Desde maio de 2016, quando assumiu interinamente a
presidência, poucos foram os momentos em que Michel Temer se viu
distante de desgastes políticos envolvendo a Esplanada dos Ministérios. A partir dos primeiros anúncios sobre
seu alto escalão ― uma equipe de notáveis, segundo o presidente ―, uma relação
de controvérsias marcou sua gestão no campo ministerial. Aliás, logo de início
ele anunciou que reduziria de 32 para 23 no número de pastas, mas voltou atrás
diversas vezes, e hoje temos 29 ministérios, três a menos do que quando Dilma foi afastada.
Da tal equipe de
notáveis ― que na verdade era uma notável agremiação de investigados, denunciados
e réus na Lava-Jato ― o senador Romero
Jucá foi o primeiro a cair, depois de comandar por apenas 11 dias o ministério
do Planejamento. Jucá é também o primeiro político com foro privilegiado a se
tornar réu no STF a partir das
delações da Odebrecht, conforme eu
comentei na postagem anterior e voltarei a comentar numa próxima publicação).
Criticado por ter montado um staff sem diversidade racial e
de gênero, Temer ― que dizia não se
preocupar em ser popular, mas sim em recolocar o país nos trilhos ― indicou
mulheres para postos importantes, como Maria
Silvia Bastos para chefiar o BNDES
(ela se demitiu em maio de 2017) e Flávia
Piovesan para a secretaria de Direitos
Humanos (ela foi exonerada no
fim de 2017). Aliás, a secretaria de Direitos
Humanos (para que diabos precisamos disso?), depois de ganhar status de
ministério, tornou-se palco da tragicomédia protagonizada pela desembargadora
aposentada Luislinda Valois (que se demitiu no
mês passado ― e não deixou saudades).
Quando Temer
assumiu a presidência, a Lava-Jato (que
completou 4 anos na última sexta-feira) soprava sua segunda velinha, e já havia
inquéritos envolvendo “notáveis” como
Romero Jucá, Henrique Eduardo Alves e Fábio
Medina Osório. Em janeiro do ano seguinte, a homologação das delações da Odebrecht deu origem a mais uma centena
de inquéritos e envolveu pelo menos 8 ministros, aí incluídos amigos próximos do
presidente, como Eliseu Padilha e Moreira Franco. Mas a promessa de demitir ministros que fossem denunciados formalmente (detalhes no
post anterior) foi solenemente ignorada depois que sua conversa de alcova com o
açougueiro bilionário Joesley Batista
veio a público. A partir de então, Temer
mandou às favas os escrúpulos e acionou sua tropa de choque para comprar os votos
necessários ao sepultamento das denúncias Janot.
Conseguiu, mas a um preço absurdo, além de queimar seu capital político e se
tornar um pato-manco, refém das marafonas do Congresso.
Entre este mês e o próximo, o presidente terá de substituir ao menos 10 ministros, para que eles possam
disputar as próximas eleições. A julgar pelo imbróglio que se seguiu à nomeação
da filha de Roberto Jefferson para a
pasta do Trabalho, será um caminho espinhoso a trilhar.
Um levantamento feito pelo G1 revela que quase metade dos 54 senadores cujos mandatos terminam
neste ano perderão o foro privilegiado se não se reelegerem. Dentre os emedebistas, cito o onipresente Romero
Jucá ― ora réu no STF e alvo de
pelo menos mais uma dúzia de inquéritos na Justiça ―, o atual presidente do
Senado, Eunício Oliveira, seu
antecessor, Renan Calheiros (que
também é réu no STF), os ex-presidentes
da Casa Garibaldi Alves Filho, Jader Barbalho e Edison Lobão
(todos investigados na Lava-Jato), além de Valdir
Raupp, que já é réu no Supremo, e Eduardo
Braga.
Nas fileiras do PT,
destaco Gleisi Hoffmann (presidente
do partido e ré no STF) e seus
esbirros Lindbergh Farias, Humberto Costa e Jorge Viana. No mesmo barco estão os presidentes do DEM, Agripino Maia, e do PP, Ciro Nogueira (além do líder do PP no Senado, Benedito de
Lira, e do senador Ivo Cassol,
já condenado pelo Supremo numa ação sem ligação com a Lava-Jato). Lídice da Mata e Vanessa Grazziotin,
líderes do PSB e do PC do B, respectivamente, também estão
no último ano do mandato e são alvo da Lava-Jato.
Entre os tucanos, são investigados na Lava-Jato e correm o risco de perder o foro privilegiado o
vice-presidente do Senado, Cássio Cunha
Lima, o ex-presidente do partido, Aécio
Neves, o atual ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes (que foi candidato a vice-presidente da República em
2014, na chapa encabeçada por Aécio)
e os senadores Ricardo Ferraço e Dalirio Beber. Tutti buona gente. Cabe a nós, eleitores, botar um ponto final nessa putaria franciscana.
E falando em "buona gente" e em suruba, volto a Romero
Jucá na próxima postagem. Até lá.
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