Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta sem saber atirar. Ordenar por data Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens classificadas por relevância para a consulta sem saber atirar. Ordenar por data Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 14 de agosto de 2020

DA PRAGA DA CASERNA AO CAPITÃO CAVERNA — DUODÉCIMA PARTE

João Fernandes Café Filho — que era vice de Getúlio Vargas e figura em nossa lista de ex-presidentes que não concluíram seus mandatos (os anteriores foram abordados nos posts dos dias 21 e 22) — ascendeu ao cargo em agosto de 1954, quando o titular ”saiu da vida para entrar na história”, mas se afastou em novembro do ano seguinte, a pretexto de tratar um mal cardíaco, e jamais reassumiu o posto. Mas vamos por partes.

Em 3 de outubro de 1955, quando Juscelino Kubitschek se elegeu presidente, a ala conservadora (sobretudo ligada à UDN) e os militares, inconformados com o resultado das urnas, urdiram um golpe de Estado para impedir a posse de JK. Eles contavam com o apoio tanto de Café Filho quanto do presidente da Câmara, Carlos Luz, que assumiu interinamente quando do afastamento de Café — vale lembrar que, com o "suicídio" de Vargas e a promoção de Café a titular, os próximos na linha sucessória, segundo a Carta Magna de 1946, art.79, § 1º, eram os presidentes da Câmara Federal, do Senado e do STF (da mesma forma que acontece atualmente, à luz da CF de 1988).

Assim que subiu de posto, Luz substituiu o general Henrique Lott pelo também general Álvaro Fiúza de Castro no comando do Ministério da Guerra. Sentindo o cheiro do golpe, Lott depôs Luz (que ficou apenas 4 dias no cargo e foi impichado em 11 de novembro) e empossou Nereu Ramos, então presidente do Senado. E assim, pela primeira vez na história, o Brasil teve três presidentes numa única semana.

Visando evitar que Café Filho, àquela altura "miraculosamente restabelecido", reclamasse o posto e somasse forças com a ala que queria impedir a posse de JK, Lott mandou tanques de guerra cercarem a casa do desafeto, em Copacabana, e agilizou junto aos parlamentares o julgamento de seu impeachment, que foi aprovado em 22 de novembro. E para impedir novas tentativas de golpe, Nereu governou sob estado de sítio pelos dois meses seguintes, até entregar a faixa presidencial a JK, em 31 de janeiro de 1956.

Observação: Para que dois presidentes fossem impichados a toque de caixa no final de 1955, a Constituição precisou ser “rasgada” algumas vezes (a pretexto de salvar a democracia). Não fosse isso, JK não teria assumido a Presidência. Aliás, talvez fosse o caso de Maia e Alcolumbre relembrarem o que aprenderam (ou deveriam ter aprendido) nas aulas de história. Antes que o mal cresça, corta-se a cabeça.   

Ao final de sua gestão — em que prometeu realizar “cinquenta anos de progresso em cinco de governo” — JK, mui mineiramente, mudou a capital federal do Rio de Janeiro para o meio do nada, digo, para o centro do país, e transferiu a faixa para o presidente eleito Jânio Quadros, que tomou posse em 31 de janeiro de 1961 e renunciou 6 meses e 25 dias depois.

Como as consequências da renúncia de Jânio já foram esmiuçadas (e voltarão a sê-lo em momento oportuno), resta dizer apenas que depois de João Goulart — que foi vice de JK e de Jânio, acabou cassado pelo golpe de ’64, exilou-se no Uruguai e morreu na Argentina em 1976 —, o Brasil só voltou a ter um presidente civil em 1985, após um colégio eleitoral formado por deputados, senadores e governadores eleger Tancredo Neves, no apagar das luzes do governo Figueiredo

Quis o destino que a raposa mineira fosse internada 12 horas antes da posse e viesse a falecer 38 dias e sete cirurgias depois — ironicamente, no dia 21 de abril, feriado que homenageia Tiradentes, o Mártir da Independência, levando para o túmulo as esperanças de milhões de brasileiros e deixando de herança — além de um neto que anos depois envergonharia o país — um oligarca maranhense, escritor, poeta e acadêmico chamado José Sarney.

Coube a Sarney pilotar a Nau dos Insensatos até 1989, quando, na primeira eleição direta para presidente da República em 29 anos, diante de um cardápio composto por 22 candidatos — teriam sido 23 se Jânio não desistisse de participar por motivos de saúde —, o eleitorado tupiniquim descartou Ulisses Guimarães, Mario Covas, Ronaldo Caiado (e mais 17 postulantes que, juntos, não valiam dois mirreis de mel coado) e escalou para o segundo turno um caçador de marajás de araque e um sindicalista picareta. 

No dia 17 de dezembro, o engomado almofadinha populista de direita derrotou o mal-ajambrado e semianalfabeto populista de esquerda (dono de um carisma que lhe rendeu o honroso apelido de “encantador de burros”), e assim Fernando Affonso Collor de Mello entrou para a História não só como o primeiro presidente da Nova República eleito pelo voto direto, mas também como o primeiro presidente da Nova República condenado num processo de impeachment.

Observação: Obviamente, nenhum dos cinco generais que presidiram o Brasil durante os anos de chumbo (Castello Branco, Costa e Silva, Médici, Geisel e Figueiredo) foi deposto, renunciou ou morreu no exercício do cargo, mas isso é assunto para outra sequência.

Em 1992, Collor (clique aqui para acessar um breve resumo de seu atabalhoado governo), em meio a grandes manifestações populares pedindo sua cabeça, foi afastado do cargo e renunciou dois meses depois, às vésperas do julgamento de seu impeachment no Senado. Com a renúncia, a ação perderia o objeto (como cassar o mandato de alguém que já renunciou a ele?), mas o julgamento prosseguiu mesmo assim e o réu foi considerado culpado e condenado a oito anos de inelegibilidade (Collor recorreu, mas perdeu).

O segundo impeachment desde a redemocratização foi o de Dilma — a tragédia anunciada com que Lula empalou a brava gente brasileira em 2010 — que, mesmo sendo a pior presidente desde que Cabral aportou na costa da Bahia, conseguiu se reeleger em 2014, ser afastada em maio de 2016 e penabundada em 31 de agosto.

Discorrer sobre a trajetória política da gerentona de festim (que levou à falência duas lojinhas de badulaques importados) de seu tempo de guerrilheira de arque até o definitivo “tchau, querida”, passando pelo monumental estelionato eleitoral que resultou em sua reeleição (ela própria havia dito com todas as letras que “em ano eleitoral a gente faz o Diabo”) seria abusar da paciência do leitor. Mas basta retornar pelo blog até o ano de 2016 para encontrar posts sobre os detalhes sórdidos que abrilhantaram os 5 anos 4 meses e 12 dias em que essa senhora, verdadeiro rascunho do mapa do inferno em forma de gente, demoliu tijolo a tijolo a economia do país. Mesmo assim, não descarto a possibilidade de retomar esse assunto numa próxima oportunidade. De momento, limito-me a relembrar uma síntese inspirada, da lavra do jornalista Augusto Nunes:

Dilma, sem saber atirar virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa virou secretária de Estado sem estagiar no Congresso virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante fez posse de administradora pública; sem saber juntar sujeito e predicado virou estrela de palanque e sem ter tido um único voto na vida, virou candidata à Presidência, foi eleita em 2010 e reeleita em 2014 e só não destruiu totalmente a economia tupiniquim porque foi providencialmente apeada do cargo em 2016

Antes de concluir, vale relembrar o comportamento vergonhoso dos presidentes do Senado e do STF (Renan Calheiros e Ricardo Lewandowski, respectivamente), que tramaram nos bastidores o fatiamento da votação — como se a perda do mandato e a inabilitação por oito anos para o exercício de cargos públicos fossem penas alternativas, quando na verdade a segunda é acessória da primeira — para preservar os direitos políticos da Bruxa Má do Oeste. Assim, ainda que a deposição da presidanta tenha sido confirmada por 61 votos a 20, somente 42 dos 81 senadores votaram pela cassação de seus direitos políticos (faltaram, portanto, 7 votos para que a maioria qualificada de 3/5 fosse alcançada). 

Observação: O artigo 52 da Constituição de 1988 reza que “Nos casos previstos nos incisos I (processo contra presidente da República) e II (processo contra STF), funcionará como Presidente o do STF, limitando-se a condenação, que somente será proferida por dois terços dos votos do Senado Federal, à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis(o grifo é meu). Em outras palavras, a Lei não separa a inabilitação da perda do cargo.

Coube ao eleitorado mineiro terminar nas urnas o que o Congresso começou (isso comprova a teoria de que até um burro cego consegue eventualmente encontrar a cenoura). A despeito das expectativas da mídia “cumpanhêra” e dos institutos de pesquisa, que tinham como líquida e certa a vitória do egun mal despachado na disputa por uma vaga no Senado, a petista amargou um vergonhoso quarto lugar.  

quinta-feira, 26 de julho de 2018

O PERIGO DE REPETIR OS ERROS DO PASSADO


Relembrar o passado é viver duas vezes”, já disse o poeta. Pieguices à parte, é certo que quem esquece os erros do passado tende a repeti-los no futuro, e que insistir no mesmo erro, esperando produzir um acerto, é a mais rematada burrice.

Em 2010, o Brasil elegeu pela primeira vez uma presidente mulher — ou uma presidenta, como anta sacripanta exigia ser chamada. A catástrofe anunciada — não por ser mulher, mas por ser uma incompetente de quatro costados — só chegou ao Planalto devido ao apoio do criminoso de Garanhuns, que então gozava de altíssima popularidade entres os idiotas úteis — que neste país já nascem com o título eleitoral enfiado no rabo.

A incompetência da Bruxa Má do Oeste era uma característica inata. Tanto é que, em meados dos anos 90, levou à falência duas lojinhas tipo R$1,99 — justamente quando a paridade entre o real e o dólar propiciava a importação e revenda de badulaques (a propósito, leia o post que publiquei no final de 2014).

Tocar uma lojinha de tranqueiras baratas deveria ser algo trivial para alguém que dali a 15 anos se apresentaria aos eleitores como a “gerentona” capaz de governar o Brasil, mas os artigos revendidos pela Pão & Circo (esse era o sugestivo nome do negócio) eram importados de um bazar no Panamá, para onde a calamidade em forma de gente e sua ex-cunhada Sirlei Araújo, sócia no empreendimento, viajavam para comprar as bugigangas. E a despeito de a mercadoria custar barato, o negócio era impopular — como sua dona se tornaria ao longo do seu nefasto governo.

Ao abrir a vendinha em Porto Alegre, a estocadora de vento não levou em conta que “o olho do dono engorda o porco”, e só aparecia por lá eventualmente, preferindo dar ordens e terceirizar as tarefas do dia a dia — como fez ao delegar a economia ao ministro Joaquim Levy e a política ao vice Michel Temer, até este desistir da função dizendo-se boicotado pelo (então) ministro-chefe da Casa Civil Aloizio Mercadante. Na sociedade da Pão & Circo, o equivalente a Mercadante era Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, que lhe dava conselhos sobre como turbinar as vendas, mas era tão inepto quanto ela, embora “ela” viria a chefiar a Casa Civil e presidir o Conselho de Administração da Petrobras no governo Lula, por ocasião da negociata de Pasadena.

Fato é que a nefelibata da mandioca teve uma carreira meteórica: sem saber atirar, virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado; sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, virou estrela de palanque; sem jamais ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente da Banânia.

Feito esse breve preâmbulo, vamos ao que interessa: os últimos dias da Copa na Rússia, diz o jornalista J.R. Guzzo em sua coluna em Veja desta semana, levaram o mundo inteiro a descobrir a figura política mais interessante que já apareceu no noticiário há muitos e muitos anos. É essa graça de presidente da Croácia, um espetáculo de simpatia, bom humor e exuberância em estado puro que tem o nome muito feliz de Kolinda — e foi torcer pela equipe do seu país nos jogos da semifinal e final do torneio.

Numa paisagem rudemente castigada pelas Merkel, as Kirchner ou as Thatcher, fomos premiados de repente com a visão de uma tremenda bonitona de 50 anos, uma louraça fervendo de alegria e de charme na tribuna de honra, vestida com a camiseta quadriculada em vermelho e branco do seu time. Ali, dançando na torcida, lembrou a todos nós que ainda é possível haver na chefia de um governo alguém que seja, ao mesmo tempo, uma mulher e um ser humano atraente. Para os brasileiros, então, Kolinda Grabar Kitarovic foi uma festa. É claro. A nós coube, em matéria de mulher-presidente, nada menos que Dilma Vana Rousseff — um fenômeno de antipatia, mau humor e cara feia diante da vida, dada a falar o tempo todo coisas incompreensíveis, ditas com impaciência e permanente ar de ameaça, sempre irritada, sempre infeliz.

Mas a diferença entre a sorte dos croatas e a dos brasileiros vai muito além. A desvantagem fica feia, mesmo, quando se entra nas comparações de caráter, integridade e postura como servidora pública de cada uma delas. Kolinda foi para a copa da Rússia pagando todas as despesas do seu próprio bolso. Viajou junto com a torcida, num voo de baixo custo e num assento comum. Mandou que fossem descontados do seu salário os dias em que esteve fora do seu local de trabalho. Desceu aos vestiários, depois dos jogos, para se misturar com os jogadores — festejando junto a eles a semifinal, consolando a todos na derrota para a França na final.

Da soma entre Dilma, presidência e futebol, o que sobrou, na vida real, é a imagem de uma mulher aterrorizada na final da Copa de 2014, em pleno Maracanã — a presidanta simplesmente se escondia da torcida, em seu próprio país, com medo das vaias (seu criador, que passou anos a fio se vangloriando de ser o grande responsável por “trazer a Copa” para o Brasil, não teve coragem de ir à uma única partida durante todo o torneio).

Quanto à soma entre Dilma, presidência e aviões, a comparação com Kolinda é outro desastre. Nossa ex-presidente torrou sabe-se lá quantos milhões de dólares viajando num ritmo alucinado para baixo e para cima por este mundo afora, no jato da Presidência da República, com cada tostão pago integralmente por você. Chegou a desviar a rota do avião oficial porque queria jantar em Lisboa e passar uma noite no Hotel Ritz, onde as diárias podem superar R$ 25.000. Quer dizer: há simplesmente um abismo entre uma mulher e outra.

Não se trata de má vontade ou de probleminhas secundários. O que existe realmente aí, quando se quer dizer as coisas como elas são, e não empulhar o público com cantoria ideológica de terceira classe, é a diferença entre duas maneiras de ver o papel da pessoa pública. Uma é honesta — na verdade, é exatamente aquela que o público tem o direito de esperar. A outra é desonesta. Fim de conversa.

O estilo Dilma — e de praticamente todos os senhores de engenho que de uma forma ou de outra mandam no Brasil — mostra com muita clareza uma doença clássica do subdesenvolvimento: o descaso arrogante, audacioso e automático que todos eles têm pelo dinheiro público. 

Presidentes da República, em especial, são uma prova viva desta deformação administrativa e moral. Conseguiram, ao longo do tempo, construir em volta de si um monstro chamado “presidência da República” — hoje com cerca de 20.000 funcionários, aviões, cartões de crédito e um custo anual de 650 milhões de reais, ou mais do que a Casa Real Britânica. Continuam gastando mesmo depois que deixam de ser presidentes — os cinco que estão vivos consomem entre 5 e 6 milhões de reais por ano em pensões, carros, assessores, o diabo. Quando vão para a cadeia, como acontece hoje com Lula, ficam ainda mais caros, pois é preciso pagar a sua manutenção no xadrez; uns R$ 300 mil por mês, no caso do criminoso de Garanhuns. Lá, por decisão da Justiça, ele mantém todos os seus benefícios — o que gera o prodígio de estar preso e, ao mesmo tempo, ter dois carros com chofer à sua disposição.

Isto aqui é outro mundo.

Visite minhas comunidades na Rede .Link:
http://informatica.link.blog.br/
http://cenario-politico-tupiniquim.link.blog.br/
http://acepipes-guloseimas-e-companhia.link.blog.br/

sábado, 30 de julho de 2022

O DESEMPREGADO QUE DEU CERTO (SÉTIMA PARTE)

 

Um dia após a divulgação da carta em defesa da democracia, o número de signatários passou de 3 mil para 100 mil. No dia 29, já eram mais de 300 mil. Num primeiro momento, Bolsonaro tripudiou: "Não precisamos de 'cartinha' em favor da democracia". Mais adiante, porém, publicou sua própria carta: "Carta de manifesto em favor da democracia. Por meio desta, manifesto que sou a favor da democracia. Assinado: Jair Messias Bolsonaro, presidente da República Federativa do Brasil". Foram apenas 27 palavras, mas, segundo o historiador e youtuber Marco Antonio Villa, o vocabulário do presidente é limitado a 500 verbetesDito isso, passo à postagem do dia:


Em fevereiro de 1995, época áurea do Plano Real, Dilma Vana Rousseff abriu uma lojinha de bugigangas nos moldes das populares casas de $ 1,99. Batizado de Pão & Circo, o negócio em gestação cumpriu a liturgia comercial habitual. Ao registro do CNPJ na Junta Comercial seguiu-se o aluguel de um imóvel em Porto Alegre (RS) para instalar a matriz. A filial foi erguida 4 meses depois no centro comercial Olaria, também na capital gaúcha. 


O problema é que a "gerenta" que cuidou da contabilidade da empresa era a mesma que lidaria mais adiante com as finanças do país. A loja quebrou em apenas 17 meses; o Brasil continua resistindo, mas nada garante que sobreviva a mais 4 anos de bolsonarismo boçal ou à volta do lulopetismo corrupto (conforme o resultado das urnas em outubro próximo).

 

Tocar uma lojinha de quinquilharias baratas deveria ser algo trivial, principalmente para alguém que, 15 anos depois, Lula apresentaria aos eleitores como a "gerentona" capaz de manter o Brasil no rumo do desenvolvimento. Mas, ao administrar seu comércio, a mulher sapiens cometeu erros banais e em sequência. E qualquer semelhança com a barafunda administrativa do país e os equívocos cometidos na área econômica a partir de 2010, que levaram ao desequilíbrio completo das contas públicas e à irresponsabilidade fiscal, não foi mera coincidência. 

 

Para começar, a loja foi aberta sem que os donos soubessem ao certo o que seria comercializado ali. A empresa foi registrada para vender de tudo um pouco a preços módicos, entre bijuterias, confecções, eletrônicos, tapeçaria, livros, bebidas, tabaco e até flores naturais e artificiais, mas acabou apostando no comércio de brinquedos para crianças, em especial os "Cavaleiros do Zodíaco". Os artigos eram importados de um bazar localizado no Panamá, para onde a sumidade e uma de suas sócias — a ex-cunhada Sirlei Araújo — viajaram três vezes para comprar os produtos. No entanto, apesar do baixo preço das mercadorias, o negócio da Pão & Circo era impopular — tão impopular quanto a própria Dilma se tornaria ao longo de seu aziago governo. 

 

Ao abrir a vendinha, Dilma não levou em conta que o olho do dono engorda o porco. Ela só aparecia por lá eventualmente, preferindo dar ordens e terceirizar as tarefas do dia a dia — como fez mais adiante no governo, ao delegar a economia ao ministro Joaquim Levy e a política a Michel Temer. Na sociedade da Pão & Circo, era Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, que a aconselhava sobre como turbinar as vendas. Mas ele era tão inepto quanto ela seria anos depois, por ocasião da negociata de Pasadena.

 

Durante as duas primeiras gestões petistas, Dilma foi presidenta do Conselho de Administração da Petrobras nos períodos em que respondeu pela pasta de Minas e Energia (2003-2005) e chefiou a Casa Civil (2005-2010). Nesse entretempo, a petrolífera tupiniquim pagou US$360 milhões por metade de uma refinaria que um ano antes havia sido comprada pela empresa belga ASTRA OIL por US$40,5 milhões, e uma decisão judicial a condenou a comprar a outra metade da sucata, o que resultou num prejuízo de US$ 1,18 bilhão


Como de costume, Lula e sua pupila negaram conhecimento da maracutaia. Dilma atribuiu o monumental prejuízo a "riscos subestimados e decisões equivocadas", afirmou que o negócio só foi aprovado porque "cláusulas fundamentais lhe eram desconhecidas" e botou a culpa em Nestor Cerveró — que, curiosamente, não foi punido, mas promovido a diretor financeiro da BR DistribuidoraMais adiante, Lindinho” — como Cerveró era chamado por seus comparsas devido à blefaroptose — declarou aos investigadores da Lava-Jato que a campanha de Lula à reeleição teria sido financiada com propina paga pelo contrato dos navios-sonda Petrobras 10.000 e Vitória 10.000, que custaram US$1,2 bilhão (valor equivalente ao da compra da igualmente inútil refinaria de Pasadena). 


Ao alegarem que foram ludibriados, Lula e Dilma reconheceram sua total inadequação aos cargos que ocupavam, e creditar nessa falácia demonstra uma indescritível ingenuidade. Mas num país onde Lula e Bolsonaro disputam pesquisa a pesquisa a preferência do esclarecidíssimo eleitorado, dizer o quê?


Mesmo assim, "o Pacheco de terninho" (detalhes no próximo capítulo) teve uma carreira meteórica: Sem saber atirar, virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora, virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou secretária de Estado, sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante, fez posse de gerente de país; sem saber juntar sujeito e predicado, virou estrela de palanque; sem jamais ter tido um único voto na vida até 2010, virou presidente do Brasil. 
Quatro anos depois, mediante o maior estelionato eleitoral da história (que só seria superado em 2018 pelo "mito" dos bolsomínions), a calamidade em forma de gente renovou o mandato, mas acabou afastada do cargo em maio de 2016 e penabundada em agosto, depois de levar o país à insolvência, a inflação à casa dos 2 dígitos e o desemprego à das dezenas de milhão.


Vale relembrar o pronunciamento da petista em rede nacional, em janeiro de 2013, dando conta de que "a economia ia de vento em popa" e concitando os apedeutas a reelegê-la no ano seguinte:


Queridas brasileiras e queridos brasileiros,

Acabo de assinar o ato que coloca em vigor, a partir de amanhã, uma forte redução na conta de luz de todos os brasileiros. Além de estarmos antecipando a entrada em vigor das novas tarifas, estamos dando um índice de redução maior do que o previsto e já anunciado. A partir de agora, a conta de luz das famílias brasileiras vai ficar 18% mais barata. É a primeira vez que isso ocorre no Brasil, mas não é a primeira vez que o nosso governo toma medidas para baixar o custo, ampliar o investimento, aumentar o emprego e garantir mais crescimento para o país e bem-estar para os brasileiros. Temos baixado juros, reduzido impostos, facilitado o crédito e aberto, como nunca, as portas da casa própria para os pobres e para a classe média. Ao mesmo tempo, estamos ampliando o investimento na infraestrutura, na educação e na saúde e nos aproximando do dia em que a miséria estará superada no nosso Brasil.

No caso da energia elétrica, as perspectivas são as melhores possíveis. Com essa redução de tarifa, o Brasil, que já é uma potência energética, passa a viver uma situação ainda mais especial no setor elétrico. Somos agora um dos poucos países que está, ao mesmo tempo, baixando o custo da energia e aumentando sua produção elétrica. Explico com números: como acabei de dizer, a conta de luz, neste ano de 2013, vai baixar 18% para o consumidor doméstico e até 32% para a indústria, a agricultura, o comércio e serviços. Ao mesmo tempo, com a entrada em operação de novas usinas e linhas de transmissão, vamos aumentar em mais de 7% nossa produção de energia, e ela irá crescer ainda mais nos próximos anos. Esse movimento simultâneo nos deixa em situação privilegiada no mundo. Isso significa que o Brasil vai ter energia cada vez melhor e mais barata, significa que o Brasil tem e terá energia mais que suficiente para o presente e para o futuro, sem nenhum risco de racionamento ou de qualquer tipo de estrangulamento no curto, no médio ou no longo prazo. No ano passado, colocamos em operação 4 mil megawatts e 2.780 quilômetros de linhas de transmissão. Este ano, vamos colocar mais 8.500 megawatts de energia e 7.540 quilômetros de novas linhas. Temos uma grande quantidade de outras usinas e linhas de transmissão em construção ou projetadas. Elas vão nos permitir dobrar, em 15 anos, nossa capacidade instalada de energia elétrica, que hoje é de 121 mil megawatts. Ou seja, temos contratada toda a energia que o Brasil precisa para crescer, e bem, neste e nos próximos anos.

O Brasil vive uma situação segura na área de energia desde que corrigiu, em 2004, as grandes distorções que havia no setor elétrico e voltou a investir fortemente na geração e na transmissão de energia. Nosso sistema é hoje um dos mais seguros do mundo porque, entre outras coisas, temos fontes diversas de produção de energia, o que não ocorre, aliás, na maioria dos países. Temos usinas hidrelétricas, nucleares, térmicas e eólicas, e nosso parque térmico, que utiliza gás, diesel, carvão e biomassa foi concebido com a capacidade de compensar os períodos de nível baixo de água nos reservatórios das hidrelétricas. Praticamente todos os anos as térmicas são acionadas, com menor ou maior exigência, e garantem, com tranquilidade, o suprimento. Isso é usual, normal, seguro e correto. Não há maiores riscos ou inquietações.

Surpreende que, desde o mês passado, algumas pessoas, por precipitação, desinformação ou algum outro motivo, tenham feito previsões sem fundamento, quando os níveis dos reservatórios baixaram e as térmicas foram normalmente acionadas. Como era de se esperar, essas previsões fracassaram. O Brasil não deixou de produzir um único quilowatt que precisava, e agora, com a volta das chuvas, as térmicas voltarão a ser menos exigidas. Cometeram o mesmo erro de previsão os que diziam, primeiro, que o governo não conseguiria baixar a conta de luz. Depois, passaram a dizer que a redução iria tardar. Por último, que ela seria menor do que o índice que havíamos anunciado.


Hoje, além de garantir a redução, estamos ampliando seu alcance e antecipando sua vigência. Isso significa menos despesas para cada um de vocês e para toda a economia do país. Vamos reduzir os custos do setor produtivo, e isso significa mais investimento, mais produção e mais emprego. Todos, sem exceção, vão sair ganhando. Aproveito para esclarecer que os cidadãos atendidos pelas concessionárias que não aderiram ao nosso esforço terão, ainda assim, sua conta de luz reduzida, como todos os brasileiros. Espero que, em breve, até mesmo aqueles que foram contrários à redução da tarifa venham a concordar com o que eu estou dizendo.

Aliás, neste novo Brasil, aqueles que são sempre do contra estão ficando para trás, pois nosso país avança sem retrocessos, em meio a um mundo cheio de dificuldades. Hoje, podemos ver como erraram feio, no passado, os que não acreditavam que era possível crescer e distribuir renda. Os que pensavam ser impossível que dezenas de milhões de pessoas saíssem da miséria. Os que não acreditavam que o Brasil virasse um país de classe média. Estamos vendo como erraram os que diziam, meses atrás, que não iríamos conseguir baixar os juros nem o custo da energia, e que tentavam amedrontar nosso povo, entre outras coisas, com a queda do emprego e a perda do poder de compra do salário. Os juros caíram como nunca, o emprego aumentou, os brasileiros estão podendo e sabendo consumir e poupar. Não faltou comida na mesa, nem trabalho. E nos últimos dois anos, mais 19 milhões e 500 mil pessoas, brasileiros e brasileiras, saíram da extrema pobreza.

O Brasil está cada vez maior e imune a ser atingido por previsões alarmistas. Nos últimos anos, o time vencedor tem sido o dos que têm fé e apostam no Brasil. Por termos vencido o pessimismo e os pessimistas, estamos vivendo um dos melhores momentos da nossa história. E a maioria dos brasileiros sente e expressa esse sentimento. Vamos viver um tempo ainda melhor, quando todos os brasileiros, sem exceção, trabalharem para unir e construir. Jamais para desunir ou destruir. Porque somente construiremos um Brasil com a grandeza dos nossos sonhos quando colocarmos a nossa fé no Brasil acima dos nossos interesses políticos ou pessoais.

Muito obrigada e boa noite.


Pois é, deu no que deu.


Continua...

sexta-feira, 17 de abril de 2020

A DEMISSÃO DE MANDETTA, A RENÚNCIA DE JÂNIO, SUAS CONSEQUÊNCIAS E OUTRAS CURIOSIDADES — PARTE 3



FIRST THINGS FIRST: 

MANDETTA CAIU, MAS QUEM VAI SE MACHUCAR É A POPULARIDADE DE BOLSONARO (E O POVO, A DEPENDER DE COMO ATUARÁ O NOVO MINISTRO NO GERENCIAMENTO DA PANDEMIA).

Num cenário ideal, Mandetta teria demitido Bolsonaro, mas não vivemos num país sério e aconteceu o que já era esperado. As consequências de mais essa estupidez bolsonariana são tão inevitáveis quanto imprevisíveis, a depender do que fará o oncologista Nelson Teich à frente do Ministério da Saúde.

Teich atuou como consultor para a área da saúde na campanha de Bolsonaro em 2018, quando chegou a ser cotado para assumir o Ministério da Saúde, mas acabou perdendo a vaga para Mandetta. Em 3 de abril, publicou artigo no qual faz considerações sobre as ações de enfrentamento à pandemia da Covid-19. Ele defende a criação de uma estratégia que “permita estruturar e coordenar a retomada das atividades normais do dia a dia e da economia” e reclama de “polarização” entre a saúde e a economia. Mas criticou abertamente o isolamento vertical, estratégia defendida por Bolsonaro, e disse que o chamado isolamento horizontal é a “melhor estratégia“.

Bolsonaro vive no mundo da Lua e 30 meses à frente do nosso tempo, de olho numa cada vez menos provável reeleição — algo que, durante a campanha, além de negar que disputaria, ele prometeu extinguir. 

Dilma, a inesquecível, disse que faria o diabo para se reeleger, e em vez de governar o país, se empenhou de corpo e alma em realizar o sonho que mais adiante se tornaria um pesadelo. Foi afastada da presidência 2 anos, 4 meses e 12 dias após iniciar sua segunda (e ainda mais desditosa) gestão, e devida e definitivamente penabundada menos de 3 meses depois. 

Collor — outro populista corrupto que ludibriou os brasileiros em 1989 e foi deposto no apagar das luzes de 1992 — disse em entrevista ao jornal O Globo que Bolsonaro tem cometido os mesmos erros primários que ele próprio cometeu e que lhe custaram o cargo — frise-se que essa entrevista aconteceu no final do ano passado, quando ninguém sequer sonhava que o mundo viraria de ponta cabeça devido a uma pandemia viral.

Nesse cenário surreal, a demissão de Mandetta se tornou ponto de honra para o capitão caverna das trevas. Palavra de rei não volta atrás, diz um velho ditado. Só que a monarquia acabou há 130 anos. 

Reconhecer os próprios erros é uma virtude, mas estamos falando de Jair Messias Bolsonaro, que elegemos presidente para evitar a volta do PT, e hoje temos no Planalto um militar que deixou a caserna pela porta dos fundos para se tornar um vereador medíocre (sem mencionar seus improdutivos 27 anos como deputado do baixo clero, durante os quais ele aprovou míseros dois projetos).

A relação entre Bolsonaro e Mandetta vinha desgastada há tempos, mas a turma do “deixa-disso” segurou a marimba até a entrevista veiculada no último domingo, que foi classificada pelo general Mourão como "insubordinação", a despeito de o médico nada ter dito além do que havia repetido inúmeras vezes, e de as frequentes trocas de farpas de parte a parte serem públicas e notórias.

A quem Mandetta provocava ao seguir o protocolo mundial? A ninguém, a não ser ao verdadeiro provocador — e se há um agente provocador na crise sanitária, não é o ministro da Saúde, e sim Bolsonaro, que foi classificado pelo jornal americano The Washington Post como “de longe, o caso mais grave de improbidade” entre todos os líderes mundiais, devido a suas insistentes afrontas às recomendações de autoridades médicas e governamentais do mundo todo.

Pelo Twitter, Mandetta confirmou sua demissão, agradeceu a oportunidade de comandar a pasta e planejar o enfrentamento à pandemia do novo coronavírus e desejou boa sorte ao sucessor (ele já foi convidado para ser secretário de Saúde do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, com quem passou o fim de semana da Páscoa e de quem é colega de partido e aliado desde o tempo em que ambos eram deputados federais). Sua demissão deve causar frisson nos bolsomínions, mas pode exacerbar riscos para o governo em meio à escalada do vírus no Brasil — em maior ou menor grau, a depender da postura de Teich à frente do ministério da Saúde e de seu relacionamento com Bolsonaro. Por falar nisso, Regina Duarte continua no cargo?

A troca de comando no ministério da Saúde, num momento delicado como o atual, quando são contabilizados mais de 30 mil casos e 2 mil vítimas fatais da Covid-19, pode implicar uma piora na interlocução entre governadores e responsáveis pela prestação de serviços de saúde com o governo federal, além de uma maior confusão na comunicação à população sobre medidas restritivas de enfrentamento à pandemia. Uma consequência disso seria a redução no cumprimento das recomendações e mais pessoas nas ruas — o que aumenta o risco de contágio e a velocidade da evolução da doença.

Vale lembrar que o STF decidiu na última quarta-feira que governadores e prefeitos têm poderes para baixar medidas restritivas no combate ao coronavírus em seus territórios. O Executivo pode coordenar as diretrizes de isolamento a serem seguidas em todo o país, mas não tem poder para retirar a autonomia dos estados e municípios na gestão local.

Dito isso, passemos ao capítulo de hoje da novela sobre a renúncia de Jânio:

Quando Sarney assumiu a presidência, a inflação passava dos 200% ao ano. Cinco anos e quatro planos econômicos depois, quando o eterno donatário da capitania do Maranhão transferiu a faixa ao caçador de marajás de araque, o poder de compra do brasileiro era corroído à razão de 80% ao mês, e a inflação acumulada nos 12 meses anteriores havia chegado a quase a 1.800%. Como deve estar lembrado o leitor que já passou dos 40, naquele tempo se recebia o salário e corria para o supermercado, porque os preços eram remarcados duas ou três vezes por dia

Ministros da Fazenda — como foram chamados por mais de dois séculos os chefes da pasta que Bolsonaro rebatizou de Ministério da Economia — eram descartáveis, e cada um que chegava tirava da cartola um novo “plano” para frear o aumento desordenado dos preços. Só no governo Sarney tivemos o Cruzado, o Cruzado II, o Bresser e o Verão, mas nenhum deles produziu efeitos duradouros. Em meio a esse descalabro inflacionário, votamos para presidente pela primeira vez em 29 anos.

O pleito de 1989 foi uma eleição "solteira", ou seja, exclusiva para escolher presidente da República. Hoje, as eleições ocorrem de dois em dois anos. Numa, são escolhidos o presidente, senadores, deputados federais, governadores e deputados estaduais; na outra, prefeitos e vereadores (note que os mandatos eletivos são todos quadrienais, com exceção dos senadores, que ficam 8 anos no cargo, mas metade do quadro é renovada a cada quatro anos).

Em 1989, nada menos que 22 candidatos disputaram o Palácio do Planalto, dentre os quais Lívia Maria Ledo Pio de Abreu, a primeira mulher a disputar a presidência do Brasil. Depois dela, viriam Thereza Ruiz (em 1998), Ana Maria Rangel e Heloísa Helena (em 2006), Dilma Rousseff (em 2010 e 2014), Marina Silva (em 2010, 2014, e 2018), Luciana Genro (em 2014) e Vera Lúcia (2018), mas a única que logrou êxito foi a nota de 3 reais cunhada por Lula — que sem saber atirar virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa virou secretária de Estado sem estagiar no Congresso virou ministra; sem ter inaugurado nada de relevante fez posse de administradora pública; sem saber juntar sujeito e predicado virou estrela de palanque e sem ter tido um único voto na vida, virou candidata à Presidência, foi eleita em 2010 e reeleita em 2014 e só não destruiu totalmente a economia tupiniquim porque foi providencialmente apeada do cargo em 2016. 

Observação: Vale a pena reler o pronunciamento de Aladilma que, com sua Lâmpada Maravilhosa e fiel à promessa de “fazer o diabo” para se reeleger, prometeu, em 2013, iluminar o país a preço de banana até o fim dos tempos.

Já naquela época as eleições majoritárias eram realizadas em dois turnos. Em 15 de novembro de 1989 (feriado comemorativa da Proclamação da República), o primeiro turno pôs fim às aspirações presidenciais de 20 postulantes, entre os quais Leonel Brizola, Paulo Maluf, Mario Covas, Ronaldo Caiado, Aureliano Chaves, Roberto Freire, Enéas Carneiro e Ulisses GuimarãesSílvio Santos não conseguiu participar do pleito, embora fosse o favorito até ser cassado pelo TSE. Filiado ao PFL (atual DEM), mas preterido por Aureliano Chaves (que fora vice de Figueiredo), o homem do Baú filiou-se ao nanico PMB e ocupou o lugar de Armando Correia como cabeça da chapa. O TSE recebeu 18 pedidos de impugnação e, seis dias antes do primeiro turno, cassou o registro da sigla, que era provisório, e considerou o animador inelegível por ser dirigente de empresa concessionária de serviço público.

No segundo turno, em 17 de dezembro, o caçador de marajás de araque, Fernando Collor de Mello, derrotou o desempregado que deu certo, líder vitalício do partido dos trabalhadores que não trabalham, dos estudantes que não estudam e dos intelectuais que não raciocinam, Luiz Inácio Lula da Silva.

Observação: Note que diferença entre os dois caiu de 13%, no primeiro turno (quando Collor cravou 30,47% e Lula, 17,18%), para 6% no segundo (53% e 47% dos votos respectivamente).

Da mesmíssima forma como se deram as eleições de 2018, o embate final de 1989 foi travado entre dois farsantes, fato que, de per si, deixava o eleitorado sem saída. Mas ambos os populistas e demagogos se esmeraram, cada qual a seu modo, em engabelar a plebe ignara (pensar nunca foi o "esporte nacional tupiniquim").

Enquanto a fraude carioca de nascimento e alagoana de formação atacava o gigantismo do Estado e os “marajás”, e defendia um reformismo liberal que integrasse o Brasil ao “Primeiro Mundo”, o demiurgo pernambucano adotava a retórica econômica do desenvolvimentismo-distributivo conduzido pelo Estado. O primeiro foi impichado em dezembro de 1992 e o segundo se tornou réu em pelo menos 10 ações criminais (e já foi condenado em duas, numa das quais em três instâncias do Judiciário), foi preso em abril de 2018, mas posto em liberdade provisória 580 dias depois, graças à falta de vergonha na cara de meia dúzia de ministros supremos que não honram as togas que lhes recobrem os ombros (talvez fosse melhor usarem máscaras, mas isso já é outra conversa).

E já que estamos falando em imprestáveis, por mais triste que seja reconhecer o fato (e o fato de ser triste não torna o fato menos factual), jamais tivemos um único estadista no comando desta banânia. Em tempos imemoriais, Rui Barbosa, o Águia de Haia, notabilizou-se como ministro da Fazenda, mas jamais presidiu o Brasil, a exemplo do Barão do Rio Branco, que foi imbatível no campo diplomático. Há quem considere estadistas os ex-presidentes Prudente de Moraes e Campos Salles — e até o ditador Getúlio Vargas —, mas analisar cada caso em nível de detalhes tornaria esta sequência interminável (e insuportável).

Continuamos a partir deste ponto na próxima postagem.