Menos de trinta horas após Bolsonaro ter sido eleito presidente, seria no mínimo leviano conjecturar como será seu governo e como ele enfrentará os desafios que lhe serão
impostos, sobretudo por esta eleição sido a mais imprevisível, polarizada e
conturbada da assim chamada “Nova República”. Voltaremos a essa questão mais adiante, depois que a poeira baixar. Até lá, seguem algumas considerações que eu reputo importantes.
Depois que os militares voltaram para os quartéis e José Sarney assumiu a presidência devido à morte de Tancredo Neves, elegemos pelo voto direto Fernando Collor de Mello, Fernando Henrique Cardoso, Luiz Inácio Lula da Silva, Dilma Vana Rousseff e Jair Messias Bolsonaro. O pseudo caçador de marajás foi impichado e substituído por seu vice, Itamar Franco; o tucano FHC e os petistas Lula e Dilma se reelegeram, mas a anta sacripanta foi impichada em 2016, quando então Michel Temer foi promovido a titular e encarregado de concluir o governo de transição cujas luzes se apagarão (melancolicamente) daqui a dois meses.
Num primeiro momento, o emedebista teve relativo sucesso na missão,
mas foi abatido em seu voo de galinha pela delação de Joesley Batista, E após fazer o diabo para se esquivar de duas denúncias por atos nada republicanos,
aquele que almejava entrar para a história como “o cara que recolocou o Brasil nos trilhos do crescimento” será
lembrado como o primeiro presidente denunciado no exercício do cargo pela
prática de crimes comuns.
Ainda que aos trancos e barrancos — haja vista o mensalão, o petrolão e outros escândalos de rapinagem revelados pela operação Lava-Jato —, sobrevivemos a uma década
e meia de lulopetismo. O sumo pontífice dessa seita do inferno, que passou de
retirante nordestino a torneiro mecânico, daí a líder sindical e, 22 anos depois de ter fundado o PT, a presidente da República, não só fez oposição sistemática a FHC, mas também lhe atribuiu, depois depois de suceder-lhe na Presidência, uma fantasiosa “herança maldita”. Na verdade, o caminho para o sucesso da primeira gestão do petralha foi pavimentado pelo governo do tucano, que, de quebra, lhe assegurou popularidade suficiente para
eleger o “poste” que manteria aquecida a poltrona presidencial entre 2010 e
2014, quando ele tencionava voltar a ocupá-la.
Mas não há nada como o tempo para passar, e hoje é público e
notório — menos para os seguidores incondicionais da petralhada, naturalmente — que os
verdadeiros responsáveis pela derrocada brasileira, sobretudo no âmbito da
economia, foram Lula, sua incompetente
sucessora e a organização criminosa travestida em partido político e conhecida
como PT.
Para encerrar este texto — ou interromper, uma vez que tenciono retomá-lo na próxima postagem —, cumpre ponderar que o momento é de
baixar a bola e resgatar a capacidade de lidar com os contrários. A despeito da
cizânia fomentada por Lula com seu “nós contra eles” ter
assumido proporções gigantescas, notadamente depois que os seguidores
de Bolsonaro passaram a retribuir a
gentileza na mesma moeda, não há no Brasil nem 50 milhões de “fascistas”, nem
47 milhões de “comunistas”. A rigor, nem os votos recebidos pelos candidatos no
último domingo são todos deles, pois muita gente votou no capitão para impedir
a volta do PT e outros tantos
votaram no PT para “impedir a volta
da ditadura militar”. Sem mencionar que a rejeição a ambos atingiu patamares
estratosféricos.
O que importa agora, salvo melhor juízo, é resgatar a capacidade
de lidar com os contrários, pois bolsonaristas, petistas, direitistas e
esquerdistas são todos brasileiros. E cabe ao presidente eleito governar para todos os brasileiros.