Pode-se enganar todo mundo por algum tempo e alguns por todo
o tempo, mas não se pode enganar todos o tempo inteiro. Dilma, a Honesta, bem
que tentou, mesmo quando já pipocavam os primeiros sinais do proverbial
estelionato eleitoral que lhe garantiu o segundo mandato. Mas qualquer cidadão que
não fosse um completo imbecil ― ou militante petista, o que não é muito
diferente ― não demorou a farejar algo de podre no reino da anta vermelha.
Mesmo depois de ser penabundada da presidência da Banânia em
que ela, seu antecessor e seu aziago partido transformaram este pobre país, a
encarnação da insolência continuou vestindo sua fantasia de Ma’at (*), tecida por João Santana com finíssimos e
caríssimos fios do ilusionismo. Mas não há nada como o tempo para passar, e o
tempo passou, a casa caiu, o castelo ruiu, a roupa sumiu e o gênio malfazejo
surgiu em sua forma nua e crua, talhada pelo cinzel de Marcelo Odebrecht, tanto na delação premida quanto no depoimento ao
ministro Herman Benjamim, do TSE.
À mulher de César
não basta ser honesta; tem de parecer honesta. Ao que tudo indica, Dilma não é
nem uma coisa nem outra (vai ver é porque seu ex-marido não se chama César, mas Carlos Franklin Paixão Araújo). O fato é que sua ascensão meteórica
sempre me pareceu suspeita: sem jamais
ter disparado um tiro ― a não ser no próprio pé, ao se reeleger ―, o Pacheco
de terninho virou modelo de guerrilheira; sem ter sido vereadora,
virou secretária municipal; sem passar pela Assembleia Legislativa, virou
secretária de Estado, sem estagiar no Congresso, virou ministra; sem ter
inaugurado nada de relevante, virou projeto de gerente competente; sem saber
juntar sujeito e predicado, virou estrela de palanque, sem ter tido um único
voto na vida até 2010, virou presidanta do Brasil em 2010 e renovou o mandato
por mais quatro em 2014 (felizmente, sua segunda gestão foi abortada após 16
meses e 12 dias, o que não a impediu de demolir pedra por pedra a nossa já
claudicante economia). É mole?
Aboletada na presidência
do conselho da fundação Perseu Abramo por obra e graça de Rui Falcão ― aliás, o carequinha chegou a convidar Dilma para a própria presidência ao
ouvir dizer que vivia com os pouco mais de R$ 5 mil da aposentadoria, o que é
mais uma deslavada mentira (**), mas
houve resistência dentro do PT e o
jeito foi indicá-la para a presidência do conselho curador ―, a imprestável não
perde uma única oportunidade de envergonhar os brasileiros: em recente visita à
Suíça, requentou seu batido ramerrão de “golpe” e louvou sua deletéria gestão e
autodeclarada honestidade (?!), tudo no mais escorreito francês de galinheiro. Do alto de sua costumeira arrogância, fala
como se não tivesse gerado e parido a maior crise da história deste país, com
direito a 12 milhões de desempregados, que deixou de herança para Temer, a quem se refere como “o traíra”,
“o golpista”, recusando-se a admitir que ele foi seu vice na chapa em 2010 e 2014,
e, portanto, igualmente eleito pelo voto popular.
Dilma parece
viver em outro planeta, ou, quiçá, numa bolha de distorção da realidade. Às
vésperas do primeiro aniversário da decisão do Congresso que a afastou do
cargo, ela continua se recusando a reconhecer seus malfeitos ou
admitir os (muitos) erros que cometeu em seu malfadado governo. Posa de vítima
sempre que a oportunidade se lhe apresenta, a despeito de ocupar posição de destaque na Lista de Janot e de estar cada vez mais
encalacrada na Justiça. Em delação premiada, Marcelo
Odebrecht contou como participou pessoalmente da negociação do pagamento
de uma montanha de dinheiro à campanha presidencial da sacripanta mentirosa, proveniente do caixa
dois da empresa no setor de operações estruturadas ― nome pomposo para o departamento de propinas da Odebrecht. Disse
ainda que tratou de propina com Dilma num encontro que tiveram no México, e que a alertou para o problema de os pagamentos
a João Santana terem sido feitos
com “dinheiro contaminado”. Ou seja: Dilma
sabia do que estava acontecendo, embora continue negando com veemência (puxou a
seu mestre e mentor, que nega de mãos postas e pés juntos a propriedade do
triplex no Guarujá, do sítio em Atibaia, na cobertura em SBC, e por aí afora). As
declarações de Odebrecht deixam
claro o que muitos já suspeitavam, ou seja, que a suposta “lisura a toda prova
da ex-presidente” sempre foi (mais uma) cantilena para dormitar bovinos.
Dentro de sua bolha de distorção da realidade, a estocadora de vento se recusa terminantemente a fazer qualquer tipo de autocrítica. Mais do que a rematada estupidez de seus minguados apoiadores, espanta o fato de a plateia estrangeira ainda levar a sério sua inverossímil história do golpe e supostas “tramas” urdidas pelo “golpista” para, através do adiamento das eleições de 2018 e a implementação do sistema parlamentarista no Brasil, tirar de Lula a chance de voltar à Presidência da República.
Difícil é saber de onde ela tira suas ideias sem pé nem cabeça, já que nenhuma dessas propostas habitam a agenda do Congresso ― só existem na agenda da própria Dilma, que a gente não sabe quem banca, embora não seja difícil teorizar a respeito. O que mais causa espécie, no entanto, é o fato de essa senhora e seu deplorável predecessor ainda não terem sido colocados em seus devidos lugares. Será problema de superlotação carcerária ou o quê?
(*) Deusa egípcia da
verdade, da retidão e da ordem.
(**) Segundo o jornal Gazeta do Povo, tanto a mulher
sapiens quando os demais ex-presidentes ainda vivos (Sarney, Collor, FHC e Lula) gozam de benefícios que custam aos cofres públicos quase R$ 5
milhões por ano (ou quase R$ 1 milhão cada um) em salários de 40 assessores (8
para cada ex-presidente) e custeio de 10 veículos oficiais (dois para cada um),
além de assistência médica e outros mimos, embora não prestem qualquer serviço
útil à sociedade.
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