Vimos na última quarta-feira que a delação
de Cláudio Melo Filho, o “homem da Odebrecht em Brasília”,
atingiu a alta cúpula do governo, e que dentre os nomes suscitados está o do próprio
presidente da República, cuja campanha de 2014, segundo o delator, foi
patrocinada por um aporte de R$ 10
milhões, parte dos quais teria sido entregue no escritório de José Yunes, em dinheiro vivo, por um
emissário da empreiteira.
Observação: Yunes é assessor especial da presidência da República e amigo pessoal de Temer. Ou era, melhor dizendo, já que
pediu demissão após tomar conhecimento de que Marcelo Odebrecht avalizou, em sua própria delação, a acusação
feita por Melo Filho (esta não é foi
primeira vez que o nome de Yunes é associado a supostas movimentações
financeiras de Temer; o ex-deputado Eduardo Cunha já havia levantado
suspeitas sobre a relação entre eles e um suposto caixa dois).
O dinheiro, segundo o “Príncipe das Empreiteiras”, foi
solicitado durante um jantar no Palácio do Jaburu, em maio de 2014, que contou
com a presença de Temer, então
vice-presidente, e do hoje ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha. No entanto, Marcelo
não deu detalhes sobre a operacionalização do dinheiro, que, de acordo com Melo Filho, foi feita por Padilha (segundo a Folha, os três negam qualquer tipo de irregularidade,
e a empreiteira não se manifesta sobre o teor dos acordos). Em sua carta de
demissão, Yunes afirmou que seu nome
foi “jogado no “lamaçal de abjeta
delação e enxovalhado por irresponsáveis denúncias” ― e, claro, negou
enfaticamente qualquer participação ou mesmo conhecimento da história dos 10
milhões de reais.
Como se vê, cada presidente tem seu José Carlos Bumlai. Para quem não se lembra, o pecuarista era uma
espécie de “consiglieri” da Famiglia Lula da Silva e tinha acesso
irrestrito ao gabinete presidencial. Depois que foi preso e sentenciado pelo
juiz Sérgio Moro a 9 anos e 10 meses de prisão por gestão fraudulenta de
instituição financeira e corrupção, o amigão de Lula passou a “não ser tão amigo assim” ― segundo o próprio molusco
abjeto, que até hoje nega ser o dono do famoso sítio Santa Bárbara, em Atibaia,
e do não menos notório tríplex no Guarujá, a despeito da cachoeira de
evidências que demonstram o contrário do que ele afirma. Mas isso já é outra
história.
A que se aplaudir a iniciativa de Yunes, que minimiza o constrangimento imposto ao presidente pela
suposta associação de mais um assessor e amigo pessoal a práticas nada
republicanas. Seu exemplo deveria ser seguido por outros “amigões” de Temer, como o angorá e o primo ―
leia-se Moreira Franco e Eliseu Padilha ―, até porque o governo
já vai mal das pernas, e manter-se cercado de suspeitos (ainda que por enquanto
sejam “apenas suspeitos”) não melhora em nada a credibilidade de quem, como a
mulher de César, além de ser honesto, precisa parecer honesto.
Será que já não bastava vermos o presidente se curvar ao todo-poderoso
cangaceiro das Alagoas ― que, através de nefanda meia-sola constitucional urdida em conluio com o STF, foi afastado da linha sucessória,
mas mantido Senador e presidente do Congresso Nacional “em prol da
governabilidade” ―, a pretexto da uma eventual cassação pôr em risco a aprovação
da PEC dos gastos e outras medidas
caras ao governo?
Enfim, sua insolência se despediu nesta quinta-feira da
presidência do Senado e do Congresso Nacional. Depois do recesso parlamentar de
final de ano, haverá nova votação para a escolha do novo presidente. E Renan já vai
tarde. E queira Deus que não tarde a ser devidamente despachado para a carceragem da PF em Curitiba. Até porque nada menos
que 12 processos contra ele tramitam no STF, num dos quais o dito-cujo já é réu.
Isso sem falar numa nova denúncia apresentada contra por Janot na última
segunda-feira, por crimes de lavagem de dinheiro e corrupção passiva na
contratação da empresa Serveng Civilsan
pela Petrobras. De gente assim, o povo já está até os tampos!
Voltando a Temer, com amigos desse tipo, quem precisa de
inimigos?
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