Neste domingo, 6, o presidente ucraniano disse que, em vez de perdão, haverá julgamento sobre as atitudes da Rússia contra o país vizinho. A terceira rodada de negociações visando ao cessar foi remarcada para a manhã de ontem. A Rússia disse que militares interromperam fogo e abriram corredores humanitários em várias cidades ucranianas, mas os canais de retiradas de civis levam apenas para território russo e para seu aliado, Belarus, um movimento imediatamente denunciado por Kiev como “um golpe imoral.” O anúncio veio após dois dias de cessar-fogo fracassado para permitir que civis fugissem da cidade sitiada de Mariupol, onde centenas de milhares de pessoas estão presas sem comida e água, sob bombardeio implacável e incapazes de retirar seus feridos.
Aqui em Pindorama fica cada vez mais evidente que os partidos estão mais interessados em aumentar suas fatias dos fundos partidário e eleitoral do que em sustentar uma candidatura ao Palácio do Planalto. Moro patina nas pesquisas e, depois das falas infelizes de Kin Kataguiri e Mamãe Falei, enfrenta dificuldades ainda maiores para fazer frente à abjeta dicotomia representada por Lula e Bolsonaro (uma coisa é a gente torcer pelo sucesso da terceira via, e outra é a gente se negar a ver os fatos como eles são).
Num cenário polarizado, a verdade é o que menos importa. Para além do direito a suas próprias opiniões, as pessoas agem como se fossem donas dos fatos. Somente “seus fatos” importam. Para elas, ou os outros pensam igual, ou estão errados. Não existe meio-termo nesse “nós contra eles”.
Sectários do lulopetismo corrupto e do bolsonarismo boçal comemoram
decisões judiciais que favorecem seus amados líderes — ou desfavorecem os adversários,
que eles veem como inimigos figadais —, mas criticam-nas duramente quando a situação
se inverte.
Parafraseando Sir Winston Churchill, “fanático é todo
aquele não pode mudar de ideia e não quer mudar de assunto”. Não há como dialogar com esse tipo de gente. Para essas vítimas da ignorância, do
preconceito e da hipocrisia, argumentos são meros detalhes; o que importa é “ganhar
a discussão” a qualquer preço.
Lula e Bolsonaro são farinha do mesmo saco (ou
duas faces da mesma moeda, como queiram). E o mesmo se aplica a seus seguidores
incondicionais, que os veem como entes divinos, acima do bem e do mal e fora do
alcance das leis — que no Brasil parecem ser criadas por criminosos para
favorecer criminosos. E dar a chave do berçário a Herodes Antipas (o rei
da Judeia que mandou assassinar todos os bebês nascidos na data hoje
santificada, quando soube que Jesus Cristo poderia vir a ser o novo rei dos
judeus) é o mesmo que descriminalizar o infanticídio.
Segundo as enquetes
eleitoreiras, o pleito presidencial de outubro próximo será um embate entre os
dois populistas demagogos que ocupam os extremos opostos do espectro
político-ideológico. Diante disso, a solução seria o aeroporto, mas a pandemia
e o negacionismo desbragado do candidato à reeleição transformou os brasileiros
em párias. Diogo Mainardi diz que, entre votar em Lula ou Bolsonaro,
é preferível se atirar do Campanário de São Marcos. Para ele, que mora na
Itália, isso é fácil. Para os paulistanos, resta o Viaduto
do Chá.
Diz um ditado que "enquanto há vida, há esperança". Porém, se existem chances reais de um “outsider” romper
a dicotomia, seja abatendo o nefasto capitão cloroquina em seu voo de galinha
rumo à reeleição, seja mijando no chope do bocório pernambucano — inclusive no
primeiro turno, já que o imprevisto sempre pode ter voto decisivo na assembleia
dos acontecimentos
O Antagonista diz que o ex-juiz Moro e o ex-presidiário Lula já se
tratam como adversários prováveis e sugerem um duelo clássico: quem terá maior
competência política para fazer prevalecer a própria narrativa e bloquear a do
adversário. Grosso modo, ambos brigam por assumir os mesmos atributos aos olhos
do eleitorado, consideram-se vítimas de injustiças praticadas por poderosos que
ousaram desafiar e acreditam que erros políticos ou de conduta pessoal
cometidos no passado sejam relativizados à luz dos objetivo que cada qual quis
alcançar.
A Lula sobra o cinismo que o surrado animal político
consolidou em mais de meio século de atividade política, numa riquíssima
trajetória que percorreu da defesa de convicções rumo à busca de oportunidades
(de todo tipo); a Moro falta a arte da dissimulação, mas sobra a
convicção (pois entendeu bem Maquiavel) que em política é impossível
realizar princípios, mesmo os do Direito. O que cada um apregoa como mérito e
virtude é exatamente o que o outro afirma ser vileza e vício.
Observação: Graças a um prodígio de suprema magia, Lula passou de ex-presidiário a ex-corrupto e foi reinserido no tabuleiro da sucessão presidencial. Quando chefe do Executivo tupiniquim, o petralha demonstrou simpatia por autocratas cruéis (como Ahmadinejad, Castro, Gaddafi, Maduro e Ortega), chamou facínoras sanguinários de “irmãos” e financiou grupos terroristas (como o Hezbollah e o Hamas contra Israel) e ditaduras horrendas (como Cuba, Nicarágua e Venezuela). Como até um relógio quebrado acerta a hora duas vezes por dia, o sumo pontífice da seita do inferno ironizou a narrativa bolsonarista de que o encontro do “mito” com o presidente russo resultou na retirada de parte das tropas da fronteira com a Ucrânia — o que só teria algum fundo de verdade caso a ideia de Putin fosse ridicularizar o colega brasileiro, visto que a Rússia invadiu a Ucrânia menos de uma semana depois. Já Bolsonaro & filhos são umbilicalmente ligados a milicianos cariocas. Fabrício Queiroz — unha e carne com o capetão há quatro décadas — foi o operador confesso das rachadinhas do então deputado estadual e atual senador Flávio Bolsonaro. Isso sem falar que o clã já condecorou um assassino de aluguel, morto em tiroteio na Bahia, que Queiroz et caterva depositaram cerca de R$ 90 mil na conta da primeira-dama, e que quatro dos cinco filhos do capetão são alvo de investigações. A exceção é a caçula, Laura, de 11 anos — que foi admitida numa escola militar sem ter sido submetida ao processo seletivo. Em sua recente viagem à Hungria, Bolsonaro — que, entre outras virtudes, é admirador confesso do coronel Brilhante Ustra, chefe do DOI-Codi e notório torturador dos tempos da ditadura militar — chamou de “irmão” o tiranete Viktor Orbán. Isso depois de ter declarado apoio e solidariedade a Vladimir Putin. Antes disso, durante o périplo turístico que fez pelas Arábias, o capetão cloroquina elogiou o xeique Mohammed Bin Rashid (que sequestrou as próprias filhas), o príncipe Mohammed Zayed (ditador que nunca foi eleito) e Hamad bin Al Khalifa (no poder há 40 anos). Lula e Bolsonaro, entre outras semelhanças (mensalão e petrolão, rachadinhas e mamatas, filhos que enriquecem rapidamente, autoritarismo e obsessão cega pelo poder, mitomania e messianismo, etc.) apreciam esse tipo de gente. Por alguma razão, os dois dos piores políticos da história são os mais cotados — e com largo favoritismo — pelo esclarecidíssimo eleitorado tupiniquim.
Ambos pedem ao eleitor que faça um julgamento moral. Fala a “verdade” quem diz que prendeu os facínoras e foi traído (Moro) ou quem afirma que os facínoras não o deixaram ganhar as últimas eleições (Lula)?
Isso nada tem a ver com qual dos dois é o detentor da veracidade objetiva dos
fatos recentes: na política, fatos não são elementos objetivos irrefutáveis,
mas a percepção que as pessoas têm dos acontecimentos. O ambiente caótico das redes
sociais tornou essa lição ainda mais importante — aliás, adversários políticos
hoje sequer se entendem sobre o que seriam os fatos a serem discutidos.
Por enquanto, um hipotético um embate Lula-Moro no segundo turno fascina apenas a ínfima parcela de quem acompanha
profissionalmente a política. Prova disso é que, na mais recente lista de
buscas frequentes no Brasil em 2021 divulgada pelo Google, não figura
nas principais categorias qualquer acontecimento ou nome ligado diretamente à
política, mas sim o medo da Covid, a emoção com mortes súbitas de
figuras queridas e o horror ligado a crimes (além de como arranjar um emprego e
ser feliz na relação).
Julgamentos morais são coisa rara em eleições. “Justiceiro” (Moro) e “Injustiçado” (Lula) talvez só fizessem sucesso se estivessem num dos vários reality shows que dominam totalmente a lista dos programas favoritos na TV.