Eu adoraria compartilhar boas notícias, mas há tempos que elas andam em falta nas prateleiras tupiniquins. Então, vamos ao que temos para hoje, começando pela viagem de Bolsonaro aos EUA, onde ele será homenageado pela Câmara de Comércio Brasil-EUA, e não pela revista Time, como a princípio foi divulgado na mídia. A efeméride acontecerá em Dallas, que fica num estado tradicionalmente armamentista e racista e foi palco do assassinato de JFK em 1963 — episódio que até hoje suscita teorias conspiratórias de todo tipo. Na última quinta (9), o presidente disse a
parlamentares: “Se eu não sou bem-recebido em Nova York,
vou ser no Texas”. E completou: “Eu
não pude comparecer à cidade onde o prefeito se comporta como um radical,
promovendo e se preparando para fazer manifestações das piores possíveis com a
minha presença”.
Para o prefeito de NYC, Bolsonaro aprendeu do jeito mais difícil que nova-iorquinos não são condescendentes com a opressão. “Boa viagem. Seu ódio não é bem-vindo aqui”, finalizou o dito-cujo. Entrementes, no perfil oficial de certo ex-presidente criminoso e parlapatão, surgiu um post alfinetando Bolsonaro e seus filhos: "Perguntaram aqui como eu tuíto. Do mesmo jeito que o Bolsonaro. Eu tenho um filho que eu não controlo. Se ele solto não controla o dele, imagina eu preso".
Como se já não faltassem problemas, o presidente pode seguir até o final do mandato dependente do Congresso para honrar todos os pagamentos sem cometer crime de responsabilidade e, consequentemente, ser alvo de um processo de impeachment. Este ano, o governo já está refém dos parlamentares para aprovar crédito suplementar de R$ 248,9 bilhões; para os próximos, os rombos devem ser de R$ 264,9 bilhões em 2020, R$ 146,9 bilhões em 2021 e R$ 157,5 bilhões em 2022. Embora a tendência seja de queda, os valores permanecem em patamares astronômicos.
Para o prefeito de NYC, Bolsonaro aprendeu do jeito mais difícil que nova-iorquinos não são condescendentes com a opressão. “Boa viagem. Seu ódio não é bem-vindo aqui”, finalizou o dito-cujo. Entrementes, no perfil oficial de certo ex-presidente criminoso e parlapatão, surgiu um post alfinetando Bolsonaro e seus filhos: "Perguntaram aqui como eu tuíto. Do mesmo jeito que o Bolsonaro. Eu tenho um filho que eu não controlo. Se ele solto não controla o dele, imagina eu preso".
Como se já não faltassem problemas, o presidente pode seguir até o final do mandato dependente do Congresso para honrar todos os pagamentos sem cometer crime de responsabilidade e, consequentemente, ser alvo de um processo de impeachment. Este ano, o governo já está refém dos parlamentares para aprovar crédito suplementar de R$ 248,9 bilhões; para os próximos, os rombos devem ser de R$ 264,9 bilhões em 2020, R$ 146,9 bilhões em 2021 e R$ 157,5 bilhões em 2022. Embora a tendência seja de queda, os valores permanecem em patamares astronômicos.
A “regra de ouro” foi criada para evitar que governos se
endividem para pagar despesas que não sejam investimentos ou com a rolagem da
dívida pública. Uma PEC do deputado Pedro Paulo visa aprimorá-la e dar ao
governo mais instrumentos de contenção dos gastos antes do descumprimento, mas só
Deus sabe quando ela será votada e, pior, se será aprovada. Enquanto a mudança
não sai, o jeito é tentar obter o apoio de 257 deputados e 41 senadores —
maioria absoluta das duas Casas — para não ficar entre o calote em
beneficiários e o crime de responsabilidade. No Planalto, a ordem é aguardar e
apostar no "bom senso" do Congresso. E isso é o mesmo que acreditar
no Coelho da Páscoa.
Sem a reforma da Previdência, dizem os analistas, teremos
descumprimentos da regra de ouro pelos próximos dez anos. Poucos duvidam da
aprovação da PEC, mas ninguém sabe o quanto ela será desidratada. A falta de
articulação do governo para obter apoio parlamentar tem dificultado a tramitação,
e os recentes eventos em Brasília e o aumento do ruído político indicam que a aprovação
pode demorar mais do era esperado.
Na avaliação de Paulo
Guedes, a oposição, sozinha, não tem condições de barrar a reforma, mas o
fato é que os partidos aliados tampouco têm condições de aprová-la sozinhos. O
capital político do presidente vem evaporando a olhos vistos — mais por culpa
dele próprio e de seus filhos do que pela atuação deletéria do PT e seus satélites. Recente
levantamento feito pelo XP Ipespe apurou
que a avaliação negativa de Bolsonaro
cresceu de 26% para 31% entre abril e maio, devido, sobretudo, a uma provável
migração de pessoas que antes diziam não saber (ou que não responderam) para o
campo ruim e péssimo. Sua administração ainda conta com a aprovação de 1/3 dos
brasileiros — o que é pouco, considerando que o capitão foi eleito com 55,13%
dos votos válidos.
A pesquisa abordou ainda a reforma da Previdência, e apurou
que 44% dos entrevistados a aprovam, mas 21% divergem parcialmente do texto. No
total, 62% acham que “alguma reforma” é necessária — o que já é um começo. Sobre
a expectativa para o restante do mandato de Bolsonaro, 51% acreditam que será ótimo ou bom (ante 50% em abril),
mas o percentual dos que acham que será ruim ou péssimo também cresceu (23%
para 27%).
Para não ficar só nisso, segue mais um texto lapidar de Dora Kramer:
Foge à compreensão das
mentes normais a razão de o presidente do Brasil assistir de maneira
complacente à enxurrada de insultos dirigidos a figuras da República, entre as
quais o vice-presidente e alguns ministros, por aquele antagonista residente na
Virgínia, cujo nome passo a me abster de pronunciar por considerá-lo a
materialidade gráfica do baixo calão. O assunto aqui não é ele. É o presidente.
Mais que tolerante, Jair Bolsonaro é
submisso e até reverente ao autor das ofensas que em última análise lhe são
dirigidas, pois atingem profissionais que escolheu porque achou capazes de
ajudá-lo a governar o país. Nesse aspecto, não faz diferença se civis ou
militares.
Bolsonaro alega que é
“dono do próprio nariz” para justificar sua indulgência e afirmar que cada um
age como quer no controle da própria vida. Pois se existe alguém impedido de
dizer e fazer impunemente o que lhe dá na telha é exatamente o chefe da nação.
É o mais comprometido dos brasileiros com o dever de dar satisfação, de medir
consequências de seus atos, palavras e até omissões, de atuar no estrito limite
da ordem constitucional. Ocupa o cargo por delegação de quem passou a ter a
propriedade do nariz presidencial desde a eleição.
E aqui se incluem
todos os brasileiros. Os que votaram nele ou deixaram de votar movidos por
convicção e os que o escolheram motivados pela rejeição ao adversário. Uma das
hipóteses para que o presidente seja dócil ao tratamento hostil é que não
queira dar aos cidadãos que compartilham não necessariamente do estilo mas das
crenças do autor referido no início a impressão de que esteja cedendo a gente
identificada com ideias opostas e aí dando uma demonstração de fragilidade ante
o eleitorado de raiz.
É verdade que nas
pesquisas Bolsonaro encontra ainda
apoio significativo nesse segmento. Mas é verdade também, e até mais eloquente,
que perde credibilidade entre os que optaram por ele achando que se livravam
das amarras ideológicas do PT e agora
deparam com atuações patológicas avalizadas pelo presidente, que, assim,
consegue a façanha de ver boa parte do Brasil pensante aplaudir a presença de
militares no governo, algo antes temido e tido como sinal de alerta para o
risco de retrocesso.
Nada a ver com
esquerda, com partidos de oposição. É questão de bom-senso, e Jair Bolsonaro se coloca do lado
contrário de maneira arriscada para ele. Da grita em redes sociais, o repúdio
ao clima de sarjeta transbordou para o Congresso, no qual crescem as manifestações
de solidariedade aos ofendidos enquanto caminha com lentidão a reforma da
Previdência. A sociedade reage e as instituições se posicionam. Logo chegará a
vez de o Judiciário pronunciar-se a respeito.
Com isso, o presidente
da República cava o isolamento e, paradoxalmente, se põe cada vez mais sob a
tutela daqueles que são alvo dos ataques porque são eles que recebem o
crescente respaldo da opinião pública. É de perguntar até quando isso vai durar
se Bolsonaro não parar de falar em
páginas viradas e não puser um ponto-final na balbúrdia em que se transformou o
seu governo.
Observação: Deu em O ANTAGONISTA que Bolsonaro avalia seriamente exonerar o general Santos Cruz da Secretaria de Governo. Além do desgaste crescente, o presidente recebeu informações de que o ministro, em conversas com outros integrantes do governo, se referiu a ele de forma desrespeitosa. O capitão sabe que a demissão vai provocar reações entre os demais generais. Em outras palavras, é o prenúncio da tempestade perfeita.
Observação: Deu em O ANTAGONISTA que Bolsonaro avalia seriamente exonerar o general Santos Cruz da Secretaria de Governo. Além do desgaste crescente, o presidente recebeu informações de que o ministro, em conversas com outros integrantes do governo, se referiu a ele de forma desrespeitosa. O capitão sabe que a demissão vai provocar reações entre os demais generais. Em outras palavras, é o prenúncio da tempestade perfeita.