quinta-feira, 30 de agosto de 2018

AINDA SOBRE LULA, A PROPAGANDA ELEITORAL E A SUCESSÃO PRESIDENCIAL



A sucessão presidencial — e a renovação do Congresso, que é tão importante quanto — é a bola da vez, e continuará sendo até que se conheça o nome do próximo presidente. Aliás, enquanto a Justiça Eleitoral não definir a situação do criminoso condenado, levando o PT a assumir que o poste é seu verdadeiro candidato, não saberemos se assistiremos ou não ao engodo da candidatura de Lula no horário eleitoral obrigatório (detalhes na postagem anterior).

Se Lula será ou não impedido de aparecer na TV, isso cabe ao TSE decidir. Nesse entretempo, Haddad faz campanha como vice, com a “trice” Manoela d’Ávila a tiracolo. Dias atrás, quando o poste vermelho subiu a famosa ladeira do Curuzu, em Salvador, na companhia Rui Costa — que é candidato à reeleição ao governo da Bahia pelo PT —, alguns populares se referiram a ele como “o tal de Andrade”, deixando claro que, no nordeste, Haddad não passa de um ilustre desconhecido. Enquanto isso, Benevenuto Daciolo da Fonseca dos Santos, candidato pelo Patriota ao Planalto, também sobe o morro, mas para orar, jejuar e dizer à nação que, se for eleito, vai combater os Illuminati e a Maçonaria (?!). É ou não é caso de internação???

No extremo do espectro político-partidário oposto ao do PT, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, busca aumentar seu escore. Mas é mais fácil falar do que fazer: na entrevista que deu ao Jornal Nacional, na última terça-feira, ele deixou claro mais uma vez que de bom, mesmo, sua candidatura só tem Paulo Guedes — a postura do candidato é ruim, seu humor, explosivo, e suas respostas às perguntas que lhe são feitas deixam patente seu total despreparo para o exercício da Presidência.

No centro-esquerda desse tresloucado picadeiro, o cearense de Pindamonhangaba (conterrâneo do candidato tucano Geraldo Alckmin), também em entrevista ao Jornal Nacional (transmitida na última segunda-feira), voltou a defender o presidente do seu partido — o ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi, que é réu por improbidade administrativa e responde a inquérito na Justiça por suposta compra de apoio político para o governo Dilma Rousseff em 2014.

Segundo Ciro, que não cansa de dizer que é professor de Direito Constitucional, Lupi conta com sua total confiança e ocupará o cargo que desejar em sua administração. E mais: contestou Willian Bonner dizendo que seu correligionário não é réu: “No máximo, ele é requerido; réu, jamais”. Detalhe: requerido é “a parte da lide contra a qual é proposta a ação”, isto é, o réu contra o qual o processo é ajuizado; portanto, os termos são sinônimos. A que ponto chega a desfaçatez de certas pessoas!

Voltando ao “tal de Andrade”, ops, Haddad, a pouco mais de um mês do primeiro turno das eleições ele foi novamente denunciado pelo Ministério Público. Vale lembrar que o ex-prefeito é réu por improbidade administrativa numa ação envolvendo irregularidades na implantação de uma ciclovia de 12,4 km na região da Faria Lima, em São Paulo. Vale lembrar também que Lula lidera as pesquisas graças aos 60% dos votos dos eleitores do nordeste, onde, apesar de preso por corrupção, ainda é considerado “herói”. Se vai conseguir transferir essa montanha de intenção de votos para seu novo poste, aí já é outra história.

Os primeiros programas de TV do PT devem fazer uma fusão de frases nas quais se passará a ideia de que Lula transmuta-se em Haddad, passando de “Lula e Haddad” para “Lula é Haddad. O efeito que essa estratégia produzirá é tão nebuloso quanto a aposta de Alckmin no horário eleitoral obrigatório, do qual, por conta das coligações partidárias, ele detém metade do tempo total de exposição no rádio e na TV. Tido e havido como “picolé de chuchu” por sua manifesta sensaborice, o tucano precisa se reinventar, ou seus pronunciamentos farão os telespectadores caírem no sono.

Lula, condenado em segunda instância no processo envolvendo o tríplex no Guarujá (vale lembrar que ele réu em mais seis ações penais, duas das quais tramitam em Curitiba, sob a pena do juiz Sérgio Moro), não deverá concorrer, e Haddad é desconhecido justamente onde o demiurgo tem mais votos. O próprio ex-governador da Bahia, Jaques Wagner — que seria a opção natural do PT para substituir Lula na chapa, mas que declinou do convite por receio de a exposição complicá-lo ainda mais na Lava-Jato —, disse que “não adianta querer fantasiar Haddad de Lula; ele [Haddad] precisa apresentar um perfil próprio para os eleitores”.

Observação: Haddad não vê a hora de ser ungido candidato. Ele não aguenta mais falar do líder máximo, repetir que Lula tem que ser solto, que o Brasil atenta contra a democracia. O candidato está ansioso para mostrar o que ele próprio pensa. Mas não fala e ataca quem fale sobre tomar atalhos para se livrar logo de Lula preso... Vai que Lula ouve.

A despeito da memória curta e da sabida falta de esclarecimento do eleitorado tupiniquim, a tragédia do outro poste de Lula (leia-se Dilmanta) permanece vívida. Para o cientista político David Fleischer, professor da Universidade de Brasília, Haddad pode até ser o maior beneficiário do capital político do molusco, mas não numa parcela suficiente alçá-lo ao segundo turno. “Pelo tempo curto, a força de Lula não será tão grande como foi em 2010, quando ele elegeu Dilma Rousseff”, analisa. A ver.

Antes de encerrar, transcrevo um excerto da coluna de Ascânio Seleme em O GLOBO:

Se o bombardeio do PT e outros partidos contra a Lava-Jato tivesse produzido resultados mais consistentes, esta eleição seria bastante diferente. Apesar da felicidade geral da nação petista, que teria seu Lula livre, o país seria outro. Ou talvez o mesmo de anos atrás. O comandante da ORCRIM estaria em plena campanha e, como não poderia encenar o papel de vítima, possivelmente não teria 37% das intenções de voto. Passaria toda o tempo explicando a corrupção endêmica de seu partido, o desastre do governo de Dilma e as acusações contra ele que não teriam seguido adiante com o sepultamento da Lava-Jato. Odebrecht e OAS estariam financiando sua campanha pelo caixa 2, e, nas folgas da maratona eleitoral, o petralha relaxaria em seu tríplex no Guarujá ou em seu sítio de Atibaia.

Sem a Lava-Jato, o Congresso não teria tido força política para impichar a Bruxa Má do Oeste, que estaria pilotando uma economia moribunda, com um índice de aprovação baixíssimo, embora não tão baixo quanto o de Temer, porque tem muita gente que se recusa a enxergar. Seu vice decorativo teria se desincompatibilizado do cargo para disputar uma vaga na Câmara, e como as acusações contra ele não seriam investigadas, muito possivelmente seria eleito na margem de erro.

Palocci estava afundado até o pescoço em falcatruas desde antes da Lava-Jato, mas provavelmente seria candidato a uma vaga na Câmara. Não seria chamado para ajudar no plano de governo de Lula, muito liberal para este novo PT. Já o guerrilheiro de festim José Dirceu teria cumprido sua pena pelos crimes do mensalão e voltaria a encarnar o papel de guerreiro do povo brasileiro. E muita gente acabaria caindo nessa. Seria, claro, candidato a deputado federal. Não arriscaria uma eleição majoritária.

Eduardo Cunha, solto, com dezenas de contas milionárias no Brasil e no exterior, continuaria achacando empresas e empresários. Seria o deputado federal mais votado do Rio e financiaria uma bancada gorda com mais de 100 parlamentares em diversos estados. Voltaria a presidir a Câmara. Sérgio Cabral também estaria solto e seria o candidato a vice de Lula. Agregaria ao perfil do governador pop do Rio o tempo de TV e o fundo partidário do MDB à campanha petista. Nas folgas da campanha, descansaria com a serelepe Adriana Anselmo na mansão de Mangaratiba, cercado de quadros de Romero Brito e garrafas de vinho de US$ 2 mil a unidade.

Aécio Neves, a exemplo de Temer, não teria sido presidente, mas a série de eventos provocados pelas gravações de Joesley não ocorreria. O mineirinho safo não teria sido flagrado chafurdando nos cofres dos Batistas e seria, portanto, o candidato do PSDB a presidente. Embalado pelo enorme recall de 2014, ele teria chances consideráveis de ir para o segundo turno. Gleisi Hoffmann seria coadjuvante no cenário nacional, mas certamente se candidataria mais uma vez ao governo do Paraná. De Lindbergh Farias, não se conheceria seu lado aloprado, e o petista não teria a visibilidade que ganhou com o impeachment de Dilma e a prisão de Lula. Por isso, suas chances de sucesso na reeleição seriam menores.

Marcelo Odebrecht estaria mais rechonchudo, já que não teria passado dois anos na cadeia sem nada para fazer senão ginástica. Teria mantido o Departamento de Operações Estruturadas da empreiteira e continuaria jorrando dinheiro desviado do público para campanhas privadas. Todos os outros empreiteiros estariam muito bem, obrigado. Léo Pinheiro já teria sido chamado para fazer algumas reformas e ajustes no tríplex dos Lula da Silva no Guarujá; a Petrobras não teria recuperado os R$ 2,5 bilhões — antes pelo contrário, a sangria continuaria em curso. Tampouco seria conhecida a medida monetária em que um [Pedro] Barusco equivale a R$ 100 milhões. Alberto Youssef, com o dólar a R$ 4, estaria nadando de braçada, e todos os tesoureiros e ex-tesoureiros do PT estariam bem e felizes (nenhum teria sido preso).

Os marqueteiros João Santana e Mônica Moura estariam cuidando da campanha de Lula, e Duda Mendonça continuaria no mercado. Alguns dos maiores criminalistas do Brasil teriam dezenas de milhões de reais a menos em suas contas. E Zanin... que Zanin? Ninguém conheceria Cristiano Zanin.

Visite minhas comunidades na Rede .Link: