terça-feira, 16 de setembro de 2025

DE VOLTA ÀS VIAGENS NO TEMPO — 46ª PARTE — O UNIVERSO DENTRO DE UM BURACO NEGRO?

O PREGO MAIS SALIENTE É O QUE LEVA A MARTELADA.

De acordo com uma teoria publicada na revista Physical Reviewo Big Bang, tradicionalmente considerado o início de tudo, pode ter ocorrido dentro de um buraco negro. 


Em vez de começar com o Universo em expansão e tentar voltar no tempo, os autores especulam sobre o que acontece quando uma imensa quantidade de matéria colapsa — como as estrelas supermassivas que dão origem a buracos negros. Mas que ocorre dentro do horizonte de eventos desses corpos celestes ainda é um mistério.

 

Essa hipótese desafia o modelo cosmológico padrão (Lambda CDM), segundo o qual Universo surgiu de uma singularidade — um ponto de densidade infinita — e passou por uma expansão tão rápida (a chamada inflação cósmica) que não houve tempo para que regiões distantes tivessem interagido termicamente. 


No entanto, esse pressuposto conflita com a radiação cósmica de fundo — que apresenta uma uniformidade surpreendente em todas as direções — e nos leva ao chamado Problema do Horizonte.


CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA


O voto divergente de Luiz Fux pela absolvição de Bolsonaro animou a turba da anistia, entusiasmada com a possibilidade de futura revisão criminal e a chance de utilização imediata dos argumentos jurídicos na disputa ideológica. No que concerne aos advogados, o regozijo se justifica, dado o vaivém da Justiça. Na política, porém, o buraco é mais embaixo.

É no mínimo implausível a tese de que Mauro Cid e Braga Netto, respectivamente ajudante de ordens e vice na chapa do ex-presidente golpista — ambos condenados por Fux —, tenham urdido um golpe em causa própria. Tal ideia não ocorreu nem ao mais fanático dos bolsonaristas, e o fato de ter sido defendida por um dos magistrados (por motivos que não vou discutir neste momento) não muda o destino dos réus. Enquanto tiver validade, permanece a decisão da maioria ampla no universo de cinco votos. O que acontecerá depois fica para depois. Agora o que se tem é a condenação dada por um tribunal onde a divergência desmentiu a versão do jogo combinado entre os magistrados em ambiente de ditadura judicial.

O poder da divergência é transitório, pois vale o escrito nas sentenças finais. A grita não muda a realidade. Aos que se animam com o efeito político do voto de Fux, cumpre lembrar a atuação de Ricardo Lewandowski, juiz revisor no julgamento do mensalão, que discordou do relator Joaquim Barbosa. Mas a divergência ficou perdida na história, cujo registro foram as condenações marcadas a ferro na pele do PT, bem como as anulações da Lava-Jato não fizeram de ninguém inocente.

Fux marcou posição, mas o fato permanente será a conclusão do STF sobre uma tentativa de golpe que não pode se repetir.

 

Embora robusto, o modelo do Big Bang não oferece respostas para todas as questões fundamentais — especialmente sobre o que antecedeu a grande expansão — indagação que o saudoso Stephen Hawking comparava a questionar o que existe além do Polo Norte.  Mas outras tensões teóricas persistem, até porque, nas proximidades da singularidade, as equações da relatividade geral simplesmente se tornam inválidas. Compreender esses limites extremos requer uma teoria quântica da gravidade que unifique relatividade e mecânica quântica. A isso se acrescenta o enigma da energia escura — possivelmente responsável pela inflação primordial do Universo, mas de natureza ainda completamente desconhecida.


Muitos astrofísicos acreditam que o surgimento do Universo não foi o início do espaço-tempo, mas uma transição a partir de uma fase anterior que permanece envolta em mistério. O astrofísico Ethan Siegel afirma que a inflação cósmica é a melhor extensão do modelo do Big Bang.  Roger Penrose, idealizador da cosmologia cíclica conforme, sustenta que "universo anterior" teria se expandido, colapsado (num Big Crunch) e dado origem a um novo cosmos. 


Sob certas condições, o colapso gravitacional leva inevitavelmente a uma singularidade, mas uma nova teoria propõe que a singularidade pode ser evitada e que o colapso pode se reverter. Essa reversão estaria ligada ao princípio de exclusão de Pauli, segundo o qual duas partículas idênticas (os férmions) não podem ocupar o mesmo estado quântico ao mesmo tempo. Isso impediria que a matéria fosse comprimida indefinidamente, interrompendo o colapso e desencadeando uma nova inflação cósmica semelhante à que teria dado origem ao nosso Universo. 


Se essa hipótese estiver correta, o Big Bang não foi o início de tudo, mas o “rebote” interno de um buraco negro formado no colapso de uma estrela em um universo anterior. Em outras palavras: o Universo observável pode estar dentro de um buraco negro pertencente a um "universo-pai" maior, e não ser perfeitamente plano, como supõe o modelo atual. 


Talvez não estejamos diante da criação de algo a partir do nada, mas da continuidade de um ciclo cósmico moldado pela gravidade e pela mecânica quântica — um passo importante na direção da tão sonhada teoria de tudo. A missão espacial Euclid, que observará bilhões de galáxias, poderá trazer pistas valiosas e contribuir para esclarecer a origem dos buracos negros supermassivos, a natureza da matéria escura e a evolução das galáxias.

 

A conferir.

segunda-feira, 15 de setembro de 2025

AINDA SOBRE A CONDENAÇÃO DOS ASPIRANTES A GOLPISTAS

NÃO HÁ MAL QUE SEMPRE DURE NEM BEM QUE NUNCA TERMINE.

Em 2015, Jair Bolsonaro começou a pavimentar o caminho que o levaria ao Palácio do Planalto. A dois meses do pleito de 2018, todas as pesquisas de intenção de voto apontavam a vitória da coligação da esquerda — embora o cabeça da chapa fosse ficha-suja e estivesse cumprindo pena de prisão. Mas quis o destino (ou alguém cujo nome permanece nas sombras) que um atentado a faca livrasse o então candidato do nanico PSL dos debates, evitando que ele fosse trucidado em rede nacional pela invejável oratória de Ciro Gomes.

 

A pouco mais de um mês do primeiro turno, o TSE rejeitou a quimérica candidatura do então presidiário mais famoso da história deste país. Como Jaques Wagner declinou do papel de bonifrate, o Partido dos Trabalhadores que nao trabalham anunciou oficialmente a substituição de Lula por Fernando Haddad. Mesmo assim, as empresas de pesquisa continuaram dando como certa a vitória de “Luladdad” e a eleição de Dilma para o Senado. 


A mulher sapiens ficou a ver navios, mas, com a volta de seu criador, foi recompensada pelo "golpe" (como a petralhada se refere ao impeachment da anta) com a presidência do Banco do Brics e um salário anual de meio milhão de dólares. Já o combo de mau militar e parlamentar medíocre, incompetente até para gerir um prosaico carrinho de pipoca, surfou na onda do antipetismo e derrotou a marionete de Lula no segundo turno por uma diferença de 10,8 milhões de votos válidos (houve 2,5 milhões de votos em branco e 8,6 milhões de votos nulos).

 

Depois de construir uma carreira parlamentar tão longa quanto inexpressiva, Bolsonaro forneceu a prova cabal de que o Brasil não é um país sério. Para mostrar que era amigo do mercado e obter o apoio dos empresários, o estatista que acreditava em Estado grande e intervencionista, que sempre lutou por privilégios para corporações que se locupletavam do Erário havia décadas, foi buscar Paulo Guedes, que embarcou em uma canoa que deveria saber furada. 

 

Para demonstrar que era inimigo da corrupção e obter o apoio da classe média, o deputado que, em sete mandatos, percorreu 8 partidos de aluguel e sempre foi adepto das práticas da baixa política e amigo de milicianos, foi buscar Sergio Moro, que embarcou em uma canoa que deveria saber furada. E para obter o apoio das Forças Armadas, o oficial de baixa patente, despreparado, agressivo e falastrão, condenado por insubordinação e indisciplina e enxotado da corporação, foi buscar legitimidade em uma fieira de generais, que embarcaram em uma canoa que deveriam saber furada. 

 

Não podia dar certo — como de fato não deu. O ora ex-presidente e futuro presidiário se revelou o pior mandatário desde Tomé de Souza. Sua admiração pela ditadura militar e vocação para tiranete se acentuaram ao longo de sua nefasta gestão. As “acusações” que o ministro demissionário Sergio Moro fez sobre ingerência política no comando da PF foram comprovadas na gravação da reunião ministerial de abril de 2020. O ministro Celso de Mello autorizou a abertura de um inquérito para apurar os fatos, mas a apuração virou pizza com sua aposentadoria do STF


A despeito de a CPI do Genocídio lhe imputar a essa criatura desprezível uma dezena de crimes associados às políticas públicas de combate à pandemia, e dos mais de 140 pedidos de impeachment protocolados, a inação de Rodrigo Maia, a cumplicidade de Arthur Lira e a subserviência abjeta de Augusto Aras asseguraram a permanência do estrupício no cargo até dezembro de 2022. 

 

Mandrião de quatro costados, o ex-presidente trabalhava, em média, 18 horas por semana a menos que um trabalhador celetista e 14 a menos que um servidor público federal da administração direta (conforme o estudo "Deixa o homem trabalhar?", de Dalson Figueiredo, Lucas Silva e Juliano Domingues). Em 2019, houve dias em que ele trabalhou 12 horas, mas cargas horárias superiores a cinco horas diárias só foram registradas em trânsito (como em 18 de novembro de 2021, na volta de Doha, no Catar, para Brasília). Se aplicado o mesmo critério, o tempo gasto com motociatas pelo país, comendo farofa nas ruas de Brasília ou passeando de jet-ski no Guarujá seria considerado jornada de trabalho. 
 
Observação: Bolsonaro gastou mais tempo em almoços (média de 1,3 hora) do que em reuniões com ministros de estado (menos de 1 hora). Durante a pandemia, participou apenas de cinco eventos envolvendo explicitamente o tema “vacina”, investindo, em média, 0,9 hora por compromisso — totalizando três almoços. Na manhã do dia 8 de julho de 2021, mês em que o Brasil ultrapassou as 500 mil mortes pela Covid, conversou durante 50 minutos com devotos no cercadinho defronte ao Alvorada (a maior parte do tempo foi gasta com piadas), e chegou a dizer que sua agenda andava “meio folgada”. 

 

Ao longo dos quatro anos em que conspurcou a Presidência, o "mito" dos anencéfalos reafirmou ad nauseam sua autoridade com frases como “quem manda sou eu”, “minha caneta funciona” e “não sou um presidente banana”. Na célebre reunião ministerial de abril de 2020, esbravejou: Não vou esperar foder [sic] a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meus, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira.” 


Em 2018, a parcela minoritária do eleitorado que apoiou o fantasioso "outsider anti establishment" o fez por absoluta falta de opção, e, portanto, não comemorou sua vitória, mas sim a derrota da marionete do então presidiário. Em 2022, esses "isentões" ajudaram a eleger Lula porque era imperativo evitar mais quatro anos (ou sabe Deus quantos) sob a batuta de um genocida golpista, e a quimérica terceira via — tida como a solução para furar a polarização, acabou virando parte do problema devido a egos avantajados, falta de projetos e carência de apoio popular.


O que Bolsonaro mais fez durante seu mandato — além de gozar férias paradisíacas no litoral paulista e em cidades turísticas da costa catarinense, promover motociatas e fazer campanha pela reeleição — foi atacar o TSE e o STF. Se o Brasil fosse uma democracia como manda o figurino, essa aberração teria sido deposta muito antes dos discursos golpistas do 7 de Setembro; numa republiqueta de bananas presidida por um ex-presidiário convertido em ex-corrupto por conveniência da alta cúpula do Judiciário, não chega a espantar que um pedido de desculpas mal ajambrado, rascunhado às pressas por um ex-presidente de nada saudosa memória, levasse muita gente a acreditar (ou a fazer de conta que acreditava) que o
 escorpião da fábula estava sinceramente arrependido.

 

Disse o poeta que  não há nada como o tempo para passar, e o Conselheiro Acácio, que as consequências sempre vêm depois. Inobstante a pressão dos aliados do capetão, do lobby abjeto do filho do pai, da ingerência igualmente abjeta de Donald Trump na soberania nacional e da ignóbil proposta de anistia que tramita no Congresso, Bolsonaro e sete cúmplices na tentativa de golpe de Estado foram condenados a pesadas penas privativas de liberdade. 

 

A inédita condenação dos militares graduados do “núcleo crucial da trama golpista” mostrou que o Brasil foi capaz de dar um passo à frente, mas os veredictos são meras reticências. Por mais que o voto teratológico de Fux (embora não inexplicável tenha reavivado as brasas da esperança do gado bolsonarista, quem enxerga as coisas como elas realmente são — e não como gostaria que fossem — sabe que as chances de reforma da decisão da Primeira Turma são quase inexistentes. Os bolsomínions mais radicais prometiam forrar as ruas caso o “mito” fosse condenado, mas o que se viu foram uns poucos gatos pingados em prantos, abraçados ridiculamente a bandeiras dos EUA e do Brasil. 

 

Uma vez publicado o acórdão, as defesas terão cinco dias para apresentar embargos declaratórios, que servem para esclarecer aspectos obscuros da decisão, mas costumam ser usados para protelar o trânsito em julgado. Já os embargos infringentes só são admissíveis, à luz da jurisprudência do STF, quando há quatro ou mais votos divergentes em decisões plenárias ou dois ou mais votos em decisões das turmas. No caso em tela, somente o ministro Fux divergiu do relator. 


Se algumas das defesas seguir por esse caminho, Moraes negará seguimento ao recurso; se os advogados ingressarem com embargos infringentes, caberá à própria Turma decidir manter ou não a decisão monocrática do do relator, e Dino, Cármen e Zanin certamente acompanhariam Moraes. Assim, as chances de o caso ser reexaminado pelo plenário da Corte são próximas de zero, e ainda que assim não fosse, nada garante que as demais togas divergiriam de Moraes, Dino, Cármen e Zanin.


Dito isso, resta aos sectários do Messias que não miracula apostar na anistia, que é outra miragem: se essa aberração for aprovada pela Câmara e pelo Senado, será vetada por Lula; se o Congresso derrubar o veto, o STF a julgará inconstitucional. Em última análise, a irresignação dos bolsonaristas serve apenas para acirrar a tensão entre os Poderes e carimbar na testa dos parlamentares a pecha de "Cupinchas do Trump".

 

A defesa de Bolsonaro já se equipa para pedir sua prisão domiciliar — que ele já vem cumprindo desde 4 de agosto por ter desobedecido medidas cautelares. Talvez o trânsito em julgado da condenação arraste gente para as ruas — como a prisão de Lula arrastou em abril de 2018. Mas o Brasil não parou em 2018 e não vai parar agora. Malafaia et caterva reuniram mais de 80 mil manifestantes no Rio e São Paulo no feriado da Independência, mas esse número está longe de representar a maioria dos brasileiros — que, aliás, é contra a anistia.


Segundo dados colecionados pelo Datafolha, 50% dos entrevistados defendem a prisão de Bolsonaro, 43% são contra e 7% responderam que "não sabem". É preocupante o fato de metade do eleitorado ter dificuldade para se situar no mundo e, pior se dar conta de estar sendo tratado como morador do fundo do quintal imaginário da calopsita laranja que pousou na Casa Branca. Também preocupante é o fato de o Congresso discutir a anistia de quem ainda nem foi preso. Governadores conservadores, supostamente democráticos, prometem indulto a Bolsonaro caso cheguem ao Planalto. Empresários fazem cara de nojo para o STF.


Ao evitar o golpe, o Brasil deu ao mundo a impressão de que superou a barbárie. Em editorial publicado neste sábado, o jornal francês Le Monde anotou que a condenação do núcleo crucial da tentativa de golpe é "uma prova de maturidade para um país que esteve submetido ao arbítrio e à brutalidade de uma ditadura militar". Tudo verdade. Mas quem presta atenção aos fatos percebe que, se os otimistas se descuidarem, o Brasil corre o risco retornar à selvageria antidemocrática sem atingir o estágio intermediário de algo que, no futuro, possa pelo menos ser chamado de bons tempos.


Incitado pelo traidor Eduardo Bolsonaro, o terror da Casa Branca pode aplicar mais sanções — que também não mudarão o curso das coisas. Ainda pode haver tumulto, já que os líderes do bolsonarismo não estão preocupados com o país, e sim com os próprios umbigos. Os aspirantes a herdeiros políticos do prisoner-to-be circulam como urubus em torno do moribundo, reivindicando um pedaço de seu legado eleitoral. Ainda haverá muito dedo no olho e gritaria, uma vez que os eleitores insistem em fazer a cada eleição, por ignorância, o que Pandora fez uma única vez por curiosidade.

 

Para concluir este romance, relembro a saga de um ex-estudante de São Petersburgo que escritor russo Fiódor Dostoiévski descreveu em Crime e Castigo, e que os criminosos sempre se baseiam na relação de custo-benefício. Bolsonaro e seus cúmplices assumiram o risco da prisão acreditando no antídoto da anistia que seus comparsas no Parlamento se esforçam para aprovar. No entanto, da mesma forma que cometeram erros elementares no planejamento do golpe, erraram ao não levar em conta outros efeitos da condenação. 

 

Depois do trânsito em julgado, o STM deve cassar as patentes dos militares condenados — incluindo Bolsonaro, que deixou a caserna pela porta dos fundos, mas, por força de lei, recebeu a patente de capitão. Infelizmente, ele não perderá suas remunerações de parlamentar aposentado e de ex-presidente. Dos demais militares condenados, somente Mauro Cid se manterá tenente-coronel, já que foi apenado com anos de prisão em regime aberto (mas já adiantou que pretende deixar o Exército e se mudar para os EUA).

 

Os danos qualificados e a destruição de bens tombados acarretaram penas privativas de liberdade e responsabilidade patrimonial solidária no valor de R$ 30 milhões. Todos os integrantes do núcleo crucial da tentativa de golpe — Bolsonaro e Ramagem em especial — devem permanecer inelegíveis por oito anos contados a partir do término do cumprimento das penas. Na testa de Bolsonaro — um péssimo militar, deputado antidemocrático e misógino e presidente inepto e de mentalidade golpista-fascista — o STF carimbou o fim de seu prazo de validade política.

domingo, 14 de setembro de 2025

FILÉ AO MOLHO DE MOSTARDA

 O CIÚME É TEMPERO DO AMOR. 

Já dizia o poeta que "o ciúme é o tempero do amor". Mas, da mesma forma que tempero demais deixa a comida intragável, ciúme demais deixa a relação insustentável. Até porque a diferença entre o remédio e o veneno está na dose.


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A pesquisa Genial-Quaest publicada na última segunda-feira explica por que o bolsonarismo continua pujante, a despeito da inelegibilidade do “mito” e de sua recente condenação a 27 anos e 3 meses de tranca.

Segundo o levantamento, os brasileiros confiam plenamente nas Igrejas — seja a católica (73%), seja a evangélica (71%) — e nas forças de segurança pública — tanto as polícias militares estaduais (70%) quanto as Forças Armadas (70%). Na sequência, vêm Prefeito (63%), Bancos (63%), Presidente (54%), Imprensa (50%), STF (50%), Congresso (45%), Juiz de futebol (43%), Redes sociais (41%) e Partidos (36%). 

Daí o tamanho e o poder das bancadas “da fé” e “da bala” nos parlamentos: líderes políticos de expressão são pastores e “bispos”; ministros do STF são “terrivelmente evangélicos”; até o PT e seu macróbio xamã resolveram caminhar em direção à diversidade religiosa, lembrando que o lulopetismo é historicamente ligado à CNBB.

Nos palanques bolsonaristas do 7 de setembro, Deus foi arroz de festa. Em São Paulo, com Tarcísio de FreitasSilas MalafaiaMichelle Bolsonaro, bem como em Belo Horizonte, com Nikolas Ferreira e outros “religiosos” do PL, a fé foi tema obrigatório. 

Projetos de governo e políticas de Estado deveriam nortear a escolha dos eleitores com vistas ao desenvolvimento do país, mas políticos e partidos adotam estratégias de ordem ideológica e religiosa a fim de capturar a atenção e o voto dos “fiéis”. Com as demais instituições em frangalhos perante a opinião pública, a tarefa se torna cada vez mais fácil — e os resultados, cada vez mais catastróficos. 


O fato é que um bom molho deixa um bife grelhado ainda mais apetitoso, e bifes com molho de mostarda são de dar água na boca. Você vai precisar de:

 

— 1 kg de filé, contrafilé ou alcatra;

— 100 ml de água (ou vinho branco seco);

— 3 dentes de alho amassados;

— 3 colheres (sopa) de óleo;

— 1 colher (sopa) de manteiga;

— 1 cebola picada;

— 5 colheres (sopa) de mostarda de Dijon;

— 2 caixinhas de creme de leite;

— Sal e pimenta-do-reino a gosto;

— Cheiro-verde picado para polvilhar.

 

Fatie a carne em bifes (não muito finos) e tempere com o alho, o sal e a pimenta. Leve uma frigideira ao fogo alto com o óleo e frite os bifes por 3 minutos de cada lado ou até dourarem — lembrando que fritar um bife por vez evita que a gordura esfrie e que a carne verta líquidos e cozinhe em vez de fritar. Retire, reserve.

 

Na mesma frigideira, agora em fogo médio, derreta a manteiga, doure a cebola rapidamente, adicione a mostarda, o sal e a água. Quando ferver, desligue o fogo, junte o creme de leite, mexa com uma colher de pau (ou silicone), despeje esse molho sobre os bifes, polvilhe cheiro-verde picado e sirva com batatas fritas e arroz branco.


Bom proveito — espero que o indigesto cenário político não estrague seu apetite.

sábado, 13 de setembro de 2025

BOLSONARO — O EPÍLOGO DO JULGAMENTO

QUEM COM FERRO FERE COM FERRO SERÁ FERIDO.

A despeito do voto quilométrico do ministro Luiz Fux — que soou mais como sustentação oral da defesa do que como decisão técnica de um juiz — Bolsonaro restou condenado a 27 anos e 3 meses de cana e os demais réus receberam penas variadas, conforme a participação de cada um na trama golpista. Além disso, o grupo deverá pagar solidariamente uma multa de R$ 30 milhões, a título de indenização por danos morais coletivos.

Segundo a jurisprudência do STF, o voto divergente de Fux não enseja a interposição de embargos infringentes. Se os advogados dos réus insistirem, Moraes certamente (e acertadamente, a meu ver) negará seguimento ao recurso. Ainda caberia agravo regimental, mas a decisão monocrática do relator dificilmente seria modificada pela Turma. Já os embargos declaratórios não têm o condão de modificar a decisão de mérito, pois se destinam somente a esclarecer pontos obscuros ou conflitantes da sentença ou acórdão embargado, mas são utilizados pelos advogados para retardar o trânsito em julgado e, consequentemente, a prisão de seus clientes.

Esgotados os recursos, as penas de até quatro anos poderão ser cumpridas em regime aberto, e as de quatro a oito anos, em regime semiaberto. No caso de Bolsonaro, o regime inicial é fechado. Como ex-capitão, ele teria direito a uma cela num estabelecimento do Exército, mas é provável que perca a patente por decisão do Superior Tribunal Militar. Assim, ser hospedado no complexo penitenciário da Papuda, em Brasília, ou numa cela especial da Polícia Federal, são as possibilidades mais prováveis — lembrando que sua defesa já se equipa para pedir a prisão domiciliar por “razões humanitárias”. Vamos acompanhar e ver que bicho dá.

Nunca antes na história deste país — como diria Lula — golpistas tiveram de pagar por suas escolhas. Infelizmente, atendendo sabe-se lá a quais desígnios Fux fez a vexaminosa apologia da impunidade. Mas essa inédita condenação não deve ser tratada como ponto final. Trama-se a anistia no Congresso antes mesmo que as togas esbocem as ordens de prisão. Trump ameaça colocar navios no Lago Paranoá. Tarcísio de Freitas, o anti-Lula, soa como neo-Bolsonaro. De resto, a punição do golpismo fardado não será completa antes que as FFAA providenciem o rito da desonra, que passa pela inédita perda de patentes.

 

Nosso passado como nação está envenenado por 14 tentativas de golpe, sete das quais bem-sucedidas. O presente é marcado pelo esforço institucional para proporcionar ao país uma vacina democrática que iniba o atalho de mais uma anistia. Faltava uma condenação que descesse ao verbete da enciclopédia como ensinamento para evitar no futuro a repetição de atentados contra o regime democrático.

 

Na sua passagem pela Presidência, Bolsonaro especializou-se em puxar o rabo da democracia, mas levou uma mordida da maioria do eleitorado, que lhe sonegou a reeleição em 2022. Ao tentar o golpe, mostrou que não aprendera a lição. Em apartes concedidos por Cármen e Zanin, Moraes e Dino estilhaçaram o voto proferido por Fux, que tratara Bolsonaro como uma espécie de sub-Cid, condenando o ajudante de ordens e o candidato a vice por abolição do Estado Democrático de Direito e isentando o ex-presidente de todas as culpas.

 

Fux fatiou a denúncia da PGR para inocentar Bolsonaro, como se o complô do golpe — comprovado por fartas evidências — fosse uma organização criminosa sem chefe. Moraes exibiu vídeos que colocaram o "mito" na cena do crime. Dino trocou em miúdos a metáfora bovina que ouvira na véspera de Zanin: "É aquela espécie de falácia segundo a qual você divide o boi em bifes e pergunta a cada pedaço: ‘Você é um boi?' É claro que o pedaço nada diz. Você pede para o pedaço do boi mugir, e o pedaço não muge. Daí a conclusão falseada é de que nunca existiu o boi." 

 

Observação: Antes mesmo que o STF definisse o tamanho das penas, o Flávio Bolsonaro reiterou a ficção da perseguição e Valdemar Costa Neto veio à boca do palco para declarar: "Vamos ter que partir para a anistia; não há opção que não englobe colocar o Bolsonaro nesse projeto." 

 

Em 2022, o deslocamento na autoestima de uma minoria foi suficiente para mandar o arcaísmo golpista mais cedo para casa. A cicatrização da chaga depende da adesão de quem ainda não se indignou o bastante. Não deveria ser preciso esfolar a democracia com uma nova anistia para se revoltar, mas o cotidiano de anormalidades anestesia o país. Prestar atenção pode ser melhor que virar o rosto, pois quem encara a realidade tem mais chance de atingir o estágio da autoconsciência — e daí para a consciência coletiva é um pulo.

 

O bolsonarismo tem cores locais, mas a extrema direita está presente em todas as democracias mundo afora. E o discurso é sempre o mesmo: o establishment progressista ou esquerdista dominaria as instituições e não respeitaria a verdadeira vontade do povo, da qual a extrema-direita se julga intérprete eficaz. Assim, desrespeitar as regras do jogo e as instituições não constituiria atos criminosos, mas apenas uma resposta política a esse progressismo supostamente autoritário que, sob o pretexto de garantir direitos, pluralidade e diversidade, esmagaria a vontade de verdadeiros patriotas e de cidadãos de bem. 

 

Resta agora saber se o Congresso aprendeu a lição ou se vai virar a página da história para trás. Dependendo do que fizeram, os parlamentares podem elevar a estatura de suas biografias ou rebaixar o pé-direito da democracia.

sexta-feira, 12 de setembro de 2025

ANDROID INFECTADO? VEJA COMO RESOLVER

LAMENTAR O QUE NÃO TEMOS É DESPERDIÇAR O QUE POSSUÍMOS.

O primeiro celular capaz de acessar a Internet foi lançado pela Nokia em 1996, mas o recurso só funcionava na Finlândia, de modo que o iPhone, lançado pela Apple em 2007, é considerado o divisor de águas entre os dumbphones e os smartphones.

Depois de se tornarem verdadeiros PCs de bolso, os telefoninhos inteligentes passaram a substituir os modelos de mesa e portáteis na maioria das tarefas. No entanto, por serem comandados por um sistema operacional e rodarem os mais diversos aplicativos, eles também são vulneráveis à ação de malwares.

Por ser o sistema para PCs mais popular do planeta, o Windows é mais visado por cibercriminosos do que o macOS e as distribuições Linux. O mesmo vale para o Android, já que o código aberto, a presença em 80% dos celulares ativos no planeta e o ecossistema de apps muito maior que o da Apple o tornam o alvo preferencial dos cibercriminosos.

CONTINUA DEPOIS DA POLÍTICA

No mesmo dia em que Flávio Dino disse que "anistiar crimes contra a democracia seria enviar a mensagem de que podem se repetir, seria um salvo-conduto", Hugo Motta reuniu o condomínio de líderes da Câmara para informar que só voltará a discutir o perdão dos golpistas na semana que vem, após as condenações. Síndico do Senado, Davi Alcolumbre articula uma versão lipoaspirada do mesmo vexame — em vez do perdão amplo e irrestrito, um ajuste na lei para reduzir as penas das sardinhas do 8 de janeiro —, mas evita mencionar que a lei beneficiaria também os tubarões do golpe. 

Deputados e senadores gostam de dizer que o Congresso é a casa do povo. Esquecem de lembrar que têm as mesmas obrigações de qualquer inquilino. As pesquisas indicam que a anistia não está no contrato. Como proprietário de uma fração do imóvel, todo eleitor deveria promover uma vistoria nos mandatos. Como dono da casa, o povo precisa providenciar os despejos.

Político que coloca anistia de golpista à frente da isenção do Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5.000 não merece ter o contrato renovado em 2026. A melhor maneira de fazer certos políticos trabalharem é evitar que sejam reeleitos.

Apesar do código proprietário, da instalação de apps limitada à App Store e da execução dos programas em sandboxes, o iOS não é uma fortaleza indevassável. Ainda assim, a Maçã não o equipa com uma ferramenta de segurança nativa nem recomenda o uso de soluções de terceiros. Considerando que a maioria dos ataques digitais usa engenharia social para ludibriar as vítimas — e que não existe celular "idiot proof" o bastante para proteger o usuário de si mesmo —, vale a pena contar com um antimalware com funções antiphishing e antitracking.

Observação: A oferta de apps de segurança para os sistemas da Apple é menor do que para Windows e Android, mas há boas opções (pagas e gratuitas), como Avira Mobile SecurityAvast MobileMcAfee Mobile SecurityTrendMicro Mobile Security Lookout. 

Se seu aparelho vem aquecendo anormalmente em standby, reiniciando aleatoriamente, travando sem motivo aparente ou consumindo muita carga da bateria, é hora de pôr as barbas de molho. Encontrar aplicativos que você não se lembra de ter instalado e ser bombardeado com anúncios suspeitos mesmo com os apps fechados são sinais de alerta que não devem ser ignorados.

Como é melhor prevenir do que remediar, baixe apps apenas da Play Store ou da loja oficial do fabricante do aparelho (se houver), e conceda apenas as permissões indispensáveis. Baixar arquivos APK de sites desconhecidos é uma das formas mais comuns de infectar o celular — além de abrir links suspeitos recebidos por SMS, e-mail ou redes sociais e deixar de atualizar o sistema e os apps.

Ao suspeitar de uma infecção, acesse as configurações do aparelho, toque em Apps (ou Aplicativos, ou algo parecido), em Ver todos os apps, e remova quaisquer programas que você não se recorda de ter instalado ou que pareçam suspeitos (uma pesquisa no Google ajuda a separar o joio do trigo). Feito isso, reinicie o aparelho e limpe o cache dos apps restantes. Se o problema persistir, limpe o armazenamento para restaurar as configurações-padrão do aplicativo e deletar arquivos de mídia —lembrando que isso apagará dados salvos como histórico, preferências e contas conectadas.

Se ainda não resolver, reinicie o celular no modo de segurança: pressione o botão Ligar/Desligar, toque e segure Desligar na telinha que aparecer, selecione Reiniciar em modo seguro e confirme. Caso o problema persista, desligue o celular e pressione simultaneamente os botões Diminuir volume e Ligar/Desligar. No menu que surgir, use o volume para selecionar Modo de recuperação e confirme. 

Quando o robô do Android com o ponto de exclamação aparecer, mantenha o botão Ligar/Desligar pressionado, toque uma vez no botão Aumentar volume e solte o botão Ligar/Desligar. No menu de recuperação, use o volume para localizar Limpar partição de cache e confirme. Ao final, selecione Reiniciar o sistema agora.

Se nem assim funcionar, tente um soft reset (reinicialização suave) antes de recorrer à restauração de fábrica. Se o celular for Samsung, pressione e segure Ligar/Desligar e Diminuir volume até reiniciar. Se for Motorola, segure Ligar/Desligar e Aumentar volume até o aparelho reiniciar. Persistindo o problema, faça backup dos arquivos importantes (fotos, mensagens, contatos etc.), acesse Configurações > Sistema > Avançado > Restaurar opções > Apagar todos os dados (redefinição de fábrica) e siga as instruções.

Observação: Se o aparelho não ligar corretamente ou o menu de configurações não abrir, carregue a bateria até pelo menos 30%, desligue o celular, pressione Ligar/Desligar e Diminuir volume juntos, use o volume para navegar até Wipe data/factory reset, confirme com Ligar/Desligar, selecione Factory data reset e, ao final, Reboot system now.