Nenhum governo começou com harmonia e serenidade, lembra Veja na Carta ao Leitor da edição desta semana. Collor, que assumiu em pleno colapso econômico provocado pela
explosão inflacionária, abriu os trabalhos confiscando o dinheiro da poupança; Itamar, presidente acidental, tomou
posse com trapalhadas de todos os lados — não tinha programa, não fez sequer um
discurso à nação e montou um ministério que se resumia a um condomínio de
amigos. Collor terminou seu governo
em desastre; Itamar fez história com
o Plano Real, que levou FHC ao Palácio do Planalto.
O começo do governo de Lula
foi o mais parecido com a primeira semana completa de Bolsonaro no Planalto. O ministério do petista entrou em campo
protagonizando trombadas de um amadorismo ímpar. O ministro da Ciência e
Tecnologia elogiou a pesquisa para a fabricação da bomba atômica — e foi logo
desmentido em público pelo governo; o dos Transportes disse que, em caso de falta
de verbas no ministério, o Exército poderia usar seus batalhões para construir
rodovias e estradas — e foi desmentido pelo próprio Exército. Pois Bolsonaro fez até um pouco pior, afirma
a revista em sua reportagem de capa (intitulada “Tuitadas e Trombas”).
O novo presidente, diz a matéria, conseguiu um feito ainda
inédito na estreia dos governos democráticos: foi publicamente desmentido, ele
próprio, por membros de sua equipe. Três vezes. Uma ao dizer que tinha assinado
um decreto para aumento do imposto sobre operações financeiras, outra ao
afirmar que haveria redução das alíquotas do imposto de renda, e uma terceira
ao anunciar quais seriam as novas idades mínimas para a aposentadoria na
proposta de reforma da Previdência do governo. Foi um começo desordenado e
constrangedor, mas nada que não tenha conserto.
Lula, apesar do caos inicial, acabou presidindo o país em uma fase de notável crescimento econômico e deixou o governo com altíssima popularidade — até parar atrás das grades. Bolsonaro tem tudo para acertar o rumo do seu governo, desde que compreenda, se ainda não compreendeu, que suas declarações no exercício do poder têm peso e consequência infinitamente maiores do que numa campanha eleitoral. Até aqui, as expectativas são tão positivas que nem a bagunça de agora teve efeitos deletérios — a bolsa segue em alta histórica, o dólar mantém sua trajetória de queda e o Brasil continua esperançoso de um futuro melhor.
Lula, apesar do caos inicial, acabou presidindo o país em uma fase de notável crescimento econômico e deixou o governo com altíssima popularidade — até parar atrás das grades. Bolsonaro tem tudo para acertar o rumo do seu governo, desde que compreenda, se ainda não compreendeu, que suas declarações no exercício do poder têm peso e consequência infinitamente maiores do que numa campanha eleitoral. Até aqui, as expectativas são tão positivas que nem a bagunça de agora teve efeitos deletérios — a bolsa segue em alta histórica, o dólar mantém sua trajetória de queda e o Brasil continua esperançoso de um futuro melhor.
Num país onde os políticos são... bem... são o que são, o
papel de fiscalizar o governo cabe à mídia. Mas criticar é fácil. Propor
soluções factíveis é que são elas. Numa analogia com o futebol, tudo bem se você não jogar no time, mas também
não precisa torcer contra. Na atual conjuntura, torcer contra o governo é
ir contra os interesses do Brasil e dos brasileiros. Embirrar com o resultado
das urnas é coisa de petista inconformado. Mas o que se poderia esperar de um
partido comandado de dentro da cadeia por um presidiário?
A resposta está numa matéria assinada pelo professor de
filosofia Denis L. Rosenfield, publicada meses atrás no Estadão. Confira abaixo uma versão resumida:
O PCC comanda da carceragem toda uma série de operações que são
executadas por comparsas agindo enquanto homens livres. Presidente é
presidente, independentemente de ser presidiário. Chefe é chefe e, como tal,
deve ser obedecido. Para surpresa geral, porém, esse modelo foi imitado pelo PT, em particular por seu chefe, que
segue, do ponto de vista formal, os mesmos moldes de operação. Lula está cumprindo pena, mas goza de
condições carcerárias não autorizadas para outros cidadãos. Costuma falar da
igualdade de todos os brasileiros, mas não aceita, de modo algum, ser
considerado um igual. Com a anuência das autoridades públicas que deveriam ter
exercido controle sobre essa falta de limites morais e jurídicos, sua cela se
tornou um centro de comando, onde são recebidos partidários mascarados de
advogados, com os quais se discute a estratégia partidária a ser seguida. De lá
emanam ordens que vão ser, depois, seguidas pelo partido. Ao contrário do PCC, que guarda sigilo, Lula e o PT fazem isso à luz do dia.
O PT se apresentou um dia como o partido da ética na política. Dizia
aceitar os valores da democracia representativa e transmitia a imagem de uma
nova vida partidária, encarregada de regenerar o País. Muitos caíram nesse canto
da sereia e chegaram mesmo a ser considerados parceiros socialdemocratas dos
tucanos, apesar de relutarem em aceitar tal denominação. Mas o PT fez da corrupção e do desvio dos
recursos públicos um meio de governar e de fazer avançar um projeto próprio de
poder, à revelia daqueles valores e princípios que outrora dizia defender.
A questão que deveria
ser posta por aqueles que permanecem adeptos desses valores e princípios reside
em como obedecer às ordens de uma organização partidária que segue o modelo do
crime. Ou o PT enfrenta seriamente
essa questão, ou estará programática e moralmente perdido. Mas a corrente
majoritária no partido adotou o modelo de atuação do PCC. Ordens de comando de dentro da carceragem são transmitidas
para fora e obedecidas. A narrativa ainda mantém o ranço das posições
socialistas/comunistas em sua nova roupagem do “nós” contra “eles”, dos “ricos”
contra os “pobres”, dos “progressistas” contra os “conservadores”. Só uma
academia cega ideologicamente consegue aceitar e propagar tais disparates, além
dos propriamente incultos, por falta de informação e formação.
A narrativa
politicamente correta é o que ampara as ações internacionais dessa organização.
Criminosos comuns fazem isso pelo contrabando, pela violência e pela completa
ilegalidade. Essa esquerda o faz pela transmissão ideológica amparada numa
suposta defesa dos direitos humanos, sustentada por acadêmicos que comungam
tais confissão e fanatismo. O artifício não deixa de ser eficaz, embora não
consiga esconder a sua perfídia.
A operação
internacional foi realizada a partir da atuação junto a uma Comissão de Direitos Humanos cujas
recomendações não são vinculantes e, sobretudo, não se sobrepõem ao ordenamento
jurídico do País. Ora, utilizando-se de seus contatos ideológicos, o PT conseguiu que dois ditos peritos
dessa comissão de 18 membros declarassem Lula
como usufruindo direitos políticos para disputar eleições, quando isso é
expressamente vedado pela Lei da Ficha-Limpa,
pelo mesmo Lula promulgada quando
presidente. Seria hilário, não fosse dramaticamente real.
A exemplo dos seus colegas
do PCC, os militantes do PT cumprem cegamente as ordens emanadas
da cela de cadeia que abriga o chefe supremo da organização. Em matéria de
disciplina, portanto, as duas siglas se equivalem. Antes de decidir uma questão
mais complicada, Marcos Camacho
consulta um conselho de dirigentes do PCC.
Lula, ao contrário, não ouve ninguém
e decide tudo sozinho. Em matéria de autoritarismo, portanto, Lula bate Marcola por 7×1.
O PCC é o PT do
narcotráfico ou o PT é o PCC da política? Tanto faz. A diferença
entre os dois chefões é que só Marcola
sempre admitiu que é bandido. Nem ele conseguiria, como vive fazendo Lula, fantasiar-se de preso político
sem ficar ruborizado.