditadura, permaneceu no PT até o fim. Escolho apenas um
momento das nossas vidas. Eu era da direção do PT quando percebi que
o processo de corrupção se alastrava no partido. Tentei debater isso na direção,
sem sucesso, pois àquela altura todos já temiam os dois comandantes da
desagregação, Lula e José Dirceu.
Restou-me levar a questão ao Encontro Nacional do PT realizado em 1995
em Guarapari, no Espírito Santo. Fui à tribuna, que ficava numa quina do grande
salão, de onde era possível ver, simultaneamente, o plenário e a mesa. Logo
depois de começar meu pronunciamento, vi Dirceu se levantar, se colocar de
frente para o plenário, de lado para mim, e fazer sinais na direção de um grupo
que — depois eu soube — era a delegação de Santo André. Pelo tom da minha fala, Dirceu achou que eu
trataria do esquema de corrupção nesse município, que ele e Lula comandavam e
que resultaria depois no assassinato de Celso Daniel. Ele estava enganado. Eu não falaria disso, simplesmente porque
desconhecia esse esquema. Minha crítica era à perda geral de referência ética e
moral no partido, que nessa fala eu denominei de ‘ovo da serpente’.
Mobilizados por Dirceu, os bandidos de Santo André saltaram sobre mim,
para interromper meu pronunciamento na base da porrada. Foi
Antônio Neiva quem se interpôs entre mim e eles, distribuindo safanões e
impedindo a continuidade do massacre. Foi minha última participação no PT, que
agora agoniza, engolido pela serpente que cultivou. Descanse em paz Antônio Neiva, irmão, homem honrado.
No mês passado, em entrevista
à Rádio Estadão, Bruno Daniel disse ter esperança
que a Carbono 14 (27ª fase da Operação Lava-Jato) lance luz sobre as investigações do assassinato do irmão.
Ele e outros familiares defendem a tese de que Celso Daniel teria sido morto para evitar denúncias sobre esquemas
de corrupção em financiamento de campanhas do PT e de aliados, e acusam o partido de tentar dissuadi-los de pressionar
pela apuração do caso.
Observação: A Carbono
14 investiga supostos repasses do pecuarista José Carlos Bumlai, amigo de Lula,
a Ronan. Segundo as investigações, Bumlai tomou em 2004 um empréstimo
fraudulento de R$ 12 milhões do Banco Schahin, dos quais R$ 6 milhões foram utilizados
para quitar dívidas da campanha petista em Campinas, em 2002 e 2004, e os
outros R$ 6 milhões, repassados a Ronan
Maria Pinto. Os procuradores agora querem saber o porquê.
Bruno acredita
que Ronan teria informações sobre a
morte de Celso e que chantageou
dirigentes petistas para manter o silêncio. Ele lembrou ainda que, três meses
após a execução, foi encontrado no apartamento do morto um dossiê produzido pelo
ex-ministro Gilberto Carvalho, a
quem Bruno acusa de tentar convencê-lo
a não insistir no caso. Ainda segundo ele, o então petista Donisete Braga, hoje filiado ao PROS, teve seu celular rastreado na região do cativeiro de Celso Daniel, e nunca foi esclarecido o
que ele estaria fazendo lá.
Bruno cita também o caso do legista Carlos Delmonte Printes, que apareceu morto depois de apontar, em entrevista ao Programa do Jô, indícios de que a execução teria sido queima de arquivo (a polícia encerrou o caso dizendo tratar-se de suicídio), e questiona como o Sombra teria arranjado dinheiro para pagar o advogado Roberto Podval — o mesmo que defendeu José Dirceu quando este foi preso na Lava-Jato —, “que cobra o olho da cara por seus serviços”.
Bruno cita também o caso do legista Carlos Delmonte Printes, que apareceu morto depois de apontar, em entrevista ao Programa do Jô, indícios de que a execução teria sido queima de arquivo (a polícia encerrou o caso dizendo tratar-se de suicídio), e questiona como o Sombra teria arranjado dinheiro para pagar o advogado Roberto Podval — o mesmo que defendeu José Dirceu quando este foi preso na Lava-Jato —, “que cobra o olho da cara por seus serviços”.
Saiba mais sobre o
escândalo do mensalão e a execução
de Celso Daniel no livro O
CHEFE, do jornalista Ivo Patarra.