Parece que o réveillon foi ontem, mas o Natal bate às portas e já tem até emissora de TV tocando marchinha de Carnaval! Conforme a gente envelhece, a impressão é de que o tempo passa cada vez mais depressa. Li algures que, quanto mais a idade avança, menor se torna a fatia de tempo vivido representada pelo período de um ano — uma explicação que faria mais sentido se os jovens de hoje não tivessem a mesmíssima impressão dos mais velhos.
Não sei se há como reduzir a velocidade dessa desabalada “carreira
temporal”, mas sei que certas horas a gente até torce para o ano terminar e o
novo governo começar de uma vez. Afinal, já deu no saco essa avalanche de críticas que ouvimos toda vez que Bolsonaro arrota ou coça o pé. Aliás, isso me faz lembrar da fábula do velho, do menino e do burro (leia a dita-cuja no final desta
postagem), pois, diga o presidente eleito o que disser, sempre haverá alguém
pronto para cair de pau, a começar do PT
e seus satélites.
Falando na seita do inferno, o PT mudou o enredo da sua comédia. Depois de dois dias de reunião em
Brasília, decidiu excluir as autocríticas de um
texto que servirá de base para os rumos que a legenda deverá tomar. Nas
palavras de sua comandanta nacional, a ex-senadora ora rebaixada a
deputada Gleisi Hoffmann, não tem
autocrítica no texto: “O PT faz autocrítica na prática. O PT fez financiamento público de
campanha, o PT está reorganizando as
bases, o PT está com movimento social. Nós não faremos autocrítica para a mídia
e não faremos autocrítica para a direita do país”.
Observação: A versão inicial
trazia críticas ao governo da anta e apontava erros do fantoche de Lula durante a campanha presidencial, mas
o texto aprovado fala sucintamente em “equívocos” dos governos petistas e esbanja
críticas à imprensa, ao judiciário e às “elites”, além, é claro, de enaltecer Haddad, que deverá ser o próximo líder
da facção vermelha.
Diante desse descalabro, acho melhor nem comentar. Sigamos adiante.
Circulou no noticiário um pensamento muito interessante que
o futuro presidente expressou durante uma conversa com a nova deputada Janaína Paschoal. “O importante não é o
que vamos fazer”, disse ele, “mas o que vamos desfazer”.
O Brasil será um país
a caminho da felicidade se Bolsonaro
estiver mesmo pensando assim — e, principalmente, se conseguir desmanchar
metade do que imagina que precisa ser desmanchado. O país, caso essa visão se
transforme em realidade, fará mais progresso em seu governo do que fez nos
últimos cinquenta anos. Já aconteceu com o Mais
Médicos, que sumiu antes mesmo de o novo governo começar. Continuará a
acontecer? É claro que muita gente pode perguntar: como assim, se há tanta
coisa que precisa ser feita, e com tanta urgência? Simples: isso tudo deverá
vir naturalmente, no espaço deixado pela monstruosa montanha de entulho que foi
jogada em cima da sociedade brasileira nos últimos quinze anos.
Pense um minuto, por exemplo, no “trem-bala” dos presidentes
Lula e Dilma. Não existe trem-bala nenhum. Nunca existiu. Nunca vai
existir. A única coisa que existiu, aí, foi a transferência de dinheiro do seu
bolso para o bolso dos empresários do “campo progressista”. Mas até hoje
continua existindo a empresa estatal legalmente constituída para cuidar do
“projeto”. Chama-se EPL, tem diretoria, 140 funcionários, orçamento de 70
milhões de reais e por aí afora. Nenhum país no sistema solar pode dar certo
desse jeito.
A escolha é clara: ou o Brasil progride, cria riquezas, cria
empregos, gera e distribui renda com o desenvolvimento da atividade econômica
produtiva, ou tem o trem-bala de Lula
e Dilma. É uma coisa ou a outra: não
dá para ter as duas ao mesmo tempo. Também não dá para melhorar a vida de um único pobre, um só
que seja, doando 1,3 milhão de reais de dinheiro público à cantora Maria Bethânia, para que ela declame
poemas num blog pessoal, em clipes produzidos pelo diretor Andrucha Waddington. Não será possível ir a nenhum lugar enquanto
continuar existindo a TV Brasil,
invenção de Lula que custa 1 bilhão
de reais por ano, emprega mais de 2 000
amigos do PT e tem zero de audiência. E mais mil coisas,
ou seja lá quantas
forem, que a segunda parte do governo Dilma
— este que está aí, com o nome de “governo
golpista” de Michel Temer — deixou
intactas para você pagar. Tirem esse lixo todo daí e o Brasil dará um salto.
A verdade, para simplificar a história, é que o país se
prejudica muito mais com as coisas que o governo faz do que com as coisas que
não faz. Eis aí: o ideal, mesmo, seria um governo que não fizesse nada do que
não precisa ser feito. O Brasil não precisa de Plano Quinquenal. Não precisa de
“obras estruturantes” nem de “políticas públicas”. Não precisa da Refinaria
Abreu e Lima, pela qual você está pagando 20 bilhões de dólares desde o início
do governo Lula — dez vezes mais do
que estava orçado — e que até agora não ficou pronta. (Essa era a tal em que
fizeram a Petrobras ficar sócia da Venezuela de Hugo Chávez, que nunca colocou um único tostão na obra.) Não
precisa de PAC — um monumento
mundial à roubalheira, à incompetência e à mentira. Não precisa de pirâmides
como a Copa do Mundo, ou a Olimpíada, com estádios e uma Vila Olímpica inteira
hoje afundando no chão, porque roubaram no material, no projeto e em tudo o que
foi humanamente possível roubar — sem que nenhuma alma em todo o majestoso
Estado brasileiro ficasse sabendo de nada. O teste mesmo é o seguinte: o Brasil
estaria melhor ou pior se não tivesse feito nada disso?
Num país em que uma empresa pode gastar 2 000 horas por ano só lidando com as exigências que o governo
inventa para arrecadar impostos —
e quando se vê que
essas 2 000 horas
significam 83 dias de 24 horas, inteiramente perdidos, sem que se produza um único alfinete —, dá para
se ter uma ideia da ruína em que colocaram o Brasil. Se o governo desfizer
isso, simplesmente desfizer, será melhor ou pior? Fala-se aqui, singelamente,
das aberrações mais estúpidas. Espere até chegarem os problemas realmente
classe AAA, gold-platinum-plus — como a constatação de que 50% de todos os
gastos federais vão unicamente para a Previdência Social, e que o grosso disso
é engolido com o pagamento das aposentadorias dos funcionários públicos —
sobretudo da elite de gatos gordos. (Esses são os “direitos” que não podem ser
tocados.) Será inútil, simplesmente, querer montar alguma coisa de útil no
Brasil enquanto não se desmontar esse ambiente de demência.
Com J.R. Guzzo.
Sobre o julgamento do HC de Lula pela segunda turma do Supremo, marcado para a tarde de hoje:
Com J.R. Guzzo.
Sobre o julgamento do HC de Lula pela segunda turma do Supremo, marcado para a tarde de hoje: