Ninguém está dizendo
aqui, pelo amor de Deus, que os advogados do ex-presidente Lula, no momento de
receber a sentença no primeiro dos seus múltiplos processos penais, tenham
alguma coisa a ver com messrs.
Dodson e Fogg ─ ou que o seu cliente tenha cometido algum
crime. Mas o caso do ex-presidente, após toda a via-sacra do seu
processo, dá ao público pagante a sensação
de que o resumo da obra é o mesmo. “Provei a minha inocência”, diz Lula, sem
explicar por quê. Ou seja: não vamos agora ficar discutindo se é verdade, se
não é, etc. e tal. Acreditem em mim.
Os dois mandatos de Lula na Presidência da
República foram um monumento sem precedentes ao vício. Sua performance mais espetacular,
como ficou demonstrado com dezenas de confissões públicas e provas materiais,
foi a capacidade sem limites para roubar dinheiro público. Na Petrobras,
privatizada diretamente para os amigos, a estimativa mais aceita é que o roubo
tenha passado dos 40 bilhões de reais; conforme a maneira de calcular, fala-se
em cifras de até 90 bilhões.
Privatizaram, também para o usufruto pessoal da
companheirada, a Eletrobras, a Nuclebrás, a Caixa Econômica Federal, o BNDES,
ferrovias, rodovias e, de modo geral, qualquer estatal que pudesse ter alguma
coisa passível de ser furtada. Roubaram com ânsia desesperada os fundos de
pensão das empresas do governo. Roubaram merenda escolar, ambulâncias,
quentinhas de presidiários. Roubaram pontes, linhas de transmissão de
eletricidade, estádios de futebol inteiros. Roubaram até sangue humano. A
respeito de todos esses fatos, Lula diz apenas que provou ser 100% inocente.
Não participou de nada, não soube de nada e não desconfiou de nada em oito anos
seguidos de governo ─ não admite nem mesmo que
tenha tido a mínima responsabilidade por nada do que fizeram
a um palmo da sua porta, ou menos ainda.
A maneira mais prática de explicar isso
talvez seja a crença de Lula em que contra a fé não há fatos nem argumentos.
Muita gente (e ele espera que essa gente seja a maioria dos brasileiros) não
está interessada em entender, pensar ou se informar ─ só está interessada
em acreditar. É a mesma esperança
que quase todo político brasileiro tem para sobreviver às consequências de seus
atos.
Fazem barbaridades, perante o Código Penal e as regras mais elementares
de conduta, absolutamente notáveis pela sua estupidez ─ e
ficam esperando que ninguém ache nada de errado.
Como o presidente da
República, por exemplo, pode se meter com esse Joesley Batista, o maior
corruptor da história do Brasil? Nem um guarda-noturno receberia o homem;
Michel Temer até agora acha que está tudo bem. O senador Aécio Neves, que
poderia estar em seu lugar, deixa-se gravar ao telefone implorando 2 milhões de
reais em dinheiro vivo da mesma figura. O complexo
Renan-Jucá-Padilha-Moreira-Geddel-etc. continua em plena atividade. Os
ministros Roberto Barroso, Gilmar Mendes, Luiz Fux e outros colossos da nossa
suprema magistratura governam o país como se isso fosse legal. O que há com
essa gente? Obviamente, algo deu imensamente errado com todos eles. O melhor
talvez seja seguir a excelente sugestão do escritor português João Pereira
Coutinho em artigo recente na Folha de
S.Paulo: obrigar ocupantes de cargos políticos a fazer exames
psicológicos e neurológicos antes de assumir ─ mais ou menos como o
psicoteste para motoristas de ônibus, por exemplo. A ciência,
ao que parece, está a ponto de provar que o poder provoca algum
tipo de lesão no cérebro. Quem, dos nomes acima e centenas de outros iguais,
passaria no exame?