Toda disciplina tem seu jargão característico, e a Informática não é exceção. Se folhearmos um compêndio de Matemática, iremos nos deparar com números primos, complexos e fatoriais, por exemplo; num livro de Português, poderemos confundir análise sintática com morfológica e hipérbole com hipérbato, também por exemplo. Já na Informática...
Como se costuma dizer, Informática não é uma ciência exata, mas sim exótica, exotérica, esdrúxula – talvez por isso alguns engraçadinhos definam hardware como aquilo que você chuta e software, como o que você xinga. Não obstante, qualquer criança recém-saída dos cueiros sabe usar um computador, embora muita gente com anos de estrada ainda confunda CPU (que é o processador) com o gabinete do sistema, e a quantidade de RAM (memória física do computador) com o espaço do HD (que, em última análise, também é um dispositivo de memória) . Aliás, justamente por conta dessa avalanche de termos estranhos e siglas criadas a partir de palavras em inglês que meu parceiro Robério e eu publicamos um DICIONÁRIO DE INFORMATIQUÊS dentro da Coleção Guia Fácil Informática – mas isso já é outra história.
Enfim, fiz essa introdução porque tenho consciência de que muita gente torce o nariz para textos técnicos. No entanto, ainda que eu procure trocar tudo em miúdos, há coisas das quais não dá para fugir. Via de regra, sempre que toco num ponto obscuro, procuro incluir a “tradução”, mas há casos em que não o faço para não me tornar repetitivo (quando o tema já foi objeto de considerações detalhadas em outras postagens, por exemplo). Só que nem todo mundo leu todas as postagens, e aí a porca torce o rabo – mas isso também já é outra história.
Passando ao que mais interessa, a indústria de software deveria entregar aplicações seguras aos consumidores finais, de modo que não fosse preciso ser expert em segurança para utilizá-las - mas como isso não acontece, é preciso pôr as barbichas de molho. Como já vimos em outras oportunidades, navegar na Web está mais para um safári selvagem do que para um bucólico passeio no parque.
Para os especialistas, pode parecer incrível que tantos velhos golpes continuem fazendo vítimas; no caso deles, a desconfiança é um dever de ofício, mas não se pode esperar o mesmo comportamento de um usuário comum, e muito menos culpá-lo por acreditar num phishing que simula o cancelamento de uma compra feita em um site de e-commerce onde ele realmente fez compras.
Vale lembrar que os vigaristas costumam mascarar o campo “remetente” dos e-mails (existem diversas formas de se fazer isso), até porque essas mensagens são como uma carta comum, que pode trazer o nome de um remetente conhecido, mesmo que não tenha sido enviada por tal pessoa. Além disso, foi-se o tempo em que, para ser infectado por malwares, era preciso clicar em um link ou abrir voluntariamente um anexo que chegasse por e-mail. Atualmente, os cybercriminosos atingem seus objetivos sem que o usuário participe ativamente do processo. Basta o infeliz aportar num site malicioso qualquer para ser vítima de ataques, mesmo que não faça nada além de simplesmente abrir a página.
A questão é que a maioria não sabe disso, e a indústria de segurança não faz muita coisa para prevenir (a não ser estimular a instalação de antivírus, firewalls e detectores de todo tipo de praga). Bom mesmo seria se ela impedisse as novas ondas de ataques que surgem ano após ano, mas, enquanto isso não acontece, é melhor prevenir do que remediar - e a gente se vê na obrigação de continuar batendo na mesma tecla, ainda que o assunto seja chato, repetitivo e um tanto complicado de assimilar.
Conto com a compreensão de todos.
Passemos agora à nossa tradicional piadinha:
Doce vingança:
Toca o telefone...
- Alô.
- Alô, poderia falar com o responsável pela linha?
- Pois não, pode ser comigo mesmo.
- Quem fala, por favor?
- Edson.
- Sr. Edson, aqui é da Telefoncia, estamos ligando para oferecer a promoção Telefonica linha adicional, onde o Sr. tem direito...
- Desculpe interromper, mas quem está falando?
- Aqui é Rosicleide Silva, da Telefonica, e estamos ligando...
- Rosicleide, me desculpe, mas para nossa segurança, gostaria de conferir alguns dados antes de continuar a conversa, pode ser?
- Bem, pode.
- De que telefone você fala? Meu bina não identificou.
- 10315.
- Você trabalha em que área, na Telefonica?
- Telemarketing Pro Ativo.
- Você tem número de matrícula na Telefonica?
- Senhor, desculpe, mas não creio que essa informação seja necessária.
- Então terei que desligar, pois não posso ter segurança que falo com uma funcionária da Telefonica. São normas de nossa casa.
- Mas posso garantir...
- Além do mais, sempre sou obrigado a fornecer meus dados a uma legião de atendentes sempre que tento falar com a Telefonica.
- Ok.... Minha matrícula é 34591212.
- Só um momento enquanto verifico.
(Dois minutos depois)
- Só mais um momento.
(Cinco minutos depois)
- Senhor?
- Só mais um momento, por favor, nossos sistemas estão lentos hoje.
- Mas senhor...
- Pronto, Rosicleide, obrigado por ter aguardado. Qual o assunto?
- Aqui é da Telefonica, estamos ligando para oferecer a promoção, onde o Sr. tem direito a uma linha adicional. O senhor está interessado, Sr. Edson?
- Rosicleide, vou ter que transferir você para a minha esposa, porque é ela que decide sobre alteração e aquisição de planos de telefones. Por favor, não desligue, pois essa ligação é muito importante para mim.
Coloco o telefone em frente ao aparelho de som, deixo a música Festa no Apê do Latino tocando no Repeat (quem disse que um dia essa droga não iria servir para alguma coisa?), e depois de tocar a porcaria toda da música, minha mulher atende:
- Obrigado por ter aguardado.... pode me dizer seu telefone pois meu bina não identificou..
- 10315.
- Com quem estou falando, por favor.
- Rosicleide
- Rosicleide de que?
- Rosicleide Silva (já demonstrando certa irritação na voz).
- Qual sua identificação na empresa?
- 34591212 (ainda mais irritada!).
- Obrigada pelas suas informações, em que posso ajudá-la?
- Aqui é da Telefonica, estamos ligando para oferecer a promoção, onde a Sra tem direito a uma linha adicional. A senhora está interessada?
- Vou abrir um chamado e em alguns dias entraremos em contato para dar um parecer, pode anotar o protocolo, por favor...
TU-TU-TU-TU-TU...
- Desligou... Nossa, que moça impaciente!
Até segunda, se Deus quiser.