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segunda-feira, 14 de janeiro de 2019

O PT E O PCC, LULA E MARCOLA



Nenhum governo começou com harmonia e serenidade, lembra Veja na Carta ao Leitor da edição desta semana. Collor, que assumiu em pleno colapso econômico provocado pela explosão inflacionária, abriu os trabalhos confiscando o dinheiro da poupança; Itamar, presidente acidental, tomou posse com trapalhadas de todos os lados — não tinha programa, não fez sequer um discurso à nação e montou um ministério que se resumia a um condomínio de amigos. Collor terminou seu governo em desastre; Itamar fez história com o Plano Real, que levou FHC ao Palácio do Planalto.

O começo do governo de Lula foi o mais parecido com a primeira semana completa de Bolsonaro no Planalto. O ministério do petista entrou em campo protagonizando trombadas de um amadorismo ímpar. O ministro da Ciência e Tecnologia elogiou a pesquisa para a fabricação da bomba atômica — e foi logo desmentido em público pelo governo; o dos Transportes disse que, em caso de falta de verbas no ministério, o Exército poderia usar seus batalhões para construir rodovias e estradas — e foi desmentido pelo próprio Exército. Pois Bolsonaro fez até um pouco pior, afirma a revista em sua reportagem de capa (intitulada “Tuitadas e Trombas”).

O novo presidente, diz a matéria, conseguiu um feito ainda inédito na estreia dos governos democráticos: foi publicamente desmentido, ele próprio, por membros de sua equipe. Três vezes. Uma ao dizer que tinha assinado um decreto para aumento do imposto sobre operações financeiras, outra ao afirmar que haveria redução das alíquotas do imposto de renda, e uma terceira ao anunciar quais seriam as novas idades mínimas para a aposentadoria na proposta de reforma da Previdência do governo. Foi um começo desordenado e constrangedor, mas nada que não tenha conserto.

Lula, apesar do caos inicial, acabou presidindo o país em uma fase de notável crescimento econômico e deixou o governo com altíssima popularidade — até parar atrás das grades. Bolsonaro tem tudo para acertar o rumo do seu governo, desde que compreenda, se ainda não compreendeu, que suas declarações no exercício do poder têm peso e consequência infinitamente maiores do que numa campanha eleitoral. Até aqui, as expectativas são tão positivas que nem a bagunça de agora teve efeitos deletérios — a bolsa segue em alta histórica, o dólar mantém sua trajetória de queda e o Brasil continua esperançoso de um futuro melhor.

Num país onde os políticos são... bem... são o que são, o papel de fiscalizar o governo cabe à mídia. Mas criticar é fácil. Propor soluções factíveis é que são elas. Numa analogia com o futebol, tudo bem se você não jogar no time, mas também não precisa torcer contra. Na atual conjuntura, torcer contra o governo é ir contra os interesses do Brasil e dos brasileiros. Embirrar com o resultado das urnas é coisa de petista inconformado. Mas o que se poderia esperar de um partido comandado de dentro da cadeia por um presidiário?

A resposta está numa matéria assinada pelo professor de filosofia Denis L. Rosenfield, publicada meses atrás no Estadão. Confira abaixo uma versão resumida:

O PCC comanda da carceragem toda uma série de operações que são executadas por comparsas agindo enquanto homens livres. Presidente é presidente, independentemente de ser presidiário. Chefe é chefe e, como tal, deve ser obedecido. Para surpresa geral, porém, esse modelo foi imitado pelo PT, em particular por seu chefe, que segue, do ponto de vista formal, os mesmos moldes de operação. Lula está cumprindo pena, mas goza de condições carcerárias não autorizadas para outros cidadãos. Costuma falar da igualdade de todos os brasileiros, mas não aceita, de modo algum, ser considerado um igual. Com a anuência das autoridades públicas que deveriam ter exercido controle sobre essa falta de limites morais e jurídicos, sua cela se tornou um centro de comando, onde são recebidos partidários mascarados de advogados, com os quais se discute a estratégia partidária a ser seguida. De lá emanam ordens que vão ser, depois, seguidas pelo partido. Ao contrário do PCC, que guarda sigilo, Lula e o PT fazem isso à luz do dia.

O PT se apresentou um dia como o partido da ética na política. Dizia aceitar os valores da democracia representativa e transmitia a imagem de uma nova vida partidária, encarregada de regenerar o País. Muitos caíram nesse canto da sereia e chegaram mesmo a ser considerados parceiros socialdemocratas dos tucanos, apesar de relutarem em aceitar tal denominação. Mas o PT fez da corrupção e do desvio dos recursos públicos um meio de governar e de fazer avançar um projeto próprio de poder, à revelia daqueles valores e princípios que outrora dizia defender.

A questão que deveria ser posta por aqueles que permanecem adeptos desses valores e princípios reside em como obedecer às ordens de uma organização partidária que segue o modelo do crime. Ou o PT enfrenta seriamente essa questão, ou estará programática e moralmente perdido. Mas a corrente majoritária no partido adotou o modelo de atuação do PCC. Ordens de comando de dentro da carceragem são transmitidas para fora e obedecidas. A narrativa ainda mantém o ranço das posições socialistas/comunistas em sua nova roupagem do “nós” contra “eles”, dos “ricos” contra os “pobres”, dos “progressistas” contra os “conservadores”. Só uma academia cega ideologicamente consegue aceitar e propagar tais disparates, além dos propriamente incultos, por falta de informação e formação.

A narrativa politicamente correta é o que ampara as ações internacionais dessa organização. Criminosos comuns fazem isso pelo contrabando, pela violência e pela completa ilegalidade. Essa esquerda o faz pela transmissão ideológica amparada numa suposta defesa dos direitos humanos, sustentada por acadêmicos que comungam tais confissão e fanatismo. O artifício não deixa de ser eficaz, embora não consiga esconder a sua perfídia.

A operação internacional foi realizada a partir da atuação junto a uma Comissão de Direitos Humanos cujas recomendações não são vinculantes e, sobretudo, não se sobrepõem ao ordenamento jurídico do País. Ora, utilizando-se de seus contatos ideológicos, o PT conseguiu que dois ditos peritos dessa comissão de 18 membros declarassem Lula como usufruindo direitos políticos para disputar eleições, quando isso é expressamente vedado pela Lei da Ficha-Limpa, pelo mesmo Lula promulgada quando presidente. Seria hilário, não fosse dramaticamente real.

A exemplo dos seus colegas do PCC, os militantes do PT cumprem cegamente as ordens emanadas da cela de cadeia que abriga o chefe supremo da organização. Em matéria de disciplina, portanto, as duas siglas se equivalem. Antes de decidir uma questão mais complicada, Marcos Camacho consulta um conselho de dirigentes do PCC. Lula, ao contrário, não ouve ninguém e decide tudo sozinho. Em matéria de autoritarismo, portanto, Lula bate Marcola por 7×1.

O PCC é o PT do narcotráfico ou o PT é o PCC da política? Tanto faz. A diferença entre os dois chefões é que só Marcola sempre admitiu que é bandido. Nem ele conseguiria, como vive fazendo Lula, fantasiar-se de preso político sem ficar ruborizado.