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sexta-feira, 5 de outubro de 2018

ELEIÇÕES 2018 — ÀS VÉSPERAS DO PRIMEIRO TURNO




CARPE DIEMQUAM MINIMUM CREDULA POSTERO


Sobre o debate promovido pela Globo na noite de ontem, prefiro não comentar. Debate envolve projetos, e o que os “presidenciáveis” discutiram não passou nem perto disso. A quem interessar possa, a Lupa acompanhou o encontro, conferindo em tempo real as frases ditas pelos participantes. Os resultados foram publicadas no Twitter, em @agencialupa.

Quando eu assumir a Presidência, a primeira semana será de cara a semana da adoração. Vamos adorar a Deus. No oitavo dia vai ter uma auditoria pública, e os mais de 14 milhões de desempregados da nação vão ser abraçados pelo presidente da República. Assim como outras nações, nós temos problemas na nossa, com saúde, educação, segurança, infraestrutura, transporte. Mas isso tudo é simples de ser resolvido”. Palavras do candidato Cabo Daciolo, que deveria aparecer em público vestindo uma elegante camisa-de-força verde-amarela, para mostrar que, além dos presidiários, também há doidos de pedra disputando a presidência da Banânia.

Imaginava-se a princípio que o processo eleitoral solucionaria a mais grave crise política da história republicana do país, mas tudo indica que as mudanças no Legislativo serão meramente nominais, e os parlamentares continuarão priorizando seus interesses nada republicanos em detrimento dos interesses nacionais.

No âmbito do Executivo, o cenário é ainda mais desolador. Por incompetência (ou conivência) da Justiça, Lula transformou sua cela em comitê de campanha, onde recebe emissários dia sim outro também e de onde manipula a sucessão presidencial e comanda o PT — nada muito diferente do que fazem os chefões do PCC, Comando Vermelho e outras fações do crime organizado, de suas celas nos presídios de segurança máxima. Já a direita liberal, sem um candidato para chamar de seu, orbita a extrema direita, cuja proposta de governo se resume ao tal Posto Ipiranga.

No Judiciário, ministros supremos se dividem em garantistas e punitivistas e desautorizam-se uns aos outros, desrespeitando a jurisprudência nas decisões monocráticas e promovendo bate-bocas e guerras de liminares. Veja o caso do guerrilheiro de araque José Dirceu, que perambula pelo país a pretexto de divulgar o livro de memórias que escreveu na prisão — de onde saiu pela porta da frente graças a um habeas corpus concedido pela 2ª Turma do Supremo, do qual fazia parte o atual presidente da Corte.

Como bem salientou José Nêumanne em artigo publicado no Estadão, além de votar a favor da soltura do guerrilheiro de festim, Toffoli passou um “pito” no juiz Sérgio Moro, que quis impor o uso de uma tornozeleira ao condenado. Em qualquer vara mequetrefe da zona do baixo meretrício, o habeas corpus não poderia ter sido assinado, pois à Justiça deveria importar a “suspeição” pelo fato de o ministro supremo ter sido funcionário do réu na época em que advogou para o PT. Mas no Brasil o Direito Romano e suas filigranas, tais como a igualdade de todos perante a lei, só têm valor quando exercidos contra desafetos e inimigos jurados.

O fato é que a soltura de Dirceu foi orquestrada por Toffoli e apoiada automática e entusiasticamente por seus companheiros do “trio Solta Gatuno”. Assim, o criminoso que fundou, dirigiu, comandou e unificou o PT em torno do presidiário de Curitiba vem gozando das delícias do sol da zona cacaueira e outros locais aprazíveis. Recentemente, em entrevista concedida ao jornal espanhol El País, perguntado sobre a possibilidade de o PT ganhar as eleições e “não levar” por causa da oposição da direita, o Dirceu saiu-se com a seguinte pérola: “Acho improvável que o Brasil caminhe para um desastre total. Na comunidade internacional isso não vai ser aceito. E dentro do país é uma questão de tempo pra gente tomar o poder. Aí nós vamos tomar o poder, que é diferente de ganhar uma eleição”.

Ainda em seu périplo pelo país para lançar lembranças de atos heroicos e amantes inesquecíveis, o petralha disparou contra os procuradores federais que o denunciaram. Disse, literalmente, que “o Supremo, em 2016, deu poder de investigação ao Ministério Público. Qual é o resultado? Agora há investigações sigilosas. Inclusive o ministro Gilmar Mendes tem criticado isso. Tem que tirar o poder de investigação do MPF, que é só para acusar, mas virou uma polícia política sem controle nenhum. E mais: uma corporação com os maiores privilégios do Brasil”.

Tal mistura de alhos com bugalhos não pode ser tratada apenas como queixa de um réu pilhado em delito na tentativa de desqualificar seus acusadores. Ela representa os lamentos comuns de outros chefões de organizações criminosas que dilapidaram e dilapidam o Erário em nome de benemerências a desassistidos e de justiça social, enriquecendo pessoal e ilicitamente e enchendo as burras de suas legendas com dinheiro furtado do povo. E não flagra apenas o exercício do célebre jus sperniandi — expressão jocosa, em falso latim vulgar, que significa “direito de espernear” —, mas traduz a disposição de poderosos mandatários nos três Poderes de garantir a impunidade a si mesmos e à própria grei, além de prejudicar e, se possível, apenar os agentes do Estado que tenham investigado e processado seus delitos contra o patrimônio do cidadão.

Quando a entrevista ao El País foi publicada, a primeira lembrança que veio à mente de qualquer brasileiro com mais de 60 anos foi a da frase atribuída a Luiz Carlos Prestes, em 1963, época em que era secretário-geral do Partido Comunista Brasileiro. Sob João Goulart, os comunistas ocupavam cargos importantes no governo federal, mas não se consideravam ainda suficientemente poderosos. A constatação foi expressa pelo “cavaleiro da esperança” (apud Jorge Amado) na sentença: “Estamos no governo, mas ainda não estamos no poder”. O uso da expressão autoritária “tomar o poder” aproxima a frase de Dirceu da de Prestes, que, como os livros de história registram, deu com os burros n’água: um ano depois, os militares derrubaram o governo constitucional de Jango e o PCB, com Prestes, teve de se esconder na clandestinidade.

Hoje, as condições para uma ruptura institucional desse gênero parecem distantes. E o próprio pretendente a profeta o reconhece na entrevista. No entanto, na crítica feita ao MPF, Dirceu foi menos candidato a Cassandra do apocalipse e mais cronista de uma situação que ele, como factótum de Lula no partido e no governo, domina como participante do “acordão” que, sem dúvida, está sendo urdido para influenciar de forma direta a disputa eleitoral de vários cargos poderosos na política, principalmente o mais alto de todos.

Ao site piauiense AZ, Dirceu misturou o trabalho de investigação da polícia e de denúncia do MPF e o comparou aos processos de perseguição aos adversários de Estado e do regime executados pelos órgãos repressivos de ditaduras como as de Adolf Hitler, seu herói Josef Stalin e seu ídolo Fidel Castro. No site 180, também do Piauí governado por um petista, Wellington Dias, ele acionou sua metralhadora giratória contra o STF, do qual disse que um governo petista reduzirá os poderes, mudando até o nome, que passaria de Supremo para “Corte de Justiça”. Nem os amigos protetores escaparam de suas rajadas erráticas.

Na verdade, o Supremo jamais deu permissão ao MPF para conduzir investigações criminais. Os procuradores até pressionam a Corte a reconhecer que quem pode o mais pode o menos, mas a pressão tem sido rechaçada pela PF, e nada de novo foi dado. A militância de Dirceu é contra a delação premiada, incorporada à Justiça brasileira por leis assinadas por FHC e, mais adiante, por Dilma Rousseff. Sem esse instrumento, dificilmente a Lava-Jato e seus filhotes teriam produzido os feitos de que se orgulham e que tanto agradam à sociedade cansada da impunidade.

As críticas tornam-se confissões e o hábil perito dos lances magistrais do PT é equiparado a sua sucessora na chefia da Casa Civil, cuja inabilidade é notória. Como a nota oficial em que Dilma, tentando se defender, confessou sua participação na decisão que levou à compra da onerosa da refinaria da Astra Oil, em Pasadena, que foi considerada sincericídio de rara estultice, as declarações de Dirceu revelam que ele está trilhando a mesma vereda. Seu “sincericídio” preocupa muito a “companheirada”, conforme publicou Vera Magalhães no BR18, pois o PT acha que seu “bucho furado” pode tirar votos de quem não quer Bolsonaro, mas hesita em votar em Luladdad. Aliás, quem, na situação descrita, cair nas torpes fantasias do “guerrilheiro” da Odebrecht não poderá mais dizer que não foi avisado.

Pesquisas de intenção de voto divulgadas nesta semana apontaram claramente que o ritmo de crescimento do alter ego do demiurgo de Garanhuns decaiu, enquanto o de seu oponente de extrema direita subiu, até mesmo no nordeste (tradicional reduto eleitoral do lulopetismo) e entre o eleitorado feminino (onde a rejeição ao capitão é maior). Vejamos o que Merval Pereira tem a nos dizer sobre essa questão:

Há muitas explicações para a subida de Bolsonaro nas pesquisas de opinião, reafirmada ontem pelo Ibope, e são tão variadas que o PT não sabe para onde atirar. O fogo amigo certamente é um deles. O ex-ministro José Dirceu assustou muita gente anunciando que o PT não apenas ganharia a eleição, mas tomaria o poder. Outro ex-ministro poderoso, Antonio Palocci, teve sua delação premiada divulgada, incriminando diretamente os ex-presidentes Lula e Dilma nas falcatruas em que o partido se meteu nos quase 13 anos em que esteve no poder. A confirmação de que Lula era quem organizava a quadrilha, com a participação direta de Dilma, que seria beneficiada pelo financiamento ilegal das campanhas de 2010 e 2014, reforça a imagem de um partido mergulhado na corrupção e aumenta a rejeição de seu principal líder, encarcerado em Curitiba por corrupção e lavagem de dinheiro.

A passeata #Elenão acabou se transformando em uma manifestação política de esquerdistas, e não uma crítica suprapartidária ao candidato Bolsonaro. Tanto que a aprovação dele cresceu entre as mulheres, e nas redes sociais, está explorando situações que aconteceram nas passeatas, como protestos de topless, para criticar as “mulheres esquerdistas” e exaltar as “de direita”, que seriam mais educadas e respeitadoras.

Como o candidato oficial do PT, Luladdad, não existe por si só — e ele mesmo faz questão de demonstrar que quem manda é Lula ao consultá-lo pessoalmente toda semana —, não tem culpa nem pela subida vertiginosa nas pesquisas, nem pelo aumento da rejeição, que o está fazendo empacar neste momento por volta dos 20%. Tanto os votos quanto a rejeição em alta são transferências de Lula, que dá com uma mão e toma com a outra, levando o candidato do PT a estacionar na média histórica que o partido sempre teve quando perdeu as quatro eleições presidenciais. O marco de 25% a 30%, insuficiente para vencer, só ampliado quando Lula foi para o centro, abandonando os radicalismos das propostas partidárias.

Disputas internas no PT sempre existiram, mas eram abafadas pela popularidade de Lula, que controla o partido e dita as linhas mestras das campanhas. Hoje, mais uma vez as diversas correntes estão em confronto (...) e à medida que a fragilidade da estratégia traçada pelo ex-presidente vai sendo revelada e a transferência de votos esbarra na transferência da rejeição, alguns líderes sentem-se em condição de confrontar as orientações de Lula, ou, dizendo obedecê-las, criam situações de constrangimento para Haddad. A presidente do partido, Gleisi Hoffmann, diz que fazer acordos para o segundo turno e amenizar o tom na campanha seria trair o ex-presidente. A cada pesquisa que indica a dianteira de Bolsonaro, o PT se desentende internamente e dá margem ao crescimento dos adversários.

O fato é que os números do Ibope e do Datafolha botaram água no chope da petralhada, a despeito de a revista Veja ter publicado uma extensa matéria de capa sobre o divórcio litigioso de Bolsonaro, e das manifestações com o mote #Elenão ocorridas no domingo passado. Enquanto isso, a transferência de votos do prisioneiro de Curitiba para sua marionete pode ter chegado ao limite.

Bolsonaro declarou que “falta muito pouco” para ele vencer a disputa já no primeiro turno. Conforme os últimos números do Ibope, ele tem 32% do total das intenções de voto na disputa, que passa a 38% considerando apenas os votos válidos — para ganhar no primeiro turno, um candidato deve receber mais da metade dos votos válidos, isto é, descontados os votos brancos e nulos. O segundo colocado é Luladdad, que aparece com 23% da preferência total e 28% dos votos válidos.

A grande dúvida é como os adversários que estão virtualmente fora do páreo vão se comportar. Ciro Gomes vem sendo cada vez mais crítico ao PT e, vez por outra, se despe da estratégia de paz e amor. Marina, que já bebeu do mesmo pote do PT, também vem tentando desconstruir seus ex-aliados e igualá-los à campanha de Bolsonaro. O Centrão, antes trunfo de Alckmin, caminha célere para a dispersão, e a história mostra que, mesmo dispersos, os políticos desse bloco tendem a ser atraídos pelo polo em crescimento maior. A conferir.

E FALANDO EM PESQUISAS:



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quinta-feira, 19 de agosto de 2021

RECORDAR É VIVER

 

"A eleição de Jair Bolsonaro marca a ascensão ao poder de uma direita liberal na economia e conservadora nos costumes, num fenômeno que tem potencial para mudar profundamente o rumo político e social do Brasil pelas próximas décadas", comemorou a Gazeta do Povo em 31 de outubro de 2018.

Já o G1 publicou o seguinte:  "Candidato do PSL derrotou o petista Fernando Haddad no segundo turno, com 55% dos votos, e foi eleito o 38º presidente do Brasil. Capitão reformado do Exército e deputado federal desde 1991, Bolsonaro se elegeu com promessas de reformas liberais na economia e um discurso conservador, contrário à corrupção, ao PT e ao próprio sistema político."

Soando menos empolgado, o Estado de Minas assim se pronunciou: "As declarações controversas do deputado Jair Bolsonaro aos poucos se transformaram de piadas compartilhadas nas redes sociais em ideias defendidas por milhões de apoiadores. Em momento de grave crise política que o país atravessa, o capitão reformado do Exército se tornou porta-voz das insatisfações de grande parte da população."

Na mesma matéria, o especialista em marketing político Gaudêncio Torquato anotou: "Durante a campanha, Bolsonaro e sua equipe fizeram várias ações que deixam claro que ele não tem a intenção de unificar o país. Seu filho falou em fechar o Supremo, e ele falou sobre expurgar adversários políticos. [...] São falas preocupantes, mas Bolsonaro apostou nesse tipo de declaração ao longo de sua carreira política. A população brasileira continuará dividida a partir de 2019. E isso trará dificuldades ao governo de Bolsonaro. Seu maior desafio será conjugar uma política dura de contenção de gastos com o discurso populista de campanha. [...] Como militar, ele defende o nacionalismo e um Estado forte e intervencionista. Mas seu guru econômico, Paulo Guedes, é liberal e quer privatizar as estatais. Até onde poderá ir? Eletrobras? Petrobras? Bolsonaro também garante que reduzirá os ministérios, mas terá que enfrentar a realpolitik, em que os partidos querem abocanhar espaço em troca da governabilidade. Ele promete que não fará uma gestão compartilhada. Como será sua relação com o Congresso? Ou seja, pairam muitas dúvidas sobre nosso futuro."

Já este humilde escriba assim se manifestou (o texto a seguir condensa o conteúdo de três postagens que publiquei entre o final de outubro e o começo de novembro de 2018; para conferi-las na íntegra, selecione o ano e o  mês em questão no campo "Arquivos do Blog"):

Passadas apenas 30 horas da confirmação da vitória do candidato do PSL, seria no mínimo leviano conjecturar como será seu governo e como ele enfrentará os desafios que lhe serão impostos, sobretudo após eleição mais imprevisível, polarizada e conturbada desde a redemocratização. Mas é possível fazer algumas considerações. Isto posto, vamos a elas.

Depois que os militares voltaram para os quartéis e José Sarney assumiu a presidência — devido à morte de Tancredo Neves —, elegemos pelo voto direto Fernando Collor de MelloFernando Henrique CardosoLuiz Inácio Lula da SilvaDilma Vana Rousseff e Jair Messias Bolsonaro.

O pseudo caçador de marajás foi impichado e substituído pelo vice, Itamar Franco; o tucano FHC e os petistas Lula e Dilma se reelegeram, mas gerentona de araque foi impichada em 2016, quando então Michel Temer foi promovido a titular e encarregado de concluir o governo de transição cujas luzes se apagarão (melancolicamente) daqui a dois meses.

Num primeiro momento, o emedebista obteve relativo sucesso na missão, mas foi abatido em seu voo de galinha pela delação de Joesley Batista. Após fazer o diabo para se esquivar de duas denúncias por atos nada republicanos, aquele que almejava entrar para a história como "o cara que recolocou o Brasil nos trilhos do crescimento" será lembrado como o primeiro presidente denunciado no exercício do cargo pela prática de crimes comuns.

Ainda que aos trancos e barrancos — haja vista o mensalão, o petrolão e outros escândalos de rapinagem revelados pela operação Lava-Jato —, sobrevivemos a uma década e meia de lulopetismo. O retirante nordestino que passou de metalúrgico a líder sindical e, 22 anos após fundar o PT, a presidente da República, não só fez oposição sistemática a FHC, mas também lhe atribuiu uma fantasiosa "herança maldita" — na verdade, o caminho para o sucesso da primeira gestão do petralha foi pavimentado pelo governo do tucano, que, de quebra, lhe assegurou popularidade suficiente para eleger o "poste" que manteria aquecida a poltrona presidencial entre 2010 e 2014, quando poderia voltar a ocupá-la.

Hoje, até as emas do Alvorada sabem que os verdadeiros responsáveis pela derrocada brasileira, sobretudo no âmbito da economia, foram Lula, sua incompetente sucessora e a organização criminosa travestida em partido político e conhecida como PT. Mas o momento é de baixar a bola e resgatar a capacidade de lidar com os contrários.

A despeito da cizânia fomentada por Lula e seu "nós contra eles" assumir proporções gigantescas, notadamente depois que os seguidores de Bolsonaro passaram a retribuir a gentileza, não há, no Brasil, nem 50 milhões de "fascistas", nem 47 milhões de "comunistas".  A rigor, nem os votos recebidos pelos candidatos no último domingo são todos deles. Muitos eleitores que votaram no capitão não eram bolsomínions, simpatizantes nem admiradores de suas propostas, mas gente que não queria (e continua não querendo) ver o Brasil governado por um presidiário. Mutatis mutandis, esse raciocínio se aplica ao candidato derrotado, já que uma parcela significativa dos votos que ele recebeu veio de eleitores preocupados com a possibilidade de a vitória do deputado-capitão servir de "passaporte para a volta da ditadura militar". Sem mencionar que a rejeição a ambos atingiu patamares estratosféricos.

Nada disso teria sido necessário se, no primeiro turno, o "esclarecidíssimo" eleitorado tupiniquim tivesse apostado num candidato mais "de centro". Entre aquela trupe de show de horrores havia candidatos como João Amoedo, Henrique Meirelles e Geraldo Alckmin — aliás, o picolé de chuchu seria uma escolha natural, visto que PSDB e PT disputaram todas as finais dos campeonatos presidenciais de 1994 a 2014.

Mas agora é tarde, Inês é morta. Felizmente, no duelo épico entre "o bem e o mal" do último dia 28 (o que um e outro candidato representava dependia dos olhos de quem os visse) venceu o melhor — ou o "menos pior": Haddad na presidência seria Lula no poder e José Dirceu no caixa.

A vitória de Jair Messias Bolsonaro é um fait accompli, em que pesem as cinco ações em que o presidente eleito e o candidato derrotado se acusam mutuamente de abuso de poder econômico na campanha e pedem um a inelegibilidade do outro.

A ministra Rosa Weber, atual presidente do TSE, disse que as investigações têm um período de "instrução probatória" e o corregedor irá perceber necessidade de provas que definirão maior ou menor necessidade de tempo. Em outras palavras, a Corte pode chegar a uma decisão nos próximos dias ou nos próximos anos — basta lembrar que a ação movida pelos tucanos contra a chapa Dilma-Temer, depois da derrota de Aécio em 2014, só foi julgada em junho do ano passado.

Bolsonaro é réu no STF (decisão da 1ª Turma por 4 votos a 1, vencido o ministro Marco Aurélio) pelos crimes de injuria e apologia ao estupro. A ação, que foi aberta em 2016 e está em fase final, investiga o episódio no qual, em 2014 o deputado afirmou (na Câmara e em entrevista ao jornal Zero Hora) que a colega petista Maria do Rosário "não merecia ser estuprada porque era muito feia e não fazia seu ‘tipo’". 

Mais recentemente, outra denúncia contra Bolsonaro (desta vez por crime de racismo) foi submetida ao STF, mas o julgamento de seu recebimento foi suspenso pelo pedido de vista do ministro Alexandre de Moraes, depois que os ministros Marco Aurélio e Luiz Fux votaram pela rejeição e Luís Roberto Barroso e Rosa Weber, pela aceitação.

Segundo a Constituição, "o Presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções". Isso significa que processos anteriores à posse terão sua tramitação suspensa até que o réu deixe o cargo de presidente.

Caso fosse condenado e a decisão transitasse em julgado antes da posse (o que é absolutamente improvável), há duas correntes de entendimento: na primeira, Bolsonaro teria os direitos políticos suspensos, o que impediria a posse; na segunda, crimes definidos em lei como de menor poder ofensivo (injúria, difamação, apologia ao crime etc.) não se enquadram no disposto pela Lei da Ficha-Limpa e, portanto, não acarretariam inelegibilidade. Mas parece ser unânime o entendimento de que "pelo bem da estabilidade política, o presidente eleito não deverá ser condenado antes da posse", e depois que ele assumir, o processo será suspenso.

Declarações polêmicas são a marca registrada de Bolsonaro, que, a exemplo de Ciro Gomes, não tem papas na língua e diz o que pensa antes de pensar no que vai dizer. Diz um ditado que "peixe morre pela boca", mas foi justamente essa postura, digamos, intempestiva, que conquistou dezenas de milhões de votos.

Já o PT usa a estratégia da vitimização. Ultimamente, isso tem funcionado apenas com a patuleia, que dada sua fidelidade canina a Lula e ao partido, não precisa ser convencida de nada.

Picuinhas à parte, a vitória de Bolsonaro reacendeu nossa esperança. Há uma luz no fim do túnel que, pela primeira vez em anos, parece não vir do farol da locomotiva. Claro que o presidente eleito terá um trabalho monstruoso pela frente, e será cobrado "por ter cachorro e por não ter". Um prenúncio dessa oposição ferrenha é a repercussão do convite feito a Sérgio Moro para a "superpasta da Justiça". Como se sabe, a facção esquerdopata pode não prestar como governo, mas é habilíssima como oposição, e certamente criticará tudo que Bolsonaro fizer, e pintará com as cores da aleivosia cada frase que ele disser.

Tudo somado e subtraído, importa, agora, resgatar a capacidade de lidar com os contrários, pois bolsonaristas, petistas, direitistas e esquerdistas são todos brasileiros. E cabe ao presidente eleito governar para todos os brasileiros.

Torçamos, pois, pelo melhor, e façamos votos de que Bolsonaro esteja à altura do desafio — que inclui uma economia em frangalhos, uma recessão cruel e um nível de desemprego em patamares indecentes (problemas que o PT e seus satélites atribuem candidamente a Michel Temer, mas que foram gestados e paridos no governo Dilma, de quem Temer foi vice de 1º de janeiro de 2011 até o momento em que a titular foi penabundada e ele assumiu o posto).

***

Faltam 14 meses para as próximas eleições gerais. Lamentavelmente, a menos que o imprevisto tenha voto decisivo na assembleia dos acontecimentos, teremos um repeteco da situação tenebrosa que nos foi imposta, nas eleições passadas, pela polarização, pela cizânia, pelo negacionismo e pela mais absoluta falta de bom senso  Se o pleito presidencial de 2018 foi um "plebiscito" (no qual o povo repudiou o lulopetismo corrupto), o de 2022 tem tudo para ser um “dilema atroz”. 

A menos que surja alguém capaz de unir os “nem-nem” (nem Lula, nem Bolsonaro), assistiremos impotentes a outro embate entre o lulopetismo corrupto e o bolsonarismo boçal — e sairemos perdendo, independentemente de quem vencer a eleição.

É fundamental (e urgente) refletir sobre tudo isso. Quem não mira o futuro está fadado a viver eternamente a repetição do seu passado.

terça-feira, 30 de outubro de 2018

AINDA SOBRE A VITÓRIA DE BOLSONARO E O FUTURO DO BRASIL



Menos de trinta horas após Bolsonaro ter sido eleito presidente, seria no mínimo leviano conjecturar como será seu governo e como ele enfrentará os desafios que lhe serão impostos, sobretudo por esta eleição sido a mais imprevisível, polarizada e conturbada da assim chamada “Nova República”. Voltaremos a essa questão mais adiante, depois que a poeira baixar. Até lá, seguem algumas considerações que eu reputo importantes. 

Depois que os militares voltaram para os quartéis e José Sarney assumiu a presidência devido à morte de Tancredo Neves, elegemos pelo voto direto Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Vana Rousseff e Jair Messias Bolsonaro. O pseudo caçador de marajás foi impichado e substituído por seu vice, Itamar Franco; o tucano FHC e os petistas Lula e Dilma se reelegeram, mas a anta sacripanta foi impichada em 2016, quando então Michel Temer foi promovido a titular e encarregado de concluir o governo de transição cujas luzes se apagarão (melancolicamente) daqui a dois meses.

Num primeiro momento, o emedebista teve relativo sucesso na missão, mas foi abatido em seu voo de galinha pela delação de Joesley Batista, E após fazer o diabo para se esquivar de duas denúncias por atos nada republicanos, aquele que almejava entrar para a história como “o cara que recolocou o Brasil nos trilhos do crescimento” será lembrado como o primeiro presidente denunciado no exercício do cargo pela prática de crimes comuns.

Ainda que aos trancos e barrancos — haja vista o mensalão, o petrolão e outros escândalos de rapinagem revelados pela operação Lava-Jato —, sobrevivemos a uma década e meia de lulopetismo. O sumo pontífice dessa seita do inferno, que passou de retirante nordestino a torneiro mecânico, daí a líder sindical e, 22 anos depois de ter fundado o PT, a presidente da República, não só fez oposição sistemática a FHC, mas também lhe atribuiu, depois depois de suceder-lhe na Presidência, uma fantasiosa “herança maldita”. Na verdade, o caminho para o sucesso da primeira gestão do petralha foi pavimentado pelo governo do tucano, que, de quebra, lhe assegurou popularidade suficiente para eleger o “poste” que manteria aquecida a poltrona presidencial entre 2010 e 2014, quando ele tencionava voltar a ocupá-la.

Mas não há nada como o tempo para passar, e hoje é público e notório — menos para os seguidores incondicionais da petralhada, naturalmente — que os verdadeiros responsáveis pela derrocada brasileira, sobretudo no âmbito da economia, foram Lula, sua incompetente sucessora e a organização criminosa travestida em partido político e conhecida como PT.

Para encerrar este texto — ou interromper, uma vez que tenciono retomá-lo na próxima postagem —, cumpre ponderar que o momento é de baixar a bola e resgatar a capacidade de lidar com os contrários. A despeito da cizânia fomentada por Lula com seu “nós contra eles” ter assumido proporções gigantescas, notadamente depois que os seguidores de Bolsonaro passaram a retribuir a gentileza na mesma moeda, não há no Brasil nem 50 milhões de “fascistas”, nem 47 milhões de “comunistas”.  A rigor, nem os votos recebidos pelos candidatos no último domingo são todos deles, pois muita gente votou no capitão para impedir a volta do PT e outros tantos votaram no PT para “impedir a volta da ditadura militar”. Sem mencionar que a rejeição a ambos atingiu patamares estratosféricos.

O que importa agora, salvo melhor juízo, é resgatar a capacidade de lidar com os contrários, pois bolsonaristas, petistas, direitistas e esquerdistas são todos brasileiros. E cabe ao presidente eleito governar para todos os brasileiros.

sábado, 3 de junho de 2017

O CÚMULO DOS CÚMULOS

SE DESEJOS FOSSEM CAVALOS, MENDIGOS CAVALGARIAM.

Em 2005, para escapar do Mensalão, Lula entregou Dirceu. No ano seguinte, para tirar o seu da reta do Escândalo dos Aloprados, entregou as cabeças que pode, inclusive as do ex-ministro Antonio Palocci e do coordenador de sua campanha à reeleição, Ricardo Berzoini. Não espanta, portanto, que o molusco indigesto tenha entregado a ex-primeira-dama no depoimento ao juiz Moro (para assistir à gravação das mais de 4 horas de depoimento, clique aqui). Mesmo porque, tendo falecido em fevereiro passado, sua companheira e cúmplice por mais de 40 anos ― e corré naquele processo ― já não poderia contradizê-lo. De resto, como sempre fez e faz, Lula negou o pode negar, reconheceu o que não tinha como negar e tocou o velho e arranhado disco do “não sei, não me lembro, nunca vi nem ouvi falar”.

De migrante nordestino pobre e analfabeto, o molusco passou a metalúrgico, perdeu o dedinho num “acidente de trabalho” pra lá de suspeito, entrou para a política, fundou o PT, disputou (e perdeu para Franco Montoro) o governo do Estado de São Paulo, elegeu-se deputado federal, foi derrotado por Collor na eleição presidencial de 1989 e por FHC em 1994 e 1998, elegeu-se em 2002, reelegeu-se em 2006, fez sua sucessora em 2010 e deixou o Planalto com a popularidade nas nuvens (mal sabia ele que Dilma afundaria o Brasil na maior crise da sua história e seria impichada antes de completar o segundo ano de sua segunda e ainda mais desastrosa gestão).

Lula está prestes a se tornar réu pela sexta vez. Além de dois processos em que é acusado de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, que tramitam na 13ª Vara Federal de Curitiba, ele responde a mais três ações penais ― por obstrução de Justiça, organização criminosa, lavagem de dinheiro, corrupção passiva e tráfico de influência ― na Justiça Federal do DF. Mesmo assim, o mentecapto ainda tem o desplante de dizer que a Lava-Jato é uma palhaçada.

Durante o Congresso do PT, sua insolência vociferou que “está na hora de parar de palhaçada”, que “o país não aguenta mais viver nessa situação, nesse achincalhamento”. E atacou também Joesley Batista: “um canalha de um empresário diz que fez uma conta no exterior para mim e para Dilma, mas a conta está no nome dele e ele que mexe na grana”. Quem mexia na grana ― e Lula sabe muito bem disso ― era Guido Mantega. E os extratos bancários vão mostrar exatamente quando ele mexia e de que maneira.

E o cara ainda quer votar a ser presidente. Só se for Presidente Bernardes!

Para fechar com chave de ouro, assistam ao vídeo a seguir. São pouco mais de 3 minutos sobre os avanços de um processo em que o ex-presidente e o filho serão ouvidos pela Justiça Federal do DF. Demais disso, dentre do mais algumas semanas os autos da ação em que o petralha depôs em Curitiba, no dia 10 do mês passado, estarão conclusos para sentença. Quem sabe se o juiz Sérgio Moro julga o sacripanta ainda neste mês, alegrando nossas festas juninas (que têm por atração especial as "QUADRILHAS".  



Confira minhas atualizações diárias sobre política em www.cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/

segunda-feira, 26 de junho de 2017

NASA DISPONIBILIZA NA WEB MAIS DE 140 MIL IMAGENS DO ESPAÇO

SÁBIO É O HOMEM QUE CHEGA A TER CONSCIÊNCIA DA SUA IGNORÂNCIA.

O acervo completo da NASA ― fotos, vídeos e até arquivos de áudio que a agência espacial norte-americana reúne desde 1920 ― foi pré-selecionado em cerca de 60 coleções e disponibilizado num site específico.

Como o material é de domínio público, você tanto pode admirar as imagens como baixar como baixá-las para usar como plano de fundo no seu PC ou smartphone, por exemplo, ou plotar e fazer pôsteres, ou até mesmo usar como papel de parede no seu quarto ou estúdio. Afinal, o céu é o limite (literalmente).

A propósito: A foto que ilustra esta postagem é de Júpiter, o maior planeta do nosso sistema solar.

SÓ MUDAM AS MOSCAS...

Segundo o Datafolha, apenas 7% da população considera o governo Temer ótimo ou bom. Trata-se da menor marca registrada em 28 anos; pior, mesmo, só o governo Sarney (coincidência ou não, também do PMDB), que cravou 5% em setembro de 1989, em plena crise da hiperinflação. Mas isso não chega a surpreender, pois o presidente que ambicionava deixar o Planalto como “o cara que recolocou o país nos trilhos do crescimento” é visto agora como “o chefe da quadrilha mais perigosa do Brasil” (a propósito, vale a pena conferir a entrevista exclusiva de Joesley Batista à revista Época, que se estendeu por 12 páginas na edição impressa nº 991).

Jamais simpatizei com Michel Temer ou acreditei que ele fosse a quintessência da integridade. Primeiro, porque política e honestidade são coisas mutuamente excludentes; segundo, porque seria muita ingenuidade esperar probidade de alguém que presidiu o PMDB por 15 anos e foi vice da anta vermelha por outros 5. No entanto, é-me impossível negar que o país melhorou com a saída da gerentona de araque e que a monumental crise resultante dos 13 anos e fumaça de governos lulopetistas só começou a ser debelada depois que Temer assumiu o timão da Nau dos Insensatos. E torno a enfatizar que essa história de lhe atribuir a culpa pelos 14 milhões de desempregados e demais males que assolam o Brasil é conversa mole para engabelar idiotas úteis à causa petista.

Todos são inocentes até prova em contrário, e Temer merece o benefício da dúvida. A questão é saber até onde vai esse benefício, pois seu nome foi suscitado diversas vezes por outros delatores, embora nenhum pedido de investigação tivesse sido feito até então, porque um presidente da República só pode ser investigado por fatos ocorridos durante o mandato. Por isso, Temer só se tornou alvo de inquérito após a delação de Joesley Batista, mas pelo menos outros oito colaboradores já o haviam envolvido em casos investigados na Lava-Jato, sem contar os lobistas Júlio Camargo e Fernando Baiano, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e o senador cassado Delcídio do Amaral. Os relatos o retratam como um intermediador de repasses a campanhas do PMDB, incluindo a dele próprio em 2014, e como padrinho de dirigentes da Petrobras presos e condenados por corrupção. Demais disso, em depoimento à PF no último dia 14, o operador Lúcio Bologna Funaro relatou que o presidente sabia do esquema de propina na área de internacional da estatal e que atuou na arrecadação de cerca de 100 milhões de reais para campanhas do PMDB em 2010, 2012 e 2014. Logo no início do interrogatório, Funaro fez questão de manifestar “sua inteira disposição em celebrar acordo de colaboração”, e apresentou o cardápio do banquete que servirá ao MPF, caso prosperarem as tratativas de colaboração premiada. Na oportunidade, ele adiantou detalhes sobre como o presidente “pediu ou orientou comissões expressivas” para a campanha de Gabriel Chalita à prefeitura de São Paulo, em 2012, e para sua própria à vice-presidência, em 2014. Outro candidato a delator que tira o sono do presidente é o ex-deputado Eduardo Cunha, que já foi condenado a 15 de reclusão e está preso desde novembro de 2016 em Curitiba.

Procedentes ou não as acusações de Joesley Batista, o simples fato de o empresário ter sido recebido nos “porões do Jaburu”, tarde da noite, sob um nome falso (Rodrigo), desfiado uma fieira de crimes cabeludos e, em vez de receber voz de prisão, ter sido até mesmo estimulado por Temer com “ótimo, ótimo” e “tem de manter isso, viu”, como se ouve nos arquivos de áudio que a Polícia Federal periciou e cuja legitimidade atestou na semana passada, desmontando a versão do perito contratado pela defesa do presidente para desacreditar o valor probatório das gravações. Mas não é só: espelhando-se no comportamento nefasto de seus predecessores, Temer, como Dilma, agarra-se com unhas e dentes à cadeira presidencial (feita pela NASA a pedido de Lula), e, como Lula, mente descaradamente para tentar justificar o injustificável. Sua excelência levou quase 24 horas para se pronunciar à nação sobre o furo jornalístico de Lauro Jardim, publicado em O Globo, e, até onde se sabe, teria considerado seriamente a possibilidade de renunciar, mas acabou demovido por ministros e puxa-sacos de plantão, que, com a renúncia do chefe, perderiam seus cargos e o direito ao foro privilegiado.

Em seu pronunciamento, Temer afirmou que a investigação pedida pelo Supremo seria o território onde surgiriam todas as explicações. Mas não uniu a ação ao pensamento, pois o que tem feito desde então é trocar cargos e verbas pelo apoio dos deputados, já que precisa de pelo menos 171 parlamentares voltando a seu favor para barrar na Câmara o processo cuja instauração Janot deve formalizar ainda esta semana. Nada muito diferente, portanto, do que Lula tentou fazer durante o processo de impeachment de sua deplorável sucessora, o que me levou ao título desta postagem.

A reprovação de Temer é comparável à de Dilma em agosto de 2015, quando ela contabilizava 71% de ruim ou péssimo. No histórico do Datafolha, além de Sarney, apenas Collor obteve índices tão negativos (em setembro de 1992, ao sofrer impeachment). Não só por isso, mas também por isso, o chefe do Executivo já não tem mais condições de governar. Ademais, sua atenção está focada na defesa do próprio rabo ― o que é compreensível, conquanto inadmissível. Para piorar, se a renúncia não é uma opção (pelo menos por enquanto), a chance de cassar a chapa Dilma-Temer foi desperdiçada ― por obra e graça do ministro Gilmar Mendes e seus acólitos no TSE. E como os pedidos de impeachment vêm sendo sistematicamente engavetados pelo presidente da Câmara, resta-nos o STF ― que, para o desgosto do ministro falastrão, manteve Fachin na relatoria dos processos oriundos da JBS e avalizou o próprio acordo de colaboração, deixando claro que não é “um puxadinho” do TSE sob a presidência de Mendes, para quem o amigo Michel Temer deve continuar no cargo porque as provas contra a chapa vencedora, embora reais e concretas, não são válidas (como bem disse J.R. Guzzo, elas valem, mas na hora em que foram apresentadas não estavam mais valendo, pois apenas nossos cientistas jurídicos sabem que uma banana, hoje, pode ser uma laranja amanhã).

Não deixa de ser natural que esse imbróglio propicie que segmentos da imprensa (e não estou falando somente nos sites-mortadela, bancados pela esquerda para espalhar as asnices de costume) alardeiem um conluio entre Janot e Fachin para derrubar o governo e/ou defendam eleições diretas já ― ao arrepio da Constituição, e que só interessariam a Lula ou a outro aproveitador que se apresente como o salvador da pátria (já vimos esse filme mais de uma vez). Temer nega todas as acusações, mas a “alma viva mais honesta do Brasil” não faz o mesmo em relação ao tríplex no Guarujá e ao sítio em Atibaia? E sua abjeta pupila ― que era vista “apenas” como incompetente até uma cachoeira de testemunhos dar conta de que ela tinha pleno conhecimento do uso de dinheiro roubado no financiamento de sua campanha ― não continua rosnando em dilmês, portunhol e até em francês de galinheiro o seu batido ramerrão de honestidade à toda prova?

Como se vê, a merda é sempre a mesma, o que muda são as moscas. Mas um dia, quem sabe...

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segunda-feira, 22 de novembro de 2021

DIVIDIR PARA NÃO CONQUISTAR

 

"Dividir para conquistar" é uma estratégia (utilizada por Júlio César, Felipe da Macedônia e Napoleão Bonaparte, entre outros) que consiste em fragmentar as forças inimigas para então derrotá-las. No Brasil contemporâneo, esse precioso ensinamento vem sendo desprezado pela assim chamada "terceira via", que parece incapaz (pelo menos até o presente momento) de se unir em torno de um nome que possa despachar para o quinto dos infernos as ambições da desprezível parelha Lula/Bolsonaro.

O PSDB ficou de ir "às urnas" neste domingo (o fato de eu ter escrito esta postagem na manhã ontem explica o tempo verbal) para decidir se será João Doria, Eduardo Leite ou Arthur Virgílio o tucano que pegará em lanças para derrotar a execrável dupla retromencionada. Para piorar, nada garante que os derrotados apoiarão o vencedor, e um racha no partido dificultará ainda mais a missão do emplumado que vencer disputa interna.

Os govenadores de SP e do RS se digladiaram numa campanha acirrada e com alguns ensaios de golpes abaixo da cintura, ao passo que o ex-senador, ex-prefeito de Manaus figurou como azarão — só o ego inflado e o fato de ser um dos caciques da sigla explicam sua participação na disputa. Com orçamento estimado em quase R$ 5 milhões — financiado pelo partido com recursos do Fundo Partidário (dinheiro público, em última análise) — essas avis rara percorreram todos os Estados em busca de apoio dos eleitores (pessoas que se filiaram ao PSDB até maio deste ano e se cadastraram para a votação até o último dia 15). Doria e Leite recorreram também a disparos em massa de mensagens.

ATUALIZAÇÃO: Problemas de instabilidade no aplicativo levaram o PSDB a suspender a votação eletrônica. Ainda não foi definida uma nova data para reabertura do processo para que todos os filiados que não puderam votar no pleito de ontem possam fazê-lo oportunamente. Para o grupo de Doria, o ideal seria abandonar de vez o aplicativo e ampliar o uso das urnas eletrônicas (cedidas pela Justiça Eleitoral e instaladas em Brasília, neste domingo, para as demais capitais e cidades com, no mínimo, 200 mil habitantes. Aliados de Leite, por sua vez, pregam usar cédulas de papel. Como se vê, tomar decisões é um grave problema para o tucanato. Sempre que houver mais de um banheiro no imóvel, tucano que é tucano mija no corredor!

Segundo a revista Veja, é a primeira vez que um partido faz prévias nacionais para a escolha do candidato. Tradicionalmente, as legendas escolhem a chapa por aclamação, em uma decisão dos presidentes e demais dirigentes de cada sigla. O PSDB, sempre em cima do muro (dizem que os tucanos são tão indecisos que mijam no corredor casa haja mais de um banheiro na casa) optou por um modelo em que todos os filiados puderam se inscrever para a votação, mas com votos tendo um peso diferente na apuração final. A adesão foi baixa: dos mais de 1,3 milhão de filiadas, apenas 39 mil fizeram o cadastramento.

E inegável que a disputa interna exacerbe as divergências pré-existentes na sigla, mas espera-se que os postulantes preteridos ponham de lado suas diferenças e apoiem o vencedor em prol do objetivo em comum, que é derrotar o verdugo do Planalto ou o pontífice da seita do inferno. Comenta-se à boca pequena que Leite e Virgílio são mais maleáveis do que Doria, que não abrirá mão de disputar a Presidência.

Oficialmente, o circo eleitoral começa em 16 de agosto do ano que vem, dez dias antes do purgativo "horário político gratuito" no rádio e na tv — gratuito no nome, pois quem paga a fatura desse anacronismo somos nós. Bolsonaro e Lula estão em campanha desde sempre. O capetão-cloroquina — que prometeu acabar com o instituto da reeleição e afirmou que não nasceu para ser presidente, mas, sim, para ser militar — fez da reeleição seu projeto de governo (ou de poder, melhor dizendo; governar que é bom, néris de pitibiriba). Já o ex-presidiário de Curitiba pulou do xilindró para o palanque, na certeza de que a suprema banda podre lavaria sua ficha imunda e transformá-lo-ia em "ex-corrupto", permitindo-lhe dispensar o bonifrate em 2022.

Não se sabe ao certo quantos serão os candidatos à Presidência no ano que vem, mas sabe-se que o único sem partido é o atual inquilino do Planalto. Nossa legislação eleitoral veda candidaturas avulsas, mas não faltam siglas para todos os gostos (são 33 partidos registrados no TSE e mais de 70 em "fase de formação").

Devido a de$entendimento$ com o laranjal de Luciano Bivar, Bolsonaro deixou o PSL em novembro de 2019 e vem buscando desde então um partido para chamar de seu. Depois que o "Aliança pelo Brasil" foi para a cucuia, o capitão passou a buscar uma quadrilha, digo, uma agremiação que o aceite e lhe dê a chave do cofre. O senador Flávio Rachadinha, príncipe herdeiro do sultão do bananistão, e que já passou pelo PP (duas vezes), PFL, PSC, PSL e Republicanos, migrou para o Patriota em maio com o objetivo de organizar a mudança do papai — que acabou não acontecendo.

Bolsonaro já arrastou a asa para o PP do senador Ciro Nogueira e do deputado-réu Arthur Lira e flertou com o Republicanos, sempre com Valdemar Costa Neto, babalorixá do PL, atuando nos bastidores. Ao final, o charme do mensaleiro e ex-presidiário conquistou seu coração, mas a troca de gentilizas ocorrida durante o feriadão da proclamação da República — com direito a "vá pra puta que pariu" e "vá tomar no cu, você e seus filhos" (gente fina é outra coisa) — resultou na suspensão do enlace.

Tudo indica que o casamento ocorrerá de um jeito ou de outro. Segundo o Messias que não miracula, suas chances de ingressar no PL eram de 99,9%. Trata-se não de uma paixão avassaladora, mas de simples pragmatismo: o noivo precisa formalizar a união para "governar" até 2022 e, eventualmente, evitar a cadeia, e portanto deve engolir o xingamento e aceitar as puladas de cerca de Valdemar com Lula — desde que, para manter as aparências, seu consorte evite traí-lo em público.

O affair de Bolsonaro com o Centrão soa como uma velha canção aos nosso ouvidos. Desde que foi expelido do quartel, em 1987, o capitão insurreto perambulou por oito legendas, todas de aluguel. Meses atrás, deu a chave do reino ao senador pepista Ciro Nogueira — que foi nomeado ministro-chefe da Casa Civil — e colocou o próprio destino nas mãos do também pepista deputado Artur Lira — o réu que preside a Câmara e mantém trancados a sete chaves cerca de 140 pedidos de impeachment. Assim, a intenção de se amancebar com a agremiação do mensaleiro e ex-presidiário Costa Neto um dos expoentes do Centrão, com atuação fisiológica ao longo de vários governos — não causa estranheza; pelo contrário: sua alteza irreal deve se sentir em casa entre as marafonas do PL

Com a terceira maior bancada da Câmara, o partido do ex-desafeto (a quem Bolsonaro chamou de corrupto e presidiário durante a campanha de 2018) abocanha fatias consideráveis de fundo eleitoral e tempo de TV, bem como tem razoável capilaridade: em 2020, elegeu 345 prefeitos, ficando em 6° lugar no ranking das legendas que mais elegeram representantes nas prefeituras. Assim, tudo leva a crer que o adiamento do “casamento” não passou de mero acidente de percurso.

Na última quarta-feira, Costa Neto "recebeu carta branca" de seus cupinchas para negociar a devolução do anel de noivado ao dedo do nubente. O problema (ou um dos problemas) é que o ingresso do capetão no partido impedirá (ou pelo menos dificultará) que lideranças do PL apoiem adversários do governo nas próximas eleições, e alguns caciques da sigla são unha-e-carne com Lula e administrações petistas no nordeste.

A récua de muares descerebrados que por alguma razão ainda levam fé na lisura do "mito" podem achar constrangedor ver seu amado líder dividindo espaço na legenda com notórios investigados e suspeitos de envolvimento em escândalos — como o próprio cacique da tribo, que foi condenado e preso no mensalão. Mas Bolsonaro sempre foi adepto das práticas da baixa política e amigo de milicianos. E ainda que assim não fosse, o que é um peido para quem está cagado? Noves fora os inquéritos a que o mandatário de fancaria responde (e que já o teriam apeado do cargo se esta banânia fosse um país sério), quatro de seus cinco filhos (a exceção é a caçula, que tem apenas 11 anos) são alvo de investigações.

A filiação ao PL não será um seguro contra traições, já que o partido sempre se notabilizou pela atuação fisiológica no Congresso e por gravitar no entorno de quem tem mais chances de vencer eleições. Suas carpideiras acompanham o caixão até a beira da cova, mas não pulam dentro dela junto com o defunto. Se Costa Netto resolver não lançar candidato próprio à Presidência no ano que vem, e essa decisão for tomada a partir de abril, quando o prazo de filiação partidária já tiver expirado, o verdugo do Planalto estará fora do pleito.

Receber Bolsonaro interessa ao mensaleiro porque anaboliza as chances do partido de aumentar a bancada no Congresso — que conta atualmente com 43 deputados e 4 senadores. O tamanho da bancada na Câmara é determinante na distribuição dos recursos dos fundos eleitoral e partidário, e se a escumalha que segue o capetão acompanhá-lo na mudança de sigla, Costa Neto será o morubixaba de uma das maiores tribos da nação tupiniquim. Mas é bom lembrar que, se Bolsonaro for derrotado nas urnas — possibilidade que se torna mais provável a cada dia —, o poder de negociação do partido com o futuro inquilino do Planalto ficará fragilizado.

Eleições presidenciais no Brasil costumam guardar semelhanças com os pleitos anteriores, mas, paradoxalmente, são as diferenças que acabam pautando os resultados. Para além disso, o imprevisto sempre pode ter voto decisivo na assembleia dos acontecimentos. Cito como exemplo a facada que o então candidato do PSL à Presidência levou em Juiz de Fora, a um mês do primeiro turno do pleito de 2018. Não fosse esse lamentável incidente, Bolsonaro não teria escapado de ser feito picadinho pela grandiloquência de Ciro Gomes nos debates televisivos (pode-se simpatizar ou não com o cearense de Pindamonhangaba, mas jamais menosprezar sua oratória.

Segundo o cientista político Murillo de Aragão, desde a volta das eleições diretas que algum grande tema vem prevalecendo, ora vindo do establishment político, ora como uma surpresa. Collor e Bolsonaro, ainda que solidamente incrustados no sistema, surgiram como surpresas para o eleitorado. FHC se viabilizou com o sucesso do Plano Real e foi eleito em 1994 e 1998, ambas as vezes no primeiro turno, graças ao poder que conquistou com o desempenho econômico e a fragilidade da narrativa de Lula, então seu maior adversário.

Em 2002, o picareta dos picaretas se firmou como “surpresa”, mesmo tendo mais de vinte anos de vida pública, e se elegeu na esteira dos equívocos dos barões do Tucanistão e de sua maneira desgastada de fazer política. A era lulopetista se estendeu por mais de 13 anos graças a uma combinação de fatores — entre os quais o desempenho econômico, que então avançava por águas mansas, com as velas enfunadas pelos ventos benfazejos soporados do exterior — que dificilmente se repetirá no médio prazo.

O capital político acumulado pelo petralha lhe assegurou a reeleição em 2006, a despeito do mensalão, e a eleição de sua nefasta sucessora em 2010 e 2014, a despeito da notável incompetência da desinfeliz. Mas então Bolsonaro surgiu do nada, como um rebento bastardo da Lava-Jato e da "descorrupção" que a força-tarefa de Curitiba produziu no establishment político. E a adesão do juiz Sergio Moro à campanha fez com que uma parcela considerável dos brasileiros apoiasse o "mito" — que, como não tardariam a descobrir, tinha pés de barro, calcanhares de vidro e culpa no cartório.

A incompatibilidade chapada entre bolsonarismo e o lavajatismo favorece o ex-presidiário convertido a "ex-corrupto", mas diz um velho ditado que toda araruta tem seu dia de mingau. As denúncias de corrupção endêmica que marcaram as gestões petistas certamente voltarão à baila durante a campanha, e poderão atrapalhar os planos do demiurgo eneadáctilo.

Como dito, todos os pleitos presidenciais desde a redemocratização foram abrilhantados por algum evento inesperado, que acabou afetando as campanhas. A pergunta que se coloca é: o que nos reserva a próxima eleição? The answer, my friend, is blowing in the wind. Mas isso não nos impede de fazer algumas conjecturas.

Até onde a vista alcança, o que se vislumbra é um "trisal" formado pela conjuntura econômica, pela pandemia e pelos índices de rejeição (repulsa?) aos dois primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto, mas a questão do combate à corrução poderá ser relevante para certos setores do eleitorado, podendo converter esse trisal num "ménage a quatre".

A economia estará atrelada ao consumo, renda, retomada das atividades e comportamento da inflação; a pandemia terá seu papel reforçado pelos "equívocos" do governo e o espantoso número cadáveres — potencializado pelo negacionismo de um mandatário psicopata.

Um cálculo mostra que, para cada vítima do vírus maldito (falo do SARS-CoV-2, não do negacionista), pelo menos 100 pessoas são afetadas emocionalmente, o que perfaz mais de 60 milhões de eleitores passíveis de ser influenciados por essa tragédia na hora de votar, ainda que a vacinação continue avançando e o número de mortes diminuindo.

A julgar pelas pesquisas, a substantiva rejeição reduziria a pó as chances de o atual inquilino do Planalto ter o contrato renovado, mas há que levar em conta que no Brasil até o passado é incerto. Por enquanto, o sumo pontífice da seita do inferno é beneficiado pelo recall positivo, mas, quando a campanha esquentar, todos os equívocos e as denúncias que marcaram as gestões do PT aflorarão como a merda que transborda de uma privada entupida quando um incauto aciona a descarga.

Ao fim e ao cabo, os três temas poderão servir de ponte para que um candidato alternativo transite com sucesso em meio à polarização, sobretudo se ele trouxer uma boa abordagem para o quarto tópico: o combate à corrupção. O que nos leva a Sergio Moro, cuja pré-candidatura já foi objeto de postagens recentes e voltará a sê-lo em meus próximos textos, já que este se estendeu mais do que eu pretendia.

terça-feira, 9 de outubro de 2018

FALTAM 19 DIAS PARA O SEGUNDO TURNO — E AGORA, JOSÉ?



Devido à morte de Tancredo Neves, o maranhense José Ribamar Ferreira de Araújo Costa, mais conhecido como José Sarney, presidiu o Brasil de 22 de abril de 1985 a 15 de março de 1990, tornando-se o primeiro presidente civil pós-ditadura. 

Sarney foi sucedido pelo Caçador de Marajás de araque, que venceu o demiurgo de Garanhuns no segundo turno do pleito de 1989 e sagrou-se o primeiro presidente eleito pelo voto popular desde Jânio Quadros (em 1960). Foi durante seu governo — de Sarney, não de Collor — que a “Constituição Cidadã” (sobre a qual falarei mais adiante) foi promulgada. 

Foi somente em 1997, com as bênçãos do então presidente Fernando Henrique, que nossa Carta Magna deixou de proibir o chefe do Executivo e respectivo vice de disputar a reeleição para mandatos consecutivos (mandatos não consecutivos não são considerados como reeleição, daí porque Lula, de olho nas eleições de 2014, fez Dilma sua sucessora em 2010, mas a anta pegou gosto pelo poder e a mula caiu do jegue). Aprovada a emenda da reeleição, FHC tornou a vencer Lula no primeiro turno, em 1998, e conquistou seu ambicionado segundo mandato (durante o qual fez um governo de merda, mas isso é outra conversa). 

Importa dizer é que devemos ao grão-tucano a situação em que nos encontramos atualmente. Se a ideia era copiar a Constituição norte-americana, que copiassem direito: segundo a 22ª Emenda (Amendment XXII, no original em inglês), aprovada pelo Congresso dos EUA em 1947 e ratificada em 1951, nenhuma pessoa poderá ser eleita mais de duas vezes para o cargo de presidente. Nesses termos, Lula, que esgoto os dois mandatos a que tinha direito, poderia gozar alegremente sua estada na carceragem da PF em Curitiba (ou no Complexo Médico-Penal de Pinhais, ou em outro presídio qualquer) sem se preocupar com questões inerentes à sucessão presidencial.

Costuma haver diferenças entre como as coisas são e como deveriam ser. É por isso que teremos de amargar mais três longas semanas — com direito à volta dos debates e do horário político obrigatório — até que, se não houver surpresas e Bolsonaro mantiver a liderança, o esbirro do criminoso de Garanhuns seja devidamente despachado para o buraco de onde jamais deveria ter saído. 

Entrementes, divirtamo-nos com as pesquisas. Aliás, chegou a ser hilária (para não dizer irritante) a insistência dos âncoras da Globo (e de outras emissoras que acompanharam em tempo real a apuração dos votos) em exibir o percentual de votos de Amoedo, Boulos, Daciolo, Eymael, Vera Lucia e companhia, quando o que interessava mesmo era a possibilidade de o candidato do PSL liquidar a fatura já no primeiro turno (e faltou bem pouco!).

Sobre Bolsonaro, segue trecho de uma postagem publicada ontem no Blog do Gabeira:

Não é uma simples segunda-feira de primavera. Neste momento, já se sabe quem venceu o primeiro turno das eleições e mais ainda: como se compõe o novo Congresso. [...] Imagino que comece hoje uma discussão sobre as causas que levaram Bolsonaro a vencer o primeiro turno. E também a ampla distribuição de culpa entre seus adversários. [...] Bolsonaro foi o deputado mais votado no Rio, em 2014. Ele teve 464 mil votos, cerca de 6% do total, um feito extraordinário em eleições proporcionais. Naquele momento, ele já estava em ascensão batendo, principalmente, em duas teclas: corrupção e segurança pública. Sua proposta em segurança tem uma vantagem sobre todas as outras. Reconhece a limitação do Estado e envolve o indivíduo, que teria sua própria arma. [...] Ainda vou escrever muito sobre Bolsonaro, inclusive sobre os 16 anos em que estivemos juntos em algumas comissões da Câmara, divergindo nos costumes e concordando na denúncia da corrupção. A grande dificuldade com Bolsonaro é que, essencialmente, é anticomunista e tende a combater todas as lutas lideradas pela esquerda, como se tivessem sido inventadas por ela. Ele tem dificuldade em distinguir direitos humanos e exploração ideológica, movimento das mulheres das visões radicais, meio ambiente e ameaça à propriedade privada e, no caso amazônico, cobiça internacional. [...] Pessoalmente, sempre conversei com Bolsonaro ao longo de 16 anos. Nos seus primeiros discursos na Câmara, ele pedia minha prisão porque eu era um sequestrador do embaixador americano. Ele queria reproduzir o debate sobre a luta armada. Os tempos eram outros, tínhamos um novo país para construir. A esquerda me considera um traidor que ocupa um espaço na lata de lixo da história. Sou aquele jogador que já foi do time e a torcida vaia sempre que toca na bola. Mas esquerda e direita são forças missionárias que tentam universalizar seu conceito de boa vida. Numa sociedade complexa como a nossa, precisamos reconhecer as diferenças e navegar com cuidado, administrando os problemas recorrentes. A ideia de um país dominado pela Bíblia ou pelo “Capital” de Marx não deixa de ser legítima. Apesar da importância que ambos dão aos seus textos, eles são apenas um modesto guia. O mundo ultrapassa os velhos esquemas mentais. Ou, em linguagem bem brasileira: o buraco é mais embaixo.

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sábado, 23 de junho de 2018

TEMER E A COPA DO MUNDO


Antes do assunto do dia, uma boa notícia: 

O ministro Luiz Edson Fachin julgou prejudicado o pedido de liberdade feito pela defesa do ex-presidente Lula e determinou a retirada do processo da pauta da 2ª turma (ele seria julgado terça-feira, 26). 

Em sua decisão (acesse a íntegra clicando aqui), Fachin explicou que o recurso extraordinário estava pendente de juízo de admissibilidade quando a petição foi apresentada, mas agora ele foi inadmitido pela vice-presidência do TRF da 4.ª região, o que altera o quadro processual. 

Caberá à defesa apresentar agravo contra a decisão que inadmitiu a subida do RE ao Supremo.

Futebol só rende votos para candidaturas individuais, como no caso do senador Romário, do deputado Bebeto e outros mais. Nenhum governo foi reconhecido como responsável por derrotas ou vitórias da seleção brasileira de futebol.

Para corroborar essa assertiva, o jornalista Merval Pereira lembra que em 2002 o Brasil foi campeão mundial, e o então candidato governista, José Serra, perdeu a eleição; que em 2014 fomos desclassificados pela Alemanha, e Dilma foi reeleita. Assim, a Copa na Rússia não deverá mudar os índices de aprovação do governo Temer, pois ninguém irá associar o presidente nem com a derrota nem com a vitória do time brasileiro, a despeito de sua excelência tentar se capitalizar gravando um pronunciamento totalmente inócuo, na televisão, sobre o campeonato mundial.

No caso de Putin, todavia a história é um pouco diferente. Os russos sonham em voltar a ser protagonistas no cenário mundial, e nem é preciso que a seleção vá muito longe — se passar da fase de grupos, já estará de bom tamanho. Para uma autocracia que não passa de um simulacro de democracia representativa, Putin ter  sido aplaudido em grande estilo no jogo de abertura da Copa foi uma vitória relevante, pois demonstra que sua política de dar dimensão global a eventos que a Rússia protagoniza, pelo menos como organização, reflete positivamente na sua popularidade.

Para quem não se lembra, Dilma foi sonoramente vaiada na abertura da Copa passada, sediada pelo Brasil por obra e graça do molusco abjeto e sua quadrilha. Pesa a favor do Brasil, porém, o fato de sermos uma nação democrática, onde ninguém pensou em punir quem vaiou a presidente — como na Rússia de hoje, onde vaiar Putin — e até falar mal da seleção — pode resultar em multa pecuniária e outras sanções. Mas ninguém foi obrigado a aplaudir o presidente russo ou agitar orgulhosamente a bandeira do país, até porque a autocracia de Putin não chega ao extremo da ditadura da Coréia do Norte, que obriga os cidadãos a chorar em público a morte do ditador da vez — como aconteceu quando morreu o pai do “homem do foguete”.

Até Gianni Infantino teve seus quinze minutos de glória. Ao contrário de seu antecessor, Joseph Blatter, que foi vaiado ao reprovar a atitude da torcida verde-amarela em relação a Dilma, o atual presidente da FIFA foi aplaudido ao proferir meia dúzia de palavras em russo — uma coincidência: tanto Dilma quanto Blatter perderam seus cargos após a Copa de 2014.

Causa espécie o fato de os resultados do futebol no Brasil servirem para eleger jogadores como (os já citados) Romário e Bebeto, mas não ajudarem o presidente da vez. Durante a ditadura militar, alguns dos presidentes da vez tentaram tirar proveito da seleção — Médici, que gostava de futebol, intercedeu para que Dario fosse convocado e Saldanha deixasse de ser o técnico do escrete vitorioso em 1970, e Geisel, que não gostava, tentou convencer Pelé a voltar à seleção em 1974. 

Na redemocratização, as vitórias e derrotas da seleção jamais influíram nos resultados eleitorais. Em 1994, o Plano Real teve mais a ver com a eleição de Fernando Henrique do que a conquista da Copa nos Estados Unidos. Em 1998, mesmo com a derrota da seleção canarinho, o Real voltou a impulsionar a reeleição de FHC. Em 2002, o time de Felipão trouxe o pentacampeonato, com direito a cambalhota de Vampeta na rampa do Palácio do Planalto e o beijo do presidente tucano na taça. Mesmo assim, o então candidato governista a presidente, José Serra, perdeu a eleição para Lula.

Nem mesmo a derrota em casa em 2014 — pelo humilhante placar de 7 a 1 nas oitavas de final — impediu que Dilma fosse reeleita. Aliás, Lula se reelegeu em 2006 e fez Dilma sua sucessora, em 2010, a despeito das derrotas da seleção brasileira.

O banco de investimentos Goldman Sachs — que, em todas as copas, realiza uma pesquisa global sobre as chances de cada seleção — aponta o Brasil como franco favorito por ter jogadores talentosos, um bom balanço entre perdas e ganhos e o melhor índice Elo (medição utilizada em vários esportes para calcular a força relativa entre os jogadores). A GS prevê que a final será disputada entre o Brasil e a Alemanha, mas admite que a graça do futebol está justamente na imprevisibilidade, nos elementos aleatórios que não podem ser colocados dentro de um programa de computação.

Como se vê, até mesmo os algoritmos sabem que o Brasil é franco favorito, mas também que não há elementos randômicos capazes de fazer com que Temer recupere sua popularidade.

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domingo, 14 de agosto de 2022

ERA UMA VEZ, NO PAÍS DAS MARAVILHAS...

 

Por ter exercido apenas cargos de gestão até 2010, Dilma adquiriu o hábito de mandar. No Planalto, incorporou novas "virtudes", como a soberba, a arrogância e a agressividade. Impaciente, queria tudo “para ontem”. Ignorante, posava de onisciente. Contrariada, atirava objetos nas pessoas — grampeadores eram repostos regularmente em seu gabinete. 


As folclóricas "pedaladas fiscais" foram apenas a justificativa mais à mão para o pé na bunda. A estrupícia foi defenestrada por não ter jogo de cintura no trato com o Congresso. Mas seu vice, que foi o grande mentor e o maior beneficiário do impeachment, tinha traquejo político de sobra. 

 

Caçula temporão de oito irmãos, Michel Miguel Elias Temer Lulia graduou-se em Direito pela USP em 1963 e ingressou na política no ano seguinte, mas só se filiou ao PMDB (hoje MDB), em 1981. Depois de ocupar os cargos de procurador-geral do Estado e secretário de Segurança Pública de São Paulo, o futuro vampiro do Jaburu foi deputado federal por seis mandatos e presidente do PMDB por mais de 15 anos. Em 2009, Temer foi o primeiro colocado entre os parlamentares mais influentes do Congresso. No ano seguinte, aceitou o convite de Lula para disputar a vice-presidência na chapa encabeçada por Dilma


No final de 2015, o nosferatu enviou à "chefa" uma carta (que ele próprio se encarregou de vazar para a imprensa) reclamando de ser um "vice decorativo" e dizendo que sempre teve ciência da desconfiança de Dilma e do PT em relação a ele e ao PMDB. Em resposta, a mandatária afirmou que “não via motivos para desconfiar um milímetro de seu vice, que sempre teve um comportamento bastante correto”, mas logo percebeu que estava enganada. 

 

Assim que a Câmara votou a admissibilidade do impeachment, Temer vazou um arquivo de áudio em que ele falava como se estivesse prestes a assumir o governo. No dia seguinte, Dilma esbravejou que "havia um golpe em curso, e que tinha chefe e vice-chefe" (referindo-se a Temer e a Eduardo Cunha, então presidente da Câmara). 


Madame foi afastada no dia 11 de maio e penabundada em 31 de agosto, quando então o "golpista" passou de presidente interino a titular. Os puxa-sacos de plantão convenceram-no a trocar o Jaburu pelo Alvorada, argumentando que "a mudança atribuiria legitimidade a seu mandato". E assim foi feito. Mas Temer voltou ao Jaburu depois de pouco mais de duas semanas; segundo ele próprio afirmou a VEJA, o Alvorada é assombrado


Como se vê, o Brasil é um país tão surreal que até vampiro tem medo de fantasma.

 

Inicialmente, a troca de comando foi como uma lufada de ar fresco numa catacumba. Depois de mais de 13 anos ouvindo garranchos verbais de um semianalfabeto e frases desconexas de uma destrambelhada, ter um presidente que não só sabia falar como até usava mesóclises foi um refrigério. Para além disso, Temer conseguiu reduzir a inflação, baixar a Selic e aprovar a PEC do Teto dos Gastos e a Reforma Trabalhista. Mas seu ministério de notáveis se revelou uma notável agremiação de corruptos. 

 

Em pouco mais de um mês de governo, caíram os ministros do Planejamento, da Transparência e do Turismo. O primeiro, Romero Jucá — que defendeu um pacto para “estancar a sangria” produzida pela Lava-Jato —, ganhou do presidente uma secretaria criada especialmente para evitar que ele perdesse o foro privilegiado.  Na sequência, caíram o Advogado-Geral da União e os ministros da Cultura e da Casa Civil (foi num apartamento deste último que a PF apreendeu R$ 51 milhões em dinheiro vivo, armazenados em malas e caixas de papelão). Temer se empenhou em preservar Eliseu Padilha e Moreira Franco, que, nas palavras de Joesley Batista, ajudavam o presidente a comandar “a quadrilha mais perigosa do Brasil”.

 

Temer almejava entrar para a história como “o cara que recolocou o Brasil nos eixos”. O sonho durou pouco. Depois que sua conversa de alcova com Joesley Batista foi revelada por Lauro Jardim, o presidente passou a ser lembrado pela célebre frase “tem de manter isso, viu”. O então procurador-geral Rodrigo Janot (outra aberração da natureza) ofereceu duas denúncias contra ele, que não se deu por achado: com a ajuda de sua tropa de choque (capitaneada Carlos Marun, o ridículo), montou sua tenda de mascate libanês na porta da Câmara e passou a oferecer cargos e verbas em troca dos votos das marafonas parlamentares. 


Observação: Nada muito diferente do que Lula tentou fazer durante o impeachment de sua deplorável sucessora. Mas o petralha malhou em ferro frio, e Temer conseguiu que a maioria do lupanar entoasse a marcha fúnebre enquanto as denúncias de Janot eram sepultadas.

 

Corta para julho de 2022:  Um petista habituado às negociações e articulações políticas afirmou em off que o ex-presidente estava propenso a trabalhar por uma aliança em torno de Lula ainda no primeiro turno, em detrimento da candidatura da senadora emedebista Simone Tebet. Como contrapartida, o vampiro pediu que o PT deixasse de se referir a ele como “golpista”. 


Apesar de ser um exímio estrategista, Temer não só deu com os burros n'água como provocou a ira de Dilma, a irascível, ao destacar durante uma entrevista que madame era “honestíssima”. Não use minha honestidade para aliviar sua traição”, reagiu a estocadora de vento, exsudando ressentimento. 


Embora pudesse render bons frutos eleitorais, a aliança era considerada improvável. Querer que o PT deixe de tratar o impeachment como um golpe seria exigir demais da patuleia.

 

Continua...