Volto a dizer que está ficando cada vez mais complicado escrever sobre política, tantos são os fatos novos que se sucedem sem cessar. Na última segunda-feira, por exemplo, no instante em que eu publiquei um texto sobre o “caso Jucá” ― que, aliás, não foi exatamente uma surpresa, pois qualquer um que analisasse a trajetória política do dito-cujo veria que nomeá-lo ministro era armar uma bomba relógio sem ter como definir o momento da explosão (mais detalhes nesta postagem) ―, a postagem já era “matéria vencida” em vista da notícia sobre o “licenciamento” do ministro do Planejamento (que na verdade acabou sendo exonerado, conforme foi publicado no Diário Oficial da União de ontem, ainda que "a pedido", como é de praxe quando o governo quer evitar maiores desgastes a políticos que têm de deixar o Executivo).
Observação: Vale comentar rapidamente o que disse o ex-senador Delcídio do Amaral, cuja cassação foi acelerada por uma manobra de Jucá, referindo-se aos recentes grampos que tornaram públicas supostas tentativas de impedir o funcionamento da Justiça: "Depois da gravação do Mercadante, Lula, Dilma e essa agora do Jucá, com todo respeito, a minha conversa é uma Disney, uma grande brincadeira" (clique aqui para ler a íntegra da matéria publicada no Estadão). Merdandante foi flagrado pelo próprio assessor de Delcídio, quando oferecia vantagens para comprar o silêncio do senador; Dilma e Lula foram grampeados num diálogo rápido que sugeria que a nomeação do ex-presidente à Casa Civil era uma manobra para evitar a prisão de Lula pelo Juiz Moro; e Jucá, em conversas com Sérgio Machado, quando defendia a troca do governo e a criação de um “pacto para estancar a Lava-Jato”. Delcídio, vale lembrar, foi pego tramando um plano de fuga para o ex-diretor da área internacional da Petrobrás, Nestor Cerveró.
Para complicar ainda mais esse já conturbado cenário, um dia depois do grampo que apeou Jucá, a PF deflagrou a 30ª etapa de investigações contra o petrolão, mirando, dentre outros alvos, os já condenados José Dirceu e Renato Duque por suposto envolvimento em contratos fraudulentos que somam mais de R$5 bilhões!
Com a saída de Jucá, restam ainda cinco ministros investigados pelo STF. Como Jucá, todos haviam sido questionados sobre possíveis pendências judiciais, e também como Jucá, todos afirmaram que não havia nada com que Temer devesse se preocupar (o presidente interino alertou cada um deles ― e reforçou na primeira reunião ministerial ― que não toleraria desvio moral de qualquer natureza, e que, se houvesse problemas, o titular da pasta seria afastado).
Mas a coisa não para por aí. Segundo matéria publicada na Folha desta quarta-feira, a merda espalhada pelas gravações feitas (supostamente) por Sérgio Machado ― e que derrubaram Jucá ― atingiu em cheio o peemedebista alagoano Renan Calheiros, presidente do Senado, apoiador confesso de Dilma, esbirro do PT e alvo do juiz Sérgio Moro. Em conversa mantida com o ex-presidente da Transpetro, Renan afirmou apoiar uma mudança na lei que regulamenta as delações premiadas ― procedimento responsável por grande parte do sucesso da Operação Lava-Jato ― e sugeriu que poderia "negociar" com membros do STF "a transição" de Dilma.
Em um dos diálogos com Renan, Machado sugeriu "um pacto", que seria "passar uma borracha no Brasil". Renan responde: "antes de passar a borracha, precisa fazer três coisas, que alguns do Supremo [inaudível] fazer. Primeiro, não pode fazer delação premiada preso. Primeira coisa. Porque aí você regulamenta a delação". A mudança defendida pelo presidente do Senado poderia beneficiar Machado, que procurou Jucá, o próprio Renan e o ex-presidente Sarney, pois temia ser preso e virar réu colaborador. "Ele está querendo me seduzir, porra. [...] Mandando recado", disse Machado a Renan, referindo-se a Rodrigo Janot.
Para Renan, todos os políticos “estão com medo da Lava-Jato”. Segundo ele, Aécio [Neves] teria lhe pedido que “visse esse negócio do Delcídio, se tem mais alguma coisa”, e que uma delação da empreiteira Odebrecht “vai mostrar as contas”, em provável referência à campanha eleitoral de Dilma. Machado respondeu que “não escapa ninguém de nenhum partido; do Congresso, se sobrar cinco ou seis, é muito. Governador, nenhum”. Para ler os trechos mais relevantes da transcrição da gravação, siga o link http://zip.net/bqtlst.
Ah, eu já ia me esquecendo: Quem substitui Jucá no ministério do Planejamento é Dyogo Henrique Oliveira ― um dos alvos da Operação Zelotes, citado por lobistas como um dos contatos dentro do governo para as negociações de MPs. Oliveira, é claro, nega ter cometido irregularidades (quem me contou foi a Velhinha de Taubaté ― personagem criada por Luiz Fernando Veríssimo durante o governo do General Figueiredo, famosa por sua incrível ingenuidade e capacidade de acreditar piamente em tudo que lhe era dito pelos militares durante os assim chamados “anos de chumbo”).