Dizem que a vida de presidente da República é dureza, que o
cargo traz solidão, limita amigos, amplia o rol dos puxa-sacos, e por aí vai.
Na prática, todavia, a teoria parece ser outra. Afinal, se fosse mesmo essa
pedreira, por que FHC teria se
empenhado tanto em aprovar, em 1997, a emenda constitucional que instituiu a
reeleição, e assim garantir um segundo mandato? (para quem não se lembra, ele
governou de 1995 a 2002).
Essa mesma emenda constitucional beneficiou o plano de poder
da petralhada, pois permitiu que Lula
governasse de 2003 a 2010. E o mesmo se aplica a Dilma, que também pode se reeleger, embora tenha sido abatida em
pleno voo depois de 1 ano, 4 meses de 12 dias de seu segundo mandato ― não antes,
infelizmente, de usar toda a sua incompetência administrativa para gerar e
parir a maior crise econômica da história deste país; mas o que seria de se
esperar de uma “gerentona de araque” que, na década de 90, conseguiu quebrar duas lojinhas de
badulaques importados em apenas 17 meses?
Graças à atuação diligente dos nossos nobres representantes
no Congresso, a reeleição está com os dias contados. Mas a medida só foi
aprovada depois que os parlamentares concederam um bônus a si mesmos: em junho do ano passado, por 348 votos a favor
e 110 contra, eles fixaram em cinco anos
o mandato para todos os cargos eletivos (mudança que só começará a valer a
partir das eleições municipais de 2020 e presidenciais de 2022), e como se não
bastasse, rejeitaram o trecho previsto no relatório do deputado Rodrigo Maia que botava fim no voto
obrigatório para todos os brasileiros com idade entre 18 e 70 anos.
Voltando ao mote desta postagem, vale dizer que a vida de
ex-presidente é bem confortável: além de não sofrer a pressão do cargo, quem lá
chegou e de lá saiu com vida faz jus, pelo resto de seus dias, a um gordo salário mensal (R$ 33.763,00), plano médico ilimitado (e acho que
também cartão de crédito corporativo,
mas não tenho certeza), 8 servidores de
sua livre escolha ― 4 para segurança e apoio pessoal, 2
para assessoria e 2 motoristas, com salários que variam de R$ 2.227,85 a R$ 11.235,00 ―, além de 2 carros oficiais, com
manutenção, combustível e renovação periódica, tudo bancado pelos contribuintes. Assim, nossos 5 ex-presidentes
vivos ― Sarney, Collor, FHC, Lula e Dilma ― custam cerca de R$
5 milhões anuais ao Erário, embora não ofereçam qualquer contrapartida de
ordem prática à nação. Mas não é só: menos
de 24 horas após ter sido notificada pelo Senado da sua deposição, Dilma conseguiu se aposentar com o
estipêndio mensal de R$ 5.189,82 ― o que é espantoso, considerando que o
tempo médio de espera para que uma pessoa consiga atendimento em uma agência do
INSS é de 74 dias, e de 115 no Distrito Federal, onde foi feito o pedido
da petralha.
A despeito de toda essa mordomia, o futuro da nefelibata da
mandioca não é dos mais alvissareiros. Embora (ainda) não seja ré na Lava-Jato ― ao contrário de seu
antecessor e mentor, que já é réu em 3
processos e investigado em pelo menos mais 2 (*) ―, Dilma é citada por
diversos delatores como beneficiária de vultosas somas desviadas da Petrobrás,
que teriam abastecido seu caixa de campanha em 2010 e 2014. Isso sem mencionar
que ela é suspeita de tentar obstruir as investigações da Lava-Jato em três situações distintas: a primeira envolve a
nomeação do ministro Marcelo Navarro
Ribeiro Dantas para o STJ com a
suposta intenção de conceder a liberdade para empreiteiros presos em Curitiba;
a segunda remete à investida feita pelo ex-ministro Aloizio Mercadante, sob o comando da petista, para tentar evitar
que Delcídio do Amaral botasse a
boca no trombone; a terceira tem a ver com uma manobra espúria para nomear Lula ministro-chefe da Casa Civil, dias
depois de ele ter sido conduzido
coercitivamente para depor na Polícia Federal, com o propósito de lhe
restabelecer a prerrogativa de foro privilegiado e livrá-lo dos tentáculos da Lava-Jato. E isso é só o começo: novas delações estão sendo negociadas e novos fatos espúrios devem vir à luz ― pelo andar da carruagem, o céu é o limite. Ou o inferno, melhor
dizendo. O resto fica para outra vez pessoal. Abraços e até lá.
(*) O MPF
está apurando a atuação de Lula na
liberação de diversos empréstimos do BNDES
para obras na África e na América Latina. Não apenas para a Odebrecht, mas também para outras
empreiteiras já envolvidas no petrolão. Ao todo, outros cinco procedimentos
investigatórios estão em andamento na Divisão
de Combate à Corrupção da unidade do MPF
no Distrito Federal.
QUE NOSSA SENHORA APARECIDA OLHE POR ESTE PAÍS!
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